domingo, 3 de março de 2024


                                                          Chinese photographer Jing Huang

 (...)
'' - há que não ser amargo,
           há que não rejeitar,
há que não retirar-se
quando rejeitado:

o peso é demasiado

- há que dar
sem esperar recompensa
         tal como o pensamento.''

Alessandro Parronchi [Itália]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 16
 Penso no teu coração, como água
perdida num deserto
que em vão espera quem aí mate a sede.
Penso nele como uma árvore florida
em plena noite, que ninguém vê,
senão de vidros em fuga um viajante
que o tédio ou negócios levam para longe.

Como ave atemorizada
pelos lacunários de outrora
dos quais não encontra a saída e apenas cria
com o seu estridor uma solidão mais vasta.


Alessandro Parronchi [Itália]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 13

“When I’m with my camera, I follow my intuition. It’s better for me to capture something emotionally.”



Jing Huang was born in 1987 in Guangzhou, a city in south China with eleven million inhabitants. He studied photography at the Guangzhou Academy of Fine Arts until 2010, and currently lives and works as a photographer in Shenzhen.

IMENSIDÃO DA NOITE

 A meio da noite surge por vezes
uma pergunta, e a noite agiganta-se,
e é a imensa a noite até à angústia.
Como um barco sem luzes, silencioso,
assim sulca o nosso quarto tanto sombra
que o mundo parece sem limites.
Rodeia-nos o vazio, e a água é escura
mais densa ainda do que o sangue. Nada se ouve,
apenas um chapinhar de fundo lodo
lá no mais profundo dessa água:
é o nosso coração. Mas a noite
não cessa de crescer e é já um olho
de insuportável nudez a fitar
o nosso terror. E essa é a pergunta,
e a noite sabe-o e olha então 
(só às vezes) o desamparado ser 
que somos, com ternura, e o sono regressa.
E a infinita gruta que é o universo
novamente resplandece.

Abelardo Linares [Espanha]

Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 9


 

 Tanatose ou letissimulação 

 capacidade do animal de se fingir de morto.

Nossa Senhora das Angústias

domingo, 25 de fevereiro de 2024

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Grandmaster Flash & The Furious Five - The message ''Album Edit'' (1982)

''Deves aprender a amar-me.''

Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 119

 ''Não tens fé na tua própria linguagem.
Por isso investes
de autoridade os sinais
que não sabes ler com rigor.''


Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 117

Babe Ruth - The Mexican

Bad Girls Go to Hell


Bad Girls Go to Hell is a 1965 American sexploitation film written, produced and directed by Doris Wishman

 (...)

« Mas vós só sabíeis chorar.
Queríeis que tudo vos fosse contado,
que nada fosse pensado por vós.

Foi então que percebi que o vosso pensamento
nada tinha de audaz nem possuía paixão:
faltava-vos as vossas próprias vidas,
as vossas próprias tragédias.
Por isso dei-vos vidas, dei-vos tragédias,
já que não vos chegavam as ferramentas.»


Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 105

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Viburno

noveleiro

 ''um só gesto meu instalou-vos
no tempo e no paraíso''

Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 97

 '' Cada coisa/ que nasce é um fardo para mim: não consigo ter êxito/ com todos vós.''

Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 95

VÉSPERAS

 Tal como apareceste a Moisés, apareces-me
a mim, porque preciso de ti, ainda
que nem sempre. Vivo essencialmente
nas trevas. Quem sabe se não me estarás a treinas
para atender ao mais leve esplendor? Ou inflama-te
o desespero, como aos poetas? É a dor
que te leva a revelar a tua natureza? Esta tarde,
no mundo físico, esse a que costumas oferecer 
somente o teu silêncio, trepei
a pequena colina por sobre os mirtilos selvagens, descendo
metafisicamente, como faço nas minhas caminhadas: a fundura
a que fui chegou para mim te apiedares, tal como tens por vezes
piedade por outros que sofrem, e assim os favoreces
com dons teológicos? Tal como antecipavas,
não levantei os olhos. Por isso desceste tu até mim:
até aos meus pés, não na forma das folhas
encerradas do mirtilo selvagem, mas o teu ser ardente, vasto
posto de fogo, e mais além, o sol vermelho sem tombar nem se
erguer -
Eu não era criança; podia aproveitar as ilusões.


Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 91


 

The Last Poets

'' é melhor pensares duas vezes
antes de dizeres a alguém o que foi dito neste campo
e por quem.''

Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 83
 «Nesta tua longa e prolongada ausência, autorizas-me
a usar a terra, imaginando
que o teu investimento dará frutos.»


Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 79

'' modo de expressar dor''

''clarão de cor''

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

''As Lágrimas e o Vento''


 

PERFILAD0S DE MEDO



Perfilados de medo, agradecemos

o medo que nos salva da loucura.

Decisão e coragem valem menos

e a vida sem viver é mais segura.


Aventureiros já sem aventura

perfilados de medo combatemos

irónicos fantasmas à procura

do que não fomos, do que não seremos.


Perfilados de medo, sem mais voz,

o coração nos dentes oprimido

os loucos, os fantasmas somos nós.


