sexta-feira, 15 de maio de 2015

V


O bem e o mal, não sei. Tenho de ti
toda a obediência. Triunfo
que me apazigua
males havidos por culpa ou já sem culpa
formada. Insatisfeito,
recupero a paz das nuvens
ou a tempestade...Sigo 
o ciclo da lua.
O sol domina!


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 140

(...)

«Entre os projectos, um só, 
tácito, se afirmou garantido
pelos anos de promessas
ou de plano consentido.
Inundámo-nos de sol
cintilante e poesia.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 139

Herberto Helder - Poemas Canhotos


I


Cresci demais. Toco
a raíz dos cabelos
quando o vento encana pela rua
ou, incerto, procuro
resolver um problema.
Este problema do crescimento
desacompanhado
a torcer as voltas que dou ao mundo
em busca de paraísos.
Trago pequenas estátuas
e olhos que me consomem
e confecciono um problema.
O crescimento aumenta, mas desliza.
Os cabelos diminuem
na raíz.



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 139

VII


Tudo se acaba. É mentira.
Há parcelas que se juntam,
se adicionam,
como a ideia e o sentimento,
o tempo
perdido
e o momento de acção
iluminado.

Ninguém se convença
que acaba.
Há o céu que nos espera,
a sua ilusão
remordida até ao paroxismo.
Ou há passado 
sem destino.

A dolorosa mensagem
da nossa vida
é esta: caminhar sempre;
atar as vides da vinha
vindimada.

Saber esperar.
Andar, andar,
nem que seja de rastos.»



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 138
«O dedo à beira da ferida 
infectada »

(...)

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 137

inaptência

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Crazy Cat Lovers



«Comigo vais amar quem quiseres, vais ser tu a apresentar a factura.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 109

«É a escrava que não posso libertar, o cão que não posso abater.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 105
«É a cadela que segura o homem pela trela, o escravo que ridiculariza o amo, o pássaro que fecha a criança na gaiola. Nunca mais quero falar-lhe, nem ouvi-la, nem ceder às suas lágrimas; quero por minha vez ser mau e duro, e pôr-lhe o açaimo como a um cão mal treinado, bater-me contra ela até se deitar quando eu lhe disser para se deitar e se meter onde eu disser para se meter, até acabarmos por ver quem obedece a quem.
Bati-lhe com um pau para lhe ensinar o respeito, mas não fiz mais do que endurecê-la e torná-la insolente; mergulhei-a em água gelada, mas só consegui excitar a sua curiosidade; piquei-a com espinhos para que, ao verter o seu sangue, vertesse também a maldade e o sofrimento que me infligia. mas o que fiz foi dar-lhe o gosto do sofrimento.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 105

«Mordido pelo desespero, »


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 126
(...)
«Vê o teatro de Deus.

Morre de olhos abertos.»



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 125

« lê, treslê »

«Quem é aquele que obscurece assim a minha Providência com discursos ininteligíveis?»

JOB, 42.3

Ser ou não ser é pão que não discuto


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 116

SUNT LACHRIMAE RERUM...


1

O mar tem fundos nus de areia fina
E poentes toldados pela neblina.
Eu não tenho nada,
Vazio
- Homem frente ao mar que despedaça
Inerráveis construções do espírito.
E lanço pedras na espuma,
Só, absorto no espaço,
Sem palavras, nem sequer palavras
Devassadas.

(...)


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 111

«E há ilusões consentidas:
Vento que sopra nos caules
Antes de serem ceifados.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 114

Sementes do inferno e do céu.


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 111

O SONHO

O peso da vida
Não sofre o afago da alma.
E assim persigo delfins desconhecidos
Em mares desconhecidos.

Ilhas que eu não queria
 - Surgem.



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 105


RODOLFE

Tens razão. As mulheres amaldiçoam de manhã e abençoam à noite, quando torna a amanhecer, voltam a amaldiçoar, para abençoar, outra vez ao meio-dia. É como o vento variável, sempre a soprar em direcções diferentes. As árvores já o conhecem e deixam-se ficar direitas, deixam-no passar. A minha maldição não é assim: é como um punhado de sal que se deita no chá, tornando-o para sempre intragável.


