sábado, 15 de abril de 2023

«Morreu Augusto Cunha»



''Quando no dia 18 de Abril de 1947, mês que também o viu nascer, Augusto Cunha morreu, vítima de doença dolorosa e prolongada, levou consigo o seu «Mundo Português». No último número da revista (o único póstumo), Raul Feio publicou «Morreu Augusto Cunha»:


[excerto] Lembrava-me que nunca mais o ouviria conversar, que nunca mais o ouviria dizer aquelas suas (e já tão nossas!) graças e trocadilhos, que nunca mais o veria acender o cigarro daquela maneira tão sua, que nunca mais o veria sacudir a cinza do fato com aquele gesto tão seu… Assim, é exactamente assim. Só coisas pequenas me vieram à cabeça. Não pensei sequer que tinha morrido um artista, que tinha desaparecido um homem bom, profundamente bom, um homem como poucos! – e adiante – Estive depois sozinho no seu escritório, sentado na sua cadeira, diante daquela grande secretária. E em tudo estava o ar das coisas sucedidas de repente e inacreditavelmente definitivas. Os livros e as caricaturas, a caneta, os jornais, os papéis em desordem, viviam como eu exactamente o espanto daquele momento. Vi cartas para responder e senti problemas a decidir. Mas tudo tinha parado. Nunca mais ouviria o meu velho amigo ler-me o rascunho duma crónica, expor-me a ideia do novo livro e interessar-se como só ele sabia, interessar-se de alma e coração pelas minhas pequenas tragédias.»

Fonte: Fundação António Quadros


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