"Por entre os fios unidos dos cabos, o caminho turvo
Que sobe, que muda com a luz e o voo das cordas, -
Milhas e milhas de luar que vai e vem, tornando sincopada
A agitação murmurada, telepatia de fios.
Lá, no índex da noite, granito e aço -
Malhas tranparentes - imaculados degraus que cintilam -
Vozes sibilinas vacilam, fluxo hesitante
como se das cordas um deus emanasse...
E pelo meio deste cordame, tecendo com o seu apelo
Um arco sinóptico de todas as águas lá em baixo -
As suas gargantas labirínticas da história
Lançam uma resposta como se todosos barcos do mar
Se empenhassem num múrmurio vibrante tornado grito -
«Tem a certeza do teu amor - para lhe teceres a canção que oferecemos!"
- Das represas negras, sons imóveis chamaram,
E do seu sonho responderam sete oceanos."
-"A Ponte"
- Hart Crane
sábado, 14 de novembro de 2015
9
não pude amar mais nada
não pude mais ninguém
e mesmo que te minta
é o contrário disso
e mesmo que te minta
é a verdade seca
posta ali às avessas;
não pude amar mais claro
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 110
não pude mais ninguém
e mesmo que te minta
é o contrário disso
e mesmo que te minta
é a verdade seca
posta ali às avessas;
não pude amar mais claro
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 110
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Barnett’s debut album, Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit,
Dead Fox
Jen insists that we buy organic vegetables
And I must admit that I was a little sceptical
At first a little pesticide can't hurt
Never having too much money I get the cheap stuff
At the supermarket but they're all pumped up with shit
A friend told me that they stick nicotine in the apples
If you can't see me I can't see you
Heading down the highway hume
Somewhere at the end of june
Taxidermied kangaroos are littered on the shoulders
A possum jackson pollock is painted on the tar
Sometimes I think a single sneeze could be the end of us
My hay-fever is turning up
Just swerved into a passing truck
Big business over-taking, without indicating
He passes on the right, been driving through the night
To bring us the best price
If you can't see me I can't see you
More people die on the road than they do in the ocean
Maybe we should mull over culling cars
Instead of sharks or just lock them up in parks
Where we can go and view them
There's a bypass over holbrook now
Paid for with burgers no doubt
I've lost count of all the cows
There'll be no salad sandwiches
The law of averages says that we'll stop in the next town
Where the petrol price is down
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
''dores de Ausência''
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 94
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ISSO, A WALTER
E vivo que me queres - matarás-me
se vivo te disser que me vi morto?
O cano da pistola tenta um vivo.
Assim eu só voltei para contar-te
que entre o vivo e o morto arrefeceu
aquilo que tu chamas céu da boca,
chão da morte no vivo, terrapleno
disposto para a casa duma bala.
Tu vivo me querias? Porém morto
venho de merda, sangue, frio, pó,
que é a vida que fica dessa morte
na pistola arrependida, na pistola.
Cala já. Não perguntes. Tenho medo
que ao som da tua voz acabe a minha.
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 69
''breves lágrimas inúteis na almofada''
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 69
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quinta-feira, 12 de novembro de 2015
"O anjo não se preocupava muito com a minha revolta.
Eu só era o seu veículo, e ele tratava-me como veículo.
Preparava a sua saída. As minhas crises aceleraram-lhe a cadência, e todas se fizeram uma só crise comparável à aproximação do parto. Mas parto monstruoso, que não beneficiava do instinto maternal e da confiança que daí resulta. Imagine-se uma partogénese, um casal formado por um só corpo e que dá à luz. Depois de uma noite em que pensei no suicídio, a expulsão teve enfim lugar na rua d'Anjoou. Durou sete dias em que o vale-tudo da personagem ultrapassava todos os limites por me forçar a escrever contra vontade."
-"O Livro Branco"/ "O Fantasma de Marselha"
- Jean Cocteau
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
"Imagem de juventude e aparente felicidade
ou, pelo menos, de irresponsável alegria,
que regressa tenaz à memória,
mesmo ao recordar que quase tudo foi mentira.
Nem velhos, nem jovens, mas sabíamos
que enganar-nos, que repetir a farsa, era o único,
o mais digno que restava de nós mesmos.
Vodka transparente, os teus olhos escuros,
entreabertos, enquanto te despia,
o ranger da cama e o corpo a quebrar-se.
Depois, meio adormecido, recordo-te a sair
nua, debaixo da trémula lâmpada,
luz verde, escassa, sobre as árvores e a piscina,
sombra na sombra e um baque na água.
