domingo, 8 de novembro de 2015

“I have Graham Greene’s telephone number,
 but I wouldn’t dream of using it. 
I don’t seek out writers 
because we all want to be alone.”

 Patricia Highsmith

sábado, 7 de novembro de 2015

"À meia-noite, pelo telefone,
conta-me que é fulva a mata do seu púbis.
Outras notícias
do corpo não quer dar, nem de seus gostos.
Fecha-se em copas:
Se você não vem depressa até aqui,
nem eu posso correr à sua casa,
que seria de mim até ao amanhecer?"

Concordo, calo-me."

-"O Amor Natural"
- Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

«Nada é igual ao que foi antes»


Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 15

UM VENTO LEVE, UMA ESPUMA


Do beijo fica um sabor,
do sabor uma lembrança,
um vento leve, uma espuma.

Do beijo fica um sereno
olhar, o amor de coisas
minúsculas e humildes,
um pássaro que vai e vem
da nossa boca às palavras.
Do beijo fica, suprema,
a descoberta da morte.
Um vento leve, uma espuma
salgada, à flor dos lábios.


Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 14

«Feriste, feriste-me sem remédio.»


Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 12

«Deste um nome de incêndio a certas palavras.»


Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 12

«Tentas, de longe, dizer que estás aqui.»


Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 12
(...)

« a tua ternura quer matar-me.
Quem sabe, amor, onde o amor se fere?»


Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 12

SENTO-ME NA TUA TERNURA A CHUVA CAI


Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 11
«Os gritos a meio da noite
das amantes a meio da loucura voavam
como facas para o meu peito.»



Fernando Assis Pacheco. A Musa Irregular. Edições Asa. Lisboa, 1991., p. 11

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

"Estamos enterrados debaixo do peso da informação,
que está a ser confundida com conhecimento;
a quantidade está a ser confundida com abundância
e a riqueza com felicidade.
Somos macacos com dinheiro e armas"


Tom Waits

"Deus, o único ateu perfeito"


 Teixeira de Pascoaes

outoniço

"A história acabou ali. O resto é só um caminho para o princípio: a tua morte. Ou mais longe ainda: uma cidade que irias percorrer, que o teu olhar esvaziava de outro olhar.E por outro lado quem sempre te vira, via-te. Atrás das janelas, por entre as cortinas, ou sentados na tabernas ou; não o conheço, ou: boa noite Tonito, ou mudavam de passeio, ou o riso dos pescadores que consertavam as redes: olha o gajo à procura de homem, aquela vergonha, antes ladrão que paneleiro. Há tantos anos. Ou desde sempre.
Um lugar cercado: seria o teu. Um lugar aguarda o homem que lhe dará o cerco. A mágoa. A mácula. A mancha. Não a mancha: o borrão."

-"(ou, transigindo, de que lado passarás a morrer, a clarear)?
- Rui Nunes

domingo, 1 de novembro de 2015

"Em nenhuma
parte
da terra
me posso
fixar
A cada
novo
clima
que encontro
descubro
indolente
que
já de uma vez
a ele me tinha
habituado
E assim me afasto sempre
estrangeiro"

-"Sentimento do Tempo"
- Giuseppe Ungaretti

ANONIMATO Diogo Vaz Pinto &etc (2015)


sábado, 31 de outubro de 2015

«O pudor é a última coisa que se perde, dizem.»


Fernando CorreiaPiso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 94
«O teu coração conservou a inquietude da procura, ou deixou-se sufocar pelas coisas que acabam por o atrofiar.»

Papa Francisco
«De vez em quando surgiam gritos do nada. Eram sons-navalha espetados nos nossos cérebros. Poderiam ser gritos de pureza. Talvez desespero. Talvez nada.»


Fernando CorreiaPiso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 69



«É preciso perceber, de uma vez por todas, que não há doenças, mas sim doentes, e que cada um de nós tem uma vida vegetativa, uma vida animal e uma vida humana, como humanos que somos. E essas são vidas que merecem e justificam respeito. Não são dissociáveis, mas sim complementares.»



Fernando CorreiaPiso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 55
«Vivemos sós, na solidão que nós próprios criamos. A vida é assim.»


Fernando CorreiaPiso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 53


«Havia sol no Inverno das almas e escuridão no inferno da minha existência. Mas de que tamanho era esse inferno quando comparado com as agruras de tanta gente que nem tempo tem para ter inferno?...»



Fernando CorreiaPiso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 53

«Gritos de desespero e adeus.»


Fernando CorreiaPiso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 25

fogo-fátuo


« São, também, edifícios sem expressão, construídos pelo homem-adivinho que traça em papel o rumo do que não compreende, nem sabe, mas julga que sabe.
   À direita fica o rio das mágoas gradeadas, onde se inventam diariamente novos seres e que, actualmente, é pouco mais do que o ninho morto e vazio dos pensamentos idos.»


Fernando CorreiaPiso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 23

« O primeiro adeus»


Fernando CorreiaPiso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 23

«Suprema felicidade, ainda que breve.»


Fernando CorreiaPiso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 21

«Sentado a meu lado está um corpo de mulher, esquálido, ossudo, praticamente inerte, dir-se-ia que traduzindo a morte aparente de quem está, na verdade, morto para a vida.»

Fernando Correia. Piso 3. Quarto 313. Guerra e Paz, 2015., p. 19
'«Quem for homem de carne
tenha um sonho
da brancura do leite que bebeu
(...)»


