segunda-feira, 19 de abril de 2021

 CAMINHO DA MANHÃ


Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco da cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos: mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada.

Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.

Sophia de Mello Breyner Andresen | "Livro Sexto", 1962

quinta-feira, 15 de abril de 2021

 

corologia

co.ro.lo.gi.a
kuruluˈʒiɐ
nome feminino
ECOLOGIA ciência que estuda a distribuição geográfica dos seres vivos na superfície da terra

Quando as coisas chegam ao fundo, não há quem as arranque!

 «Calar e consumir-se, é o maior castigo a que nos podemos condenar. De que me serviu a mim o orgulho, e o não te olhar, e o deixar-te acordada noites e noites? De nada! Serviu para abrasar-me. Porque tu acreditas que o tempo cura e as paredes tapam, e não é verdade, não é verdade! Quando as coisas chegam ao fundo, não há quem as arranque!»

 
Frederico Garcia Lorca

Alice de Battenberg, mãe do Príncipe Philip de Edimburgo


 

es.túr.di.a

gorar

"Quasi de Graça"

 Livro de Contos de Augusto Cunha

comediógrafo



ante-títulos sensacionalistas.

RILHAFOLESCAMENTE…
A HUMANIDADE AVANÇA…MAIS 200 ANOS E O MUNDO SERÁ UM GRANDE MANICÓMIO…
NO ANO 87 DO «ORPHEU»

António Quadros,
em prefácio a Os Meninos d'oiro. Vaudeville, de Augusto Cunha.
Edição póstuma, 1988.

for.ça-ta.re.fa

''Não há, afinal, árvore genealógica mais difícil de estabelecer, de erguer, do que a interior, do que a árvore de todos os seres do nosso ser.''

António Ferro
em prefácio a Contos Escolhidos, de Augusto Cunha
Edição póstuma, 23 de Maio de 1956

''A pessoa humana é um mundo de pessoas humanas que vivem no ser exterior e no ser interior ''

«Augusto Cunha foi o tipo exacto desse humorista desinteressado, sem cálculo, do comentador, sem ódio nem sequer azedume, dos pequenos ridículos da vida, humorista que fazia rir sem esforço, sem artifício, porque o seu humor era a sua própria respiração, o seu olhar, o estilo da sua inteligência, se bem que fosse um triste como quase todos os autênticos humoristas. A pessoa humana é um mundo de pessoas humanas que vivem no ser exterior e no ser interior, todas autênticas e sinceras, verdade que Pirandello trouxe para o teatro e com a qual revolucionou, nos últimos anos, a dramaturgia do nosso tempo. O autêntico humorista é assim aquele em que o ser interior, profundamente triste, precisa de ser equilibrado constantemente pelo seu ser intelectual, voluntário, que parece, ou é, alegre, fácil, comunicativo.»

António Ferro
em prefácio a Contos Escolhidos, de Augusto Cunha
Edição póstuma, 23 de Maio de 1956





 Rainha Elizabeth II e Príncipe Philip

Old Time


Wide black trees and a field of froth
Bird fly low and you and me and the car are lost
Took a wrong turn somewhere
Into the old time, into the old time for sure
The trees are black and history
Has dragged us down to our knees
In a cold time
Ah, everyone dreams have died
Wherever you are, darling, I'm not that far behind
I'm not that far behind
By the side of the road is a thing with horns
That steps back into the trees and a child is born
Upon this trembling earth, displays each day
Thrown across the hallucination of your hair
A strip of ordinary sun, a biblical sun
A colonial sun, an enlightened sun
The same sun made always glorious at your head
Well, stopping at a motel and go jumping into bed
Just like the old time
Yeah, wherever you are, darling, I'm not that far behind
A lunatic beauty and a watery moon
You're melting by the motel swimming pool
By the time I get to Phoenix on the radio
Her moon to my shooting star
And I'm throwing my bags in the back of the car
Just like the old time, just like old time, baby
And I'm not coming back this time
Ah, like the old days, darling
Like the old days, I'm not coming back this time
Ah, like the old days, darling, like the old days
I'm not coming back this time
Like the old time, like the old time
Wherever you are, darling, I'm not that far behind

''os adormecedores apocalípticos''

 António Ferro

''desculpa intelectualizada''

 António Ferro

amoralismo

«(...)os homens procuram esquecer o dia de amanhã, vivendo, sem se darem conta, o mais perigosamente possível, o dia de hoje.»

