quarta-feira, 8 de abril de 2015

Eu nada sou e eu não o sabia.

«As menores faíscas desta estimação presunçosa de mim mesmo serão extintas no abismo do meu nada, sem que jamais possam outra vez acender-se.
  Neste abismo é que Vós me fazeis conhecer a mim mesmo; que me ensinais o que eu sou, o que fui e o estado de que saí. Eu nada sou e eu não o sabia.»

in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 83
«Se soubesses viver sempre humilde e pequeno no teu conceito, contendo-te nos limites de uma justa moderação, não cairias tantas vezes na tentação e no pecado.»


in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 82
«Não deves fiar-te muito na presente disposição do teu espírito, pois facilmente pode mudar-se em disposição contrária.»

in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 81

terça-feira, 7 de abril de 2015

Lauren Bacall Reading a Script


''atitudes postiças''


«Era aquela a sua maneira de, contrariando-me, exibir uma personalidade.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 37

«Clarisse baixou os olhos, humilhada.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 36

''enfastiada pergunta''


«6. Dilatai o coração para que mais Vos ame e aprenda quanto é doce amar-Vos e como que dissolver-se no Vosso amor.»


in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 78

«Só quem ama é que pode compreender os gritos do amor.»

in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 78
«5. É vigilante e até mesmo no sono não dorme. Fatigando-se, não se cansa; apertando-se, não se comprime; horrorizando-se, não se perturba. »


in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 77
«4. Quem ama voa, corre, vive alegre, é livre e nada o embaraça. Reparte tudo por todos e possui tudo em todos, porque descansa naquele bem único e soberano, que é superior a tudo e do qual procedem todos os bens.
   Não atende às dádivas, atende só a quem as dá.
   O amor, às vezes, não sabe limitar-se, pois vai além de todos os limites.
    Não há peso que o oprima, não faz caso dos trabalhos; empreende mais do que pode; não se desculpa com a impossibilidade, pois crê que tudo lhe é possível e permitido.
   É poderoso para tudo e executa acções impossíveis a quem não ama.»


in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 77

V - OS ADMIRÁVEIS EFEITOS DO AMOR DE DEUS


«2. Mas, porque ainda sou fraco no amor e improfícuo na virtude, necessito de que me fortaleçais e consoleis. Vinde, pois, muitas vezes, à minha alma e ensinai-lhe a obedecer-Vos.
  Livrai-me das minhas paixões e curai o meu coração de todos os afectos desordenados, para que, curado no meu interior, possa ser puro para amar-Vos, forte para sofrer e firme para perseverar em Vosso serviço.»

in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 76

segunda-feira, 6 de abril de 2015


«(...) que Vos dignais amar a minha alma, quando vierdes ao meu coração,»

in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 76
«(...); facilmente cais, facilmente és vencido, e a menor infelicidade te desanima e te perturba.»

in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 75

''afectos desordenados''

«Muitas coisas não entenderás quando lês, mas entenderás quando eu te for visitar.»

in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 74

«Escreve as minhas palavras no teu coração.»

in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 74

«Envergonha-te, Sídon, diz o mar.»

in Imitação de Cristo

Livro Terceiro. A Fonte das Consolações, p. 73

''os apetites da carne''

''palavras suavíssimas''

INCLINAÇÃO NATURAL



"A fatalidade consiste
em não depender de nós não desesperar
embora possamos às vezes fazer o gesto necessário
para sairmos de uma sombra asfixiante
Outras vezes o dia amanhece como um barco de vidro
e a transparência aligeira-nos os músculos e as veias
O inesperado surge com a leveza do que já nem sonhávamos
e de novo podemos erguer a coluna da delicada confiança
ou projectar no dia a diagonal do desejo de ser
o que não poderíamos ser mas que seremos ainda que não sendo

O que é em si não é para nós
embora possamos apropriar-nos dele
e ser para nós um símbolo
uma palavra
um momento de contemplação
Mas o arco do seu ser
ultrapassa-nos
e deixa-nos atrás da sua presença inteira

Nós sentíamos os ramos do fogo nas veias
como um peixe lascivo
e a nossa perspectiva é conduzi-lo a uma forma ainda em gestação
para que ele irradie
ocupando o espaço com a indolência felina do seu volume verde"

-"Deambulações Oblíquas"
- Ramos Rosa

«EDGAR (OFF) (CONT’D)
Às vezes gostava de ser outra
pessoa; de ter uma vida mais
simples...»