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 101

RODOLFE
Nada, não penso nada, sou muito velho e muito estúpido para pensar. Só quero que me deixes em paz.


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 100

«É como a fruta: a sã é invadida pela podridão, mas a podre nunca mais volta a ser sã.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 100

MONIQUE

Bestas, vagabundos, remelosos, gafados, restos de seres humanos! Estou farta destes doidos mal lavados, tão farta que antes preferia viver no meio dos ratos e dos cães! Meu Deus, esta gente mete nojo! Vou-me fechar atrás de quatro portas de cimento, vou-me barricar em casa assim que voltar e pedir que me façam chegar os alimentos por um túnel para nunca mais ter que sentir o cheiro destas raspas de seres humanos, vou mandar que me cimentem dos pés à cabeça, só com um buraco para a boca e o nariz! Maurice, quero voltar para casa! (Monique e Maurice caem nos braços um do outro.)



Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 89

«Não andes por aí a laurear a pluma (...)»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 86
''Por volta das sete horas e meia, o negrume de breu que nos
rodeava começou a transformar-se em cinzento lívido
e compreendemos que tinha nascido o sol.''

CONRAD

«Ainda não é a morte. A morte nunca é dolorosa.»

LONDON

«Mais tarde ou mais cedo, as coisas haviam de pôr-se pretas para ti. Tiveste um adiamento e eu ajudei-te, mas algum dia havia de chegar a má sorte.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 67


«Aliás, tu nunca entendes o que eu te digo, e eu não percebo nada do que tu pensas. Fazes sempre como eu penso que tu pensas que não tens vontade de fazer, e depois emendas.»

Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 67

«Não te estou a pedir nada que não me devas.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 66

FAK
Se fosses muito infeliz, não estavas sempre a dizer não. Quem é muito infeliz, diz sim. Só diz não quem é ainda pouco infeliz.


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 65


FAK
Eu não troco nada; ou me dão, ou não me dão, ou tomo, ou não tomo, ou dou, ou não dou.


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 65

FAK
São precisamente os que nunca se lavaram desde que nasceram que estão sempre limpos; a porcaria desinteressa-se deles e escorrega-lhes pela pele. Ao passo que correr atrás dos que passam o tempo todo a lavar-se; quanto mais se lavam, mais a porcaria se agarra. Quando fores crescida, vais ter que te lavar cada vez com mais frequência, e mais tarde, quando já fores muito velha, vais passar o tempo todo a lavar-te sem nunca deixares de estar suja, mas eu, que nunca me lavei vou estar limpo até ao fim dos tempos.



Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 64

«Eu nunca me lavo, nem no rio, nem em casa, nem em nenhuma espécie de água, suja ou limpa.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 64


«Um homem não deixa a sua terra com vergonha do nome da mãe sem ter cometido um crime. Vocês só nos trazem desgraças, com o cheiro dos vossos crimes, da vossa vergonha, do vosso silêncio, de tudo o que escondem. Com vocês, chegados aqui sem pai, nem mãe, nem raça, nem umbigo, nem língua, nem nome, nem deus, nem visto, chegou o tempo das desgraças umas atrás das outras. Por vossa causa, a desgraça entrou em nossa casa, subiu as escadas, arrombou a porta e foi o começo da miséria, o começo da falta de dinheiro, o começo da escuridão, dos sóis que não querem pôr-se, o começo dos barcos que já não páram aqui, do abandono das casas pelas pessoas honestas, o começo da desordem, dos insultos, das navalhadas, do medo da noite, do medo do dia, do medo colado às costas, do desregramento dos dias e das noites, o começo das picadas no nosso sangue pelas moscas que se ocultam nos vossos cabelos. Antes, o sol era o sol, bastava um gesto para nos obedecer, e a noite o tempo do sono; as portas fechavam-se à chave, as janelas tinham vidraças e das torneiras corria água, mas vocês beberam até à última gota a água que corria das torneiras e não deixaram nada para ninguém. Antes, por aqui tudo corria bem: não havia dores nas pernas nem nas costas, não havia dores na garganta, nos olhos, não havia a febre que não nos deixa dormir, nem dores de barriga, nem dores no peito. Antes, andávamos como deve ser, de ombros firmes e costas direitas. Mas a vossa vergonha foi lentamente encurvando as nossas costas e baixando a nossa cabeça, e começou aí a nossa desgraça. Nunca mais quero ver-te! Nunca mais quero ver nada!»



Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 61/2

estafermo


«Sou uma putéfia reformada, boa para furar pneus de automóvel com uma faca de cozinha e para esperar a chegada do crepúsculo. (Ri-se.) Eu doente!»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 61

«(...) a minha lábia só funciona ao crepúsculo.Estou tão cansada que basta-me ter uma ideia, por mais pequena que seja, para ter que me sentar e retomar o fôlego.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 60

«A gente deve rir-se quando tem vontade. Também não tenho lume.»

Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 60

terça-feira, 12 de maio de 2015

«Um sonho sem história.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 95

«Fiel à minha inocência.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 93

«Somos fiéis ao que queremos»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 93

«Como és fugaz e me feres a alma!»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 90
«Não me dói a indiferença do mundo,
Eu amo-a, eu queria amá-la tanto!»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 90

12.

Não sei se dor
Ou muito amor
Eu sinto.

Mas isto é maior que a morte;
Não posso mais.
Eu minto.




Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 85

«A minha alma pára;
Sim, cansada de sofrer,
Cansada de se justificar.»



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 84

UMA NOITE INCENDIEI
"Uma noite incendiei a casa que amava,
iluminou um círculo perfeito
em que vi ervas daninhas e pedras
Além disso - nada.
Certas criaturas do ar
que de noite tinham medo,
Vieram ver o mundo outra vez
E na luz pereceram.
Agora navego de céu em céu
E toda a escuridão canta
contra o navio que fiz
com asas mutiladas."
-"Poemas e Canções Vol 1"
- Leonard Cohen 

segunda-feira, 11 de maio de 2015


«Tudo o que ela dissera me fluía à boca com o sabor de malogros e paixões. Nos últimos tempos, eu reagia por tudo e por nada. Tinha os nervos eriçados, sensíveis como um dente cariado.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 257

CARTA ASTROLÓGICA DE JEAN GALMOT


"Falta de estabilidade.
Pensamento inconstante, incapaz de se fixar. Pouco criador.
Demasiado contemplativo.
Pensamento que se deleita no sonho e na imaginação.
Emotivo.
Diversidade de aspirações e falta de controlo. Demasiados interesses por demasiadas coisas e dificuldade de decisão.
Sensível ao modernismo da sua época e aos seus perigos.
Amante de nuvens e de nelas se perder.
Lado instintivo poderoso. O ventre domina, mas quer que a cabeça o acompanhe.
Misticismo.
Guia-se exclusivamente pelo sentimento.
Falta de vontade e de auto-domínio.
Mobilidade.
Muito influenciável.
Impulsos seguidos de lamentos.
Remorsos por deixar escapar a oportunidade, as oportunidades.
O fundo do seu carácter é todavia mais forte do que parece.
Conflito entre o interior e o exterior, natureza timorata, incapaz de se fixar, e de se decidir. Com maior controlo sobre o plano físico, o plano emotivo pode tornar-se motor. Mas tudo acana por se reduzir a veleidades.
Artista, mas desastrado. O excesso de imaginação e de versatilidade torna difícil a criação. Gosto pelas belas-artes e belas-letras, ainda mais por estas.
Gosto pela boémia e pelas naturezas originais o que favorece o inconformismo do carácter.
Pouca vitalidade; saúde precária."
-"Rum: A Vida Secreta de Jean Galmot"
- Blaise Cendrars

sábado, 9 de maio de 2015

«Para esses sonâmbulos, era eu o enfermo.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 244

''euforia de fantoches''

acinte


nome masculino

ação praticada com a intenção de contrariar, irritar ou provocar alguém; teima; pirraça

advérbio
intencionalmente

por acinte
de propósito, de caso pensado


«Escreveu a alguns, para endereços antigos, e como a via sofrer de tal modo com a desiludida expectativa de lhes receber uma resposta, proibi-a rudemente de persistir na tolice.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 242

«Sentia uma súbita fome. E um vazio em todas as vísceras.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 239

''alforge de excentricidades''

''lábios desbotados''


''apagar-lhe da memória as nódoas que tinham ficado para trás.''