Estrondo de palmeiras e pássaros estridentes
enquanto beijo nos teus lábios gotas cálidas,
o teu cabelo húmido, a carícia dos teus dedos.
Os nossos dois corpos juntos, os que chegam agora,
actores sem trabalho, estandartes inúteis,
derrotada ficção na guerra do tempo."
-"Poemas"
- Juan Luis Panero
domingo, 8 de novembro de 2015
"Antes que chegue a noite sobre o mar
e atire o vemto da nortada
as minhas húmidas cinzas para o nada.
Antes que os gastos gestos se dissolvam,
tal como um sorriso que se transforma em esgar
ou os cansados espasmos de um amor extinto.
Antes, ainda, como este sol sobre as ilhas,
tenaz ponto de luz, cor intensa,
que minhas palavras desenhem meu fantasma,
salvo e perdido, na pura intensidade da vida."
-"Poemas"
- Juan Luis Panero
e atire o vemto da nortada
as minhas húmidas cinzas para o nada.
Antes que os gastos gestos se dissolvam,
tal como um sorriso que se transforma em esgar
ou os cansados espasmos de um amor extinto.
Antes, ainda, como este sol sobre as ilhas,
tenaz ponto de luz, cor intensa,
que minhas palavras desenhem meu fantasma,
salvo e perdido, na pura intensidade da vida."
-"Poemas"
- Juan Luis Panero
«O único sítio de paz foi cavado anteontem. Entra-se por um lado, caga-se e sai-se pelo outro.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 50
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«Eu sou uma brevíssima pátria de pés esfolados.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 50
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6
As bombas - e tu se calhar crês que não - explodiam na mesa de cabeceira. Literalmente. Explodiam às três e às quatro. Morri numa sexta-feira, uma quinta, no dia seguinte davam-se massas ao faxina para recolher tudo para o balde - ossos, tripas, tudo.
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 49
«Dei-vos então o poder
de pisardes serpentes,»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 44/5
de pisardes serpentes,»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 44/5
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«Morremos dez vezes
para nascer dez vezes,»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 39
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«Eras tu, amor? - Era eu, era eu!»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 30
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«Não sei
se o que chamam amor é este apaziguamento.
Não sei se comias fogo. (...)»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 29
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«A tua nudez inquieta-me.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 28
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«Duros seios que esmago contra o peito»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 27
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«Loucas mãos: para o amor violento.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 23
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eclusa
''sistema de comportas que permite aos navios vencer a diferença de nível existente num troço de rio, canal ou entre dois lagos ou oceanos''
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«Beberá na boca da amada.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 21
Pessoas bonitas não acontecem por acaso...
“As pessoas mais bonitas que conhecemos são aquelas que conheceram o sofrimento, conheceram a derrota, conheceram o esforço, conheceram a perda e encontraram seu caminho para fora das profundezas. Essas pessoas têm uma apreciação, uma sensibilidade e uma compreensão da vida que as enche de compaixão, gentileza e uma profunda preocupação amorosa. Pessoas bonitas não acontecem por acaso…”
Elisabeth Kübler-Ross
"Não é fácil resistir a tudo
o que nos roubam.
Tempo, memória, mundo.
Toleramos o intolerável
com insuportáveis venenos.
Até melhor ordem, se houver.
Noutras casas (lembro-me)
éramos mais, bebíamos
apressadamente a juventude.
Mas a vida - chamemos-lhe
assim - separa os que se juntam,
gosta de abismos fáceis.
Ao quinto ou sexto gin
(lembras-te?) deitávamo-nos
a sorrir para as estrelas,
sobre o pano gasto do bilhar.
A música era esta.
Perdemos quase tudo."
-"A Última Porta" (Antologia)
- Manuel de Freitas
o que nos roubam.
Tempo, memória, mundo.
Toleramos o intolerável
com insuportáveis venenos.
Até melhor ordem, se houver.
Noutras casas (lembro-me)
éramos mais, bebíamos
apressadamente a juventude.
Mas a vida - chamemos-lhe
assim - separa os que se juntam,
gosta de abismos fáceis.
Ao quinto ou sexto gin
(lembras-te?) deitávamo-nos
a sorrir para as estrelas,
sobre o pano gasto do bilhar.
A música era esta.
Perdemos quase tudo."
-"A Última Porta" (Antologia)
- Manuel de Freitas
«o cigarro entre os lábios, meio ardido.»
Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 15
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