Rebanho pelo medo perseguido

já vivemos tão juntos e tão sós

que da vida perdemos o sentido.


Alexandre O’Neill, no livro “Poemas com Endereço”. Lisboa: Livraria Moraes Editora, 1962.


''O’Neill o homem dos três “cês”: Cama, Copos e Conversa''

Alexandre era, nas palavras da irmã Maria Amélia O’Neill, “o homem dos três “cês”: cama, copos e conversa.

Afectos e Tragédias

 « Tempos houve em que acreditei em ti: plantei uma figueira.
Aqui , no Vermont, nesta terra
sem Verão. Foi um ensaio: se a figueira viesse,
isso queria dizer que existias.»

Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 77

L'important c'est d'aimer


                                          Romy Schneider dans L'important c'est d'aimer

                                               Filme de 1975 dirigido por Andrzej Żuławski
 

IDLES - GRACE


Give me grace, make me pureWhen they're knocking at my doorMake me safe, away from harmHold me in my brother's armsMake me pure
I will not take when I fallBe the answer to my callWhen you need, I will comeI will wage his war is wonMake me pure
No god, no kingI said, love is the thingNo crown, no ringI said, love is the thingNo god, no kingI said, love is the thing
Give me grace, give me lightHold me up as I take flightMake me safe, away from harmPlease caress my swollen heartMake me pure
I'll be your handsI'll be your spineI will hear your burdened criesI will give myself to you
No god, no kingI said, love is the thingNo crown, no ringI said, love is the thingNo god, no kingI said, love is the thing

Estalagem da Raposa

 Cresci ao Deus dará. O mais estranho é que Deus deu.

1/1/16

Adília LopesBandolim. Assírio&Alvim, 1ª edição, 2016., p. 219

 ''porque um poema não leva argamassa''


Adília LopesBandolim. Assírio&Alvim, 1ª edição, 2016., p. 216

erva-de-passarinho

 SEIS POEMAS CONFIADOS À MEMÓRIA DE NORA MITRANI (*), de Alexandre O'Neill (Lisboa, 19 de Dezembro de 1924 — 21 de Agosto de 1986).

.
I
Para ti o tempo já não urge,
Amiga.
Agora és morta.
(Suicida?).
.
Já Pierrot-vomitando-fogo
(sempre ao serviço dos amantes)
não entra no nosso jogo
como dantes.
.
Mas esse obscuro servidor,
que promovemos uma vez
(ainda eu não te dedicara
“aquele” adeus português...),
.
corre, lesto, como uma chama,
entre nós dois (o saltarim!)
e desafia-nos prà cama.
Esperas por mim?
.
II
Se eu pudesse dizer-te: — senta aqui
nos meus joelhos, deixa-me alisar-te,
ó amável bichinho, o pêlo fino;
depois, a contra-pêlo, provocar-te!
Se eu pudesse juntar no mesmo fio
(infinito colar!) cada arrepio
que aos viajeiros comprazidos dedos
fizesse descobrir novos enredos!
Se eu pudesse fechar-te nesta mão,
tecedeira fiel de tantas linhas,
de tanto enredo imaginário, vão,
e incitar alguém — Vê se adivinhas…
Então um fértil jogo amor seria.
Não este descerrar a mão vazia!
.
III
Sê como és : o sol é bom,
o ar vivaz
Do azul aos azuis, do verde aos verdes,
a terra é menina e o tempo rapaz.
.
Também tu és menina
(um bichinho rebelde, de tão natural!)
e correr descalça era mesmo o que querias,
mas seria indecente nesta capital...
.
E enquanto, doutro verde possuido,
em versos me explico, bem ou mal,
à primavera corres, já descalça,
por uma relva ideal!
.
IV
Passam os anos a caretear...
Com ou sem sorte,
não será tempo de viver, de amar,
de resistir à morte?
.
Ouve amor-o-eterno e o que ele diz
a quem se dá.
Não esperes pelo tempo : sê feliz
que a felicidade é já!
.
E a felicidade é esse rosto eleito
por ti,
é esse palmo de ternura e o jeito
com que sorri.
.
E a felicidade é a melancolia
que nesse rosto existe,
quando te quer dizer que só por ele
é bom estar triste...
.
Passem, então, os anos a deitar-nos
línguas de fora...
Se morrermos será de nos amarmos
em cada hora !
.
Mais um ano de esperança? Não o queiras
se a esperança é adiar,
e vive-o como se fosse a vida inteira
se tiveres de esperar!...
.
V
Eu estava bom p'ra morrer
nesse dia.
Não tinha fome nem sede,
nem alarme ou agonia.
.
Eu estava tal como está
esse que perdeu a amiga,
o homem que sofreu já
tanto (nem se imagina!)
.
que ficou bem atestado
de fadiga
e copiou-se em alegre,
mas de uma torpe alegria,
.
que não era mesmo alegre,
mas alegre se fingia
só para enganar o morto
que dentro de si trazia.
.
Este é um modo de dizer
em que ninguém acredita,
mas não sei melhor dizer :
era assim que eu me sentia!
.
A solidão o que era?
O amor o que seria?
Já ninguém à minha espera,
para nenhures é que eu ia.
.
Eu estava bom pr'a morrer
— e ainda hoje morria...
Assim me quisesses dar
e tirar — só tu! — a vida.
.
VI
A que vens, solidão, com teu relógio
de ponteiros de visgo, de bater de feltro?
Ombro nenhum ao meu ombro encostado,
a que vens, ó camarada solidão?
.
Companheira, amiga, até amante,
até ausente, ó solidão, te amei,
como se ama o frio até o frio dar
a chama que tu dás, ó solidão!
.
A que vens, enfermeira? Não sabes que estou morto,
que se digo o meu sim ou o meu não
é só para que os outros me julguem mais um outro,
é só para que um morto não tire o sono aos outros?
.
A que vens, solidão? Vai antes possuir
os que amam sem esperança e sem saber esperam,
dá-lhes o teu conforto, encosta-lhes ao ombro
o teu ombro nenhum, ó solidão!
.
.
— in “Poemas com endereço”, 1962;
— in “Poesias Completas”, introdução e organização de Miguel Tamen, Assírio & Alvim, 2000, p. 172-175.
.
.
(*) — Nora Mitrani (Sofia, Bulgária, 29 de Novembro de 1921 - Paris, 22 de Março de 1961), escritora e socióloga francesa de origem judaica e búlgara, veio a Lisboa dar umas conferências surrealistas em 1950, altura em que conheceu O'Neill e se apaixonaram. Querendo ir ter com ela a Paris, o poeta seria impedido por uma série de circunstâncias que envolveram a própria família e a PIDE. Pode ler o que ele contou sobre o assunto neste texto de ”Uma Coisa em Forma de Assim”: bit.ly/3kbEEyS.
.
Quando O’Neill foi finalmente a Paris, Nora Mitrani já tinha morrido em consequência de um cancro, com 39 anos, suspeitando-se de que possa ter-se antecipado ao fim anunciado.
.


