segunda-feira, 11 de abril de 2016

domingo, 10 de abril de 2016



"Saiba morrer o que vive não soube.
Saiba morrer o que não viver soube.
Saiba morrer o que não viver não soube.
Saiba morrer o que viver soube.
Saiba não morrer o que vive não soube.
Saiba não morrer o que viver soube.
Saiba não morrer o que não viver não soube.
Saiba não morrer o que viver soube.
Não saiba morrer o que viver não soube.
Não saiba morrer o que não viver soube.
Não saiba morrer o que não viver não soube.
Nao saiba morrer o que viver soube.
Não saiba não morrer o que viver não soube.
Não saiba não morrer o que não viver soube.
Não saiba não morrer o que não viver não soube.
Não saiba não morrer o que viver soube."

Jorge de Sena,"Sequências", Moraes Editores, 1980 (1a edição)
«Diziam que tinha a face de um deus
Mas havia quem nele visse um demónio de sandálias
E alguns caracóis entrelaçados em vinha
Veias corriam os seus braços de mármore cantando
Altas montanhas como uma névoa permeando
Uma abertura no coração e uma funda dourada
Que moldava em formas que não ousamos imaginar
Com a lâmina raspando os cantos da carência
Expondo os músculos de um amor por respigar
Somos os búfalos, uma raça em extinção
Arrastada em carroças, de osso magnífico
A vergonha é um êxtase que ninguèm pode possuir
Escravos abraçam-se enquanto a sabedoria geme
Volumes de nada escritos em pedra»


Patti Smith. "O Mar de Coral"

«Listening to the birds» // John Dumont, 1892


sábado, 9 de abril de 2016



"An artist, if he's unselfish and passionate, is always a living protest. Just to open his mouth is to protest: against conformism, against what is official, public, or national, what everyone else feels comfortable with, so the moment he opens his mouth, an artist is engaged, because opening his mouth is always scandalous."


Pier Paolo Pasolini
The Canterbury Tales (1972)

"A Mulher do Próximo" (1988) de José Fonseca e Costa, "A Vizinha do Lado" (1945) de António Lopes Ribeiro

''Muitos não sabem propriamente distinguir a originalidade da excentricidade: uma caracteriza o génio, outra manifesta o louco.''

Páscoa Lily cacto, a flor que vive com menos de 24 horas.


'' Se quisermos um mundo melhor, temos de nos tornar melhores.''

sexta-feira, 8 de abril de 2016

''o corpo mais errado é o corpo ausente''




fotograma de "Body", de Malgorzata Szumowska
"O maior perigo que corre o ingénuo: o de querer ser esperto. Tão ingénuo que cuida, coitado, de que alguma vez no mundo o conhecimento valeu mais do que a ingenuidade de cada um."

Almada Negreiros

domingo, 3 de abril de 2016



“O mais provável é que na vida nada tenha mais importância a não ser a Vida, com a sua Morte inclusa, claro está (...)”.


Agostinho da Silva, Portugal ou Cinco Idades, 1982

sexta-feira, 1 de abril de 2016

"O mundo é como quem diz uma vida
O sonho é como quem diz a sua morte
A alma é como quem diz o mundo
Este lapso da mente o colidir do relento
O colidir do relento (é como quem diz)
O sonho são olhos que se fecham ao real acompanhado
Como quem diz vagarosamente deslagrimagem
Que ama o poema mundo
Que desenha o poema inaudível
A memória ao abrir-se «à mulher que se banha
No seu própeio sol»
O eclodir da boca
O mundo é como quem diz uma vida
A alma é como quem diz o mundo
No interior de sua vida"


-"Torre de Juan Abad"
- António Poppe

segunda-feira, 28 de março de 2016

Orson Welles & Romy Schneider


“film possibly contains a whole new system of thought, a new episteme” Frampton, 2006

Sobre o Cinema #

«Para isso, Frampton, herdeiro e seguidor das ideias de Deleuze relativamente ao cinema-pensamento, lançou a hipótese de o século XX ter sido o século em que, graças ao cinema, surgiu um novo tipo de filosofia: tal como o cinema se tornou filosófico, também a filosofia se tornou fílmica. Como afirma o autor,

“What I am suggesting here is that films offers another future for philosophy.
Filmosophy is not better that philosophy, but another kind of philosophy” (Frampton
2006:183). 

Segundo Frampton,

Cinema is more than a handy catalogue of philosophical problems, and to say that film
can only present ideas in terms of story and dialogue is a narrow, literary view of film's
possible force and impact. If the starting point for these philosophers is 'what can film
do for philosophy?', how long will it take for them to realise what film offers.»
«Se “o mundo é um cérebro” (Deleuze 1985:267), este mundo não está fechado, está exposto na sua vulnerabilidade pela membrana cerebral que rompe o todo fechado. Deleuze também afirma que “o cérebro é o ecrã” (Deleuze 2003: 264) no sentido em que, enquanto imagem-cerebral, o cinema consegue dar a ver como funciona o pensamento.»

espectador-voyeur

artifícios cinematográficos

Sobre o Cinema #

''a imagem sonora e a imagem visual autonomizam-se, isto é, seguem movimentos distintos e é deste modo que a voz off não é uma descrição da imagem mas é exterior e autónoma, ao mesmo tempo que o faux-raccord é a imagem exterior do pensamento.''