António Ferro
em prefácio a Contos Escolhidos, de Augusto Cunha
Edição póstuma, 23 de Maio de 1956

quarta-feira, 14 de abril de 2021

AUGUSTO CUNHA E O HUMORISMO PORTUGUÊS, por António Ferro.

''Vivemos numa época excepcionalmente dramática, e ao mesmo tempo, excepcionalmente superficial, características extremamente ligadas, necessárias uma à outra. É o superficial, na verdade, que procura atenuar, consciente ou inconscientemente, a dramática exasperação da nossa condição humana cada vez mais desumana…

A abundância de magazines, as longas reportagens da vida das estrelas cadentes, dos casamentos cinematográficos, as indiscrições sobre as intimidades dos grandes, as cascatas de imagens fáceis, a vozearia da Rádio, os altifalantes da publicidade, são o álcool que faz ou quer fazer esquecer os perigos que nos rodeiam, a constante sensação da tragédia eminente, a tragédia, sobretudo, de não saber como ser nem como fazer.''

''Quem poderá gabar-se de não ter, uma vez pelo menos, censurado nos outros, os seus próprios defeitos?''

António Cunha

Amália Rodrigues e Sua Mãe " MILHO GROSSO " folclore Beira Baixa

Bernard-Marie Koltès


 

alvíssaras

A Associação dos Humoristas

«Vai fundar-se a Associação dos Humoristas, segundo ideia de Augusto Cunha e perfilhada pelo «Sempre Fixe»: Isto hoje vai a sério: Vai fundar-se a Associação dos Humoristas. A ideia teve-a o nosso distinto colaborador Augusto Cunha. Teve-a e abandonou-a, expô-la na roda… de amigos com quem conversa habitualmente, e o «Sempre Fixe», condoído da pobre exposta, perfilhou-a, recolheu-a no seu seio e propõe-se ser a sua ama seca, porque o Fixe a não pode ser de leite, apesar do deleite com que o lêem todos os seus amigos. Da nova Associação farão parte todas as pessoas engraçadas de Portugal e, por uma transigência especial, todos aqueles que caírem em graça e tudo isto de graça, porque na associação dos Humoristas não haverá cotas. Cada um dos associados dará apenas a sua quota-parte de graça e com isso ficará quite".»

''Ontem, hoje e amanhã, se Deus quiser''

Augusto Cunha

alvinegro

“todo o estado de alma é uma paisagem”

 Fernando Pessoa

''Augusto Cunha era um homem triste de rosto simpático e voz acolhedora; tinha as mãos estendidas para a dor e o seu coração era um mundo de afectos.''

Marques Gastão, em «O Dia». 23 de Julho de 1988.


Ravensbrück: campo de concentração nazista para mulheres
 

impérvio

segunda-feira, 12 de abril de 2021

 ''(...) não sair da cepa torta e enrolarmo-nos na conversa fiada de tornar o capitalismo tolerável.»

Mário Tomé

 ''Os mais ousados e revolucionários propõem mesmo que devemos “erodir o capitalismo”, ou seja, armados de uma brossa ou, vá lá, um berbequim atirarmo-nos à muralha da China!  

Todo este labor, todo este entusiasmo em “substituir este sistema actual parasitário por um tipo de capitalismo mais sustentável, mais simbiótico, e que beneficie toda a gente” é inspirador.

Claro que cá estamos em pleno terreno do que deseja a nostálgica e auto-idealizada social-democracia. Daí que, quando olhamos para o capitalismo, armados duma brossa ou de um berbequim, nos contentemos com a beleza inquestionável da possibilidade de tornar o mundo melhor mesmo que nos limitemos afinal, contra vontade e sob protesto, a pertencermos ao exército dos que o tornam pior.''

