segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Estado para um enriquecimento interior, Helena Almeida, 1976


"um homem e uma mulher
aproximam-se de uma porta
com uma chave na mão.
avançam
como se não respirassem.
um deles
mete a chave na fechadura
e entram.
assim que fecham a porta
atrás de si,
olham-se um instante e
lança-se um ao outro,
prendendo-se com as mãos e
abrindo caminho com a cara, com a boca.
passado pouco tempo
arrastam-se no chão
procurando cada lugar do corpo
com cada lugar do corpo,
arqueando-se
ou amoldando-se e
vorazmente passando de uma para outra entrada.
ambos têm a boca molhada
quando se levantam,
passada uma hora,
arfando enlaçados,
mas
devora-os ainda
uma sede quase infinita
e impossível de satisfazer."


-"Obra Quase Incompleta"
- Alberto Pimenta
- Fenda, 1990 (1a Edição)
"Carregando as persianas vem a noite.
Na sala tão severa, como cegos,
procuram-se uma à outra as nossas solidões.
Sobreviveu à tarde
a brancura gloriosa da tua carne.
No nosso amor há uma pena
parecida com a alma.
Tu
aque ainda ontem eras só toda a beleza
é agora também todo o amor."

-"Obras Completas Vol 1"
- Jorge Luis Borges

domingo, 29 de novembro de 2015

"Todo o possível se eterniza, vive sempre mais que o realizado, prolonga-o, ilimita-o, da dele a pálida imagem duma realidade profunda, desafiadora"

Ernesto Sampaio."A Procura do Silêncio". Hiena, 1986 (1a Edição)

"A tarde que minou o nosso adeus.
Tarde acerada e deleitosa e mosntruosa como um anjo escuro.
Tarde em que viveram os nossos lábios na intimidade nua dos beijos.
O tempo inevitável transbordava
sobre o abraço inútil.
Na paixão fomos pródigos., não para nós, mas para a solidão mais próxima.
Rejeitou-nos a luz; a noite chegara com urgência.
Fugimos prá cancela com a gravidade da sombra que uma estrela alivia.
Como quem volta de um perdido prado voltei do teu abraço.
Como quem volta de um páis de espadas voltei das tuas lágrimas.
Tarde que dura, vívvida como um sonho
no meio das outras tardes.
Mais tarde fui atingindo e transpondo
noites e singruras."

-"Obras Completas Vol 1"
- Jorge Luis Borges
"A única mulher com quem teria podido envelhecer era a Fernanda; a idade não seria capaz de empobrecer a nossa riqueza comum. Compreende agora o que uma tal fonte tinha de inesgotável, de constante, com uma abundância que nunca enfraquecia. Assim é o amor sobre o qual o tempo não tem poder, porque tudo o que podia diminuí-lo não faz mais do que avivá-lo; as suas raízes estendem-se até não deixar nada que não abracem. Só ele permanece, sem o corpo de onde nasceu; tudo o que vai passando e não tem a ver com ele fica irremediavelmente ferido de irrealidade."

-"Fernanda"
- Ernesto Sampaio
"Há vezes em que nos deixa pensativos a sensação «de já termos vivido esse momento». Os partidários do eterno retorno juram-nos que assim é e procuram uma comprovação da sua fé nesses perplexos estados. Esquecem que a recordação implicaria uma novidade que é a negação da tese e que o tempo a iria aperfeiçoando - até ao ciclo distante em que o indivíduo já prevê o seu destino e prefere operar de outro modo..."


-"Obras Completas Vol 1"
- Jorge Luis Borges

«Mais mais, ainda mais que as tuas feridas, me faziam sofrer as tuas mãos...As tuas mãos, amor, via-as pisadas, como asas partidas, que ainda tremem...Eram a coisa mais triste que o sol viu. Os assassinos tinham-nas pisado. O ar, a luz, faziam-nas sofrer. E eu ouviu-os pisar: ouvia...ouvia...Oh! Foi como pisar pássaros mortos...»

António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166

1956, Elvis kissing a fan. This was just before he became hugely famous.


