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domingo, 14 de agosto de 2016

It is difficult
to get the news from poems
yet men die miserably every day
for lack
of what is found there.

William Carlos Williams, «Asphodel, that greeny flower & other love poems: that greeny flower», New Directions Pub. Corp., N.Y., 1994.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

ASFÓDELO, ESSA FLOR ESVERDEADA


O asfódelo, essa flor esverdeada,
como um ranúnculo amarelo
sobre o seu caule ramificado —
só que verde e lenhoso —
venho, minha bela,
cantar-te.
Vivemos muito tempo juntos
uma vida repleta,
dir-se-ia,
de flores. Tanto que
me alegrei
assim que soube
que também no inferno
havia flores.
Hoje
invade-me a memória esmaecida dessas flores
que ambos amávamos,
inclusive esta pobre
coisa descolorida —
que eu vi
em pequeno —
pouco apreciada entre os vivos
mas que os mortos vêem,
interrogando-se entre si:
Será que recordo algo
cuja forma
fosse a forma desta coisa?
enquanto os nossos olhos se enchem
de lágrimas.
Do amor, do amor duradouro
será reveladora
embora um finíssimo banho carmim
lhe confira cor
tornando-a inteiramente credível.
Tenho algo
algo urgente
a dizer-te
e a ti apenas
embora tenha de esperar
enquanto me deleito
com o gozo da tua chegada,
quiçá pela última vez.
E assim
de coração receoso
vou-me alongando
e continuo a falar
por não me atrever a parar.
Ouve-me enquanto falo
contra o tempo.
Não demorará
muito.
Esqueci
e porém vejo com bastante nitidez
algo
central no céu
que em volta o abrange.
Uma fragrância
que brota!
Uma fragrância agradabilíssima!
Madressilva! E eis
que surge o zumbido de uma abelha!
e toda uma enxurrada
de memórias irmãs!
Só te peço algum tempo,
algum tempo para as recordar
antes de falar com franqueza.
Peço-te algum tempo,
algum tempo.
Em miúdo
tive um livro
ao qual, de vez
em quando,
acrescentava flores espalmadas
até que, daí a algum tempo,
me vi com uma bela colecção.
O asfódelo,
agoirento,
entre elas.
Trago-te,
ressuscitada,
uma memória dessas flores.
Eram perfumadas
quando as espalmava,
conservando
um quê desse seu perfume
por muito tempo.
Trata-se de uma fragrância curiosa,
uma fragrância moral,
a qual me transporta
para junto de ti.
A cor
era a primeira a desaparecer.
Deparara-se-me
um desafio,
o teu querido ser,
mortal como eu,
o pescoço do lírio
diante do colibri!
Uma riqueza infinita,
pensei eu,
estendeu-me os seus braços.
Mil trópicos
numa flor de macieira.
A própria terra generosa
deu-nos de bom grado.
O mundo inteiro
tornou-se o meu jardim!
Mas o mar
que ninguém cultiva
é também um jardim
quando nele incide o sol
despertando
as ondas.
Já o vi
e tu também
a cobrir de vergonha
todas as flores.
Existem ainda a estrela-do-mar
endurecida pelo sol
e demais sargaços
e algas. Era algo que conhecíamos
a par de tudo o mais
pois nascêramos junto do mar,
conhecíamos as suas sebes de rosas
que vinham até à beira da água.
É aí que cresce a malva-rosa
e quando está na época
os morangos
e foi aí que, mais tarde,
fomos apanhar
a ameixa silvestre.
Não posso dizer
que fui ao inferno
pelo teu amor
mas foi lá
que muitas vezes dei por mim
à tua procura.
Não me agrada
e deu-me vontade de
estar no céu. Ouve-me.
Não vires costas.
Aprendi muito ao longo da vida
em livros
e fora deles
sobre o amor.
A morte
não é o seu final.
Há uma hierarquia
que pode ser alcançada,
julgo eu,
ao seu serviço.
A sua recompensa
é uma flor mágica;
um gato de vinte vidas.
Se ninguém o tentasse
o mundo
ficaria a perder.
Tem sido
para ti e para mim
como alguém que observa uma tempestade
a aproximar-se sobre as águas.
Estivemos
ano após ano
diante do espectáculo das nossas vidas
de mão dada.
A tempestade desenvolve-se.
Os relâmpagos
brincam na orla das nuvens.
O céu a norte
está plácido,
resplandece azul
com o adensar-se da tempestade.
É uma flor
que chegará em breve
ao auge do seu florir.
Dançávamos,
em pensamento,
e líamos juntos um livro.
Lembras-te?
Era um livro sério.
E foi assim que os livros
entraram nas nossas vidas.
O mar! O mar!
Sempre
que penso no mar
vem-me à ideia
a Ilíada
e a falta pública de Helena
que a engendrou.
Não fosse isso
e não teria existido
poema e o mundo,
se tivéssemos recordado
aquelas pétalas carmins
derramadas entre pedras,
ter-lhe-ia chamado simplesmente
assassínio.
A orquídea sexual que então floresceu
