quarta-feira, 8 de julho de 2015

« - Parece-me que o teu filho se tornará um sonhador, Maria - exclamou um dia a minha mãe a vizinha Penélope - ; está sempre a olhar para as nuvens. - Não se inquiete, senhora Penélope - respondeu-lhe a mãe. - A vida obrigá-lo-á a olhar para baixo. - Mas a vida ainda não chegara e eu trepava nesse dia para o castelo, contemplava as nuvens, tropeçava e escorregava a cada passo. O pai agarrou-me pelo ombro, como se quisesse firmar-me. - Deixa as nuvens tranquilas e olha para as pedras, podes cair e matar-te.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 87
«Esses olhos negros que olham para mim,
Baixa-os, m'amor, porque me matam assim.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 85

«(...) algumas palavras que lia perturbavam-me o coração.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 84

Fernando Lemos – Intimidade do Chiado (1949-52) Colecção Museu Berardo


« - Olha - tornou a ordenar-me. Os meus olhos encheram-se de enforcados. - Enquanto viveres - disse-me -, ouve-me bem: enquanto viveres, que estes enforcados jamais desapareçam da tua memória. - Quem os matou? - A liberdade, bendita seja ela.
    Não compreendi. Olhava, olhava, de olhos franzidos, os três enforcados que se moviam lentamente entre as folhas amarelas do plátano.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 81
«Durante essas horas, creio que, se as coisas invisíveis pudessem tornar-se visíveis, eu teria visto amadurecer a minha alma. Bruscamente, da criança que era, senti que, no espaço de poucas horas, me transformei num homem.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 79

«(...), o verdadeiro rosto da vida: a cabeça da morte.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 79

«Sentira o coração a endurecer-se.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 78
«Que sejas bem-vinda, desgraça, se vens sós», costumamos dizer em Creta, porque na verdade é raro que uma desgraça venha só.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 77

«(...) as desgraças conseguiram corrigir-nos dos defeitos.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 301

«Enquanto os meus amigos não morrerem, não falarei da morte.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 301

«Gostamos de dominar o carácter.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 300

1966 - Maria Barroso numa cena do filme Mudar de Vida de Paulo Rocha


«Podemos amar de todo o coração aquele em que reconhecemos grandes defeitos. Seria impertinência julgar que só a imperfeição tem o direito de nos agradar.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 299
«Estimamos os grandes intentos quando nos sentimos capazes dos grandes êxitos.
  A reserva é a aprendizagem dos espíritos.»
  Dizem-se coisas sólidas quando não se procura dizer coisas extraordinárias.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 299
«É ofender os humanos dar-lhes louvores que alargam os limites do seu mérito. Muitas pessoas são suficientemente modestas para suportarem sem custo que as apreciem.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 298
«O melhor meio de persuadir consiste em não persuadir.
   O desespero é o menor dos nossos erros.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 298
«Os que escrevem em louvor da glória querem ter a glória de ter escrito bem. Os que lêem querem ter a glória de ter lido.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 296
«Não nos contentamos com a vida que temos em nós. Queremos viver na ideia dos outros, de uma vida imaginária.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 294

«Para estudar a ordem não é preciso estudar a desordem.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 293

à porfia

ao desafio, em competição

«Os sentidos esclarecem a razão por aparências verdadeiras.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 291
«Existe uma filosofia para as ciências. Não existe para a poesia. Não conheço moralista que seja poeta de primeira ordem. É estranho, dirá alguém.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 291
"De novo amo e não amo
e deliro e não deliro"

Anacreonte 
-"Dez Poetas Gregos Arcaicos"
- Arquíloco/ Álcman/ Mimnermo/ Alceu/ Safo/ Íbico/ Anacreonte/ Teógnis/ Simónides/ Píndaro

terça-feira, 7 de julho de 2015


«O escritor que se deixa enganar pelos sentimentos não deve ser levado em linha de conta com o escritor que não se deixa enganar nem pelos sentimentos nem por si próprio. A juventude propõe a si mesma lucubrações sentimentais. A idade madura começa a raciocinar sem perturbações. Ele só sentia, agora pensa.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 290
«(...) O cão, tendo três cabeças, tinha naturalmente três bocas; e não sei se por isso devia também ter três estômagos; o que é certo é que, atendendo à carestia dos géneros e às décimas e economias, que agora são moda para esfolar a torto e a direito, entendeu-se, que tão Cérbero era ele como uma como com três cabeças, e suprimiram-se-lhe as outras duas.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 120/1

trifauce


adjetivo de dois géneros
1. poético que tem três fauces
2. MITOLOGIA atributo de Cérbero, cão de três cabeças que guardava o Inferno

«(...)

