segunda-feira, 17 de abril de 2023

VIA DELLE OMBRE

 Na maior parte dos dias, é o sol que me acorda.

Mesmo nos dias mais escuros, há sempre muita luz de manhã -

linhas esguias onde as persianas não fecham.

É manhã - abro os olhos.

E todas as manhãs vejo outra vez como este lugar é imundo, sinistro.

Por isso, nunca chego atrasado ao trabalho - isto não é lugar para

se estar,

para ficar a ver a imundice a acumular-se enquanto o Sol resplandece.


Durante o dia de trabalho, esqueço o assunto.

Penso no trabalho: meter contas coloridas em frasquinhos de vidro.

Ao anoitecer, quando chego a casa, o quarto está sombrio -

a sombra da escrivaninha cobre por inteiro o chão despido.

Diz-me que quem aqui vive está condenado.


Quando é este o meu estado de espírito,

vou a um bar, fico a ver desporto na televisão .


Às vezes, falo com o dono.

Ele diz que os estados de espírito não querem dizer nada -

as sombras significam que a noite se aproxima, não que o dia nunca

mais irá voltar.

Diz-me para mudar a escrivaninha de lugar; terei outras sombras,

talvez

um diagnóstico diferente.


Se estamos sozinhos, ele baixa o som da televisão.

Os jogadores continuam a esbarrar uns nos outros,

mas só conseguimos ouvir as nossas próprias vozes.


Se não há jogo, ele escolhe um filme.

É a mesma coisa - o som mantém-se no mínimo, por isso restam 

as imagens.

Quando o filme acaba, trocamos opiniões para ter a certeza de que 

assistimos à mesma história.

Às vezes, passamos horas a ver este lixo.


Quando volto a pé para casa, já é noite. Por uma vez, escapa-nos a 

pobreza das casas.

Trago o filme na cabeça: convenço-me de que estou a trilhar o mesmo

caminho que o herói.


O herói atreve-se a sair à rua - culpa do amanhecer.

Quando sai, a câmara recolhe imagem de outras coisas.

Quando volta, já sabe tudo o que há para saber,

só de vigiar o quarto.


Agora não há sombras.

Está escuro dentro do quarto; a brisa noturna vem fresca.

No Verão, consegue-se sentir o aroma das flores de laranjeira.

Se não há vento, basta uma árvore - não é preciso um pomar inteiro.


Faço como o herói.

Ele abre a janela. Tem a sua reunião com a terra.


 Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 65

domingo, 16 de abril de 2023

« É como uma folha de erva seca num campo de gramíneas.»

 Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 65

 (...)

«junto à estrada, ardem alguns fogos isolados.

Nada resta do amor,

apenas distanciamento e ódio.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 61

sábado, 15 de abril de 2023


 

Lágrimas Negras

 «Todos os meses, ou assim, encontramo-nos para tomar café.

No Verão, é costume passearmos pelo prado, por vezes vamos até

    à montanha.

Mesmo quando sofre, ele continua pujante, feliz no seu corpo.

Isso deve-se em parte às mulheres, claro, mas não só.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p. 35

 «Ratos nos campos. Onde a raposa caça,

haverá sangue na erva amanhã.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p.29
« O céu está completamente azul, por isso a erva está seca.»


Louise Glück. Uma Vida de Aldeia. Tradução de Frederico Pedreira. Relógio D'Água. 2021., p.23

Como Nossos Pais



                                                       O objecto de Noronha da Costa.
 

