sábado, 27 de abril de 2013
''então a humildade fez-te emudecer''
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 108
EM SEGREDO
Ó minha mãe,
nós, que moramos numa estrela órfã -
acabamos de suspirar o suspiro
dos que foram atirados para a morte -
quantas vezes cede sob os teus passos e areia
e te deixa sozinha -
Deitada nos meus braços
saboreias o mistério
que Elias andou -
onde o silêncio fala
nascer e morrer acontecem
e os elementos de outro modo se misturam -
Os meus braços seguram-te
como um carro de madeira os que viajam para o céu -
madeira que chora, arrancada
das suas muitas metamorfoses -
Ó minha regressante,
o mistério concrescido c'o esquecimento -
eu bem ouço coisas novas
no teu amor crescente!
Estás sentada à janela
e neva -
e o teu cabelo é branco
e as tuas mãos -
mas nos dois espelhos
da tua face branca
conservou-se o Verão:
Terra para os prados erguidos para o Invisível -
Bebedouro para as corças de sombra à noite.
Mas queixosa mergulho na tua brancura,
na tua neve -
donde a vida tão de manso se afasta
como depois numa reza dita até ao fim -
Oh, adormecer na tua neve
com toda a dor no hálito de fogo do mundo.
Enquanto as linhas suaves do teu rosto
mergulham já em noite marinha
pra novo nascimento
Quando o dia se esvazia
no crepúsculo,
quando o tempo sem imagens começa,
as vozes solitárias se unem -
os bichos nada são senão caçadores
ou caçados -
as flores só ainda odor -
vais tu para entre as catacumbas do tempo
quando tudo é sem nome como no princípio -
vais tu para entre as catacumbas do tempo
que se abrem para aqueles que estão perto do fim -
ali onde crescem os germes de coração -
na escura intimidade
te afundas -
já para lá da Morte
que é apenas um desfiladeiro ventoso -
e com frio da saída abres
os olhos
nos quais já uma nova estrela
deixou o seu reflexo -»
(...)
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 105-107
nós, que moramos numa estrela órfã -
acabamos de suspirar o suspiro
dos que foram atirados para a morte -
quantas vezes cede sob os teus passos e areia
e te deixa sozinha -
Deitada nos meus braços
saboreias o mistério
que Elias andou -
onde o silêncio fala
nascer e morrer acontecem
e os elementos de outro modo se misturam -
Os meus braços seguram-te
como um carro de madeira os que viajam para o céu -
madeira que chora, arrancada
das suas muitas metamorfoses -
Ó minha regressante,
o mistério concrescido c'o esquecimento -
eu bem ouço coisas novas
no teu amor crescente!
Estás sentada à janela
e neva -
e o teu cabelo é branco
e as tuas mãos -
mas nos dois espelhos
da tua face branca
conservou-se o Verão:
Terra para os prados erguidos para o Invisível -
Bebedouro para as corças de sombra à noite.
Mas queixosa mergulho na tua brancura,
na tua neve -
donde a vida tão de manso se afasta
como depois numa reza dita até ao fim -
Oh, adormecer na tua neve
com toda a dor no hálito de fogo do mundo.
Enquanto as linhas suaves do teu rosto
mergulham já em noite marinha
pra novo nascimento
Quando o dia se esvazia
no crepúsculo,
quando o tempo sem imagens começa,
as vozes solitárias se unem -
os bichos nada são senão caçadores
ou caçados -
as flores só ainda odor -
vais tu para entre as catacumbas do tempo
quando tudo é sem nome como no princípio -
vais tu para entre as catacumbas do tempo
que se abrem para aqueles que estão perto do fim -
ali onde crescem os germes de coração -
na escura intimidade
te afundas -
já para lá da Morte
que é apenas um desfiladeiro ventoso -
e com frio da saída abres
os olhos
nos quais já uma nova estrela
deixou o seu reflexo -»
(...)
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 105-107
MÃE DE LUTO
(...)
«Despedida -
palavra a sangrar de duas feridas.
Ontem ainda palavra de mar
com o navio a afundar-se
como espada no meio -
Ontem ainda palavra trespassada
de morte de estrelas cadentes -
Garganta beijada da meia-noite
dos rouxinóis -
Hoje - dois trapos pendentes
e cabelo humano numa mão em garra
que rasgava -
E nós a sangrar depois -
a esvair-nos de sangue em ti -
mantemos a tua fonte nas nossas mãos.
