terça-feira, 28 de março de 2023
TU MORRES TODOS OS DIAS
Tu morres todos os dias
libertando telefonemas
diante da minha mágoa
exposta à ira dos dias
levo-te cravos vermelhos
flores recentes da estação
Morres e vais caminhando
sobre uma estrada de fumo
o lume que nos sustenta
Já não cheira não tem vida
Às vezes vens-me à lembrança
descalça ao longo da praia
Vivo terrores de madraço
Com dívidas acumuladas
Seguindo de perto o tráfego
Saberei um dia amar-te
Tu morres tu pontificas
eu respiro a tua sombra
Ai repouso de guerreiro
Sobre o abismo repousas
Azeitão, 31 de Março de 1981
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 162
''chora-se a agonia''
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 156
(...)
«Corre o veneno pelas paredes brancas
o mar vomita peixes e serpentes
caem meninos mortos das varandas
as Parcas estão contentes
Tranquilizar o coração humano
É tão difícil como ser ribeiro
As águas essas correm todo o ano
Não voltam em Janeiro »
'' A dor-inverno''
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 133
« Só nos pinhais é possível parar sem arrependimentos tardios»
« Só nos pinhais é possível parar sem arrependimentos tardios
e penso muito naquela tarde vazia»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 124
«dentro da asa o delírio»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 122
domingo, 26 de março de 2023
NOCTURNO
Uma noite,
uma noite toda cheia de perfumes, de murmúrios e de músicas de asas,
uma noite,
em que ardiam na sombra nupcial e húmida, pirilampos fantásticos,
ao meu lado, lentamente, a mim toda cingida,
muda e pálida
Como se um pressentimento de amarguras infinitas,
até ao fundo mais secreto das tuas fibras te agitasse,
pelo atalho que atravessa a campina em flor
caminhavas
e a lua cheia
pelos céus azúleos, infinitos e profundos espargia a sua luz branca,
e a tua sombra
fina e lânguida,
e a minha sombra
pelos raios da lua projectadas,
sobre as areias tristes
da vereda se juntavam
e eram uma
e eram uma
E eram uma única longa sombra!
E eram uma única longa sombra!
E eram uma única longa sombra!
Esta noite
sozinho, a alma
cheia das infinitas amarguras e agonias da tua morte,
separado de ti mesma, pela sombra, pelo tempo e a distância,
pelo infinito negro,
que a nossa voz não alcança
só e mudo
pelo atalho caminhava,
e ouvia-se o ladrar dos cães à lua,
à lua pálida,
e o coaxar
das rãs…
Tive frio, era o frio que sentiam no quarto
As tuas faces e a tua testa e as tuas mãos adoradas,
entre as brancuras níveas
das brancas mortalhas!
Era o frio do sepulcro, era o frio da morte
era o frio do nada…
e a minha sombra
pelos raios da lua projectada,
ia sozinha,
ia sozinha,
ia sozinha pela estepe solitária!
e a tua sombra esbelta e ágil
fina e lânguida,
como nessa noite morta da morta primavera
como nessa noite cheia de perfumes, de murmúrios e de músicas de
asas
abeirou-se e caminhou com ela,
abeirou-se e caminhou com ela,
abeirou-se e caminhou com ela…Oh as sombras enlaçadas!
Oh as sombras que se procuram e se juntam nas noites de negruras e
de lágrimas!...
José Asunción Silva. Um País que Sonha cem anos de poesia columbiana (1865-1965). Selecção e prólogo Lauren Mendinueta. Tradução Nuno Júdice. Assírio &Alvim, 2012., p. 21-22
« Nas antípodas das vanguardas herméticas e elitistas, a cultura de massas quer oferecer novidades acessíveis para o público mais amplo possível e que distraiam a maior quantidade possível de consumidores. A sua intenção é divertir, dar prazer, possibilitar uma evasão fácil e acessível para todos, sem necessidade de qualquer formação, sem referentes culturais concretos e eruditos. O que as indústrias culturais inventam não é mais do que uma cultura transformada em artigos de consumo de massas.»
Gilles Lipovetsky/Jean Serroy , La cultura-mundo.
op. cit in Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição. Quetzal. 2012., p. 20sábado, 25 de março de 2023
''jargões herméticos''
Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição. Quetzal. 2012., p. 20
''deterioração progressiva da palavra''
Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição. Quetzal. 2012., p. 20
monoteísmo
«(...), isto é, a concepção de um deus único, invisível, inconcebível, todo-poderoso e inalcançável à compreensão e até à imaginação humana. O deus mosaico veio substituir aquele politeísmo de deuses e deusas acessíveis à multiplicidade humana, com os quais a diversidade existente de homens e mulheres poderia acomodar-se e sobreviver.»
« O que quer dizer civilização do espectáculo? A de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigente é ocupado pelo entretenimento e onde divertir-se, fugir ao aborrecimento, é a paixão universal. Este ideal de vida é perfeitamente legítimo, sem dúvida. Só um puritano fanático poderá censurar os membros de uma sociedade que queira dar consolo, descontração, humor e diversão a umas vidas geralmente enquadradas em rotinas deprimentes e às vezes embrutecedoras. Mas converter essa propensão natural para passar uns bons momentos num valor supremo tem consequências inesperadas »
Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição. Quetzal. 2012.
sexta-feira, 24 de março de 2023
quinta-feira, 23 de março de 2023
« A gente só sentencia»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 115
INSISTO NÃO SER TRISTEZA
Insisto não ser tristeza
Soluçar sobre uma mesa
ÁSPRO ÁSPERO ROMANCEIRO
Áspro áspero romanceiro
voltado para Meca ou Miragaia
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 111
terça-feira, 21 de março de 2023
é percorrida pelo arrepio,
Marianna e Chamilly
Quando partires
se partires
terei saudades
e quando ficares
se ficares
terei saudades
Terei
sempre saudades
e gosto assim
Adília Lopes, in 'Caderno'
Canção de primavera
Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.
Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.
Eu, invernos e outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio...
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.
Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.
Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar...
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?
domingo, 19 de março de 2023
«Cria-se a morte no teu leite aberto.»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 97
« Hoje não saio. Sinto-me perdido.»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 93
«O país conhece a autópsia do dia.»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 93
«E tu silêncio, sempre vinhas.»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p.83
''seareiros da fome''
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 79
sexta-feira, 17 de março de 2023
quarta-feira, 15 de março de 2023
II
Ó pequena Cleis, emudeceua tua mãe e puxa-te para dentro
terça-feira, 14 de março de 2023
« Se nos matarem, não será por fome,»
Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 15
domingo, 12 de março de 2023
ESMOLA
I
Lançai-me uma palavra, como algunsatiram côdea aos cães.
Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 7
«(...) a sua fé não é senão cobardia, medo de sofrer.»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 56
«A mim não me conta os segredos da sua alma.»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 52
''o mal possível prevê-se e remedeia-se''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 45
''olhos orvalhados''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 36
'' queria morrer, amando-o''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 34
« A lei encolhia-se de medo;»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 34
''olhos indulgentes''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 31
«Há homens que apodrecem aos rebanhos»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 76
«Que dizer do meu inferno?»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 74
SEM MANEJOS DE TROPOS FERRAMENTAS
Morremos à míngua de vitórias
«Quisera ser rio ou ave»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 64
sábado, 11 de março de 2023
SOPRA O SONHO
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 43
«FUI AO ENTERRO DE UM LEÃO»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 42
''Sem pedais para a morte''
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 33
quinta-feira, 9 de março de 2023
''o cabaz dos pêssegos''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 30