«A brancura de flor da tua pele era a luz da minha solidão.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166

''dias de hiena triste, a sonhar sangue''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166
«Foi nessa hora que eu nasci para a dor»



António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166
«As palavras, por si, dizem bem pouco; mas acordam a alma, meu amor. Se não fosse assim, para quê!?...falar...Fala-se para cair no teu silêncio - no silêncio em que a alma sorri toda...»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 166

«Durmo nas lajes.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 164

Fado cravo



Come gather ’round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You’ll be drenched to the bone
If your time to you is worth savin’
Then you better start swimmin’ or you’ll sink like a stone
For the times they are a-changin’
Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won’t come again
And don’t speak too soon
For the wheel’s still in spin
And there’s no tellin’ who that it’s namin’
For the loser now will be later to win
For the times they are a-changin’
Come senators, congressmen
Please heed the call
Don’t stand in the doorway
Don’t block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There’s a battle outside and it is ragin’
It’ll soon shake your windows and rattle your walls
For the times they are a-changin’
Come mothers and fathers
Throughout the land
And don’t criticize
What you can’t understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is rapidly agin’
Please get out of the new one if you can’t lend your hand
For the times they are a-changin’
The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is rapidly fadin’
And the first one now will later be last
For the times they are a-changin’


''caíam estrelas de sangue na água morta''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 163

«Põe sobre as mãos da Morta folhas secas.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 161

«O vento arrasta pelas lajes folhas secas.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 161

«Ela nunca se deitou sem te beijar.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 160

cor-de-cera

''prostituir o ar''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 158

saimento

nome masculino
1. saída
2. cortejo fúnebre; funeral; enterro

coactar

''expressão de ódio reprimido''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 157

almadraque

nome masculino
1. almofada usada como assento ou para encostar a cabeça; travesseiro; coxim
2. colchão grosseiro; enxerga

''(...) ver raiar nos olhos dela a Eternidade''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 155

e.dí.cu.la

«Para entender estrelas, o melhor, é viver como elas a arder sempre.»

António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 141

«A saudade sei eu que é o olhar das almas; mas a Justiça, Afonso, é o olhar de Deus. É o que Deus sonha, o que o faz triste.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 140

Edward Hartwig - Ruiny Warszawy, 2003.


''Dizemos que alguma coisa é má apenas porque a nossa visão limitada do mundo a faz aparecer como má, isto é, como oposta ao que seria nosso desejo; as coisas deixarão de ser más (ou boas, como oposto a más), no momento em que transcendermos a nossa visão particular do Universo.''


Agostinho da Silva, Alcorão (1947).
"Paraíso é quando não sentimos o corpo. Quando nos esquecemos.
Ou quando o sentimos com tal intensidade que estamos mergulhados na chama, que parece eterna"


Casimiro de Brito, Da Frágil Sabedoria, 2001, p.99

''as árvores deformam-se na névoa''


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 136


«                                       UMA MULHER

Vê! Todo o souto treme e não há vento...

                                         OUTRA MULHER

As nuvens caem no vale como mortas.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 134

«                                          UM VELHO

As árvores ficam com ossadas...Todas as folhas caem sobre a morta.»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 134
«Anda a Morte entre as árvores, à espreita!...»


António PatrícioTeatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 133

«O meu coração jamais se abriu para que Deus entrasse;»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 215

«Duas lágrimas rolaram dos seus olhos vazios;»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 212

Edward Hartwig - Kalinowszczyzna, 1927 r.


«No cume da fome, da sede e da dor encontra-se Deus.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 211

«Muitos desses ascetas selvagens tornaram-se loucos. Acreditam que lhes foram dadas asas e tentam voar sobre o abismo. Em baixo, a margem está coberta de ossadas.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 209

fome canina


«-Tem paciência, não estejas triste. É necessário que a nossa alma resista bem e não sucumba porque se algumas almas soçobrarem no mundo, o mundo desmoronar-se-á. São essas almas que o sustêm. É pouco mas é bastante.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 204
«SIGLA: Porra!

                                               Pancada do ponteiro.

NINA: Desabafa, é a tua vez dos palavrões.»


José Cardoso Pires. Corpo-Delito na Sala de Espelhos. Publicações Dom Quixote, Porto, 1ª ed, 1980., p. 149

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