lançando tantos homens
desinteressados
para o túmulo
deixou a sua memória
a uma raça de loucos
de heróis
se for uma virtude o silêncio.
Só o mar
na sua multiplicidade
encerra alguma esperança.
A tempestade
revelou-se um fracasso
mas sobramos nós
após os pensamentos que ela despertou
para
cimentarmos de novo as nossas vidas.
É a mente
a mente
que há que curar
antes da intervenção
da morte,
e a vontade torna-se novamente
um jardim. O poema
é complexo e o espaço aberto
nas nossas vidas
para o poema.
O silêncio também pode ser complexo,
mas não se vai longe
com o silêncio.
Recomecemos.
É como o inventário
de navios de Homero:
serve para fazer tempo.
Falo através de figuras,
em certa medida, os vestidos
que pões são figuras também,
de outro modo não nos
encontraríamos. Quando falo
de flores
é para lembrar
que em dado momento
fomos novos.
Nem todas as mulheres são Helena,
bem sei,
mas trazem Helena nos seus corações.
Minha bela,
também tu a trazes, e é por isso
que eu te amo
e não poderia amar-te de outro modo.
Imagina que vias
um campo cheio de mulheres
de um branco prateado.
O que haveria a fazer
senão amá-las?
A tempestade rebenta
ou esmorece! não é
o fim do mundo.
O amor é outra coisa,
ou assim pensava eu,
jardim que se expande,
embora eu te tivesse conhecido como mulher
e nunca tenha achado outra coisa,
até ocupar
todo o mar
e todos os seus jardins.
Foi o amor do amor,
o amor que engole tudo o mais,
um amor agradecido,
um amor da natureza, das pessoas,
dos animais,
um amor que gera
a amabilidade e a bondade
que me animou
e que vi em ti.
Eu deveria saber,
embora não soubesse,
que o lírio do vale
é uma flor que adoece muitos
daqueles que a sopram.
Tivemos os nossos filhos,
adversários na chacina geral.
Ponho-os de lado
embora tenha cuidado deles
como qualquer homem cuidaria
dos seus filhos
no meu entender.
Compreendes
que tinha de te encontrar
após o sucedido
e que ainda tenho de te encontrar.
O amor
perante o qual te curvarás
ao meu lado —
uma flor
uma flor fragilíssima
será a nossa aliança
e não que sejamos
demasiado fracos
para agirmos de outro modo
mas porque
do alto das minhas forças
arrisquei aquilo que tinha de fazer,
para assim provar
que nos amamos
enquanto os meus próprios ossos suavam
para que eu não to gritasse
em flagrante.
O asfódelo, essa flor esverdeada,
venho, minha bela,
cantar-te!
O meu coração exalta-se
ao pensar em trazer-te notícia
de algo
que diz respeito a ti
e diz respeito a muitos homens. Repara
no que passa por novidade.
Não o encontrarás aí mas nos
poemas desprezados.
É difícil
obter notícias dos poemas
embora os homens morram miseravelmente todos os dias
à falta
do que aí se encontra.
Ouve-me
pois também a mim diz respeito
bem como a qualquer homem
que deseje morrer em paz na sua cama
de resto.

William Carlos Williams 
(tradução de Vasco Gato)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

William Carlos Williams reviews Wallace Stevens

«The New Republic has posted a review, from 1937, of Wallace Stevens’ The Man with the Blue Guitar and Other Poems, written by William Carlos Williams. Williams begins by praising Stevens’ craft but questioning his politics:
The story is that Stevens has turned of late definitely to the left. I should say not, from anything in this book. He’s merely older and as an artist infinitely more accomplished. Passion he has, too often muted, but not flagrantly for the underdog. No use looking for Stevens there—without qualifications.
And continues on to critique the thoughtfulness of Stevens’ quasi-philosophical verse, which Williams sees as dulling the flashes of brilliance in the poems:
Five beats to the line here, and that’s where the trouble is let in. These five beats have a strange effect on a modern poet; they make him think he wants to think. Stevens is no exception. The result is turgidity, dullness and a language, God knows what it is! certainly nothing anybody alive today could ever recognize—lit by flashes, of course, in this case; for whatever else he may be Stevens is always a distinguished artist. The language is constrained by the meter instead of there being—an impossible peak it may be—a meter discovering itself in the language. We are still searching. Much more might be said were there space for it.»

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