Nós exércitos dos que se despedem
que construímos a tua escuridão -
até que a Morte diga: cala-te -
mas aqui é: continuar a sangrar!
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 99
«Despedida -
palavra a sangrar de duas feridas.
Ontem ainda palavra de mar
com o navio a afundar-se
como espada no meio -
Ontem ainda palavra trespassada
de morte de estrelas cadentes -
Garganta beijada da meia-noite
dos rouxinóis -
Hoje - dois trapos pendentes
e cabelo humano numa mão em garra
que rasgava -
E nós a sangrar depois -
a esvair-nos de sangue em ti -
mantemos a tua fonte nas nossas mãos.
Nós exércitos dos que se despedem
que construímos a tua escuridão -
até que a Morte diga: cala-te -
mas aqui é: continuar a sangrar!
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 99
quinta-feira, 25 de abril de 2013
JOB
Ó tu rosa-dos-ventos dos martírios!
Por tempestades de tempos primevos
Arrastada sempre noutras direcções dos temporais;
O teu Sul chama-se ainda Solidão.
Onde tu estás, é o umbigo das dores.
Os teus olhos estão encovados fundo no teu crânio
como pombos de cavernas na noite
que o caçador às cegas tira cá para fora.
À tua voz fez-se muda,
pois ela perguntou vezes demais porquê.
Para os vermes e peixes se foi a tua voz.
Job, a chorar passaste todas as vigias da noite
mas um dia a constelação do teu sangue
fará empalidecer todos os sóis nascentes.
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 84
VOZ DA TERRA SANTA
Ó meus filhos,
A morte passou pelos vossos corações
Como por uma vinha -
Pintou Israel a vermelho em todas as paredes da Terra.
Para onde há-de ir a pequena santidade
Que ainda mora na minha areia?
Através dos canais da solidão
Falam as vozes dos mortos:
Deponde sobre o campo as armas da vingança
Pra que elas falem baixo -
Pois também o ferro e o trigo são irmãos
No seio da Terra -
Pra onde há-de ir a pequena santidade
Que ainda mora na minha areia?
A criança no sono assassinada
Levanta-se; torce pra baixo a árvore dos milénios
E prende a estrela branca anelante
Que outrora se chamou Israel
Na sua coroa.
Reergue-te de novo, diz ela
Pra lá. onde lágrimas significam Eternidade.
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 78
A morte passou pelos vossos corações
Como por uma vinha -
Pintou Israel a vermelho em todas as paredes da Terra.
Para onde há-de ir a pequena santidade
Que ainda mora na minha areia?
Através dos canais da solidão
Falam as vozes dos mortos:
Deponde sobre o campo as armas da vingança
Pra que elas falem baixo -
Pois também o ferro e o trigo são irmãos
No seio da Terra -
Pra onde há-de ir a pequena santidade
Que ainda mora na minha areia?
A criança no sono assassinada
Levanta-se; torce pra baixo a árvore dos milénios
E prende a estrela branca anelante
Que outrora se chamou Israel
Na sua coroa.
Reergue-te de novo, diz ela
Pra lá. onde lágrimas significam Eternidade.
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 78
«Terra, Terra, fizeste-te cega
Ante os olhos de irmãs das Plêiades
Ou do olhar perscrutador da Balança?
Mãos assassinas deram a Israel um espelho
Para nele ver ao morrer o seu morrer -
Terra, ó Terra
Estrela de todas as Estrelas
Um dia há-de haver uma constelação chamada Espelho.
Então ó Cega tornarás tu a ver.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 71
Ante os olhos de irmãs das Plêiades
Ou do olhar perscrutador da Balança?
Mãos assassinas deram a Israel um espelho
Para nele ver ao morrer o seu morrer -
Terra, ó Terra
Estrela de todas as Estrelas
Um dia há-de haver uma constelação chamada Espelho.
Então ó Cega tornarás tu a ver.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 71
empedernir
verbo transitivo, intransitivo e pronominal
1. converter(-se) em pedra; petrificar
2. tornar ou ficar duro como pedra; endurecer
3. figurado tornar(-se) insensível
(Do latim *impetrinīre, «empedernir», de petrīnu-, «de pedra»)
(...)
«Quando alguém nos toca
Toca um muro de lamentações.
Como o diamante o vosso lamento corta a nossa dureza
Até que ela cai e se faz coração brando -
Enquanto vós emperdenis.
