domingo, 19 de fevereiro de 2023

 


nome feminino
advertência feita a alguém a propósito de uma falha, de um comportamento incorreto, etc.reprimendaadmoestação

« Era isso; e não mais do que isso.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 92

Salineiro

« o peixe a secar nas caniçadas »

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 80

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023


 

''Escrever não é difícil. Basta sentarmo-nos em frente da máquina de escrever, abrir as veias e sangrar. ''

Walter “Red” Smith

Rezadeira

O povo e o poder

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Bem-falância

Erik Satie - Gnossienne No 1

 

verbo transitivo
não aprazer acausar desagrado aenfadardesgostar

salineiros


Anne Brigman

 

« O velho distraíra o seu desgosto cavando a cova»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 80

''mijar a esmo''

 Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 79

 

nome feminino
1.
montão cónico de feixes de cereais, palha, colmo, caruma, etc.moreia
2.
lugar onde há medasmedeiro
3.
montão

«(...) abetos negros entremeados de carvalhos já vermelhos do Outono,»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 71

'' matas invioladas à beira de santuários''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 70

«Recusava-se a sangrar, aquele coração mortificado.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 61

« (...), pois ninguém sabe ainda se tudo vive para morrer ou se apenas morre para reviver.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 58


 Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles is a 1975 film written and directed by Belgian filmmaker Chantal Akerman.


 

à guisa de
à maneira de

« - O tudo nada é.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 47

hidropisia

inanir

''tradições de honra''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 41

«As palavras que tinha preparadas permaneceram nos seus lábios.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 41

Someone To Watch Over Me

«(...), sofria sem chorar, e sem pensar»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 39

 «(...) quando a podridão ensaiava a sua obra»


Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 35

«(...) o vermelho do sangue de Cristo descamava-se como as crostas de uma velha ferida.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 35

Malquerendo-se

« Não sabiam como ocupar as horas.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 27

engaço

 

a rodos
em grande quantidade, à larga

 « Dom Álvaro tinha como principal função reprimir motins, e por vezes, se fosse necessário, provocar algum, para fazer cair na rede os agitadores.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 26


 

 « O regresso, infinitamente mais lento do que a vinda, (...)»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 23

 « - Ides deixar-nos, senhora minha mãe.

- Vi trinta e nove vezes o Inverno - murmurou imperceptivelmente Valentina. - Trinta e nove vezes o Verão. É o bastante.

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 22

descoroçoar

« - Caldo de víbora não é remédio de desprezar.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 21

''vestes doutorais''

serpear


 

«Às vezes, na sua solidão, encaminhava-se para a solidão.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 16

 «Fatigava-se, na esperança de vir a dormir melhor.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 16

Genuflexório

 «Porque as víboras, senhor, as víboras rastejam por toda a parte, sem contar as que há nos corações.»


Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 15

''no dealbar do mundo''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 15

Samara Joy - Guess Who I Saw Today

 ''gente que vivera sem a angústia do inferno aberto sob os pés''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 14

sol-pôr

 


nome feminino
1.
fronteira de um paísraia (limite)
2.
pejorativo ralé, populacho, vulgacho

''tranças de cebolas''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 12

«Valentina pouco falava, com aquele instinto justo e avisado de quem se sente amado sem se sentir compreendido.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 11

tão-só

''crises de hipocondria religiosa''

 Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 10

« Uma mulher pálida, boca marcada por uma ruga de tristeza (...)»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 10

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

domingo, 5 de fevereiro de 2023


                                                                           Anne Brigman



Nós somos os homens vazios

Somos os homens de palha

Apoiados uns nos outros

A parte da cabeça cheia de palha. Ai

As nossas vozes foram secas e quando

Juntos sussurramos

São serenas e sem sentido

Como vento em erva seca

Ou pés de ratos sobre vidro partido

Na secura da nossa cave

Molde sem forma, tonalidade sem cor,

Força paralisada, gesto sem movimento;

Os que cruzaram

Com os olhos certeiros, para o outro reino da morte

Lembram-se de nós – quem sabe – não de

Violentas almas perdidas, mas somente

De homens vazios

Homens de palha.


Rui Cóias
“The Hollow Men”, de T.S. Eliot (excerto)


havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o abismo

de te perder num afago
de te ter do outro lado
do medo à minha beira

havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o amor

que há noites ao teu lado
em que me dói não sei
onde é que a distância ai


“Ao lado”, de Joaquim Castro Caldas


Doutor eu tenho uma guerra tremenda dentro da minha cabeça
um euro e trinta e cinco cêntimos 16 de Agosto de 2011
não dá para o tabaco. Quero lembrá-lo que o verão está a acabar

e eu já ouço passos nos caminhos da lama e do medo
e há coisas que só no verão se fazem e eu ainda não fiz
como ouvir o rumorejar do mar nos meus pulsos.

