terça-feira, 18 de agosto de 2015

''corou de cólera''

Carnificina

«À frente, banhado em lágrimas, caminhava o espectro sangrento da Liberdade, arrastando atrás de si a imortal canalha: a Fome, a Pilhagem, o Fogo e a Carnificina.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 250/1

''terra úbere''

Audrey Hepburn & Shirley Maclaine




« - O mundo já não tem fim, pois todos juntos formamos um só mundo.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 237

«Será o meu coração doente incapaz de se abrir?»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 235

parlapatices



"Ninguém se mata pelo amor de uma mulher. Matamo-nos porque um amor, não importa qual, nos revela a nós mesmos na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado inerme, no nosso nada”.

Cesare Pavese


«O seu velho coração cedia. Recomeçava a interrogar-se: Deveria continuar ou não? Teria tomado a decisão que convinha? Conduziria ela à libertação? Deus deixara-o livre e ele fizera a sua escolha. Nesse momento, estava certo de ter seguido o bom caminho, mas agora, que quase chegara ao fim, os joelhos dobravam-se-lhe e novas vozes se levantavam do fundo do seu ser: «Atenção, padre Yannaros, vais ser enganado! Como podes tu fiar-te em gente que não crê em Deus?»



Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 230

«A morte tornou-se a sua única esperança.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 229

«Não pensava em nada, fumava cigarro após cigarro e, com a cabeça voltada para cima, fitava o céu, de olhos vazios.»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 228
«Onde irias tu, passarinho sem miolos? Estás bem aqui, sossega duma vez.»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 220

« - Pedras, deserto e fome, eis o que tu és, infeliz Grécia!»

Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 220

THE KISS (1896) - The first kiss scene in history of film, shared between May Irwin and John C. Rice.


«Os anos dobavam, Kyra-Polyxeni embranquecera, os seios esvaziaram-se-lhe, (...)»


Nikos Kazantzaki. Os irmãos inimigos. Tradução de Celeste Costa. Editorial Estúdios Cor, Lisboa., p. 214
«Isto é uma região bravia. Se não a amas, só te resta o ódio.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 144

''a memória do medo''

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 128

«Sentiu o frio da solidão e começou a chorar baixinho.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 119
«Sabes, Elizabeth, o facto de tu veres por baixo das aparências devia tornar-me menos solitário, mas não sucede assim. Quero dizer-te e não consigo.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 116

«Tu olhas demasiadamente perto, Elisabeth», disse vivamente. «Aprofundas as coisas em excesso.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 116

«Desde que me conheço, as festas fazem-me triste.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 114/5

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

«Os carvalhos deixavam cair folhas como a chuva e, apesar disso, continuavam revestidos de folhagem. Todas as noites o céu ardia sobre o mar e as nuvens acumulavam-se e estendiam-se, atacando e recuando como a treinar-se para o Inverno.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 95
Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio de ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida rompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.


Daniel Faria
«Joseph sentiu-se de repente tão cheio de tristeza que o peito lhe doeu.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 93
«Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco, sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém retire o direito de te expressares, que é quase um dever. Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário. Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo. Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta. Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua: tu podes tocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre.»

Walt Whitman
(...) Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias. (...)

Herberto Helder

sábado, 15 de agosto de 2015

Paul Newman and Shirley MacLaine on the set of What a Way to Go! 1965.


O olhar dela encheu-se de pensamentos

«O olhar dela encheu-se de pensamentos: o seu espírito buscava a maneira de exprimi-os. «Compreendo», disse, « que você já está à procura de desculpas - desculpas como arbustos atrás dos quais se possa esconder, para não precisar de enfrentar os seus pensamentos.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 84
«Você não conhece esse homem. Vou-lhe falar dele, não para a assustar,  mas para que você não se assuste quando vier a conhecê-lo.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 84

«Não  há uma distância muito grande entre o desprezo e o amor.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 83

''dor extática''

p. 79
«Há ocasiões, Joseph, em que o amor pelas pessoas é forte e quente como uma grande dor.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 73

A amargura de ser mulher pode ser um êxtase.

