domingo, 12 de fevereiro de 2023
''no dealbar do mundo''
Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 15
''tranças de cebolas''
Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 12
''crises de hipocondria religiosa''
Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 10
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023
domingo, 5 de fevereiro de 2023
Nós somos os homens vazios
Somos os homens de palha
Apoiados uns nos outros
A parte da cabeça cheia de palha. Ai
As nossas vozes foram secas e quando
Juntos sussurramos
São serenas e sem sentido
Como vento em erva seca
Ou pés de ratos sobre vidro partido
Na secura da nossa cave
Molde sem forma, tonalidade sem cor,
Força paralisada, gesto sem movimento;
Os que cruzaram
Com os olhos certeiros, para o outro reino da morte
Lembram-se de nós – quem sabe – não de
Violentas almas perdidas, mas somente
De homens vazios
Homens de palha.
Rui Cóias
“The Hollow Men”, de T.S. Eliot (excerto)
Doutor eu tenho uma guerra tremenda dentro da minha cabeça
um euro e trinta e cinco cêntimos 16 de Agosto de 2011
não dá para o tabaco. Quero lembrá-lo que o verão está a acabar
e eu já ouço passos nos caminhos da lama e do medo
e há coisas que só no verão se fazem e eu ainda não fiz
como ouvir o rumorejar do mar nos meus pulsos.
Os seus medicamentos doutor deixam-me sem mim
o meu pai disse-me que a minha doença só lhe traz problemas
doutor há uma pedra intraduzível entre nós dois
quero dizer-lhe que há pessoas muito pobres que querem
o meu rim esquerdo doutor o mundo não é perfeito
e não me diga para lhe contar tudo como a um padre
eu não quero morrer outra vez essa frase fá-lo muito feio.
Acredite que vi gente morrer porque era maior que o corpo
tenho a impressão que o corpo não sabe o que tem dentro
acredite que consigo fundir uma lâmpada só com o olhar
já fundi muitas lâmpadas só com o olhar
e que vi um anjo atravessar os muros de um hospício
rasante e belo como uma garça.
Doutor há muito pouco tempo para a poesia.
Isto que lhe digo é verdade todos os dias doutor.
Se eu vos disser: «tudo abandonei»
É porque ela não é a do meu corpo,
Eu nunca me gabei,
Não é verdade
E a bruma de fundo em que me movo
Não sabe nunca se eu passei.
O leque da sua boca, o reflexo dos seus olhos
Sou eu o único a falar deles,
O único a ser cingido
Por esse espelho tão nulo em que o ar circula através de mim
E o ar tem um rosto, um rosto amado,
Um rosto amante, o teu rosto,
A ti que não tens nome e que os outros ignoram,
O mar diz-te: sobre mim, o céu diz-te: sobre mim,
Os astros adivinham-te, as nuvens imaginam-te
E o sangue espalhado nos melhores momentos,
O sangue da generosidade
Transporta-te com delícias.
Canto a grande alegria de te cantar,
A grande alegria de te ter ou te não ter,
A candura de te esperar, a inocência de te conhecer,
Ó tu que suprimes o esquecimento, a esperança e a ignorância,
Que suprimes a ausência e que me pões no mundo,
Eu canto por cantar, amo-te para cantar
O mistério em que o amor me cria e se liberta.
Tu és pura, tu és ainda mais pura do que eu próprio.
“A de Sempre, Toda Ela”, de Paul Éluard
no país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho que bom é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno
e no país no país e no país país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só até à ilharga,
a grande história de amor só até ao pescoço
e no país no país que engraçado no país
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma – ora aí está –
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)
diz que grandeza de alma. Honestos porque.
Calafetagem por motivo de obras.
relativamente queda de água
e já agora há muito não é doutra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato
“IX”, do “Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano”, Mário Cesariny
Poisamos as mãos junto da chávena
são formas próximas da mesma substância.
A minha mão e a chávena nacarada
– se eu temperar o lirismo com a ironia –
são, ainda, familiares dos pterossáurios.
A tranquila tarde enche as vidraças.
A água escorre da bica com ruído,
os melros espiam-me na latada seca.
É assim que muitas vezes o chá evoca:
a minha mão de pedra, tarde serena,
olhar dos melros, som leve da bica.