Os seus medicamentos doutor deixam-me sem mim
o meu pai disse-me que a minha doença só lhe traz problemas
doutor há uma pedra intraduzível entre nós dois

quero dizer-lhe que há pessoas muito pobres que querem
o meu rim esquerdo doutor o mundo não é perfeito
e não me diga para lhe contar tudo como a um padre

eu não quero morrer outra vez essa frase fá-lo muito feio.
Acredite que vi gente morrer porque era maior que o corpo
tenho a impressão que o corpo não sabe o que tem dentro

acredite que consigo fundir uma lâmpada só com o olhar
já fundi muitas lâmpadas só com o olhar
e que vi um anjo atravessar os muros de um hospício

rasante e belo como uma garça.
Doutor há muito pouco tempo para a poesia.
Isto que lhe digo é verdade todos os dias doutor.

“Doutor eu tenho uma guerra tremenda dentro da minha cabeça”, de António Amaral Tavares


Se eu vos disser: «tudo abandonei»
É porque ela não é a do meu corpo,
Eu nunca me gabei,
Não é verdade
E a bruma de fundo em que me movo
Não sabe nunca se eu passei.

O leque da sua boca, o reflexo dos seus olhos
Sou eu o único a falar deles,
O único a ser cingido
Por esse espelho tão nulo em que o ar circula através de mim
E o ar tem um rosto, um rosto amado,
Um rosto amante, o teu rosto,
A ti que não tens nome e que os outros ignoram,
O mar diz-te: sobre mim, o céu diz-te: sobre mim,
Os astros adivinham-te, as nuvens imaginam-te
E o sangue espalhado nos melhores momentos,
O sangue da generosidade
Transporta-te com delícias.

Canto a grande alegria de te cantar,
A grande alegria de te ter ou te não ter,
A candura de te esperar, a inocência de te conhecer,
Ó tu que suprimes o esquecimento, a esperança e a ignorância,
Que suprimes a ausência e que me pões no mundo,
Eu canto por cantar, amo-te para cantar
O mistério em que o amor me cria e se liberta.

Tu és pura, tu és ainda mais pura do que eu próprio.



“A de Sempre, Toda Ela”, de Paul Éluard


no país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho que bom é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno

e no país no país e no país país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só até à ilharga,
a grande história de amor só até ao pescoço

e no país no país que engraçado no país
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma – ora aí está –
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)

diz que grandeza de alma. Honestos porque.
Calafetagem por motivo de obras.
relativamente queda de água
e já agora há muito não é doutra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato

“IX”, do “Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano”, Mário Cesariny


                                                                         Anne Brigman



Poisamos as mãos junto da chávena
sem saber que a porcelana e o osso
são formas próximas da mesma substância.
A minha mão e a chávena nacarada
– se eu temperar o lirismo com a ironia –
são, ainda, familiares dos pterossáurios.
A tranquila tarde enche as vidraças.
A água escorre da bica com ruído,
os melros espiam-me na latada seca.
É assim que muitas vezes o chá evoca:
a minha mão de pedra, tarde serena,
olhar dos melros, som leve da bica.
A Natureza copia esta pintura
do fim da tarde que para mim pintei,
retribui-me os poemas que eu lhe fiz
de novo dando-me os meus versos ao vivo.
Como se eu merecesse esta paisagem
a Natureza dá-me o que lhe dei.
No entanto algures, num poema, ouvi
rodarem as roldanas do cenário,
em que as palavras representavam
a cena da pintura da paisagem
num telão constantemente vário.
Só o chá me traz a minha tarde,
com a chávena e a minha mão que são
o mesmo pedaço de calcário.
Hoje a bica refresca a água do tanque,
os melros descem da latada para o chão,
e as vidraças devagar escurecem.
As palavras movem-se e repõem
no seu imóvel eixo de rotação
o espaço onde esta mesa de verga
gira nas grandes nebulosas.


“O Canto da Chávena de Chá”, de Fiama Hasse Pais Brandão
Acerca do sofrimento, nunca se enganaram
Os Velhos Mestres: quão bem entenderam
A condição humana; como está presente
Enquanto alguém se alimenta ou abre uma janela ou monotonamente segue a caminhar;
Como, enquanto os velhos esperam apaixonada e reverentemente
Pelo miraculoso nascimento, deve sempre haver
Crianças que não queriam especialmente que acontecesse, patinando
Num lago na orla da floresta:
Nunca esqueceram
Que até o mais terrível martírio deve seguir o seu curso,
Custe o que custar, a um canto, nalgum lugar descuidado
Onde os canídeos acorrem em suas vidas de cão, e o cavalo do torturador
Coça seu inocente traseiro por detrás de uma árvore.

No Ícaro de Brueghel, por exemplo: como tudo se afasta
Ociosamente do desastre; o lavrador poderá
Ter ouvido o splash, o grito desamparado,
Mas para ele não era um importante fracasso; o sol brilhou
Como soía sobre as pernas brancas que desapareceram na verde
Água; e o frágil e grandioso navio que deve ter avistado
Algo espantoso, um rapaz caindo do céu,
Tinha um destino para ir e afastou-se calmamente.

João Luís Barreto Guimarães
“Musée des Beaux Arts”, de W. H. Auden




Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava […]



“Muriel”, de Ruy Belo

 Quando é que passará esta noite interna, o universo,

E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!