''cassetes anónimas''

indiscernibilidade do actual e do virtual, do passado e do presente, da lembrança e da percepção

o cinema permite pensar o impensável

Gilles Deleuze sintetiza as duas principais diferenças entre o cinema clássico da imagem-movimento e o cinema moderno da imagem-tempo:

''D’une part, l’image cinématographique devient une présentation directe du temps,
suivant les rapports non-commensurables et les coupures irrationnelles. D’autre part,
cette image-temps met la pensée en rapport avec un impensé, l’inévocable,
l’inexplicable, l’indécidable, l’incommensurable.'' (Deleuze 1985:279)
A principal função do cinema é, para Deleuze, fazer pensar.

''Le cinéma ne met pas seulement le mouvement dans l’image, il le met aussi dans
l’esprit. La vie spirituelle, c’est le mouvement de l’esprit. On va naturellement de la
philosophie au cinéma, mais aussi du cinéma à la philosophie.'' (Deleuze 2003:264)
Self-reflexive films might be a good way to think about the nature of film. (...) they
really did present original philosophical thinking about the nature of film

 (Wartenberg 2007:135).

Ensaio Visual " Gestos do Realismo". Filmes: "Stromboli, terra di dio" de Roberto Rosselini e "At Land" de Maya Deren


Gestos do realismo from Margarida Leitão on Vimeo.

Sobre o Cinema #

«Thomas Wartenberg coloca-nos ainda algumas questões relevantes sobre a distinção entre filmar a filosofia e fazer filosofia cinemática. Para o autor, filmes como Rashomon (1950) de Kurosawa, O Sétimo Selo (1957) de Bergman, Crimes e escapadelas (1989) de Woody Allen e The Matrix (1999) dos irmãos Wachowski, não só foram capazes de levantar questões filosóficas como de avançar com respostas. Deste modo, um filme (qualquer um dos citados anteriormente) pode adaptar por imagens ideias ou argumentos relativamente a uma questão (ontológica, política, ética, etc) ou pode ainda adaptar toda a obra de um filósofo conjugando, como num romance, vida e obra (por exemplo, Descartes (1974) de Roberto Rossellini ou Wittgenstein (1993) de Derek Jarman).»

O cinema é um campo privilegiado para a ilustração de questões filosóficas

sábado, 26 de março de 2016

A eternidade e um instante é a mesma coisa.

SANTO AGOSTINHO
«Na verdade, não há sono mais bem ganho do que o de um leão a dormir com restos de sangue ainda no focinho, como os leões de pedra que há nas escadarias por onde se sobe depois da batalha!»

in A Invenção do Dia Claro


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 168

«Não tenhas medo de estares a ver a tua cabeça a ir directamente para a loucura, não tenhas medo! Deixa-a ir até à loucura! ajuda-a a ir até à loucura, Vai tu também pessoalmente, co'a tua cabeça até à loucura! Vem ler a loucura escrita na palma da tua mão. Fecha a tua mão. Fecha a tua mão com força. Agarra bem a loucura dentro da tua mão!»


in A Invenção do Dia Claro


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 160
«Se fosse o teu orgulho de joelhos, ainda era o teu orgulho, mas são as tuas pernas dobradas com o peso do ar.»

in A Invenção do Dia Claro


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 160

Laurent Chehere, from ''Flying Houses'' series



«VALOR DAS PALAVRAS

Há palavras que fazem bater mais depressa o coração - todas as palavras - umas mais do que outras, qualquer mais do que todas. Conforme os lugares e as posições das palavras. Segundo o lado onde se ouvem - do lado do Sol ou do lado onde não dá o Sol.
   Cada palavra é um pedaço do universo. Um pedaço que faz falta ao universo. Todas as palavras juntas formam o Universo.
   As palavras querem estar nos seus lugares!

NÓS E AS PALAVRAS

   Nós não somos do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.»


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 158

*

AS PALAVRAS

O preço de uma pessoa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras. Lê-se nos olhos das pessoas. As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um.»



in A Invenção do Dia Claro


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 157

«Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiar e nenhuma era para copiar.»

in A Invenção do Dia Claro


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 154

Marilyn Monroe for ''Some like it Hot'' directed by Billy Wilder, 1959


*



   Imaginava eu que havia tratados da vida das pessoas, como há tratados da vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assim parecidos com o tratamento que há para os animais domésticos, não é? Como os cavalos tão bem feitos que há!

    Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como há hóstias para cuidar da febre. Um livro com tanta certeza como uma hóstia. Um livro pequenino, com duas páginas, como uma hóstia. Um livro que dissesse tudo, claro e depressa, como um cartaz, com a morada e o dia.

in A Invenção do Dia Claro


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 153


DEDICATÓRIA:

A ti para que não julgues
que a dedico a outra.


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 93

''osgas de veludo''


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia. Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 91
"O amor produtivo implica sempre uma síndrome de atitudes; as de cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento. Se amo, cuido - isto é, estou activamente empenhado no crescimento e na felicidade da outra pessoa; não sou um espectador. Sou responsável, ou seja, respondo às suas necessidades, às que ela expressa e ainda mais àquelas que ela não expressa ou não pode expressar. Respeito-a, ou seja (de acordo com o sentido original de re-spicere), olho para ela como ela é, objectivamente e não distorcida pelos meus desejos e medos. Conheço-a, penetrei através da sua superfície em direcção ao âmago do seu ser e relaciono-me com ela a partir do meu âmago, a partir do centro, ao contrário da periferia, do meu ser"

Erich Fromm, The Sane Society, 1956, p.32.
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