terça-feira, 19 de maio de 2015
(...)
«Não fujo de mim, só fujo
do diabo que em mim nasce
como se fosse ilusão.
E trago comigo a carne
repartida pelos ócios:
outros caminhos do mundo.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 200
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«A perna dela tremeu
quando lhe toquei num seio.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 192
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«Eu senti a inocência
dos olhos dela nos meus.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 191
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«Eu cá não sou mau rapaz,
mas as mulheres deixam-me tonto
tal como a um cão de caça
quando lhe cheira a raposa...»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 191
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(...)
«Volto cabisbaixo,
triste,
de não ser eu.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 187
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segunda-feira, 18 de maio de 2015
«A culpa de quem nem sempre tem culpa?»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 172
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(...)
«Bracinhos-gravetos
que tão-pouco servem
para acender o lume.
E olhos enormes sem fundo na febre
e os dedos roídos que enganam a fome.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 171
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«a negação do resgate.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 168
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sexta-feira, 15 de maio de 2015
«Coveiro de ti mesmo. Engenheiro
de profissão; nas horas vagas
o que faz conchas e fabrica neve
com o suor do rosto.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 154
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A SEGUNDA LANÇA
Dizem os Azandes, tribo do Sudão, não ser
a lança de ferro, mas a segunda lança, (isto é,
a intenção que vai na lança de ferro) a causa
da morte do elefante.
a lança de ferro, mas a segunda lança, (isto é,
a intenção que vai na lança de ferro) a causa
da morte do elefante.
(...)
«Mãe, desculpa!
Não passo de um eufemismo.
Mas sou muito malcriado,
injusto,
indelicado.
Mas é verdade, ó Mãe.
Ou meia verdade, meia
mentira.
O sim ou não, já não sei.
São coisas, Mãe, são coisas...
Não é, também é verdade.
Não explico.
Ó Mãe, que chatice, Mãe!
Não sentir o coração.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 150
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«Não me quero ver.
Quero ser somente.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 145
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«Quem se ama a si
odeia a dor.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 143
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«Quem nos fez loucos,
carrega com os nossos corpos, com a dor.»
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II
Sofrer sozinho é terra morta
pelo vento e pelo sol:
braseiro vivo. Flores
cobrem apenas o corpo
triste, negado aos que sofrem.
Caminho e não pergunto
quem és, quem fostes ou quem
quiseste ser. A dor mudou
o teu nome, mascarou
o rosto íntimo. Passado,
presente contraditório ou signo
marcado pelo sofrimento,
é o baptismo
do tempo.
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 143
V
O bem e o mal, não sei. Tenho de ti
toda a obediência. Triunfo
que me apazigua
males havidos por culpa ou já sem culpa
formada. Insatisfeito,
recupero a paz das nuvens
ou a tempestade...Sigo
o ciclo da lua.
O sol domina!
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 140
I
Cresci demais. Toco
a raíz dos cabelos
quando o vento encana pela rua
ou, incerto, procuro
resolver um problema.
Este problema do crescimento
desacompanhado
a torcer as voltas que dou ao mundo
em busca de paraísos.
Trago pequenas estátuas
e olhos que me consomem
e confecciono um problema.
O crescimento aumenta, mas desliza.
Os cabelos diminuem
na raíz.
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 139
VII
Tudo se acaba. É mentira.
Há parcelas que se juntam,
se adicionam,
como a ideia e o sentimento,
o tempo
perdido
e o momento de acção
iluminado.
Ninguém se convença
que acaba.
Há o céu que nos espera,
a sua ilusão
remordida até ao paroxismo.
Ou há passado
sem destino.
A dolorosa mensagem
da nossa vida
é esta: caminhar sempre;
atar as vides da vinha
vindimada.
Saber esperar.
Andar, andar,
nem que seja de rastos.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 138
«O dedo à beira da ferida
infectada »
(...)
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 137
infectada »
(...)
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 137
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quarta-feira, 13 de maio de 2015
«É a escrava que não posso libertar, o cão que não posso abater.»
Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 105
«É a cadela que segura o homem pela trela, o escravo que ridiculariza o amo, o pássaro que fecha a criança na gaiola. Nunca mais quero falar-lhe, nem ouvi-la, nem ceder às suas lágrimas; quero por minha vez ser mau e duro, e pôr-lhe o açaimo como a um cão mal treinado, bater-me contra ela até se deitar quando eu lhe disser para se deitar e se meter onde eu disser para se meter, até acabarmos por ver quem obedece a quem.
Bati-lhe com um pau para lhe ensinar o respeito, mas não fiz mais do que endurecê-la e torná-la insolente; mergulhei-a em água gelada, mas só consegui excitar a sua curiosidade; piquei-a com espinhos para que, ao verter o seu sangue, vertesse também a maldade e o sofrimento que me infligia. mas o que fiz foi dar-lhe o gosto do sofrimento.»
Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 105
Bati-lhe com um pau para lhe ensinar o respeito, mas não fiz mais do que endurecê-la e torná-la insolente; mergulhei-a em água gelada, mas só consegui excitar a sua curiosidade; piquei-a com espinhos para que, ao verter o seu sangue, vertesse também a maldade e o sofrimento que me infligia. mas o que fiz foi dar-lhe o gosto do sofrimento.»
Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 105
«Mordido pelo desespero, »
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 126
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(...)
«Vê o teatro de Deus.
Morre de olhos abertos.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 125
«Vê o teatro de Deus.
Morre de olhos abertos.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 125
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Ser ou não ser é pão que não discuto
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 116
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