A Natureza copia esta pintura
do fim da tarde que para mim pintei,
retribui-me os poemas que eu lhe fiz
de novo dando-me os meus versos ao vivo.
Como se eu merecesse esta paisagem
a Natureza dá-me o que lhe dei.
No entanto algures, num poema, ouvi
rodarem as roldanas do cenário,
em que as palavras representavam
a cena da pintura da paisagem
num telão constantemente vário.
Só o chá me traz a minha tarde,
com a chávena e a minha mão que são
o mesmo pedaço de calcário.
Hoje a bica refresca a água do tanque,
os melros descem da latada para o chão,
e as vidraças devagar escurecem.
As palavras movem-se e repõem
no seu imóvel eixo de rotação
o espaço onde esta mesa de verga
gira nas grandes nebulosas.
“O Canto da Chávena de Chá”, de Fiama Hasse Pais Brandão
Os Velhos Mestres: quão bem entenderam
A condição humana; como está presente
Enquanto alguém se alimenta ou abre uma janela ou monotonamente segue a caminhar;
Como, enquanto os velhos esperam apaixonada e reverentemente
Pelo miraculoso nascimento, deve sempre haver
Crianças que não queriam especialmente que acontecesse, patinando
Num lago na orla da floresta:
Nunca esqueceram
Que até o mais terrível martírio deve seguir o seu curso,
Custe o que custar, a um canto, nalgum lugar descuidado
Onde os canídeos acorrem em suas vidas de cão, e o cavalo do torturador
Coça seu inocente traseiro por detrás de uma árvore.
No Ícaro de Brueghel, por exemplo: como tudo se afasta
Ociosamente do desastre; o lavrador poderá
Ter ouvido o splash, o grito desamparado,
Mas para ele não era um importante fracasso; o sol brilhou
Como soía sobre as pernas brancas que desapareceram na verde
Água; e o frágil e grandioso navio que deve ter avistado
Algo espantoso, um rapaz caindo do céu,
Tinha um destino para ir e afastou-se calmamente.
“Musée des Beaux Arts”, de W. H. Auden
Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava […]
“Muriel”, de Ruy Belo
Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!
Fernando Pessoa
sábado, 4 de fevereiro de 2023
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023
Sobre um poema, Herberto Helder
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
O livro, de Gonçalo M.Tavares
De manhã, quando passei à frente da loja
o cão ladrou
e só não me atacou com raiva porque a corrente de ferro
o impediu.
Ao fim da tarde,
depois de ler em voz baixa poemas numa cadeira preguiçosa do
jardim
regressei pelo mesmo caminho
e o cão não me ladrou porque estava morto,
e as moscas e o ar já haviam percebido
a diferença entre um cadáver e o sono.
Ensinam-me a piedade e a compaixão
mas que posso fazer se tenho um corpo?
A minha primeira imagem foi pensar em
pontapeá-lo, a ele e às moscas, e gritar:
Venci-te.
Continuei o caminho,
o livro de poesia debaixo do braço.
Só mais tarde pensei ao entrar em casa:
não deve ser bom ter ainda a corrente
de ferro em redor do pescoço
depois de morto.
E ao sentir a minha memória lembrar-se do coração,
esbocei um sorriso, satisfeito.
Esta alegria foi momentânea,
olhei à volta:
tinha perdido o livro de poesia.
O recreio, de Mário de Sá-Carneiro
Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...
Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...
- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...
Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...
- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...
Em todos os jardins, Sophia de Mello Breyner
Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.
Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.
Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.
Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.
Morrer de amor, de Maria Teresa Horta
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso
Aniversário, de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
domingo, 29 de janeiro de 2023
O coração, se pudesse pensar, pararia.
Livro do Desassossego, Bernardo Soares
quinta-feira, 26 de janeiro de 2023
quinta-feira, 19 de janeiro de 2023
Para ele [Wittgenstein] a riqueza está aqui, na proximidade, à nossa mão, diante de nós, não é preciso descer à mina para encontrar gemas desconhecidas. E como captá-la? Através de um olhar atento, incansável, um olhar que se esforça por reconhecer nas coisas o seu gesto próprio, a fim de lhe fazer justiça. Eis o mais difícil: ver o que está diante dos nossos olhos.
sábado, 14 de janeiro de 2023
Precisava de alguns conselhos.