Mário Tomé



autêntica “deusa” ex-maquina

''O vertiginoso desenvolvimento das novas tecnologias em especial da informática, da inteligência artificial e das comunicações permitiu o domínio absoluto da finança sobre a vida das nações e dos povos em todo o planeta, autêntica “deusa” ex-maquina, no controlo dos cidadãos quer directamente pelo tentacular big brother quer pelos meios democráticos que estruturam a ideologia dominante, relembrando o quase meio esquecido aparelho ideológico do estado (Althusser, Sweezi, Marcuse) desde a necessidade de segurança, o direito, a representação democrática, a escola, a religião, a imprensa, a própria família…''

Mário Tomé

''desvendar a alarvidade''

domingo, 11 de abril de 2021


Vasco Pulido Valente

 

Ravensbrück: A história do campo de concentração nazista para mulheres | Sarah Helm



''Ravensbrück: a história do campo de concentração nazista para mulheres é um relato incrível do que uma sobrevivente chamou de “heroísmo, tenacidade sobre-humana e excepcional força de vontade de sobreviver”. Em uma manhã de maio de 1939, oitocentas mulheres - donas de casa, médicas, cantoras de ópera, políticas, prostitutas - foram postas em marcha pelas florestas, a 80 quilômetros ao norte de Berlim. Chicoteando e chutando-as estavam inúmeras guardas alemãs. A destinação era um campo de concentração especificamente feminino concebido por Heinrich Himmler, arquiteto primário do genocídio nazista. No fim da guerra, 130 mil mulheres de mais de vinte países europeus foram prisioneiras lá, incluindo nomes proeminentes como a sobrinha do general De Gaulle e a irmã do prefeito de Nova York durante a guerra.Poucas daquelas mulheres eram judias. Originalmente, Ravensbrück era um local destinado às marginais, ciganas, inimigas políticas, resistentes estrangeiras, doentes, deficientes e “loucas” - mulheres classificadas como “inferiores”, e que, segundo os nazistas, deveriam ser extirpadas da sociedade.Ao longo de mais de seis anos, as prisioneiras foram submetidas a espancamentos, tortura, trabalho escravo, fome, experimentos médicos e execuções aleatórias. Nos meses finais da guerra, Ravensbrück tornou-se um campo de extermínio; em 1945, entre 30 e 50 mil mulheres tinham sido assassinadas lá. Por décadas, essa história ficou escondida por trás da cortina de ferro, e até hoje é pouco conhecida. Usando testemunhos desenterrados desde o fim da Guerra Fria e entrevistas com sobreviventes que nunca antes haviam falado, Sarah Helm foi ao coração do campo, demonstrando, com minuciosos detalhes, o quão fácil e rapidamente o terror evoluiu.Inspirador, arrepiante e profundamente comovedor, o livro Ravensbrück: a história do campo de concentração nazista para mulheres é um trabalho revolucionário de investigação histórica. Lembra-nos da capacidade do ser humano tanto para a crueldade bestial quanto para a coragem e resistência contra todas as possibilidades.''
 

‘'mulher bibeblot’'

pezinhos de lã

''Lítio, o Petróleo Branco''

Rainha Elizabeth II e Príncipe Philip


 

financeirização

''indústria das celuloses''

solilóquio ''La nuit avant les forêts''

 Bernard-Marie Koltès

Na Solidão dos Campos de Algodão.

 Bernard-Marie Koltès

 

quasímodo

qua.sí.mo.do
kwaˈzimudu
nome masculino
1.
indivíduo muito feio ou mal proporcionadomostrengo
2.
[com maiúscula] RELIGIÃO Domingo de Pascoela

''contas telenovelísticas ''

 Procuradora Maria José Morgado

''país eternamente adiado''

 Procuradora Maria José Morgado

Rainha Elizabeth II e Príncipe Philip: 74 anos de casamento

 


 

 MUSA

Aqui me
sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos
Musa ensina-me
o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu súbito falar
Que me foge de repente.
Sophia de Mello Breyner Andresen

 PAISAGEM

Passavam pelo ar aves repentinas
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra
escura.
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheiros onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
A sua exaltação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo
Cuja voz ,quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.