Nora Mitrani . Fotografia de Fernando Lemos

 

MNEMÓNICA

 

(...)

« Um menino inventou uma mnemónica para o rio Limpopo: o rio limpa o pó.»

Adília LopesBandolim. Assírio&Alvim, 1ª edição, 2016., p. 215

''José Veiga Simão (1929-2014) estabeleceu o direito à Educação num país que não era uma democracia.''

 

''o homem que aprendeu com o granito a não dobrar''

 Um direito nunca se agradece.

Um crime nunca se agradece.


Adília LopesBandolim. Assírio&Alvim, 1ª edição, 2016., p. 213

rimmel


 

 ''As Vénus esteatopígias pré-históricas

são tão belas como a Vénus de Milo''


Adília LopesBandolim. Assírio&Alvim, 1ª edição, 2016., p. 211
     Nos anos 70 havia raparigas em Lisboa que chamavam à
menstruação a história. É bem achado.

5/2/15


Adília LopesBandolim. Assírio&Alvim, 1ª edição, 2016., p. 206

Olhai os Lírios do Campo

 Erico Veríssimo

Tive uma tia bisavó que dizia: de porco nunca ninguém morreu.

Adília LopesBandolim. Assírio&Alvim, 1ª edição, 2016., p. 198

ditado sexista

 «não te fies em mulher que sabe latim nem em burra que faz IM»

calista

douleurs

 Teoria das Catástrofes é um teorema criado pelo matemático francês René Thom na década de 1950 

Vale

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

''A democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente.''

 George Bernard Shaw (1856-1950, escritor)


A Mão e a Faca, 1949-1952 
                                                                           Fernando Lemos

''Aquilo que pedimos aos céus na maioria das vezes se encontra em nossas mãos.''

William Shakespeare

domingo, 18 de fevereiro de 2024

 “Não faço grande diferença entre os filmes e a vida, diria até que os filmes me ajudam a viver.”

Jean-Luc Godard

sábado, 17 de fevereiro de 2024

 “Sou terrivelmente desleixado… sou, sou! Ás vezes apanho multas por pagar os impostos fora do prazo(…) multas terríveis e postais com ameaças.” —  Carlos Paredes


terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

''áceres em fogo''

Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 69


 

 ''São fáceis os extremos. Só o meio
é o enigma.''

Louise Glück.
 A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 69

 '' é / árduo ser/ o animal descartável, / muito árduo.''


Louise Glück.
 A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 67
 ''Estas perguntas deviam
ser colocadas por ti, por ti,
não pelas tuas
vítimas. Devias saber
que quando te pavoneias entre nós
ouço duas vozes a falar:
uma que é o teu espírito, a outra,
as acções das tuas mãos.''

Louise Glück.
 A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 65
 ''A melhor coisa do mundo
é não ter
pensamento! Sentimentos,
ah, isso tenho: são
eles que me guiam. Tenho
um senhor no céu
chamado sol, para ele
me abro e lhe mostro 
o fogo do meu coração, igual
ao fogo da tua presença.''
(...)

Louise Glück.
 A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 63


 

 ''sobreviver / à adversidade aumenta / a sua cor.''



Louise Glück.
 A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 59
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