«Morreu Augusto Cunha»



''Quando no dia 18 de Abril de 1947, mês que também o viu nascer, Augusto Cunha morreu, vítima de doença dolorosa e prolongada, levou consigo o seu «Mundo Português». No último número da revista (o único póstumo), Raul Feio publicou «Morreu Augusto Cunha»:


[excerto] Lembrava-me que nunca mais o ouviria conversar, que nunca mais o ouviria dizer aquelas suas (e já tão nossas!) graças e trocadilhos, que nunca mais o veria acender o cigarro daquela maneira tão sua, que nunca mais o veria sacudir a cinza do fato com aquele gesto tão seu… Assim, é exactamente assim. Só coisas pequenas me vieram à cabeça. Não pensei sequer que tinha morrido um artista, que tinha desaparecido um homem bom, profundamente bom, um homem como poucos! – e adiante – Estive depois sozinho no seu escritório, sentado na sua cadeira, diante daquela grande secretária. E em tudo estava o ar das coisas sucedidas de repente e inacreditavelmente definitivas. Os livros e as caricaturas, a caneta, os jornais, os papéis em desordem, viviam como eu exactamente o espanto daquele momento. Vi cartas para responder e senti problemas a decidir. Mas tudo tinha parado. Nunca mais ouviria o meu velho amigo ler-me o rascunho duma crónica, expor-me a ideia do novo livro e interessar-se como só ele sabia, interessar-se de alma e coração pelas minhas pequenas tragédias.»

Fonte: Fundação António Quadros


 África,

no teu corpo rugem feras,

uivam fomes e medos ancestrais,

no teu sangue há marés,

na tua pele há dardos e punhais.

Ventre de continentes,

és mater e matriz.

Ásia é semente, Europa é flor,

outros serão essência ou tronco,

tu, África és Raiz.


 Fernanda de Castro, em África Raiz, 1966.

''Património Cemiterial ''

''borboletear cognitivo''


Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 204

 «Algo da imaterialidade do livro electrónico contagiará o seu conteúdo, como essa literatura tresmalhada, sem ordem nem sintaxe, feita de apócopes e calão, por vezes indecifrável, que determina o mundo dos blogues, do Twitter, do Facebook e restantes sistemas de comunicação através da Rede, como se os seus autores, ao usar esse simulacro que é a ordem digital para se expressarem, se sentisse libertos de toda a exigência formal e autorizados a atropelar a gramática, a sinérese e os princípios mais elementares da correcção linguística.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 199


 

''público de papalvos''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 196

''pesadelo orwelliano''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 194

grupúsculo

« o ópio do povo»

 « Suporta-se melhor a pobreza, a discriminação, a exploração e o atropelo se se acreditar que haverá um desagravo e uma reparação póstumos para tudo isto. (Por isso, Marx chamou à religião « o ópio do povo», droga que anestesiava o espírito rebelde dos trabalhadores e permitia aos seus amos viver tranquilos a explorá-los.»


Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 161

 «A força da religião é tanto maior quanto maior for a ignorância de uma comunidade.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 159

liberticídio

 

«A traição de muitos artistas e intelectuais aos ideais democráticos não o é a princípios abstractos, mas sim a milhares e milhões de pessoas de carne e osso que, sob as ditaduras, resistem e lutam por alcançar a liberdade. Mas o mais triste é que esta traição às vítimas não responda a princípios e convicções, mas sim a oportunismo profissional e a poses, gestos e insolências de circunstância. Muitos artistas e intelectuais do nosso tempo tornaram-se muito baratos.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 139

 « Os palhaços e os cómicos, convertidos em maîtres à penser - directores de consciência - da sociedade contemporânea, opinam como o que são: o que há de estranho nisso? As suas opiniões parecem responder a supostas ideias progressistas, mas, na verdade, repetem um guião snobista de esquerda: agitar as massas, dar que falar.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 139


 

satrapias

'' A putrefação do sistema''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 136

''parasita do orçamento''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 135

metamorfosear-se

 «A cultura snobe e acomodada adormece cívica e moralmente uma sociedade que, deste modo, se torna cada vez mais indulgente para com as perversões e excessos daqueles que ocupam cargos públicos e exercem qualquer tipo de poder.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 133

''farejar a sujidade alheia''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 132


 

 «Hoje em dia, em todas as sondagens que se fazem sobre a política, uma maioria significativa de cidadãos opina que se trata de uma atividade medíocre e suja, que repele os mais honestos e capazes e recruta sobretudo nulidades e espertalhões que veem nela uma maneira rápida de enriquecer.»


Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 128

''caruncho intelectual''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 87

quarta-feira, 12 de abril de 2023

 «Caí farto de mim, Senhor! , exausto,

Farto de mim, de tudo, exausto, imbele,

Impotente ante o excesso do teu fausto

E sem vida ante a Vida..., como aquele

Que num supremo olhar e último hausto,

Próximo já do Norte já não dele,

Mais não recolhe que a fugaz visão

Dum Polo a que só outros chegarão...»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 172

Chão que nunca viu sol nem sonhou rosas

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 164

«A solidão das ondas no alto mar,»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 154

sexta-feira, 7 de abril de 2023


 

''Proibido proibir''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 76

 «O escândalo, nos nossos dias, não consiste em atentar contra os valores morais, mas sim contra o princípio da realidade.»   Jean Baudrillard

''machismo linguístico''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012.

anomia

''desvios inúteis''

 sobre cultura

''tudo aquilo que faz da vida algo digno de ser vivido''

T.S.Eliot

 «Mas conseguimos uma vitória pírica, um remédio pior do que a doença: viver na confusão de um mundo em que, paradoxalmente, como já não há maneira de saber o que é a cultura, tudo o é e já nada o é.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 65

objectar-me-ão


 

multitudinário

 «Atualmente tudo pode ser arte e nada o é,»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 57

não há mal que não venha por bem

 «E o jornal ou o programa que não comungue do altar do espectáculo corre hoje o risco de o perder e dirigir-se apenas a fantasmas.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 54

cata-vento

 «Toda a generalização é falaciosa e não se pode meter todos por igual no mesmo saco.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 53

parangona

hedonismo

 « Nos nossos dias, onde o que se espera dos artistas não é o talento, nem a destreza, mas sim a pose e o escândalo, os seus atrevimentos não são mais do que máscaras de um novo conformismo.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 45


 

flagício

 «Sonho-te!, para te humilhar

E me vingar da tua ausência,»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 117

congosta

 «(...)

E esta loucura, acho-a bela,

De agarrar minh'alma, erguê-la,

E bater!, bater com ela

Nas paredes sem janela

Da prisão que me limita...»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 110

''a vil volúpia da dor''

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 109

''Suando sangue''

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 107

 «E uma terra sem flor e uma pedra sem nome

Saciarão a minha fome.»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 97

«Sofro, assim, pelo que sou,»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 96


 

 «Os mundos que há nos fundos do meu nada.»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 92

«Vai-te!, como vão todos;»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 91

segunda-feira, 3 de abril de 2023

 « E a-pesar-de eu ser todo uma contínua dor,

A minha boca, sem querer, sorria.»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 89

 « - Aquela cruz da minha sagração

Matou-me para ti.»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 84

''renda de algas''

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 82


 

 «Ama-me tu se podes,

Sem procurar compreender-me»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 77

 «Sei que quanto melhor te revelar

O meu mundo profundo,

O fundo do meu mar,

Os limos do meu poço,

O anto que é só meu (sendo, a-pesar-de tudo, nosso)

Menos me entenderás, »


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p.76

«Quem sofre - pensa; e o tormento

Não é sofrer, é pensar.»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 75

«Que a sede de me dar e de possuir,»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 74

 «Eis-me integralmente só,

Ardendo sem saber por que arder,

Com mãos de cinza  a agarrar fumo e pó,

Mas com lábios de sangue a referver...»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 73

«Em vão gritei por Deus, beijando o chão...

Deus não olhou para mim!»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 73

domingo, 2 de abril de 2023




 

 «Fugimos de o dizer; mas foi assim.»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 68

dandismo

«Sinto-me bem!, que bem!, todo embrulhado em sofrimento...»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 66

«A alma doi-me...! , porque tu ma vês.»

