domingo, 21 de maio de 2023

 «Digna-te a olhar para a minha

dedicação.»


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 37

 «Cheio de preocupação

sincera, amavelmente

um príncipe demonstra ao

bobo que não é tolo.»


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 35


 

sábado, 20 de maio de 2023

 «(...) A dor fingida,

imitadora da dor verdadeira,

mata.»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 163

 «(...)  Uma doença

é uma garganta

carnívora.»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 158

135

 A morte para os romanos era um homem

mascarado de lobo, um jogo tenebroso

entre o predador e a sua predadora.

Diz Ovídeo (para quem tudo é caça)

que o homem persegue a mulher, o deus

a ninfa, o cão a lebre: perseguem vestígios

que escapam a goelas e armadilhas.

De toda essa devastação sobra apenas

a figura do vento, a sua inconstante respiração.

A ninfa envelhece, a lebre escapa ao dente

e o homem violador fica subitamente

sem tesão. A morte é uma loba acossada,

uma caçadora, uma escrava e detentora

do seu eterno pó. Valha-nos a memória

dos frescos de Pompeia.


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 154

''Amar é aceitar o Outro tal como ele é: frágil e angustiado.''

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 153

 «(...) Coração, sim - enrugado

por tanta dor.»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 143

 «As veias vão rasgando

a via do suicídio.»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 131

 «(...)

estou, se na relva ou no mármore estou

porque toda te desfazes no teu ofício

de me desfazeres.»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 130


 

 «(...) E o sol

pouco a pouco vai caindo,

escurecendo.»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 128

''Abundante, a cegueira.''

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 128

 «(...)

Fiquei a pensar nela. Nos seus dedos

desviando um ramo de cerejeira

para me ver melhor.»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 126

 «(...) Uma hóstia

de sangue. Pão infinito.»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 117

« e não há nada  para sofrer, nada

para lamentar.»

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 101

''na boca do abismo''

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 101

 

«(...), um dia lágrimas,

no outro cerejas negras, »


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 101


Sabine Weiss
Robert Doisneau,1986

 

85

 Agora que me dedico ao ócio

não tenho tempo para nada.

Vou destruindo pouco a pouco

os restos da minha bagagem.

*


(....)

* ócio no sentido romano da palavra:

o abandono das ocupações públicas.


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 99

 «Lábios ou aves? E já 

molhados. Plenos de sangue.»

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 90

quinta-feira, 18 de maio de 2023

''Amo-te porque deixei de ter pressa.''

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 87

« e bebo nas tuas coxas o linho molhado

da minha infância.»

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 87

''dor antiquíssima''

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 81

Lana Del Rey - Candy Necklace ft. Jon Batiste

63

 O amor é um vento

que faz cair paredes.


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 75

''bebedores de rios''

 Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 73

''pó cósmico''

o crime-fim

'' E subitamente a mão no joelho''

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 63


 

 «(...)

                                       A morte, 

não te esqueças, respira-se devagar,»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 59

plantas subaquáticas

43

 Do mundo não conheço apenas os figos

e o mágico rubor das raparigas -

embalei nos braços um pai já morto

e senti a febre dos filhos

no meu dorso.


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 53

34

 

Toco-te nos mamilos, vão

voar. Lambo-os e já

se desfazem. Tomo-os

nos lábios, duas gotas de terra são.

Mordo-te. Mordes-me - e levanta-se

um fogo

que nos vai devastar.


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 43

Hamilton Leithauser + Rostam - A 1000 Times (Official Video)


I had a dream that you were mineI've had that dream a thousand timesA thousand times, a thousand timesI've had that dream a thousand times
I left my room on the west sideI walked from noon until the nightI changed my crowd, I ditched my tieI watched the sparks fly off the fireI found your house, I didn't even tryThey'd closed the shutters, they'd pulled the blindsMy eyes were red, the streets were brightThose ancient years were black and white
The 10th of November, the year's almost overIf I had your number, I'd call you tomorrowIf my eyes were open, I'd be kicking the doors inBut all that I have is this old dream I've always had
A thousand times, a thousand timesI've had that dream a thousand timesA thousand times, a thousand timesI've had that dream a thousand times
I left my room on the west sideI walked from noon through the nightI changed my crowd, I ditched my tieI watched the sparks fly off the fireI found your old house, I didn't even tryThey'd closed the shutters, they'd pulled the blindsI had a dream that you were mineI've had that dream a thousand times
But I don't answer questions, I just keep on guessingMy eyes are still open, the curtains are closingBut all that I have is this old dream I must have had
A thousand times, a thousand timesI've had that dream a thousand timesA thousand times, a thousand timesI've had that dream a thousand timesA thousand times, a thousand timesI've had that dream a thousand timesA thousand times, a thousand timesI've had that dream a thousand times


 

 «(...)