O Dez: o Presente. Guião de João Nunes, 2008
«EXT. POSTO DE GASOLINA/TRASEIRAS - DIA
Edgar está sentado numa grade de botijas de gás vazias, nas
traseiras do posto de abastecimento, a fumar um cigarro
enquanto desabafa com IDALINA. Esta é uma negra de cinquenta
anos, forte, e ouve-o com paciência enquanto fuma também.

EDGAR
Qualquer dia agarro numa pistola e
enfio-lhe seis referências AZ-42-
nove-nove-barra-37 pelos cornos
adentro.

Idalina não diz nada.

EDGAR (CONT’D)
Juro, Idalina. O tipo está a mexer-me
com os nervos.

Idalina atira a beata para o chão e levanta-se.

IDALINA
Tu não vais fazer  nada, Edgar. Só
sabes é falar...»


O Dez: o Presente. Guião de João Nunes, 2008

Impropérios

petit gâteau



Não eram palavras
o que escrevíamos nas paredes,
meu Amor.
Eram as tuas mãos e as minhas
entrelaçadas numa manhã fria
em que pombas voavam dos teus olhos
para me contarem liberdade.
Depois,
enquanto as acácias
vertiam folhas
sobre o teu rosto
para beijares a manhã,
surpreendias-te
com os meus dedos
em forma
de girassóis azuis
tangendo os teus cabelos
enrubescidos de prata
Não eram palavras
o que deixámos nas ruas,
meu Amor.
Eram as certezas plenas
dos nossos corpos
abraçados no infinito
duma qualquer madrugada de silêncio.

Pedro Abrunhosa
HUMANO, DEMASIADO HUMANO
"reza, à noite, antes de se deitar. E escreve. Tudo vem à superfície da sua solidão. Ela, pobre, só procura nas palavras compactas, na tinta que as escreve, os sinais indubitáveis da voz. No papel, frente aos olhos. Para que lhes respondam.
Debruça-se para o peitoril da janela. Na imensa proximidade, cresce a mancha esbranquiçada de um dejecto de pássaro. Um borrão cheio de fome. Diz: os meus olhos fazem crescer os objectos."
-"Grito"
- Rui Nunes

domingo, 5 de abril de 2015

NOT DARK YET
"explicar com palavras deste mundo
que partiu de mim um barco levando-me"
-"Antologia Poética"
- Alejandra Pizarnik

eximir


verbo transitivo

isentar; desobrigar; dispensar

verbo pronominal
1. esquivar-se
2. desobrigar-se

«Para qualquer parte que vás, não lhe podes fugir, porque, para onde quer que fores, levas a ti mesmo e sempre achas a ti mesmo.»

in Imitação de Cristo

Livro Segundo. O mundo interior, p. 64

''(...) em muitas ocasiões serás pesado a ti mesmo.''

in Imitação de Cristo

Livro Segundo. O mundo interior, p. 64

«Prepara-te mais para sofrer do que para ser consolado;»

in Imitação de Cristo

Livro Segundo. O mundo interior, p. 59

«Na minha abundância jamais serei combatido.»

in Imitação de Cristo

Livro Segundo. O mundo interior, p. 58
«Os antigos profetas e os maiores santos experimentaram em si mesmos, muitas vezes, essa alternativa de paz e de perturbação.»

in Imitação de Cristo

Livro Segundo. O mundo interior, p. 58

«O nosso amor-próprio deturpa os nossos julgamentos.»

in Imitação de Cristo

Livro Segundo. O mundo interior, p. 23

«Mais facilmente se vence o inimigo quando não consentimos que entre pelas portas da nossa alma, mas logo que bate a elas lhe saímos ao encontro.»

