sábado, 20 de maio de 2023

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 A morte para os romanos era um homem

mascarado de lobo, um jogo tenebroso

entre o predador e a sua predadora.

Diz Ovídeo (para quem tudo é caça)

que o homem persegue a mulher, o deus

a ninfa, o cão a lebre: perseguem vestígios

que escapam a goelas e armadilhas.

De toda essa devastação sobra apenas

a figura do vento, a sua inconstante respiração.

A ninfa envelhece, a lebre escapa ao dente

e o homem violador fica subitamente

sem tesão. A morte é uma loba acossada,

uma caçadora, uma escrava e detentora

do seu eterno pó. Valha-nos a memória

dos frescos de Pompeia.


Casimiro de Brito. Euforia. Razões Poéticas, 2019., p. 154

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