Miguel Torga
«Em sentido amplo, a palavra ''cultura'' designa tudo aquilo por meio do qual o homem apura e desenvolve as múltiplas capacidades do seu espírito e do seu corpo; se esforça por dominar o universo pelo conhecimento e pelo trabalho; humaniza a vida social, tanto a vida familiar, como o conjunto da sociedade civil, graças ao progresso dos costumes e das instituições; e finalmente, com o decorrer dos tempos, traduz, comunica e conserva, nas suas obras, as grandes experiências espirituais e as aspirações fundamentais do ser humano, para que sirvam ao proveito de muitos e da sociedade inteira.»

in Concílio Vaticano II

terça-feira, 27 de outubro de 2015

«O teu corpo
Magoa-me como o mundo magoa deus.»

Sylvia Plath

segunda-feira, 26 de outubro de 2015


O cínico não tem grandes teorias,
o cínico é a antítese da teoria.
Não acredita em nada, não se compromete com nada,
a não ser, com ele próprio.
O cinismo tem a sua razão, a sua lógica.
Os humanos poderosos pensam cinicamente, são insolentes,
pois dizer a verdade, depende de factores como a coragem e o risco,
e o cínico como não sofre da tensão moral da verdade,
é desinibido, livre e por isso vive uma sexualidade violenta,
típica da aristocracia, e nunca é pornográfico,
não passa de um grande pândego.

in Cassandra Bitter Tongue, breve videoconferência acerca do cinismo, Edições Húmus, 2014.

sábado, 24 de outubro de 2015

"há frutos profundos à superfície
já despidos na base de uma árvore
prontos a ser amados trago a trago
lapidam à nossa fonte amor em bruto
devolvem o diamante à pedra dentro
sabem que vão podando à nossa frente
a amizade como uma arte por instinto
e há ainda uma terra por enquanto"


-"Há"
- Joaquim Castro Caldas
"A imagem surge no fim do jardim.
É quase só negro, no início da perca de simetria.
Dickinson pede-lhe que não se mostre mais, e coloca um travessão na frase. Teme que esplenda demasiado na sua gravidade de imagem. E ela avança pudica, demasiado pudica para a vibração que os homens pedem. Apenas Aossê desperta. O espartilho da imagem quase negra confere-lhe uma configuração de bilha ou vaso. Volteia sobre si e, no contorno que desenha, Aossê vê ancas rodopiando lentamente. Com esse vocábulo, introduz um princípio de atracção.
Desata a cintura, pede Musil."
-"Onde Vais, Drama- Poesia?"
- Maria Gabriela Llansol

"haverá um objecto de beleza que corresponda a um objecto de amor? E não se pense que estou a referir alguém.
Não. Estou a interrogar-me sobre o sexo da paisagem, tão vivo, complexo e livre como os sexos humanos."
-"Onde Vais, Drama Poesia?"
- Maria Gabriela Llansol
"Falo de fulgor porque a falta de claridade é essencial. a escuridão é propícia ao medo, ao pensamento e ao projectar. O descoberto e o escondido confundem-se, trocam de rosto. Entram em simetria. Quando o meu há é todo o que há que existe."

Viver com as imagens é a nossa arte de viver. Reparem, sem o fulgor não saímos da simetria. E nesta nada vemos. Vamos presumir uma saída. Veremos o que o nosso sexo sonha. E este sonha apenas a parte da simetria que lhe cabe. A outra parte pertence à imagem que vai tomando vida. Avançamos para ela e ela avança sobre nós. Esse movimento torna-nos obsessivos e inconstantes. Não podemos viver sem ele, mas a imagem não se mantém fixa. O fulgor desloca-se. Não podemos desejar o novo e querê-lo sem surpresa. Começa a irradiar do sexo e alteia-se. Do aqui evolui, difunde-se por todo o há que possamos admitir.

O desejo é escuro, diz Rimbaud.
Sujo, queres tu dizer, replica Aossê.
O desejo é divino, diz convictamente Hölderlin."

-"Onde Vais, Drama- Poesia?"
- Maria Gabriela LLansol
"os dentes na boca ordem a língua: o grito de dor explode,
e onde o prazer acolhia surge o dado amargo
move-se a dúvida que sobre o movimento
lança a interrogação insidiosa: entre suster o oxigénio impulsivo e
quebrar a vida ou queimá-la numa coluna escarpada e
apelas a morte em eco fulminante."


-"Onde Vais, Drama- Poesia?"
- Maria Gabriela Llansol
«JEAN (a falar com Jane como se estivessem sós, plano de meio-conjunto) - Para mim, a felicidade é um estado emocional entre outros estados emocionais.»

José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 87


«O PREDICADOR DA FELICIDADE - Pensa no instante e na coisa próxima. (Pega numa rosa branca.) Porque o segredo da felicidade está em olhar todas as maravilhas do Cosmos e não deixar, ao mesmo tempo, de pensar em regar a flor que murcha ao teu lado.
O HOMEM MASCARADO - Por que não?
IGOR (olha para ele) - Cuidado, com boas palavras se apanha os tolos...»


José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 81
«Quando amas, acaso precisas raciocinar, entender por que amas ou o que aconteceu? Não precisas, porque o que acontece acontece dentro de ti, no teu coração. Porque tudo é uma coisa só.»

José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 81

«IGOR - A palavra êxtase é de origem grega. Significa deixarmo-nos sair de nós mesmos.
O HOMEM MASCARADO - A tua erudição enfastia-me.»


José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 73

O mistério da tua boca.


«A INTERLOCUTORA (grande plano, a câmara filma-a por detrás, virada para o rosto do Narrador) - O mistério da tua boca. Deixa de a utilizar para contar histórias e dá-me um beijo.»


José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 73

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