in Imitação de Cristo

Livro Segundo. O mundo interior, p. 21/22

sábado, 4 de abril de 2015

COMO EU COSTUMAVA DIZER
"Como eu costumava dizer
o amor é mais difícil de nascer nos mais idosos
porque já percorreram
os mesmo velhos trilhos muitas vezes
e depois quando a manhosa agulha se apresenta
não tomam o desvio
e devoram a velha via errada enquanto
o alegre tandem segue em voo
e o maquinista da locomotiva a vapor não reconhece
as novas buzinas eléctricas
e os velhos correm sob o impulso ferrugento
cujo fim se encontra
na erva morta onde
as latas ferrugentas e as molas de colchão e as lâminas de barbear usadas jazem
e a via acaba abruptamente
ali mesmo
embora as chulipas de madeira continuem por uns metros
e os velhos
dizem para si próprios
Bem
Deve ser este sítio
onde temos de nos deitar
E deitam-se mesmo
enquanto a bela carruagem iluminada prossegue lá ao longe
no alto
no cimo da colina
com as janelas cheias de céu azul
e namorados
com flores
e longos cabelos ondulantes
e todos a rirem-se
e a dizerem adeus e
a perguntarem-se a si próprios o que aquele cemitério
onde a via acaba
é"
-"Como Eu Costumava Dizer"
- Lawrence Ferlinghetti
- D Quixote, 1972

sexta-feira, 3 de abril de 2015


"Evolução
Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta 
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade".

- Antero de Quental, "Sonetos"

8.

«Se tiveres o coração recto e puro, tudo contribuirá para o teu bem e para o teu aperfeiçoamento.
  Todas as tuas perturbações e desgostos vêm de que ainda não morreste perfeitamente para ti mesmo, nem te separaste das coisas da Terra. Não há que mais contamine e embarace o coração do homem do que o amor desordenado das criaturas.»


in Imitação de Cristo

Livro Segundo. O mundo interior.

3.

«Não deves pôr muita confiança no homem frágil e mortal, ainda que te seja útil e amável; e também não deves entristecer-te muito quando ele alguma vez se levanta contra ti e te mostra oposição. Os que hoje estão da tua parte, amanhã podem ser teus inimigos, amanhã podem ser teus amigos. Os homens variam como o vento.»



in Imitação de Cristo

Livro Segundo. O mundo interior.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

''pão de lágrimas''

«Pela inconstância do nosso coração e por não nos lembrarmos dos nossos defeitos, não sentimos as dores da nossa alma; por isso, muitas vezes rimos, quando, com mais razão, deveríamos chorar.»

in Imitação de Cristo

Aula de banho, Austrália, 1938


''Não descubras o teu coração a qualquer pessoa;''

in Imitação de Cristo

''Não te envaideças''

«Em resistir às paixões se acha a verdadeira paz do coração, e não em segui-las.
  Não há paz no coração do homem carnal, nem do que se ocupa das coisas exteriores, mas sim que vive pelo espírito.»

in Imitação de Cristo
«O homem, que não se dominou interiormente, é presa fácil de tentações e deixa-se vencer por insignificantes desejos de coisas vis.»

in Imitação de Cristo

«Todas as vezes que o homem desordenadamente deseja alguma coisa, logo se acha inquieto.»

in Imitação de Cristo

opiniões precipitadas

«Os espíritos fortes, entretanto, não crêem levianamente em tudo o que se lhes conta. Eles sabem que a fraqueza humana é inclinada para o mal e pouco fiel no que diz.»

in Imitação de Cristo

«Que mais te impede e perturba senão as angústias do teu coração não dominadas?»

in Imitação de Cristo

3.

«Quanto mais e melhor souberes, com mais rigor serás julgado se não viveres santamente. Não te desvaneças, pois, em alguma arte ou ciência, mas teme o saber que adquires. Se te parece que sabes muito, pensa que muito mais é o que ignoras. Não presumas de alta sabedoria, mas confessa francamente a tua ignorância. Para que te queres ter em mais que os outros, havendo tantos que de ti são superiores? Se queres saber e aprender alguma coisa com utilidade, deseja ser ignorado e tido em nenhuma conta.»

in Imitação de Cristo
«É verdade amar o que se passa com tanta ligeireza e não aspirar a uma felicidade que sempre dure.»

in Imitação de Cristo

sexta-feira, 27 de março de 2015

cemitério de sucata


«Não queremos ser obrigados a estender a mão. Temos vergonha de fazer isso. Queríamos apenas ser como os outros. Ter um lar, direito à vida...
VÍTOR (aborrecido) - Um orgulho estúpido. E ainda mais estúpido quando vem de uns miseráveis que não têm dinheiro para ter orgulho.»


Miguel BarbosaO Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 142



«(...) Ao menos, não é preciso pôr uma máscara antes de sair à rua, dizer coisas que não se sentem, sorrir quando apetece chorar ou lamentar-se quando se tem vontade de rir. Miséria por miséria, que não precise de me curvar, de tirar o chapéu quando não me apetece.»