Debalde aguças o dente;
Cá não apanhas fatia.
Aqui não tens aliados
Como os de certa nação,
Que te engordou com presentes
E agora deve-te o pão!
Bem sabes de quem eu falo...
É dum país sem miolo, 
Que dá tudo aos estrangeiros
Para que lhe chamem tolo!
Qualquer charlatão o embaça
Com dois ou três palavrões!
É Por...mas não; chamo-lhe antes
Terra de parlapatões.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 117
«PEDRO

(à Imperatriz) Já recebeu notícias do inferno?

IMPERATRIZ

Não; meu marido não tem escrito.»



Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 101
« PEDRO
        Coitada! Vi-a no outro dia com o começo dos seus achaques, e fez-me dó!»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 98
«(Cantando e chorando)

    Mas quem te há-de acender lume
     Para frigir o teu peixe?!»



Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 97

1966 - Maria Barroso com Geraldo del Rey, numa cena do filme de Paulo Rocha


Jurei-o !

«Jurei-o! Prometi não cortar mais as barbas desta cara e os cabelos desta cabeça; não comer, não beber, não descalçar as botas, nem dormir em povoado, enquanto não encontrar o meu rival, o roubador cobarde da minha Elisa...ou Tomásia...que ela chama-se Tomásia, mas eu embirrei em chamar-lhe Elisa, que é mais poético. Por onde andarão eles? Eu aqui estou, fechado com este pobre esqueleto, para ver se os encontro por acaso. Meti-me neste lúgubre subterrâneo, para preparar a minha vingança com sossego; isto aqui é mais seguro; eu não quero que o patife do Luís Gregório me assassine, antes de eu o matar a ele. (Olhando para o esqueleto acorrentado) Este infeliz talvez amasse também como eu?...Hei-de pôr o Luís Gregório no lugar dele? Oh lá se hei-de!»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 95

obscuridade alemã

«Que serias tu sem este sabor de obscuridade alemã, que faz com que sejas amada e cultivada, até pelos que menos te compreendem?!»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 95
«Alguns, comidos de desejo ardente,
Pretendiam roer os cotovelos;
Outros, cravavam o aguçado dente
Na taça impura dos danados zelos!»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 94
Quarto Quadro

Subterrâneo húmido e sombrio; paredes caídas a um lado, o tecto rachado e ameaçando ruína. Armas pendentes da parede. Um armário pintado de preto. Um esqueleto, de pé, com uma grande espada na mão, em posição de quem se defende de uma estocada e acorrentado à parede com grossas cadeias de ferro.



Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 93
«Adeus! choremos todos,
Que o pranto é de rigor...
Depois, console o fado
A nossa triste dor.»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 90

Mudar de Vida, Paulo Rocha, 1966


CENA IV

FÍGADOS DE TIGRE

(só, cabisbaixo e andando com passo lento) Dizia minha avó que as águas do Letes apagam a memória; e a minha avó era mulher que sabia perfeitamente onde tinha o nariz. O Letes é o rio do esquecimento.»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 67/8

«Chorei a minha alma aos pedaços;»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 62
CENA I

JOANA

(oculta na floresta: grandes aves negras, de espécies desconhecidas, andam esvoaçando por toda a cena, entram no poço e tornam a sair, dando pios longos e sinistros. A orquestra toca uma peça estridente, sacudida, e que se interrompe a espaços. Cada vez que soam as notas mais agudas da música, ouvem-se gemidos dolorosos e saem do poço grandes labaredas. Pouco a pouco vão desaparecendo as aves, a música esmorece e Joana canta com voz plangente; música da ópera Safo no rondó final)

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 62
FÍGADOS DE TIGRE

Matem-me já por favor, que vou estando muito aborrecido com tudo isto.

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 61

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Beach babe


bacamarte


nome masculino
1. antiga arma de fogo individual de cano curto e calibre grosso, de escorva inflamada por pederneira e de carregar pela boca, sendo esta geralmente em forma de sino
2. figurado livro velho, volumoso e inútil
3. Brasil indivíduo corpulento e boçal
4. ICTIOLOGIA peixe teleósteo, da família dos Triglídeos, também conhecido por cabra-moura, ruivo, santo-antónio, etc.
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