«Pode haver dores mais agudas do que o prazer, Elizabeth, como uma hortelã-pimenta que nos queima a língua. A amargura de ser mulher pode ser um êxtase.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 71

Marlon Brando & Teresa Wright in The Men (1950, dir. Fred Zinnemann)


Será uma dor impossível de curar com um beijo.

«Quando fores crescida, Elizabeth, conhecerás a dor; mas não será o género de dor que tu pensas. Será uma dor impossível de curar com um beijo.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 70/1

«Sentia os braços e as mãos pesados e mortos, pendurados como pesos em cordas que partiam duns ombros cansados de suportá-los.»

John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 70

«Pensei sem palavras»



«Pensei sem palavras», disse ele no seu espírito. «Um homem disse-me um dia que isso não era possível, mas pensei...Elizabeth, escuta-me. O Cristo pregado na cruz pode ser mais do quem um símbolo de toda a dor. Pode na verdade conter toda a dor. E um homem de pé no cume dum monte, de braços abertos, símbolo do símbolo, pode ser também um reservatório de toda a dor que jamais houve.»



John Steinbeck. A um deus desconhecido. Tradução de Manuel do Carmo. Publicações Europa-América., p. 69

Quando uma futura Nobel da Literatura recebeu um raspanete

Doris Lessing na apresentação da antologia de vários autores, Declaration, entre os quais ela própria, em Outubro de 1957 
© DAILY 