Miguel BarbosaO Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 130

«Não podemos começar um mundo novo com analfabetos.»


Miguel BarbosaO Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 127
«1.º VAGABUNDO - Quero uma mulher. E por que não? (Para o 2.º Vagabundo) tu sabes o que é a solidão? O que é uma pessoa ver-se só, sem ninguém?...Mesmo que seja para o chatear.
2.º VAGABUNDO - Mas tu sempre viveste só. És um vagabundo...
1.º VAGADUNDO - (indignado) - E que sabes tu de mim? Sou vagabundo por causa de uma mulher. Para fugir dela, para a esquecer, acabei por fugir de mim mesmo, e...
3.º VAGABUNDO - É o último desejo de um condenado. Acho que deve respeitar-se, doutor.»

Miguel BarbosaO Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 123

''dar o cu e oito tostões''

«VÍTOR - Eu comi-as vivas. Sou um canibal. Até era capaz de comer a minha mãe. (Avança para o outro com ar feroz) Eu sou o pior de todos. Se não o reconheces, mato-te...»

Miguel BarbosaO Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 114

«Um conquistador de corações frágeis.»

Miguel BarbosaO Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 101

«1.º VAGADUNDO (desconsolado ) - Mas continuo com fome. Antes queria ter ficado a dormir. Custa menos.
2.º VAGABUNDO - De que espécie é a tua fome? É uma fome assim...muito grande? (Faz o gesto.)
1.ºVAGABUNDO - É fome, fome...Só fome.
1.º VAGABUNDO -É fome de amor. É também fome de amor.»


Miguel BarbosaO Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 94

''lambe-fraldas''

''triliões de diabos''

PERSONAGENS


«1.º VAGABUNDO, 40 anos. Sonhador. Problema de solidão.
2.º VAGABUNDO, 50 anos. Descrente. É o que protesta.
3.º VAGABUNDO, 25 anos. Ingénuo e um pouco estúpido. Desejo de viver.
CRISÁLIDA, meia-idade. Inconsequente. Só pensa em festas e chás-canasta.
MARIA ANTONIETA a Rainha de França.
EDUARDO, químico amador. Meia-idade. O homem que está a fazer uma bomba.
COELHO, 50 anos. Banqueiro.
VÍTOR, 49 anos. O vidente.
JÚLIA, 45 anos. Parteira-enfermeira.
AMÉLIA, 38 anos. Doméstica.
TERESA, uma rapariga. Filha de Crisálida.
ALFREDO, uma personagem com três falas.
DIABO, bem-vindo como se fosse o tio Sam. Cheio de anéis.»



Miguel BarbosaO Palheiro. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 88

Oncle house



«1.º VAMPIRO - Saio sempre de casa com vontade de morder as pessoas. Odeio o mundo, toda a gente, e quanto mais mordo mais me apetece morder. É um ciclo vicioso.»

Miguel BarbosaOs Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 71

«...Não é preciso destruirmo-nos uns aos outros. O mundo dá para todos...»

Miguel BarbosaOs Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 67

animal despolitizado

«O OPERÁRIO - Idiota! Não tem uma opinião política! Não sabe nada de nada. É como um animal despolitizado. Só sabe estender a pata.»

Miguel BarbosaOs Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 49

«1.º VAMPIRO - Quando os lobos começarem a lamentar-se pela morte dos cordeiros...»

Miguel BarbosaOs Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 44

«(...) Um capitalista é sempre o último a deitar-se e o primeiro a levantar-se.
O SUICIDA - Bem. Vou-me deitar. Assim como assim, posso suicidar-me amanhã, mais descansado.»


Miguel BarbosaOs Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 40


«O SUICIDA - Sim, suicidemo-nos todos. Podemos lutar com as varejeiras, gordas, inchadas? Mas eu vingo-me de quem posso. Sempre que as agarro corto-lhes o voo, prendo-as...Tiro-lhe as asas. Impossibilito-as de voar, de morder. O que me fizeram a mim. Cortaram-me as asas...(Começa a lançar a corda ao tecto.)


Miguel BarbosaOs Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 38

quinta-feira, 26 de março de 2015


"A embriaguez, tal como a pintura, comporta uma pequena parte mecânica e uma parte poética; o amor também, aliás."