Sophia de Mello Breyner Andresen | "Poesia", 1944

 QUANDO

"Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.
Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.
Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta."
In “Dia do Mar” – 5ª edição revista
Editorial Caminho – 2005
Sophia de Mello Breyner Andresen

Eu busco o rastro de alguém


Eu busco o rastro de alguém
Que o mar reflecte e contém.
Calma que eterniza as suas horas,
Ou tumulto que vibra
Nas marés desesperadas e sonoras.
Eu busco o rastro de alguém
Que ao meu encontro vem
No sonho de cada linha.
Alguém
Que no silêncio dos pinhais caminha,
Rio correndo, chama
Em tudo acesa.
Alguém que me devasta e inflama
Me destrói e me inunda de certeza.
Alguém que me devora,
Ou infinitamente longe me implora
Que venha.
Alguém que se desenha
No perfil dos montes
E sobe do fundo da terra com as fontes.
Sophia de Mello Breyner Andresen

 MAR

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.
Sophia de Mello Breyner Andresen

 AS FONTES

Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal,
E calma subirei até às fontes.
Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor.
Irei beber a luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser
Sophia de Mello Breyner Andresen

Vasso Devetzi – G Fauré – Nocturne No 1 in E flat minor, Op 33


 

 

Unpublished letters detail famed soprano’s painful relationships with husband, mother and Aristotle Onassis

Maria Callas with lover Aristotle Onassis in 1959.
Maria Callas with lover Aristotle Onassis in 1959. Photograph: Hulton Deutsch/Corbis/Getty Images

Her mother blackmailed her, her husband Giovanni Battista Meneghini stole from her, and shipping magnate Aristotle Onassis was violent and abandoned her for Jackie Kennedy. Soprano Maria Callas was adored by audiences worldwide but she never knew real love offstage, and her life was even more tragic than previously realised, according to research.

In writing a new biography, Lyndsy Spence was given access to Callas’s previously unpublished correspondence and other material, which casts light on the torment of her marriage, the abuse to which Onassis subjected her and sexual harassment by the director of one of the world’s foremost conservatoires.

Spence said that the letters relating to Onassis reveal the terrifying ordeal she suffered, especially when, in 1966, his physical violence threatened her life: “There is also disturbing information from the diary of one of her close friends detailing how Onassis drugged her, mostly for sexual reasons – today we would class that as date rape.”

Writing to her secretary, Callas confided: “I wouldn’t want him [Onassis] to phone me and start again torturing me.”

On the pain of her marriage to Meneghini, Callas despaired: “My husband is still pestering me after having robbed me of more than half my money by putting everything in his name since we were married … I was a fool … to trust him.” She described him as “a louse”, lamenting that he “passes for a millionaire when he hasn’t got a dime”.

One letter refers to the then president of the Juilliard School of music in New York, a married man, turning the faculty against her and stopping her coming back for another term after she rejected his advances. She wrote to her godfather: “Peter Mennin fell in love with me. So, naturally, as I did not feel so towards him, he is against me.”

Callas, who was born in New York to impoverished Greek immigrants in 1923, was one of opera’s most revered singers. Her performances of Tosca at Covent Garden have been described as among the greatest opera experiences of all time.

Spence said: “I was given access to three enormous collections which were bequeathed to various archives in 2019 and, until now, have never been published. Among the papers were Callas’s letters revealing her innermost thoughts.”

The new revelations include the truth about Callas’s harrowing childhood in Europe. “Callas resented her mother, who worked as a prostitute during the war, for trying to pimp her out to Nazi soldiers,” said Spence.

Later, Callas’s mother sold stories to the press and blackmailed her to keep her mouth shut, writing to her daughter: “You know what cinema artists of humble origins do as soon as they become rich? In the first month they spend their first money to make a home for their parents and spoil them with luxuries… What have you got to say, Maria?”

Maria Callas in Turandot in 1958.
Maria Callas in Turandot in 1958. Photograph: Cine Text / Allstar/Sportsphoto Ltd. / Allstar

Callas confided: “If she was a real mother to me a long while ago, I would [have] cherished her.”

Nor was her father better, Spence said: “He wrote her a letter, pretending he was dying in a pauper’s hospital in an attempt to get money from her. In fact, he had a minor ailment.”

Callas wrote: “I am fed up with my parents’ egoism and indifference toward me … I want no more relationship. I hope the newspapers don’t catch on. Then I’ll really curse the moment I had any parents at all.”

The material also casts light on her great soprano rival, Renata Tebaldi, whom she had denigrated in likening their respective voices to champagne and Coca-Cola, while Tebaldi had accused Callas of lacking a heart. But they each dismissed their prima donna duel of the 1950s as a myth made up by the media. Callas insisted that she had actually said cognac not Coca-Cola, telling one interviewer that she wished she had Tebaldi’s voice, and Tebaldi described Callas’s voice as “the best”.