Quando alguém nos toca
Toca as encruzilhadas da meia-noite
Ressonantes de nascimento e morte.
Quando alguém nos atira -
Atira ao Jardim do Éden -
O vinho das estrelas -
Os olhos dos amantes e toda a traição -
Quando alguém nos atira com ira
Atira leões de corações partidos
E de borboletas de seda.
Cuidado, cuidado
Não atireis com uma pedra em ira -
A nossa mistura está repassada do espírito.
Endureceu no mistério
Mas pode acordar com um beijo.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 69
«Quando alguém nos toca
Toca um muro de lamentações.
Como o diamante o vosso lamento corta a nossa dureza
Até que ela cai e se faz coração brando -
Enquanto vós emperdenis.
Quando alguém nos toca
Toca as encruzilhadas da meia-noite
Ressonantes de nascimento e morte.
Quando alguém nos atira -
Atira ao Jardim do Éden -
O vinho das estrelas -
Os olhos dos amantes e toda a traição -
Quando alguém nos atira com ira
Atira leões de corações partidos
E de borboletas de seda.
Cuidado, cuidado
Não atireis com uma pedra em ira -
A nossa mistura está repassada do espírito.
Endureceu no mistério
Mas pode acordar com um beijo.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 69
CORO DAS SOMBRAS
Nós sombras, oh, nós sombras!
Sombras de algozes
Agarrados ao pó dos vossos crimes -
Sombras de vítimas
A desenhar o drama do vosso sangue numa parede.
Oh, nós desvalidas borboletas do luto
Presas numa estrela que continua a arder tranquila
Enquanto nós temos de dançar em infernos.
Os nossos titeriteiros já só sabem a morte.
Áurea ama que nos alimentas
Para tal desespero,
Ó sol, desvia a tua face
Pra também nós nos afundarmos -
Ou deixa que sejamos o espelho dos dedos erguidos
Duma criança exultante
E da leve ventura duma libélula
Sobre o beiral dum poço.
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 67
Sombras de algozes
Agarrados ao pó dos vossos crimes -
Sombras de vítimas
A desenhar o drama do vosso sangue numa parede.
Oh, nós desvalidas borboletas do luto
Presas numa estrela que continua a arder tranquila
Enquanto nós temos de dançar em infernos.
Os nossos titeriteiros já só sabem a morte.
Áurea ama que nos alimentas
Para tal desespero,
Ó sol, desvia a tua face
Pra também nós nos afundarmos -
Ou deixa que sejamos o espelho dos dedos erguidos
Duma criança exultante
E da leve ventura duma libélula
Sobre o beiral dum poço.
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 67
Eu vi que ele via.
JEHUDA ZWI
Os teus olhos, ó meu Amado,
Eram olhos da corça,
C'os longos arcos-íris das pupilas
Como depois de passadas tempestades de Deus -
Como abelhas tinham os milénios
Juntando neles o mel das noites de Deus,
Últimas centelhas dos fogos do Sinai -
Ó portas transparentes
Para os reinos íntimos,
Sobre os quais jaz tanta areia dos desertos,
Tantas milhas de martírios para oh chegar a Ele -
Ó olhos apagados,
Cuja força de vidente agora caiu
Nas surpresas áureas do Senhor,
Das quais nós apenas sabemos os sonhos.
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 61
Se eu ao menos soubesse
Sobre o que é que pousou o teu últimos olhar.
Foi uma pedra, que já muitos olhares
Tinha bebido, até que eles em cegueira
Caíram sobre a cega?
Ou foi terra,
Bastante para encher um sapato,
E já negra
De tanta despedida
E de preparar tanta morte?
Ou foi o teu último caminho,
Que te trouxe o adeus de todos os caminhos
Que tu tinhas andado?
Uma poça de água, um pedaço de metal luzente,
Talvez a fivela do cinto do teu inimigo,
Ou qualquer outro, pequeno adivinho
Do céu?
Ou mandou-te esta terra,
Que não deixa partir ninguém sem ser amado,
Um sinal de pássaro pelo ar,
Acordando lembranças na tua alma, e ela estremeceu
No seu corpo queimado de martírio?
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 60
Sobre o que é que pousou o teu últimos olhar.
Foi uma pedra, que já muitos olhares
Tinha bebido, até que eles em cegueira
Caíram sobre a cega?
