sábado, 28 de dezembro de 2024
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
CHAMAMENTO
“I know we're not saints or virgins or lunatics; we know all the lust and lavatory jokes, and most of the dirty people; we can catch buses and count our change and cross the roads and talk real sentences. But our innocence goes awfully deep, and our discreditable secret is that we don't know anything at all, and our horrid inner secret is that we don't care that we don't.”
Dylan Thomas
"Quero nada querer para me querer a mim
tão mais ao alto
para chegar sempre no preciso instante em
que caem as pontes
Onde estão os Poetas que morrem a cada verso?
Hei-de morrer como um todo, nunca por partes.
Mas antes quero o amanhecer na boca e a
Humanidade limpa
Antes, quero caminhar erguida como uma
árvore cheia de pássaros
Antes, quero amar,
se possível em ricochete."
BRASA
da paixão desavinda
Em brasa ardendo
até ao fim
da vida.
Quem escuta a sua dor não desatada?
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 134
DESORDEM
Cobres os vidros das janelas
Recolhes os cães para a cozinha
Soltas os lobos que saltam as cancelas
Pões guardas atentos espiando no jardim
Madrastas nas histórias inventadas
Anjos do mal voando sem ter fim
Destróis todas as pistas que nos salvam
Depois secas a água
E deitas fora o pão
Tiras a esperança
Rejeitas a matriz
E quando já só restam os sinais
Convocas devagar os vendavais
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 121
que água mais domada e mais amarga
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 82
Ó ódio de bem te querer
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 81
POEMA AO DESEJO
no meu ventre
enterra-a devagar até ao cimo
Que eu sinta de ti
a queimadura
e a tua mordedura nos meus rins
Deixa depois que a tua boca
desça
e me contorne as pernas com doçura
Ó meu amor a tua língua
prende
aquilo que desprende de loura
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
«Quem nos dera engolir o que foi dito.»
Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 113
2.
De três em três horas telefono a um amigo diferente. Normalmente ninguém atende. Às vezes deixo mensagem. Deixo a promessa de ligar de novo. Gosto muito de prometer.
Terceiro homem. Terceiro dia
« O pensamento pode manter-nos de pé mesmo quando estamos no chão.»
É preciso alguém que nos livre da ceguez.
Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 49
8.
Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 40
1.
Sei que começo a despropósito, mas não sei como dizer-te o que me trouxe aqui. Tenho de dizê-lo agora, mais tarde seria uma doença. Ter-te diante de mim e adiar a confissão de que vim para te ver.
Daniel Faria. Sétimo Dia. Edição de Francisco Saraiva Filho. Assírio & Alvim, 2021., p. 33
mulher doente de afagos
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 74
MINHA SENHORA DE MIM
sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço
PEQUENOS DIZERES SOBRE A MULHER
I
fome
nem come do medo
Nem guarda na
arca
com a roupa o segredo
Quando um Homem Quiser
suicídio sem cadáver
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 33
INVOCAÇÃO DO AMOR
a água
o travo
aquele odor antigo
de uma parede
branca
Pedir-te da vertigem
a certeza
que tens nos olhos
quando me desejas
Pedir-te sobre a mão
a boca inchada
um rasto de saliva
na garganta
pedir-te que me dispas
e me deites
de borco e os meus seios
na tua cara
de estar exacta e nua
Dedos habitados pelo útero
Maria Teresa Horta. Eu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 14
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Mulheres na História: Camille Claudel, a musa de Auguste Rodin
sábado, 21 de dezembro de 2024
Meus desacontecimentos
«Lembro que, quando tudo começou, era escuro. E hoje, depois de todos esses anos de labirinto, todos esses anos em que avanço pela neblina empunhando a caneta adiante do meu peito, percebo que o escuro era uma ausência. Uma ausência de palavras. Essa escuridão é minha pré-história. Eu antes da história, eu antes das palavras. Eu caos.»
Eliane Brum
«E a chamada “motricidade fina”, é mesmo o quê? Ainda sabemos escrever manualmente, de forma legível e escorreita? Nas mãos, derivado da híper-demanda digital, parece haver agora uma prazerosa ditadura rotativa com apenas três protagonistas, que sabe a pouco: o polegar, o indicador e o médio. E apenas duas tarefas básicas: clicar e deslizar, deslizar e clicar, em incessante loop. Sobram quatro dedos, dois exilados em cada mão – condenados à dormência física, ao atrofiamento motor, ao analfabetismo sensitivo?»
Artigo de Opinião de Paulo Pires
Diário do Sul
''electrificação doméstica''
Yasunari Kawabata. O Som da Montanha. Tradução de Francisco Agarez. D. Quixote., p. 198
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
terça-feira, 17 de dezembro de 2024
''pruridos teus''
Yasunari Kawabata. O Som da Montanha. Tradução de Francisco Agarez. D. Quixote., p. 170
''Um pano bordado pendia sobre as gavetas.''
Yasunari Kawabata. O Som da Montanha. Tradução de Francisco Agarez. D. Quixote., p. 170
segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
domingo, 15 de dezembro de 2024
A cicatriz das tuas derrotas
José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 486
ALÇAPÃO
o que omites acaba por ressurgir
como intruso escava uma saída
rasteja por vias desconhecidas
na distância do que pensavas perdido
e chega a tua casa antes de ti
TRISTEZA
não há pensamento que possa mudar
a tristeza, essa música minúscula
nem precisamos morrer para nos sentirmos mortos
quando a sua cabeleira varre a terra
e nos recolhe como flores
de uma coroa deposta
rogamos à vida que responda
mas a vida só se expressa na agulha dos fogos
em línguas desconhecidas
no soprar ora longínquo
ora próximo do vento
e quando abrimos a garganta
em busca de um fio de voz
ela tornou-se inaudível
como se jamais nos tivesse pertencido
O silêncio é também visual
José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 454
o solitário ladrar de um cão
José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 452
CRONOMETRIAS
modos mais exactos de medir o tempo
o gotejar da água para a ânfora
o escorrer da areia, grão a grão
a viagem da sombra, como se não fosse
A vida exige de ti ainda mais escuro
José Tolentino Mendonça. A Noite Abre Meus Olhos. 4ª Edição, Assírio&Alvim, Porto, 2021. p. 448
PARTIR SEM CHEGAR
o ramo do tamarindo onde te espera
o assobio do barqueiro
não é o primeiro
deverás tactear a escuridão da folhagem
e enganares-te tantas vezes
que te convenças que não sabes
estreita é a corrente invisível que nos conduz
por corredores, registos, águas em queda
àquele momento talvez involuntário
onde palavra dita e palavra calada
Música de Nina Simone
I told Jesus it would be alright if He changed my name
I told Jesus it would be alright if He changed my name
I told Jesus it would be alright if He changed my name
And He told me that I would go hungry if He changed my name
And He told me that I would go hungry if He changed my name
Yes, He told me that I would go hungry if He changed my name
But I told Jesus it would be alright if He changed my name
I told Jesus it would be alright if He changed my name
So I told Him it would be alright and the world would hate me
That I would go hungry if He changed my name
Compositores: Robert Mac Gimsey