“Não se arme em prima-dona até ser realmente uma prima-dona”. O conselho foi dado à romancista Doris Lessing (1919-2013) pela agente literária Margaret Macpherson, numa carta que hoje integra o recém-criado arquivo de escrita contemporânea (British Archive for Contemporary Writing) da universidade inglesa de East Anglia, à qual a autora de A Erva Canta (The Grass Is Singing, 1950), prémio Nobel da Literatura em 2007, legou uma parte substancial dos seus papéis pessoais.
Como se imaginará, Lessing ainda não era Nobel da Literatura quando Macpherson lhe recomendou que não se pusesse em bicos de pés. Na verdade, só receberia o prémio 58 anos mais tarde, aos 87. E quando soube que o tinha ganho, por jornalistas de televisão que a apanharam a sair de um táxi à porta de casa, há que dizer em seu benefício que parecia já ter aprendido a lição: não se dando quaisquer ares de diva, limitou-se a pousar a saca de compras no chão e a suspirar “Oh Christ”.
Mas a carta de Macpherson é de 7 de Agosto de 1949, quando Lessing, recém-chegada a Inglaterra vinda da então Rodésia do Sul, onde vivera desde criança, era ainda, aos 30 anos, uma escritora inédita, descontados alguns contos publicados em revistas sul-africanas. E o assunto da carta é justamente o que viria a ser o romance de estreia da autora, The Grass Is Singing, que esta tentava então vender ao editor britânico Michael Joseph. A correspondência, até hoje desconhecida, com esta agente literária constitui apenas uma pequena parte do arquivo pessoal de Doris Lessing que a universidade de East Anglia (UEA) possui.
Lessing tinha ligações antigas à UEA, que lhe atribuiu em 1985 um doutoramento honorário, e já em 2008 doara à universidade um significativo conjunto de documentos pessoais. E após a sua morte, cumprindo uma promessa feita ao académico e ensaísta Christopher Bigsby, professor de Estudos Americanos na UEA, com quem manteve uma longa amizade, deixou os restantes papéis que ainda conservava em casa.
Acondicionada em 60 caixas, esta documentação integra o arquivo de escrita contemporânea, criado por iniciativa de Bigsby, mas só poderá ser consultada, segundo instruções dos herdeiros de Lessing, quando o biógrafo oficial da escritora, o historiador Peter French, concluir a sua investigação e os libertar. A carta de Macpherson e alguma outra correspondência de Lessing, incluindo uma extensa e notável carta que a romancista endereçou em 1948 ao seu amante John Whitehorn, foram agora expostas na universidade e divulgadas pela UEA para assinalar a inauguração do arquivo.
“Muitos documentos estão já disponíveis para consulta pelos estudantes de Escrita Criativa, e também pelo público em geral, incluindo um maravilhoso conjunto de cartas que Lessing enviou ao seu amante antes de deixar a então Rodésia do Sul, hoje Zimbabwe”, disse Christopher Bigsby ao PÚBLICO, acrescentando que entre os últimos papéis da escritora, aos quais French tem neste momento acesso exclusivo, se contam sete diários manuscritos.
E o acervo do novo arquivo está longe de se circunscrever ao espólio de Lessing, ainda que este seja o seu núcleo mais importante. “Obtivemos os ficheiros de duas agências literárias, que incluem, entre muita outra correspondência, cartas de Nadine Gordimer [Nobel da Literatura em 1991], e tempos ainda, por exemplo, meia dúzia de cartas fascinantes de J. D. Salinger”, diz Bigsby.
O escritor alemão W. G. Sebald (1944-2001), o poeta inglês de ascendência húngara George Szirtes, o escritor malaio Tash Aw, ou o ficcionista e ensaísta indiano Amith Chaudhuri, professor de Literatura Contemporânea na UEA, são outros autores, de diversas gerações e proveniências geográficas já representados no arquivo. E Christopher Bigsby, que está actualmente em conversações com mais três ou quatro escritores, acredita que o acervo poderá crescer muito rapidamente nos próximos anos.
Defendendo que os arquivos de escritores “iluminam o processo de escrita, mostrando, através de esboços e da correspondência com agentes e outros escritores, como um romance parte de uma ideia até chegar ao produto final”, Bigsby observa que não é por acaso que este arquivo de escrita contemporânea, o primeiro com estas características a ser criado no Reino Unido, nasceu precisamente na sua universidade. “Foi criado aqui porque já tínhamos o Centro de Tradução Literária [British Centre for Literary Translation], que dispõe de várias centenas de traduções de obras de Doris Lessing, e também o mais antigo mestrado em escrita criativa do país, que produziu uma extensa lista de grandes escritores, como Ian McEwan, Kazuo Ishiguro, Anne Enright, ou ainda os autores de Rapariga Com Brinco de Pérola [Tracy Chevalier] e de O Rapaz do Pijama às Riscas [John Boyne]”.