Ou foi terra,
Bastante para encher um sapato,
E já negra
De tanta despedida
E de preparar tanta morte?
Ou foi o teu último caminho,
Que te trouxe o adeus de todos os caminhos
Que tu tinhas andado?
Uma poça de água, um pedaço de metal luzente,
Talvez a fivela do cinto do teu inimigo,
Ou qualquer outro, pequeno adivinho
Do céu?
Ou mandou-te esta terra,
Que não deixa partir ninguém sem ser amado,
Um sinal de pássaro pelo ar,
Acordando lembranças na tua alma, e ela estremeceu
No seu corpo queimado de martírio?
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 60
algoz
nome masculino
1. executor da pena de morte; carrasco; verdugo
2. figurado pessoa cruel
(Do turco gozz, pelo árabe al-gozz, nome de uma tribo onde se iam geralmente buscar os carrascos)
''Estarmos apaixonados não é nada, mantermo-nos os dois juntos é que é difícil.''
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 312
Não falávamos muito, não tínhamos grande coisa a dizer.
«Não falávamos muito, não tínhamos grande coisa a dizer. De resto, para que servem as palavras quando temos ideias fixas? Para nos insultarmos e nada mais.»
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 277
vindicta
nome feminino
1. vingança; represália
2. perseguição
3. castigo; punição
(Do latim vindicta-, «castigo»)
segunda-feira, 8 de abril de 2013
«Tudo tem um fim. Nem sempre é a morte, muitas vezes é qualquer coisa diferente e bastante pior, sobretudo quando se trata de crianças.»
Louis-Ferdinand Céline. Viagem ao Fim da Noite. Tradução, apresentação e notas Aníbal Fernandes, Edição Babel, 2010, Lisboa p. 252
Etiquetas:
Louis-Ferdinand Céline,
Viagem ao fim da noite
«Nestes momentos eu não sou eu.»
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 93
«Devo estender-lhe a mão; responder. Mas que resposta dar? Retrocedo com violência, sentindo escaldar o corpo desajeitado e exposto à indiferença e ao desdém dos homens, eu que imagino colunas de mármore e lagos onde as andorinhas molham as asas de ouro do outro lado do mundo.»
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 86
«Sou sucessivamente travessa, alegre, lânguida e melancólica. Tenho raízes mas flutuo.»
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 83
«É cruel o que tenho oferecer. Não posso flutuar suavemente misturando-me com as outras pessoas. Prefiro o olhar fixo dos pastores que encontro na estrada; ou o olhar das ciganas sentadas na berma da estrada, ao lado da carroça, amamentando os filhos como eu hei-de amamentar os meus. Pois em breve, no ardente meio-dia em que as abelhas zumbem à volta das malvas, o meu amor chegará. Estará parado sob o cedro. Dirá apenas uma palavra a que responderei com uma só palavra. Ofertar-lhe-ei o que cresceu dentro de mim. Terei filhos, criadas de avental, caseiros com forquilhas. Terei uma cozinha para onde vão trazer os cordeiros doentes para serem aquecidos em cestos e haverá presuntos pendurados e cebolas brilhando. Serei silenciosa como a minha mãe e de avental azul andarei pela casa fechando à chave os armários.» p. 80/1
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 80/1
«Não estou sempre a entregar-me a emoções duvidosas? Sim, quando me debruço à janela e deixo cair o meu cigarro de modo a que rodopie ligeiramente até ao chão, sinto os olhos de Louis que vigiam até a queda do meu cigarro. E Louis diz: «Tudo isto tem um significado. Mas qual?»
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p. 75/6
«Mas quem despejou a areia dos vossos sapatos
Quando tivestes de erguer-vos pra morrer?
A areia, que Israel trouxe para casa,
A areia de peregrinar?
Areia ardente do Sinai,
Misturada co'as gargantas dos rouxinóis,
Misturadas co'as asas de borboleta,
Misturada c'o pó da saudade das serpentes,
Misturada com tudo o que caiu da Sabedoria de Salomão,
Misturada c'o amargor do mistério do vermute -
Ó vós dedos
Que despejastes a areia dos sapatos de mortos.
Amanhã já sereis pó
Nos sapatos vindouros!
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 48
sábado, 30 de março de 2013
«Se não sou amado, tanto pior - amarei outra!»
Anton Tchekhov. O Selvagem. Tradução de Carlos Grifo. Editorial Presença, Lisboa, 1968., p 163
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