-"Aforismos"
- Lichtenberg

Milton H. Greene, 1954



«(...) mas por que gostas tu de mim, também tu, se tudo isto, para ti, são defeitos?


AFONSO - Não me faças perder a cabeça! Tu é que transformas em defeitos essas vantagens.

MARIA HELENA - Claro! ainda não ofereci o seu exclusivo monopólio ao indigitado meu dono.

AFONSO - Entende-me por uma vez, Maria Helena: o que não posso compreender, nem suportar, é que te comprazas em tomar as aparências duma rapariga leviana...»


José Régio. Obra Completa. Teatro I. Sou um homem moral. Edição Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005., p. 214

«MEFISTÓFELES - Não se despreza o que se deseja.»


José Régio. Obra Completa. Teatro I. Três máscaras. Edição Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005., p. 57

«PIERROT - As palavras mais repetidas são as mais virgens: Como toda a gente as diz, ninguém as sente. Eu sou poeta, Columbina! Ser poeta é descobrir a virgindade das coisas usadas...»

José Régio. Obra Completa. Teatro I. Três máscaras. Edição Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005., p. 57

''obscena malícia''


«Havia sido, para Lúcia, um diálogo heróico. E esse heroísmo excedera-a. Lavei a cara e as mãos com água fria, acendi outro cigarro, observando-a recatadamente. Após aquele rubor de adolescente surpreendida numa audácia, a face de Lúcia tinha um tom embaciado, exausto e tristonho.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 26

«Uma rapariga desocupada, abúlica, quase um objecto, limitando-se a estar ali. Essa passividade de cão de guarda era enervante.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 23

''boca tímida e deslumbrada de uma criança''


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 20

«Certas manhãs ficava acordado olhando o rectângulo insidioso, recusando-me a admitir que o dia nascera, temendo a evidência da solidão. O mundo morava longe, muito para lá da porta. Vinha-me dele um frémito longínquo. Agora, porém, o vidro fosco já não me encharca dessa espécie de despertar pavoroso e lívido. Agora sei que o amor nos faz aproximar das coisas, habitá-las, que pelo amor as reconhecemos e que, depois de recebermos a revelação, nada mais é preciso para nos sentirmos vivos.
   Como foi possível escrever eu isto? Tenho os membros espessos da insónia. É a fadiga que nos amolece.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 18

«Estou a escrever de madrugada e começo a sentir-me fatigado.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 17

''vidro desabitado''


às revoadas

de espaço a espaço, aos magotes, em bando
«(...), essas cogitações foram-me turvando, envilecendo, fazendo de mim este cínico irascível que parece cuspir nas pessoas e confunde ternura com pieguice. Se assim não fosse, eu teria sido para Clarisse outro homem. O homem de que ela necessitava e a que, como ser humano solitário e desesperado, tinha direito.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 16

Eram cavalos viciados no chicote.


«Eram cavalos viciados no chicote. Cavalos que mantinham de pé, por tenacidade e não por orgulho, a sua agonia. Talvez a minha dureza lhes soubesse a verdade. Talvez a preferissem às palavras embuçadas, aos afagos corrompidos, que deixam o travo duma fraude maior ainda.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 13

« a extravagância rude das atitudes.»


«A minha insociabilidades seria, pois, uma estratégia.»

Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 12

aranzel



«Tais excentricidades, ou como lhes queiram chamar, porque eram temidas, tornavam-se uma comodíssima justificação para todos os caprichos que me davam na gana e permitiam-me ser tão independente, azedo e solitário, quanto as vagas de neurastenia o exigiam. A neurasteria e, por fim, a petulância.»


Fernando Namora. Domingo à Tarde. Editora Arcádia. 4ª Edição. p. 11

quarta-feira, 25 de março de 2015


«O MESTRE-ESCOLA - Grande alma! (Para o Suicida) Que achas, Suicida?
SUICIDA (pensativo) - Enorme! Pareceu-me enorme! (Noutro tom) Vou-me suicidar.
TODOS - Ainda não. Ainda não. Espera.
O CAPITALISTA - Alma demasiado grande para um mundo tão pequeno. São pessoas assim que fazem com que a gente ainda acredite na humanidade. Um homem rico unicamente preocupado em auxiliar os outros. Deve ser o Tenreiro.»


Miguel BarbosaOs Carnívoros. Editorial Futura, Lisboa, 1974., p. 35

egomania

pirraça

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