A UEA promove ainda um importante festival literário internacional, e as gravações em vídeo das conversas com os seus convidados foram já integradas no novo arquivo de escrita contemporânea. São mais de 300 entrevistas, com autores como Margaret Atwood, Martin Amis, Seamus Heaney, P.D. James, Toni Morrison, Iris Murdoch, Harold Pinter ou Salman Rushdie.
Finalmente, lembra ainda Bigsby, a universidade está instalada em Norwich, que pertence à rede de cidades-refúgio para escritores perseguidos e é até hoje a única detentora do estatuto de Cidade da Literatura atribuído pela UNESCO.
“Não se arme em prima-dona”
A julgar pela pequena amostra agora divulgada da correspondência de Lessing, a documentação conservada na UEA parece ser de facto incontornável para qualquer actual ou futuro biógrafo de Lessing. Mesmo a breve carta profissional de Macpherson não é todo destituída de interesse, para lá da nota pitoresca de vermos uma hoje esquecida agente literária a passar um raspanete a uma futura Nobel da Literatura.
A razão principal da carta, que abre logo com um tom algo ríspido, é recordar a Lessing que já negociara os direitos daquele que viria a ser o seu livro de estreia, The Grass Is Singing, com a editora sul-africana Afrikaanse Pers Boekhandel (APB). Desesperada por não ver o livro impresso, Lessing, que acabara de chegar a Londres, mostrara-o ao editor inglês Michael Joseph. “É claro que não pode vender o livro a Michael Joseph”, escreve Macpherson, acrescentando que todos os livros que a sua agência negociava com a APB tinham contratos de cinco anos.
Indecisa em publicar o livro na África do Sul, a APB estava a tentar negociá-lo com a Harper (parte do que depois viria a ser o grupo HarperCollins), e é a avaliação da editora nova-iorquina que motiva a admoestação da agente. Pelo que se presume da sua carta, Lessing ter-se-ia queixado de que a editora americana pretendia que ela mudasse o tema do livro, cujo enredo se centra numa mulher, Mary Turner, que está casada com um colono branco e tem umaffaire com o seu criado negro, Moses, que acabará por a matar.
A agente replica que a Harper não quer nada alterar o tema do livro, mas apenas “encurtá-lo e focá-lo”, e aproveita para dar a Lessing algumas luzes sobre escrita de ficção: “Se ler qualquer grande romancista, ou, ainda melhor, se se lembrar de alguma das suas obras, verá que o que se destaca na sua memória são as cenas. Escrever por cenas é a arte de toda a ficção memorável”. E é só porque Lessing é tão “prometedora” que se dá ao trabalho de a “ajudar e aconselhar”, diz Macpherson, que a avisa, então, para não se armar em prima-dona, observando que “um livro amador e medíocre pode destruí-la do mesmo modo que um bom livro pode consagrá-la”. E conclui: “detestaria vê-la deitar fora esta oportunidade”.
Mas o curioso é que, alguns meses passados, já em 1950, a primeira edição deThe Grass Is Singing saiu mesmo em Londres com a chancela de Michael Joseph, um antigo agente literário da empresa Curtis Brown que se estabelecera como editor por conta própria. O PÚBLICO tentou perceber como fora contornado o obstáculo legal representado pelo anterior contrato com a APB e uma arquivista da UEA, Justine Mann esclareceu que Curtis Brown, que se interessara por Lessing ao ler alguns dos seus contos, tivera acesso ao contrato com a editora sul-africana e ficou “indignado” com os respectivos termos. “Escreveu aos editores, desafiando-os, eles cederam, e Lessing viu-se livre do contrato original, o que permitiu a Michael Joseph publicar o livro”, explica a arquivista.
Outro ponto curioso da carta é o facto de o livro em causa só poder ser The Grass Is Singing, mas aparecer sempre referido como In Black and White (A Preto e Branco). Justine Mann confirmou que este foi, de facto, o título inicial da obra, e que só mais tarde Lessing optou pela citação de T. S. Eliot, retirada do longo poema Waste Land
“Amar vasta e variadamente”
Mas o mais extraordinário conjunto de cartas de Doris Lessing que a UEA conserva, num arquivo que inclui correspondência trocada com Ingmar Bergman, Raymond Carver, Iris Murdoch ou Muriel Spark, são as chamadasWhitehorn Letters, 110 cartas escritas entre 1943 e 1949 ao seu amante John Whitehorn, que conheceu em África quando este era um jovem cadete da força aérea britânica.