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 214

«Do seu verdadeiro tamanho: uma pobre coisa exposta às ressacas do meu pensamento.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 214

«O seu olhar, então, quando lhe sacudia o mutismo, pousava, suave e indiferente, sobre a minha contida saturação.
-Que tal passaste a noite?
-Bem.
Fechava-se, um muro em volta, obrigando-me a ficar de fora.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 209

«Não pude, contudo, deixar de sorrir. E esse sorriso foi o bastante para que a pobre Lúcia se sentisse ameigada como uma cadela sem dono.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 201

''dança sonâmbula''

"The Red Shoes" , 1948




«(...), tal como eu, não queria confessar que a solidão nos deixa as mãos estendidas e apavoradas dentro de um quarto escuro; daí, as suas fugas, o seu arzinho de bicho que se prepara para arranhar enquanto não está certo se deve confiar nos dedos que se estendem para o afago.»



Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 189


«Desejei muitas vezes ter alguém ( e só então reparava, com azeda amargura, quanto tinha sido até aí desastrado nas relações humanas, quanto conduzira as pessoas a respeitarem-me por entre uma gélida terra-de-ninguém, a temer-me e nunca a ter estima por mim), um amigo que interpretasse as incongruências do meu procedimento, humanizando-as  a meus olhos, ajustando-as, se fosse possível, à espécie de pessoa que eu julgava ser. Eu, por mim, de modo algum as poderia ajustar.»



Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 188
«Durante as minhas vigílias de cigarros trespassava-me o eco de longínquas vozes.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 188
«...Pedia-me aqueles nadas que reanimam uma vida. Enfim: a torpe ilusão de que poderia haver um erro ou uma possibilidade.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 187
"Tudo cresce no silêncio. Tudo cresce em silêncio. Desde o ácer até à vulgar tradescância. Mas quem melhor se adapta, sem dúvida, os miosótis. Depois de alguns minutos em silêncio já não te consegues mexer, com receio de os pisares."
-"Poeta Nu"
- Jorge de Sousa Braga

sexta-feira, 8 de maio de 2015



«Se aqueles breves raios de loucura passavam por Clarisse, se o mórbido desvario a conduzia a atitudes extremas é porque as patologias as previam, as regulamentavam. E se assim não fosse?
   Clarisse, ao reparar no meu silêncio taciturno, fez um sorriso de astúcia.
   -Nunca julguei que uma simples beliscadura te afectasse tanto...»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 183

«Que eram as pessoas? Ilhas. Ilhas isoladas e um braço estendido, a fazer de ponte, por onde se esperava que passasse alguém.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 183

humorismo sombrio


« - Como  vês, não me devo queixar: passou por mim muita coisa, menos bolor...Aconteceu-me um pouco de tudo. Até a morte marcada por um despertador que, uma vez que lhe foi dada corda, ninguém o fará parar.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 180
«Nunca a sentira tão longe de mim. Tão desapegada. As suas palavras não me eram dirigidas. Era uma sensação desagradável. Achei-me a estimulá-la ao diálogo, numa tentativa ciumenta de a recuperar.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 178
«No entanto, Clarisse tinha de falar do passado. Arrumá-lo (tal como eu tentava arrumar o meu presente, unir o que fazia ao que sentia, sem, porém, o conseguir), esclarecê-lo para se libertar melhor. Ou então, era-lhe necessário, por orgulho, talvez, justificar certos aspectos contraditórios que se farejavam na sua vida.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 175

quinta-feira, 7 de maio de 2015


Quando o amor morrer dentro de ti,


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 82
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