Sou um homem do passado

descendo os infernos

que mitos enunciaram: memórias de estrelas

que deram à luz planetas

com suas ervas e mares.»


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 40

 «(...) E fincas as mãos

na minha cabeça. E todo eu começo

                    a ser sede.»

Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 33

22

 

E toda te abres

como se fosse

por acidente.


E em ti mergulho

como quem descobre

uma ilha líquida.


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 30

 As nuvens

navegam

brancas nos rios


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 29

domingo, 14 de maio de 2023

 Agora

colherei um pouco mais depressa

as rosas cansadas, as pétalas

eufóricas

da minha morte.


Casimiro de Brito


sábado, 13 de maio de 2023


 

2

 

Amo-te

porque a palavra correu entre a tua pele

e a minha. Amo-te porque nos olhámos

e me engoliste no teu olhar. Amo-te

porque ouvi a febre, esse todo em ti

inesgotável, essa humidade

que me devolve a seiva

mais antiga. Amo-te 

porque me dás tudo o que me falta.

E amo-te porque me revelas

em cada momento

que precisas de mim. E agora sou eu

que não sei viver sem a tua constante 

confirmação

de que o paraíso existe.


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 8

estrelícias

 ave-do-paraíso

« a mágoa das mães paradas no silêncio dos

quintais,»

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 124

 « para quê esta canção de cinzas que alguém

atirou ao mar,

com o nome dos amigos por dentro,

com o seu lamento que nos traz o vento.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 123

Graciela Iturbide

 

« para quê estes gladíolos sobre a mesa onde

escrevemos todas as palavras dos condenados,

todas as formas de pedir perdão,

de dizer adeus,»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 122

 «onde não rasgamos as nuvens com os arados da

nossa dor.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 121

''Subitamente, é demasiado tarde.''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 115

 «De joelhos,

ele ainda rezava, voltado para o altar.

Parece que também enlouquecia.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 110

 «há um rasto de ternura sobre a neve e sobre a 

lava,

há um anel de aço que aperta a garganta,»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 108


Graciela Iturbide

 

 «As facas esperam um gesto que as conduza ao

pão.»

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 101

''chora os teus mortos através do mundo''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 94

 « o adeus magoado dos que partiram um dia,

dos que te amaram um dia.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 93

''frio rosto de mármore''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 82

romã tardia

 coração despedaçado

quinta-feira, 11 de maio de 2023

sonambulamente


 

 «Pouco resta de cada hora,

de cada grito,

de cada vez que os meus dedos trémulos

abriram a tua blusa em chamas,

bordada de romãs tardias,

com delicados fios de sangue,

de lado a lado dos seios quentes.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 67

 «Partiste.

Deixaste que uma luz muito fria caísse no

lago dos teus olhos,

transformando em estátuas de vidro os

peixes e o cisne.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 66/67

 «Queria um altar de gardénias para a sua 

insónia.»

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 65

''quando o crepúsculo traz a sua dor''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 58

Blanca Paloma - EAEA

''um rosto de vidro onde bate a lua,''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 57

 «Chamaste por mim em vão,

e como esse rei de rosto triste, também

choraste em vão.

Estavas só, sempre estiveste só,

E ao recordares uma orquídia,

um cântaro,

as mesas com toalhas de renda e os lírios,

assomaram aos teus olhos todas as lágrimas.»

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 53

''entre o pó e as hortênsias''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 51

''tudo amadurece deslumbradamente no Sul.''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 51


Graciela Iturbide

 

BENDITO SEJA

 Bendito seja o fruto do teu ventre,

minha mãe

minha casa de silêncio,

erguida sobre as montanhas.


Benditos eram os dedais da tua arte, as

agulhas do teu lume,

quando bordavas com fios de prata e dor

os xailes de orações murmuradas,

de vagas entoações de búzios.


Ainda respiro na tua água,

a tua água muito de dentro,

ainda chamo por ti quando os lobos me

procuravam,

quando o terror bate nos olhos dos animais 

puros.


Bendita seja a morada nossa de cada dia

e o belo pássaro do vento

que canta pela última vez nos ramos

da árvore despida.


Bendita sejas para sempre,

minha mãe das terras latas,

minha senhora de irremediável luto.