Now denials of their feud are contradicted by a previously unpublished letter in which Callas wrote of Tebaldi: “She’s as nasty and as sly as they come.”

That same letter, dated 1957, reveals that the American-Greek’s loathing for the Italian singer led to Callas accusing her of finding fame through “being my rival” and of using Tebaldi’s mother’s reported heart attack to further her career in cancelling her appearance at the Metropolitan Opera. Callas wrote: “Her mother had nothing special wrong with her. Not even a heart attack … Do you think it’s publicity or maybe Renata did not feel well and [maybe] her mother had the flu and that was a perfect excuse for her not singing… and to have a triumphant poor Renata on her first performance.”

She continued: “I’m surely fed up with all this nauseating poor Renata business … God does not like such methods for publicity and weapons against me.”

Callas died in 1977 aged 53. The unpublished material also gives new insights into her health problems, which affected her performances in the 1960s, and her dependence on drugs. She lost her voice several times.

Spence said: “I tracked down the neurologist who treated her before her death. Callas suffered from a neuromuscular disorder whose symptoms began in the 1950s, but she was dismissed by doctors as ‘crazy’. It also explains the loss of her singing voice, which cut her career short.

“The death of Callas is a harrowing tale. Alone in her Parisian apartment, she relied on her estranged sister, Jackie, and companion, Vasso Devetzi, to supply her with [a sedative]. Her life was full of tragedy, but I wanted to give her her voice.”

Cast a Diva: The Hidden Life of Maria Callas by Lyndsy Spence is published by The History Press on 1 June


Fonte da Publicação: https://www.theguardian.com/

sexta-feira, 9 de abril de 2021


W. Eugene Smith
 

 "Cigano não deve ser visto como ovelha fora do redil, nossos pobres redis tão enxovalhados de fraquezas humanas, mas como, ainda, um mestre nosso de liberdade; sabem, ainda, os melhores, dormir à luz das estrelas e guiar-se por elas [...]; se os tomarmos como mestres, não como catecúmenos ou discípulos, por eles pode surgir para nós um mundo novo: aquele em que se cumpra a liberdade do Espírito, o qual, como se sabe, foi feito para soprar aonde quer e não aonde o mandam; aonde, é bom que se diga, o mandam sempre errado." 


Agostinho da Silva, LIVRE SOPRO DO VENTO (1970), in TEXTOS E ENSAIOS FILOSÓFICOS II, Âncora Editora, 1999, p. 224.

Sophia, na Primeira Pessoa


Vídeo/Documentário

Sophia, na Primeira Pessoa: Recorrendo ao espólio pessoal da autora, a imagens atuais de locais onde viveu ou que lhe foram queridos e a imagens de arquivo de televisão e cinema


Pós-COVID19: Um SNS mais Colaborativo e Adaptativo

 ''A  pandemia COVID19 confrontou todo o Sistema Nacional de Saúde com um “tsumani” de magnitude muito elevada. Emergiu a necessidade de gerir esta “gigacrise” com impactos na saúde, na economia, na sociedade e em cada, um de nós. De repente, todo e qualquer gestor, político, profissional de diferentes áreas científicas, jornalista e uma parte significativa dos cidadãos tornaram-se “especialistas” em Gestão de Unidades de Saúde. Neste contexto de crise, a política definida pelo Governo e especificamente pelo Ministério da Saúde, nem sempre ajudou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a cumprir as suas atribuições da melhor forma e nas condições esperadas.  

Estamos perante um crescendo de impactos inimagináveis nos serviços de saúde e nos profissionais de saúde, com consequências graves nos doentes com COVID e na prevenção e tratamento dos casos não-COVID. Vemos profissionais de saúde exaustos, em desespero, em burnout e doentes, e os hospitais e as unidades de cuidados primários hiper-pressionados, com carência de profissionais de saúde e recursos tecnológicos, sujeitos a informações contraditórias e a impossibilidade de cumprimento dos compromissos assistenciais para a obtenção de ganhos em saúde da população.  E os doentes e aqueles que estão a adoecer? Também se sentem estes impactos em todas as estruturas de apoio direto ou indireto ao setor da saúde. A população confronta-se com informações imprecisas, overdoses de números e estratégias de comunicação massivas e por vezes desalinhadas.

