quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

«(...) divisavam-se os ossos mais cobertos de sujidade do que carne.»


Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 246
«A fome espalhava-se pelo reino e milhões de infelizes comiam pedras em vez de pão.»



Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 243
«Os amorosos ardentes e os sábios austeros
Todos gostam, na idade madura,
De gatos meigos e fortes, o orgulho do lar,
Que como eles são friorentos e também sedentários.»


Charles Baudelaire
«Eis que ela languesce no seu leito virginal,
Muito pálida, envolta em finos panos.»



Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 228

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

NOCTURNO DE LA ESTATUA
A Agustín Lazo


Soñar, soñar la noche, la calle, la escalera
y el grito de la estatua desdoblando la esquina.
Correr hacia la estatua y encontrar sólo el grito,
querer tocar el grito y sólo hallar el eco,
querer asir el eco y encontrar sólo el muro
y correr hacia el muro y tocar un espejo.
Hallar en el espejo la estatua asesinada,
sacarla de la sangre de su sombra,
vestirla en un cerrar de ojos,
acariciarla como a una hermana imprevista
y jugar con las fichas de sus dedos
y contar a su oreja cien veces cien cien veces
hasta oírla decir: « estoy muerta de sueño ».


Xavier Villaurrutia, 1938.


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


Nocturne: the Statue
To Agustín Lazo


To dream, to dream the night, the street, the stairway
and the scream of the statue unfolding in the corner.
To run toward the statue and find only the scream,
to want to touch the scream and find only the echo,
to want to seize the echo and find only the wall
and to run toward the wall and to touch a mirror.
To find in the mirror the murdered statue,
to obtain the blood from her shadow,
to dress her in closed eyes,
to caress her like an unforeseen sister
and to play the tokens of her fingers
and to count into her ear a hundred times a hundred hundred times
until I hear her say: « I am dead from dreaming ».


Xavier Villaurrutia, 1938.
[traducción inglesa por Raymond E. André III, 2009]   

domingo, 29 de janeiro de 2012

''Para quê tantas reflexões?''


«Para quê tantas reflexões?... Para que havemos de deixar, nos momentos de jovial despreocupação, a tristeza insinuar-se em nós? Logo que o riso se congela em nossos lábios, tornamo-nos sombrios, e eis-nos diferentes de todos os que nos cercam...»


Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 57
« - Valha-me Deus, tantas blasfémias! - exclamou a velha, horrorizada.
   - O que quer que lhe diga? Para falar com franqueza, a senhora parece, salvo o devido respeito, um cão de guarda deitado numa manjedoura: não come o feno, mas não deixa ninguém comê-lo. No entanto, eu tencionava mais tarde comprar-lhe também alguns produtos agrícolas, pois sou fornecedor da coroa.»



Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 57

Robert & Shana ParkeHarrison, Study of Nest, 1994

''Um Prometeu, um verdadeiro Prometeu! Que ar majestoso! Que andar imponente! Parece uma águia! Mal sai dali, com a papelada debaixo do braço, e entra no gabinete do director, a águia transforma-se em perdiz...''

«À noite, em sociedade, se os presentes lhe são inferiores, Prometeu continua a ser Prometeu, mas se encontra alguém duma categoria ligeiramente superior, o nosso Prometeu sofre uma metamorfose tão completa como o próprio Ovídio não seria capaz de imaginar: transforma-se em mosca, ou em menos do que mosca, num grão de areia...''Este não é Ivan Petrovich!'', dirá quem o vir. ''Ivan Petrovich é alto e este é um João-ninguém; Ivan Petrovich nunca ri, tem voz forte, um ar imponente e este ri por tudo e por nada e pipila como um passarinho...'' Mas se se aproximar um pouco mais, acabam-se as dúvidas, e exclamará então: ''Afinal, sempre é Ivan Petrovich! Quem haveria de dizer!''»



Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 51
«E foi com a alma desolada que me ajoelhei aos pés do leito onde a minha amada Annie repousava sob uma cruz de rosas, muda, branca, e com as pálidas violetas da morte sobre as faces.»


Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 190/1

«(...) senti a boca amarga e o coração enlutado.»


Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 190

«Baltasar era dotado de uma alma simples; mas o amor é sempre um sentimento muito complexo.»



Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 149

«A sabedoria torna as pessoas felizes - retorquiu Sembobitis.»



Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 146

espineta

nome feminino

MÚSICA antigo instrumento musical, que é uma espécie de cravo

(Do italiano spinetta, «idem», do nome do seu fabricante, o veneziano Spinetti, que morreu em 1550)

«A minha bem-amada é como um jardim fechado.»


Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 104

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

«Creio sinceramente na virtude e na felicidade. São duas coisas inseparáveis, mas raras; escondem-se. Descobri-las-emos sob os humildes tectos ocultos no coração dos campos.»



Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 87

orgíaco


«Nado em plena alegria, encontro-me magnificamente embriagado. Pronuncio em completa consciência e na sublime plenitude do seu significado esta palavra de todas as bebedeiras, de todos os entusiasmos e de todos os encantamentos: «Não sei quem sou!»
 

Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 77

Holland House Library Suffers Damage, Hulton-Deutsche Collection, 1940

«SE A FELICIDADE CONSISTE EM JÁ NÃO SENTIR»

Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 76
«O pavor de morrer aterrava-a e ao mesmo tempo o suicídio atraía-a.»



Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 74

«Aconteceu-me como a qualquer outro ter sido amado: isso é a felicidade, Saint-Sylvain;»


Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 71

O sono lento e pesado dos sonhos

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012


«Até o facto de eu próprio pertencer à espécie humana faz-me morrer de vergonha e desgosto.»


Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 62

Sinto-me doente.


«A Deusa parecia ainda encontrar-se molhada pela onda marinha.»


Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 58

domingo, 22 de janeiro de 2012

Turn thou away thy false dark eyes
Nor gaze upon my face;
Great love I bore the: now great hate
Sits firmly in its place.

Elizabeth Siddal



(I saw her smile.) But soon their path
Was vague in distant spheres:
And then she cast her arms along
The golden barriers,
And wept. (I heard her tears.)

Dante Gabriel Rossetti.

Chichikov poucas vezes falava de si próprio


«Chichikov poucas vezes falava de si próprio e, quando o fazia, era em termos vagos e com grande modéstia, dando às frases um estilo livresco. Dizia, por exemplo, que um insignificante verme da terra como ele não era digno de muita atenção;»



Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p.12

Woman's Back, 2001

Biblioteca Real


    
          «Depois de os ter convidado a sentarem-se, o bibliotecário indicou com um gesto aos visitantes a enorme quantidade de livros que cobriam, as quatro paredes, desde o soalho até ao tecto.
         - Os senhores não ouvem? Os senhores não ouvem o barulho que eles fazem? Tenho os tímpanos furados. Estão sempre a falar ao mesmo tempo e em todas as línguas. Discutem acerca de tudo: Deus, a natureza, o homem, o tempo, o número e o espaço, o inteligível e o ininteligível, o bem e o mal, e examinam tudo, contestam tudo, afirmam tudo, negam tudo. Raciocinam acertada e desacertadamente. Uns são leves, outros pesados; uns alegres, outros tristes; uns são profundos, outros superficiais; alguns deles falam muito para nada dizer; acumulam sílabas e juntam os sons segundo as leis que eles próprios ignoram a origem e o espírito; são os mais satisfeitos de todos. Existem os de uma espécie austera e melancólica, que apenas especulam acerca de noções isentas de qualquer qualidade e se colocam cautelosamente ao abrigo das contigências naturais; debatem-se no vazio e agitam-se entre as invisíveis categorias do nada, e estes são encarniçados disputadores que utilizam para sustentar as suas entidades e os seus símbolos um furor sanguinário. »

(...)

«Não sabem, a maioria das vezes, nem aquilo que dizem nem aquilo que os outros disseram.»




Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 45/6
«Para me aliviar dos males que suporto durante o dia, escrevo-os durante a noite e vomito assim o fel de que me alimento.»



Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 33

falaz

1. enganador
2. ardiloso
3. falso
(Do latim fallāce-, «enganador»)
«Não era nem muito amado nem muito estimado pelo seu povo, o que lhe proporcionava a magnífica vantagem de nunca decepcionar ninguém. »



Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 16

A CAMISA

Estava um jovem pastor pre-
guiçosamente deitado na erva do
campo, a entreter a solidão tocando
a flauta...Tinham-no despido à
força, mas...

(Grand Dictionnaire de Pierre Larousse, artigo CAMIS; t. IV, p. 5, col.4.)


in Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

“O que me atrai é o ser humano. Carrascos ou vítimas, nós nunca somos só uma coisa. A natureza humana é complexa e, como artista, tenho a impressão que a minha função é iluminá-la. Filmo para conhecer o outro e a mim mesmo”


Realizador e argumentista Lee Chang-dong

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Passado e culpa

''Em busca de Odradek''

''Depois do desaparecimento das mães o trauma do segundo nascimento/ E o que eu vi era mais do que eu podia suportar.''



Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997,
«Durante vinte anos Clitemnestra sonha o mesmo sonho: uma serpente vem beber leite e sangue no seu peito.»



Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 43
« - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.»



Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 254
«Virgília traíra o marido, com sinceridade, e agora chorava-o com sinceridade.»


Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 246
«Eu fui ao cemitério; e, para dizer tudo, não tinha muita vontade de falar; levava uma pedra na garganta ou na consciência.»


Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 245
Powered By Blogger