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 49/50

« meu amor que acendes na lua o teu rosto ferido»

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 38

Mezcal

 «Despeço-me de ti,

rapariga de olhos sombrios que já não espreitam

pelas janelas de um porto sem navios e te

perdes na cidade do meu terror,»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 37

maralha

''Sobrevive a fome tristíssima de um povo ainda mais triste.''

terça-feira, 9 de maio de 2023



Graciela Iturbide



 

SOU APENAS UM HOMEM

«Sou apenas um homem entre as lápides.

E, quando os mortos murmuram o meu nome,

digo simplesmente que estou aqui,

acendendo as velas,

rezando outra vez, com palavras humildes,

nos altares destruídos.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 35

''Dói que seja assim''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 33

« Nas estações de névoa os girassóis são mais

tristes.»

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 33

 «És aquela que pensa que o mundo é apenas um

deserto com janelas por cima.

Os teus quartis estão fechados na escuridão.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 32

fruta-da-condessa


                                                                     Graciela Iturbide

 «Nunca serás a mãe que vi sob a luz fria das 

estrelas,

sentada,

com as lágrimas que caíam,

bordando, cegamente, as intermináveis

blusas da sua vida.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 31

''calem os punhais do homicida''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 29

''cactos floridos''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 29

 «não façam aqui a sepultura de quem por amor

se mata, se despede,

se consome,»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 28

«Caminhei pelos campos vermelhos,

pouco depois do extermínio.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 26

RITA LEE



                      A onça Guna ao colo do pai da artista, Charles Fenley Jones, e Rita Lee

 

«Era uma vida de açucenas desfeitas.

E ela ia e vinha, sonambulamente, apagando as 

estrelas.


Tinha,

na boca entreaberta,

o travo amargo de laranjas doentes,

dos licores de ervas muito verdes que colhera na

infância dos países do mal.


Tinha medo.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 18

''em cada lenço de dizer adeus''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 17

'' com o rosário de sal das noivas eternas''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 17

 « a hora da hóstia,

a hora dos meus versos antigos, ardendo.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 16

''cofre de nostalgia e de ouro''

José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 15

 «Lançai,

sobre o meu corpo cansado do mundo,

as pétalas já sem brilho das flores da 

mocidade,

lançai sobre mim as estrelas que vi antes do 

exílio,

no país dos dias comovidos,»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 10

 «E a tua voz, levada pelo vento,

chega muito depressa à sonolência dos pássaros.

Em sobressalto eles despertam.»


José Agostinho Baptista. Esta Voz É Quase o Vento. Assírio & Alvim. 2ª Edição , Junho 2006., p. 10

segunda-feira, 8 de maio de 2023


 

 

PRÍNCIPE:

E o desgosto não tem causa?


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 32

domingo, 7 de maio de 2023

 «Vem, coração, e com riso

expulsa a minha mágoa.»


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 28

 «Como estou sempre ocupada,

não tenho tempo pr'a chorar,

mas tenho-o sempre para rir!»


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 28

 « (...); se me odeiam,

ama-as o meu prazer, que 

o ódio não sabe odiar.»


Robert Walser. Gata Borralheira. Tradução de Célia Marques. Maldoror, 2021., p. 28

quinta-feira, 4 de maio de 2023

''mármore destinado a cemitérios''

Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 143


 

 «Também tu estás cego. Também tu te debates no escuro.

Uma terrível solidão rodeia todos os seres que

confrontam a mortalidade. Como diz Margulies: a morte

aterroriza-nos a todos a ponto do silêncio.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 101

 «A minha alma tem sido tão temerosa, tão violenta:

perdoa a sua brutalidade.

Como se fosse essa alma, a minha mão desliza cautelosa por ti,


não querendo ofender,»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 137

«As folhas mortas incendeiam-se rápido.

E ardem rápido; num ápice,

passam de alguma coisa a nada.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 135




 

«Deixamo-nos ficar ao sol e o Sol cura-nos.»

Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 131

«Azul no Verão. Branco quando cai a neve.»

Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 129

« o cheiro de demasiadas ilusões»

Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 129

 «As luzes na rua apagam-se: é o amanhecer, aqui.

As luzes voltam a acender-se: é o crepúsculo.

Seja como for, ninguém olha para cima. Cada um faz o seu caminho,

e o cheiro do passado está por toda a parte.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 127

«Na outra vida, o nosso desespero converte-se apenas em silêncio.»

Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 123




 

 «(...) é da natureza da mente

defender a sua eminência, tal como é da natureza daqueles

que caminham à superfície temer as profundidades -

a nossa posição determina os nossos sentimentos.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 119

SOLITUDE

Está muito escuro, hoje; através da chuva,

a montanha deixa de ser visível. O único som

é o da chuva, arrastando a vida para debaixo da terra.

E com a chuva vem o frio.

Esta noite não haverá Lua, não haverá estrelas.


O vento levantou-se durante a noite;

fustigou o trigo toda a manhã -

parou ao meio-dia. Mas a tempestade continuou,

encharcando os campos secos, inundando-os a seguir -


A terra desapareceu.

Não há nada para ver, só a chuva

a reluzir no escuro das vidraças.

Este é o lugar de repouso, onde nada mexe -


Agora voltamos ao que éramos -

animais a viver na escuridão,

desprovidos de linguagem ou de visão -


Nada prova que estou viva.

Há apenas a chuva, a chuva é infindável.


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 117

«Sob o silêncio, o som do mar.»

Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 103


 

 «Ele nunca recorre a palavras. Para ele, as palavras são para planear

coisas,

para tratar de negócios. Nunca para a zanga. Nunca para a ternura.


Ela acaricia-lhe as costas. Pousa o rosto nelas,

embora isso seja como encostar o rosto a uma parede.


E o silêncio entre os dois é muito antigo: diz

são estes os limites.»

(...)


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 101

terça-feira, 25 de abril de 2023

 

«O que vive, vive debaixo da terra,

o que morre, morre sem dar luta.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 95

domingo, 23 de abril de 2023

« As borboletas pousam no seu ouvido de pedra.»

William Carlos Williams. Paterson. Tradução de Maria de Lourdes Guimarães. Relógio D'Água Editores, 1998., p 22

''solecismo filosófico''

Imagismo

sexta-feira, 21 de abril de 2023


 

 O Livro dos Amantes

I

Glorifiquei-te no eterno.
Eterno dentro de mim
fora de mim perecível.
Para que desses um sentido
a uma sede indefinível.

Para que desses um nome
à  exactidão do instante
do fruto que cai na terra
sempre perpendicular
à humidade onde fica.

E o que acontece durante
na rapidez da descida
é a explicação da vida.

                      Natália Correia


 O Livro dos Amantes

II

Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

                      Natália Correia

 O Livro dos Amantes

IX

Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.

Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.

                      Natália Correia

Nuvens correndo num rio


Nuvens correndo num rio
Quem sabe onde vão parar?
Fantasma do meu navio
Não corras, vai devagar!

Vais por caminhos de bruma
Que são caminhos de olvido.
Não queiras, ó meu navio,
Ser um navio perdido.

Sonhos içados ao vento
Querem estrelas varejar!
Velas do meu pensamento
Aonde me quereis levar?

Não corras, ó meu navio
Navega mais devagar,
Que nuvens correndo em rio,
Quem sabe onde vão parar?

Que este destino em que venho
É uma troça tão triste;
Um navio que não tenho
Num rio que não existe.

                      Natália Correia

Do sentimento trágico da vida


Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

                      Natália Correia

” Ter fé não significa estar livre de momentos difíceis, mas ter força para os enfrentar sabendo que não estamos sozinhos.”


 Papa Francisco

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Cotidiano


 

''homem-ego''

«Uma noite escura - as ruas pertencem aos gatos.»

Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 73

VIA DELLE OMBRE

 Na maior parte dos dias, é o sol que me acorda.

Mesmo nos dias mais escuros, há sempre muita luz de manhã -

linhas esguias onde as persianas não fecham.

É manhã - abro os olhos.

E todas as manhãs vejo outra vez como este lugar é imundo, sinistro.

Por isso, nunca chego atrasado ao trabalho - isto não é lugar para

se estar,

para ficar a ver a imundice a acumular-se enquanto o Sol resplandece.


Durante o dia de trabalho, esqueço o assunto.

Penso no trabalho: meter contas coloridas em frasquinhos de vidro.

Ao anoitecer, quando chego a casa, o quarto está sombrio -

a sombra da escrivaninha cobre por inteiro o chão despido.

Diz-me que quem aqui vive está condenado.


Quando é este o meu estado de espírito,

vou a um bar, fico a ver desporto na televisão .


Às vezes, falo com o dono.

Ele diz que os estados de espírito não querem dizer nada -

as sombras significam que a noite se aproxima, não que o dia nunca

mais irá voltar.

Diz-me para mudar a escrivaninha de lugar; terei outras sombras,

talvez

um diagnóstico diferente.


Se estamos sozinhos, ele baixa o som da televisão.