« - Precisava de alguns conselhos. As pessoas só os aceitam quando eles coincidem com aquilo que querem fazer.»
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 145sábado, 7 de janeiro de 2023
« Quando está desconcertada ou perplexa, Mary vomita a sua cólera como um polvo vomita a sua tinta para se esconder do inimigo.
- Tu dás cabo de mim. Não podes deixar que os outros tenham um pouco de alegria.
- Não é nada disso, minha querida. Tenho medo da tristeza desesperada, do receio que o dinheiro engendra, da falta de segurança e da inveja.
Ela deveria ter sentido inconscientemente o mesmo temor. Experimentou ferir-me, procurou um ponto sensível, e encontrou-o.»
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 129«Sê-lo-emos bem depressa, e tu, que tão mal usas a pobreza, usarás muito pior a riqueza.» E isto é verdade. Pobre, ela é invejosa. Rica, será desprezível. O dinheiro não cura a doença. Só modifica os sintomas.»
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 116Agora Só Falta Você
Um belo dia resolvi mudar
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto a você
Existe um porquê
Eu sei que eu nasci
Sei que eu nasci pra saber
E sem ligar pro que me aconteceu
Um belo dia vou lhe telefonar
Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou
Agora só falta você
Agora só falta você
Agora só falta você
Agora só falta você
E sem ligar pro que me aconteceu
Um belo dia vou lhe telefonar
Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou
Agora só falta você
Agora só falta você
Agora só falta você
''litania monótona''
''tenho cicatrizes morais''
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 108
Saudadinha
Ó Tirana saudade
Ó Tirana saudade
Ó Tirana saudade
Saudade, ó minha saudadinha
Foste nada no Faial
Foste nada no Faial
Foste nada no Faial
No Faial baptizada na Achadinha
Saudade onde tu fores
Saudade onde tu fores
Saudade onde tu fores
Saudade leva-me podendo ser
Que eu quero ir acabar
Que eu quero ir acabar
Que eu quero ir acabar
Saudade onde tu foras morrer
A saudade é um luto
A saudade é um luto
A saudade é um luto
Um amor, um amor, uma paixão
É um cortinado roxo
É um cortinado roxo
É um cortinado roxo
Que me morde, que me morde o coração.
domingo, 25 de dezembro de 2022
Carlos do Carmo - Estrela da Tarde
Que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas
Tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca
Tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste
Na tarde tal rosa tardia
Que a boca pedia
E na tarde ficamos unidos ardendo na luz
Que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto
Tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra noite
Para haver outro dia
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Eu não tenho a certeza
Que me adormeceram
Dos noturnos silêncios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite
Uma festa de fogo fizeram
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Eu não tenho a certeza
É ternura, se é riso, ou se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto
De mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto
« O reu diz os seus segredos a um poço e eles ficam sem segurança. Quem confia os segredos ou uma história, deve contar com a pessoa que o escuta ou lê, pois uma história tem tantas versões como leitores. Cada um toma dela o que quer ou o que pode, talhando-a assim à sua própria medida. Alguns aceitam uma parte e rejeitam o resto; outros passam-na à peneira dos seus conceitos, outros ainda transformam-na a seu bel-prazer.»
John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 84
Quem faz o Natal para todos nós? São os amigos
Quem nos dá prazer e dá calor? São os amigos
A quem é que damos a ternura? É aos amigos
A quem é que damos o melhor? É aos amigos
Os amigos são o nosso bolo de Natal
Cada amigo nosso vale mais que um Pai Natal
É um irmão nosso que trabalha no Natal
E com suas mãos faz a diferença do Natal
O dinheiro pouco importa
O que importa é a verdade
E a prenda mais valiosa
É a prenda da amizade
Quem faz das tristezas forças
E das forças alegrias
Constrói à força de Amor
Um Natal todos os dias.