Algumas das cartas são dirigidas a um colega de unidade de Whitehorn, Coll MacDonald, ou a ambos, e Lessing escreveu ainda centena e meia de cartas a um amigo de John e Coll, Leonard Smith, vulgo Smithie, que mais tarde as venderia à universidade de Sussex. Numa carta de Janeiro de 1945, a escritora, que foi amante dos três enquanto estava casada com o seu segundo marido - o dirigente comunista Gottfried Lessing, que viria a morrer em 1979 no Uganda -, garante: “amo-vos a todos em indivisíveis porções de um terço”. Mas se teve uma paixão por Smithie, foi com John Whitehorn que manteve uma relação mais profunda e duradoura.
A carta a Whitehorn que a UEA tem neste momento exposta, datada de 28 de Setembro de 1948, é mais do que bastante para se adivinhar a importância do conjunto. Com quatro páginas dactilografadas, ficamos a saber, logo no início, que a jovem Doris fumava então dois maços de cigarros por dia. “Li o admirável ensaio de Lin Yutang sobre a futilidade de se deixar de fumar”, escreve. “É tão reconfortante virem-nos dizer que fumar é um acto espiritual, e não, como se poderia suspeitar, uma lamentável fraqueza”.
Toda a carta está repassada de humor e ironia. Lessing dedica duas páginas à política local, na ressaca da eleição desse ano, que devolvera o poder ao Partido da União (UP), de Godfrey Huggins. E trata com igual sarcasmo os vencedores e os vencidos do Partido Liberal, embora reconheça que, “de tempos a tempos”, um ou outro deputado liberal “lerá um livro”, já que por vezes se “levantam no Parlamento e fazem um discurso em que enunciam, com grande satisfação, alguma verdade que era um lugar comum por volta de 1800 com o ar de quem acabou de descobrir o segredo da vida”.
São também divertidos os parágrafos em que censura John Whitehorn por não ter sabido educar convenientemente a irmã mais nova, uma vez que esta tencionava casar-se aos 21 anos. “O modo certo de viver é amar vasta e variadamente até aos 30 anos, quando pomos de lado as infantilidades em favor do Lar”, argumenta Lessing. Curiosamente, a irmã de John, Katharine, que se celebrizaria como jornalista e colunista, acabou por só se casar mesmo aos 30 anos, em 1958, com o romancista Gavin Lyall.
Na mesma carta, de 1948, Lessing descreve-se como um aglomerado de “personagens conflituantes” e dá exemplos: “Uma porção do meu dia é dedicada a ser uma boa esposa e mãe: cozinho, crio o meu filho (...). Gasto outra porção a escrever. Cada vez melhor. Ainda virei a ser uma boa escritora (...). Durante as tardes, faço amor com o meu amante (...). E à noite frequento a política e os entretenimentos, sobretudo a política”. E conclui: “Ninguém pode dizer que a soma disto se assemelhe a um todo harmonioso, mas o que se há-de fazer?”.
Os arquivistas da UEA não descobriram ainda nada sobre mais este amante de Lessing, salvo o nome, que a romancista refere noutro passo da carta, quando observa que “o eu que cozinha com grande prazer e vê o bebé crescer não tem nada que ver com o eu que faz, com grande perícia, amor com John Parry”.
Não menos interessante - e tudo isto numa só carta! - é a parte em que Lessing confessa que anda a tentar escrever romances policiais e que pensou “escrever uma história de detectives inteiramente original acerca de um homem que encontra um corpo na sua carpete e que só descobre na última página que foi ele que o matou”. Infelizmente, explica, “dizem-me que já foi escrita”.


Perguntaram ao Dalai Lama

O que mais te surpreende na Humanidade? 

E ele respondeu:

 “Os homens … Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem-se do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… … e morrem como se nunca tivessem vivido. ''

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Das duas uma

«Mas os poços da fantasia
        Acabam sempre por secar;»


Lewis Carroll. As aventuras de Alice no País das Maravilhas. Tradução e notas de Margarida Vale de Gato. Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2009., p. 8

é insuportável que me beijes quando quero dormir

Sofia Vasconcellos e Sá. 

Título de Peça de Teatro

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

«Robert – As pessoas? Parece que andam estranhas,
olham umas para as outras de uma maneira estranha,
cumprimentaram-me de uma maneira estranha.»


Mário Abel Lopes da Costa. O Que Vi Quando Voltei da Lua - Peça de teatro
«D. Leonor – Prepara-as tu. Só há uma maneira de vencer o ardil, é preparar um ardil ainda maior.

D. Manuel - (Passa num instante da hostilidade ao exagero.) Minha querida mana, és a minha salvação!

D. Leonor – Deixa-me. Só te agradam as pessoas quando dizem o que te convém.»


Manuel Córrego. “O Casamento de D. Manuel I”
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