Os jogadores continuam a esbarrar uns nos outros,

mas só conseguimos ouvir as nossas próprias vozes.


Se não há jogo, ele escolhe um filme.

É a mesma coisa - o som mantém-se no mínimo, por isso restam 

as imagens.

Quando o filme acaba, trocamos opiniões para ter a certeza de que 

assistimos à mesma história.

Às vezes, passamos horas a ver este lixo.


Quando volto a pé para casa, já é noite. Por uma vez, escapa-nos a 

pobreza das casas.

Trago o filme na cabeça: convenço-me de que estou a trilhar o mesmo

caminho que o herói.


O herói atreve-se a sair à rua - culpa do amanhecer.

Quando sai, a câmara recolhe imagem de outras coisas.

Quando volta, já sabe tudo o que há para saber,

só de vigiar o quarto.


Agora não há sombras.

Está escuro dentro do quarto; a brisa noturna vem fresca.

No Verão, consegue-se sentir o aroma das flores de laranjeira.

Se não há vento, basta uma árvore - não é preciso um pomar inteiro.


Faço como o herói.

Ele abre a janela. Tem a sua reunião com a terra.


 Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 65

domingo, 16 de abril de 2023

« É como uma folha de erva seca num campo de gramíneas.»

 Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 65

 (...)

«junto à estrada, ardem alguns fogos isolados.

Nada resta do amor,

apenas distanciamento e ódio.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 61

sábado, 15 de abril de 2023


 

Lágrimas Negras

 «Todos os meses, ou assim, encontramo-nos para tomar café.

No Verão, é costume passearmos pelo prado, por vezes vamos até

    à montanha.

Mesmo quando sofre, ele continua pujante, feliz no seu corpo.

Isso deve-se em parte às mulheres, claro, mas não só.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 35

 «Ratos nos campos. Onde a raposa caça,

haverá sangue na erva amanhã.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p.29
« O céu está completamente azul, por isso a erva está seca.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p.23

Como Nossos Pais



                                                       O objecto de Noronha da Costa.
 

«Morreu Augusto Cunha»



''Quando no dia 18 de Abril de 1947, mês que também o viu nascer, Augusto Cunha morreu, vítima de doença dolorosa e prolongada, levou consigo o seu «Mundo Português». No último número da revista (o único póstumo), Raul Feio publicou «Morreu Augusto Cunha»:


[excerto] Lembrava-me que nunca mais o ouviria conversar, que nunca mais o ouviria dizer aquelas suas (e já tão nossas!) graças e trocadilhos, que nunca mais o veria acender o cigarro daquela maneira tão sua, que nunca mais o veria sacudir a cinza do fato com aquele gesto tão seu… Assim, é exactamente assim. Só coisas pequenas me vieram à cabeça. Não pensei sequer que tinha morrido um artista, que tinha desaparecido um homem bom, profundamente bom, um homem como poucos! – e adiante – Estive depois sozinho no seu escritório, sentado na sua cadeira, diante daquela grande secretária. E em tudo estava o ar das coisas sucedidas de repente e inacreditavelmente definitivas. Os livros e as caricaturas, a caneta, os jornais, os papéis em desordem, viviam como eu exactamente o espanto daquele momento. Vi cartas para responder e senti problemas a decidir. Mas tudo tinha parado. Nunca mais ouviria o meu velho amigo ler-me o rascunho duma crónica, expor-me a ideia do novo livro e interessar-se como só ele sabia, interessar-se de alma e coração pelas minhas pequenas tragédias.»

Fonte: Fundação António Quadros


 África,

no teu corpo rugem feras,

uivam fomes e medos ancestrais,

no teu sangue há marés,

na tua pele há dardos e punhais.

Ventre de continentes,

és mater e matriz.

Ásia é semente, Europa é flor,

outros serão essência ou tronco,

tu, África és Raiz.


 Fernanda de Castro, em África Raiz, 1966.

''Património Cemiterial ''

''borboletear cognitivo''


Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 204

 «Algo da imaterialidade do livro electrónico contagiará o seu conteúdo, como essa literatura tresmalhada, sem ordem nem sintaxe, feita de apócopes e calão, por vezes indecifrável, que determina o mundo dos blogues, do Twitter, do Facebook e restantes sistemas de comunicação através da Rede, como se os seus autores, ao usar esse simulacro que é a ordem digital para se expressarem, se sentisse libertos de toda a exigência formal e autorizados a atropelar a gramática, a sinérese e os princípios mais elementares da correcção linguística.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 199

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