"Os Operários do Natal" - textos de Ary dos Santos e Joaquim Pessoa
domingo, 18 de dezembro de 2022
« O tempo apodreceu e desfez estátuas mais antigas, feitas de madeira, os xoana. Apenas podemos ver na Hera de Samos, cujo longo corpo cilíndrico sobe do chão como um tronco de uma árvores, uma obra que conserva na pedra a forma que a madeira impunha aos xoana.
terça-feira, 13 de dezembro de 2022
ROSALÍA - Por Mi Puerta No Lo Pasen
En la verde oliva
En la verde oliva canta, ay qué canta
En la verde oliva
Que canta en la verde oliva
Corre y dile que se calle
Que su cante me lastima, corre
Y dile que se calle
Que su cante me lastima
Tú seras mi prenda adorada
Tu seras el pájaro cuco
Que alegre canta en la madruga
Cuanto te quiero
Cuanto te quiero
Sin ti mi alma
Pa' que la quiero
No la pasen por mi puerta
Y por mi puerta no la pasen no la
Pasen por mi puerta
No lo pasen por mi puerta
Porque mirarte no quiero
A la carita ni viva ni muerta
No lo pasen por mi puerta
Porque mirarte no quiero
Ni a la carita ni viva ni muerta
Que yo me encuentro paga'o
Con que tu me cameles bien
« O homem grego é o homem da tragédia e da catharsis.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 447
segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
Lana Del Rey - Did you know that there's a tunnel under Ocean Boulevard
Mosaic ceilings, painted tiles on the wall
I can't help but feel somewhat like my body marred my soul
Handmade beauty, sealed up by two man-made walls
And I'm like
When's it gonna be my turn?
Open me up, tell me you like it
Fuck me to death, love me until I love myself
There's a tunnel under Ocean Boulevard
There's a tunnel under Ocean Boulevard
Not because she loves the notes or sounds that sound like Florida
It's because she's in a world preserved, only a few have found the door
It's like Camarillo, only silver mirrors running down the corridor
Oh, man
Don't forget me
When's it gonna be my turn?
Open me up, tell me you like me
Fuck me to death, love me until I love myself
There's a tunnel under Ocean Boulevard
Don't forget me
There's a tunnel under Ocean Boulevard
Something about the way he says, "Don't forget me"
Makes me feel like
I just wish I had a friend like him, someone to give me fire
Leaning in my back, whispering in my ear, "Come on, baby, you can thrive"
But I can't
Don't forget me
When it's gonna be my turn?
Open me up, tell me you like it
Fuck me to death, love me until I love myself
There's a tunnel under Ocean Boulevard
Like the tunnel under Ocean Boulevard
Don't forget me
Like the tunnel under Ocean Boulevard
Don't forget me
Like the tunnel under Ocean Boulevard
No, no, no, don't forget me
Don't you, don't you forget me (no, oh)
De Amor nada Mais Resta que um Outubro
De amor nada mais resta que um Outubro
Cântico do País Emerso
Os inocentes que têm pressa de voar
Os revoltados fazem de conta fazem de conta...
Os revoltantes fazem as contas de somar.
Embebo-me na solidão como uma esponja
Por becos que me conduzem a hospitais.
O medo é um tenente que faz a ronda
E a ronda abre sepulcros fecha portais;
Os edifícios são malefícios da conjura
Municipal de um desalento e de uma Porta.
Salvo a ranhura para sair o funeral
Não há inquilinos nos edifícios vistos por fora
Que é dos meninos com cataventos na aérea
Arquitetura de gargalhadas em cornucópia?
Almas bovinas acomodadas à matéria
Pastam na erva entre as ruínas da memória,
Homens por dentro abandalhados em unhas sujas
Que desleixaram seu coração num bengaleiro;
Mulheres corujas seriam gregas não fossem as negras
Nódoas deixadas na sua carne pelo dinheiro;
Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa
Passam por mim como alamedas de ciprestes
E a flor de cinza da juventude é uma aresta
Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres
E essa ansidedade de mim mesma me virgula
Paula de pátria entressonhada. É um crisol.
E, o fruto agreste da linfa ardente que em mim circula
Sabe-me a sol. Sabe-me a pássaro. Pássaro ao sol.
Entre mim e a cidade se ateia a perspectiva
De uma angústia florida em narinas frementes.
Apalpo-me estou viva e o tacto subjectiva-me
a galope num sonho com espuma nos dentes.
E invoco-vos, irmãos, Capitães-Mores do Instinto!
Que me acenais do mar com um lenço cor da aurora
E com a tinta azulada desse aceno me pinto.
O cais é a urgência. O embarque é agora.