José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 49

Fennesz + Sakamoto - Flumina (full album)


 

«Eis o leito em que me deito,

No buraco do meu quarto,

E em que sofro a dor do parto,

Que não acaba,

De Mim Próprio!»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 30

 «Tinha alegrias profundas,

Só comparáveis

  Aos meus desânimos...»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 27

 «Por quem rezaste e sofreste,

Por quem tens esse olhar triste,

Desenganado,

Celeste...»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 26

Ain't Got No - I Got Life

 « De chamas e serpentes aos novelos,»

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 16

«o vermelho húmido na boca amante

e o vento da pátria na bandeira»


Eduardo Carranza. Um País que Sonha cem anos de poesia columbiana (1865-1965). Selecção e prólogo Lauren Mendinueta. Tradução Nuno Júdice. Assírio &Alvim, 2012., p. 87

 O soldados choram de noite antes de morrer.

Salvatore Quasímodo

«Esta rosa viu o momento»

esse que, se amor não foi,

nenhum outro amor seria.

León de Greiff. Um País que Sonha cem anos de poesia columbiana (1865-1965). Selecção e prólogo Lauren Mendinueta. Tradução Nuno Júdice. Assírio &Alvim, 2012., p. 36

vermelho-sanguíneo


 

 Cidade triste, ontem rainha do mar.

J.M. de Heredia

« e só morrerás quando eu morrer.»

Guillermo Valencia. Um País que Sonha cem anos de poesia columbiana (1865-1965). Selecção e prólogo Lauren Mendinueta. Tradução Nuno Júdice. Assírio &Alvim, 2012., p. 36


 « um mal-estar profundo que vai crescendo

com todas as torturas da análise...»


José Asunción Silva. Um País que Sonha cem anos de poesia columbiana (1865-1965). Selecção e prólogo Lauren Mendinueta. Tradução Nuno Júdice. Assírio &Alvim, 2012., p. 27

«Um cansaço de tudo, um absoluto
desprezo pelo humano... »


José Asunción Silva. Um País que Sonha cem anos de poesia columbiana (1865-1965). Selecção e prólogo Lauren Mendinueta. Tradução Nuno Júdice. Assírio &Alvim, 2012., p. 27

quarta-feira, 29 de março de 2023

terça-feira, 28 de março de 2023


 

 «Rios que vão dar ao mar

Deixem meus olhos secar »


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 194

 «Ninguém diga o que não sabe

Nem afirme o que não viu»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 183

«Dormindo debaixo de um laranjal»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 182

 «Maria

Sol de madrugada

Flor de tangerina»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 180

«Onde não há pão

Não há sossego.»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 178


 

 «É inútil chorar

O combate é preciso »


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 165

TU MORRES TODOS OS DIAS


Tu morres todos os dias

libertando telefonemas

diante da minha mágoa

exposta à ira dos dias

levo-te cravos vermelhos

flores recentes da estação

Morres e vais caminhando

sobre uma estrada de fumo

o lume que nos sustenta

Já não cheira não tem vida

Às vezes vens-me à lembrança

descalça ao longo da praia

Vivo terrores de madraço

Com dívidas acumuladas

Seguindo de perto o tráfego

Saberei um dia amar-te

Tu morres tu pontificas

eu respiro a tua sombra

Ai repouso de guerreiro

Sobre o abismo repousas


Azeitão, 31 de Março de 1981

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 162

«Virá a tia defunta

Recordar mais uma trança?»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 161

 

ganhão raso
ganhão que trabalhava de forma sazonal numa herdade (nas sementeiras, nas colheitas, etc.)

potestade

''chora-se a agonia''

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 156


 

 (...)