É compreensível, e as teorias assim o relevam, que quando se lida com o inesperado, um sistema (os indivíduos, as equipas, as organizações e as comunidades) desenvolva respostas novas perante a emergência de novas situações. À medida que a crise evolui, os atores-chave e outros que se interessam pelo tema ou pelos desafios que se geram, envolvem-se em tentativas para melhor compreenderem a situação e propõem soluções até então não testadas ou aprendidas previamente[1]. Se por um lado, surgem os “opinion makers, também é neste cenário de “esforço” que se podem gerar oportunidades de aprendizagem profunda, questionando a estratégia, os objetivos e os processos. Mas, nem sempre uma situação de crise origina aprendizagens individuais e coletivas!''


Excerto de Artigo da autoria de Generosa do Nascimento – Professora no ISCTE-IUL, Diretora do Executive Master em Gestão de Serviços de Saúde e da Pós-graduação em Gestão para Profissionais de Saúde do ISCTE Executive Education

Cainça

''The Mind of Plants''

“O bom, o dever e o ser”

  Imperative of Responsability, Hans Jonas

«O poder só deveria ser exercido por aqueles que reconhecem a sua ignorância e a corrigem».

Maria de Lourdes Pintasilgo

W. Eugene Smith

 

 «O ser humano é também uma existência, isto é, sou: o que sinto e penso, o que digo, o que mostro, o que faço. A minha existência modela-me a cada momento: importância de cada atitude, de cada gesto (actualidade daquela frase moralista de que “a maior obra-prima da nossa vida somos nós próprios”), não no sentido de nos transformarmos a golpes de vontade mas no sentido da construção do nosso próprio projecto por cada decisão.»

Maria de Lourdes Pintasilgo

«operários da consciência»

'' É preciso ouvir o barulho das grilhetas de cada perseguição, de cada violência, de cada nova miséria humana, os corpos que se torcem de todas as dores, o mal nas suas formas mais cruéis, os estranhos seres que povoam as águas e que hoje falam da destruição de tudo o que é vivo, as guerras sem sentido em que os homens se destroem. Onde estão os operários de consciência? Onde se escondem? Por que não trazem “as inequívocas flautas de sons claros” e com elas atravessam o mundo das trevas para o salvar?''

Maria de Lourdes Pintasilgo

 «É um facto que é necessária uma massa crítica em prol de todos os que se encontram privados dos seus direitos básicos, pois só essa massa crítica será capaz de desencadear a qualidade de vida que, como seres humanos, merecem.»

Maria de Lourdes Pintasilgo


 «O laço ôntico que liga todos os humanos na noosfera não permite separar de forma nítida uns dos outros. Se é certo que há uma história pessoal e única é certo também que as histórias humanas se entrelaçam em todas as dimensões da existência.»

Maria de Lourdes Pintasilgo


 conceito de «noosfera» do filósofo francês Teilhard de Chardin. 

 ''A cidadania tem de responder às consequências da tendência para a fragmentação e o individualismo que são, de forma evidente, o contra-ponto da globalização.''

Maria de Lourdes Pintasilgo

ser-com-os-outros-no-mundo

Weiner Dan

1974, Matera, Italy

 

a relação Eu-Outro

 Segundo Pintasilgo, para uma autêntica organização social e política é preciso dotar o ser humano de plena consciência cívica. 

Vemos à nossa volta a mais completa ausência de serviço cívico, o abandono da integridade na coisa pública, a demissão das responsabilidades, a crítica sem consequências positivas que se faz descuidadamente à mesa do café, a carência de gente que sinceramente, devotadamente, e com competência, queira ajudar a edificar a comunidade.

PT/FCF/CDP/MLP – 0012.019, “A missão dos leigos na conversão do mundo”, Aveiro, 1958, 12 fls., p. 1.

 «De uma forma simples, o sujeito é ator social; é por ele que acontecem a mudança e a transformação das ideias e das instituições.»

 (PINTASILGO, Maria de Lourdes (1999) “Femmes et hommes au pouvoir”, in NPC, op. cit., p. 115).

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