«Corre o veneno pelas paredes brancas

o mar vomita peixes e serpentes

caem meninos mortos das varandas

as Parcas estão contentes


Tranquilizar o coração humano

É tão difícil como ser ribeiro

As águas essas correm todo o ano

Não voltam em Janeiro »


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 154

«Olham-se o olvido e o medo»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 147

 «No tempo da penúria

ninguém morre de pasmo»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 140

'' A dor-inverno''

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 133

 «As cordas desta harpa já não soam

e o gelo queima as ervas da montanha»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 133

 «Tenho saudades da espuma»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 125

 

nome feminino
1.
pequeno instrumento, em forma de parafuso e de ponta aguda, destinado a abrir furos na madeira
2.
broca para abrir buracos em pedra
3.
figurado pessoa maçadora e impertinente


 

Tomorrow Is My Turn

« Só nos pinhais é possível parar sem arrependimentos tardios»

« Só nos pinhais é possível parar sem arrependimentos tardios

e penso muito naquela tarde vazia»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 124

«as horas mastigadas pela lepra

o mosquiteiro, a noite, a trovoada

«Esta é a ditosa pátria minha amada.»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 123

«dentro da asa o delírio»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 122

domingo, 26 de março de 2023

«O mundo ecrã deslocou. dessincronizou e desregulou o espaço-tempo da cultura.» 


Gilles Lipovetsky/Jean Serroy , La cultura-mundo.

op. cit in Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 25


 

Debussy - Images I/II • Estampes • L'île Joyeuse - Yuji Takahashi (高橋悠治)

NOCTURNO

         Uma noite,
uma noite toda cheia de perfumes, de murmúrios e de músicas de asas,
         uma noite,
em que ardiam na sombra nupcial e húmida, pirilampos fantásticos,
ao meu lado, lentamente, a mim toda cingida,

           muda e pálida

Como se um pressentimento de amarguras infinitas,

até ao fundo mais secreto das tuas fibras te agitasse,

pelo atalho que atravessa a campina em flor

           caminhavas

          e a lua cheia

pelos céus azúleos, infinitos e profundos espargia a sua luz branca,

         e a tua sombra

         fina e lânguida,

         e a minha sombra

pelos raios da lua projectadas,

sobre as areias tristes

da vereda se juntavam

         e eram uma

         e eram uma

E eram uma única longa sombra!

E eram uma única longa sombra!

E eram uma única longa sombra!

            Esta noite

            sozinho, a alma

cheia das infinitas amarguras e agonias da tua morte,

separado de ti mesma, pela sombra, pelo tempo e a distância,

            pelo infinito negro,

            que a nossa voz não alcança

            só e mudo

           pelo atalho caminhava,

e ouvia-se o ladrar dos cães à lua,

            à lua pálida,

             e o coaxar

            das rãs…

Tive frio, era o frio que sentiam no quarto

As tuas faces e a tua testa e as tuas mãos adoradas,

            entre as brancuras níveas

            das brancas mortalhas!

Era o frio do sepulcro, era o frio da morte

             era o frio do nada…

             e a minha sombra

pelos raios da lua projectada,

             ia sozinha,

             ia sozinha,

ia sozinha pela estepe solitária!

            e a tua sombra esbelta e ágil

            fina e lânguida,

como nessa noite morta da morta primavera

como nessa noite cheia de perfumes, de murmúrios e de músicas de

                                                                                                              asas

               abeirou-se e caminhou com ela,

               abeirou-se e caminhou com ela,

abeirou-se e caminhou com ela…Oh as sombras enlaçadas!

Oh as sombras que se procuram e se juntam nas noites de negruras e

                                                                                                       de lágrimas!...


José Asunción Silva. Um País que Sonha cem anos de poesia columbiana (1865-1965). Selecção e prólogo Lauren Mendinueta. Tradução Nuno Júdice. Assírio &Alvim, 2012., p. 21-22


« Nas antípodas das vanguardas herméticas e elitistas, a cultura de massas quer oferecer novidades acessíveis para o público mais amplo possível e que distraiam a maior quantidade possível de consumidores. A sua intenção é divertir, dar prazer, possibilitar uma evasão fácil e acessível para todos, sem necessidade de qualquer formação, sem referentes culturais concretos e eruditos. O que as indústrias culturais inventam não é mais do que uma cultura transformada em artigos de consumo de massas.»


Gilles Lipovetsky/Jean Serroy , La cultura-mundo.

op. cit in Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 20

''futilização''

sábado, 25 de março de 2023

 «O consumidor real torna-se um consumidor de ilusões.»

Guy Debord, La Societé du spectacle


 

''coisificação'' do indivíduo

''jargões herméticos''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 20

''deterioração progressiva da palavra''

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 20

 « Num indivíduo, tal como na sociedade, chegam às vezes a coexistir na alta cultura, a sensibilidade, a inteligência e o fanatismos do torturador e o assassino.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 18

 « A pós-modernidade destruiu o mito de que as humanidades humanizam.»

Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012., p. 18

Kulturpessimismus

 novo realismo estoico

monoteísmo

 «(...), isto é, a concepção de um deus único, invisível, inconcebível, todo-poderoso e inalcançável à compreensão e até à imaginação humana. O deus mosaico veio substituir aquele politeísmo de deuses e deusas acessíveis à multiplicidade humana, com os quais a diversidade existente de homens e mulheres poderia acomodar-se e sobreviver.»


Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012, p. 17.

 « O que quer dizer civilização do espectáculo? A de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigente é ocupado pelo entretenimento e onde divertir-se, fugir ao aborrecimento, é a paixão universal. Este ideal de vida é perfeitamente legítimo, sem dúvida. Só um puritano fanático poderá censurar os membros de uma sociedade que queira dar consolo, descontração, humor e diversão a umas vidas geralmente enquadradas em rotinas deprimentes e às vezes embrutecedoras. Mas converter essa propensão natural para passar uns bons momentos num valor supremo tem consequências inesperadas »


Mario Vargas Llosa. A civilização do Espectáculo. Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra. 2.ª Edição.  Quetzal. 2012.  


 

inapetência

sexta-feira, 24 de março de 2023

"Se não disseres nada, compreenderei melhor. [...] Há ocasiões em que as palavras não servem de nada".

José Saramago

quinta-feira, 23 de março de 2023

« A gente só sentencia»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 115

desvario



«Por ti lutei sem saber por que lutava
Culpava-me de tanta fome tanta mágoa
na palavra me encosto sem saber a que me encosto»

(...)

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 113

«Confiemos nos homens essas mudas

vítimas do degelo Universal mas sempre vivos.»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 113

INSISTO NÃO SER TRISTEZA



Insisto não ser tristeza
Soluçar sobre uma mesa

E mais não ser deste mundo
Meter navios no fundo

Num caminho de esqueletos
Sempre se plantam gravetos

E se a velhice for tua
Senta-a no meio da rua.


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 112


 

The Black Keys - Lonely Boy

ÁSPRO ÁSPERO ROMANCEIRO



Áspro áspero romanceiro
voltado para Meca ou Miragaia
serva da verve fútil
desta província domingueira.
Quero-te muda
bem despojada de limos mas assumida.
Quero-te vendada vendida
para que ao menos te sirva de remédio
a nossa obscura forma de ser tédio.

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 111 

 «Existe uma caverna íntima

na total escuridade do sangue.»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 109

terça-feira, 21 de março de 2023

''canoas de veludo''

Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 61

« essa , a abandonada, a que, por vezes,
é percorrida pelo arrepio,
pela frialdade da separação,
a que enlouquece na procura,
a nua, a que perdeu,
a que não sabe segurar-se e oscila,
fora do equilíbrio, decepada,
em si mesma contida, única, pobre,
sobrevivente das primeiras coisas,

ela, a deixada para sempre só,
a que corre nos charcos, em demanda
da pertença maior, a que estremece,
atravessada pelos elementps,
a água, o fogo, o vento, até as pedras,
ela que é fácil de dilacerar,
fácil de espezinhar, uma ligeira 
superfície dançante,
cheia de morte, ornamentada pela morte
com dourados objectos musicais,»


Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 55/6
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