Fernando Pessoa

sábado, 4 de fevereiro de 2023

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

''Hábitos nem dá-los nem tirá-los.''

Ernesto de Sousa e Isabel Alves, 1972. Fotografia de Ângelo de Sousa.

 

Sobre um poema, Herberto Helder


Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

O livro, de Gonçalo M.Tavares


De manhã, quando passei à frente da loja
o cão ladrou
e só não me atacou com raiva porque a corrente de ferro
o impediu.
Ao fim da tarde,
depois de ler em voz baixa poemas numa cadeira preguiçosa do
jardim
regressei pelo mesmo caminho
e o cão não me ladrou porque estava morto,
e as moscas e o ar já haviam percebido
a diferença entre um cadáver e o sono.
Ensinam-me a piedade e a compaixão
mas que posso fazer se tenho um corpo?
A minha primeira imagem foi pensar em
pontapeá-lo, a ele e às moscas, e gritar:
Venci-te.
Continuei o caminho,
o livro de poesia debaixo do braço.
Só mais tarde pensei ao entrar em casa:
não deve ser bom ter ainda a corrente
de ferro em redor do pescoço
depois de morto.
E ao sentir a minha memória lembrar-se do coração,
esbocei um sorriso, satisfeito.
Esta alegria foi momentânea,
olhei à volta:
tinha perdido o livro de poesia.

O recreio, de Mário de Sá-Carneiro


Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...

- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...

Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...

- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...

Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...

- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...

Em todos os jardins, Sophia de Mello Breyner


Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.

Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.

Morrer de amor, de Maria Teresa Horta



Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso

Aniversário, de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)



No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

domingo, 29 de janeiro de 2023

Glory (Remastered)

 «(...) enxugarem na fronte o suor da morte.»

Mark Twain. Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p.30



Dorothy Wilding -The Silver Turban , nude study, serie » hidden face » # 3 ,1928 

 William Hustler and Georgina Hustler

 '' «(...) trabalho consiste em tudo o que se ó obrigado a fazer e que prazer consiste naquilo que se não é obrigado a fazer.»

Mark Twain. Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p.22

 « Descobrira, sem o saber, uma grande lei que rege a Humanidade e que é: para se conseguir um homem ou um rapaz cobice uma coisa,  basta tornar essa coisa difícil de obter.» 

Mark Twain. Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p.22

 «Diz coisas horríveis, mas o que ela diz não faz doer, pelo menos quando não grita.»

Mark Twain. Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p.16

alfarrobeiras

 «A vida parecia-lhe oca e a existência nada mais do que um fardo.»

Mark Twain. Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 15

 « - Que diabo de rapaz! Eu nunca hei-de aprender? Com tantas partidas como esta que me tem feito, já devia calcular onde ele poderia estar.  Mas quanto mais velha mais tola, é o caso.»

Mark Twain. Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores

O coração, se pudesse pensar, pararia.



"Nasci num tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido — sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como ele, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais. Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência e a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia."
 
Livro do Desassossego, Bernardo Soares

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023


 

 Para ele [Wittgenstein] a riqueza está aqui, na proximidade, à nossa mão, diante de nós, não é preciso descer à mina para encontrar gemas desconhecidas. E como captá-la? Através de um olhar atento, incansável, um olhar que se esforça por reconhecer nas coisas o seu gesto próprio, a fim de lhe fazer justiça. Eis o mais difícil: ver o que está diante dos nossos olhos.

tanto na filosofia como na arquitetura, segundo Wittgenstein, a atenção deve incidir “Sobre o seu próprio modo de ver. Sobre o modo como vemos as coisas. (E o que esperamos delas).”



No hay alivio más grande que comenzar a ser lo que es.

Alejandro Jodorowsky

de-more-mo-nos

''Não há nada de essencial no interior que não seja apercebido ao mesmo tempo no exterior.''

''Quanto mais formos, mais se É.''

sábado, 14 de janeiro de 2023

Precisava de alguns conselhos.

 « - Precisava de alguns conselhos. As pessoas só os aceitam quando eles coincidem com aquilo que querem fazer.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 145

 «When you're born you get a ticket to the freak show. When you're born in America, you get a front row seat.»

   George Carlin

aportuguesamento

Jeff Beck - Women of Ireland

sábado, 7 de janeiro de 2023

gatismo



Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles is a 1975 film written and directed by Belgian filmmaker Chantal Akerman.

 

 «Escondia a sua erudição por detrás de expressões eivadas de calão, numa linguagem de iletrado, atrevida e rude.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 147

coriáceo

«Ele não se interessa por mim senão na medida em que possa ser-lhe útil.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 140

« Quando está desconcertada ou perplexa, Mary vomita a sua cólera como um polvo vomita a sua tinta para se esconder do inimigo.

- Tu dás cabo de mim. Não podes deixar que os outros tenham um pouco de alegria.

- Não é nada disso, minha querida. Tenho medo da tristeza desesperada, do receio que o dinheiro engendra, da falta de segurança e da inveja.

   Ela deveria ter sentido inconscientemente o mesmo temor. Experimentou ferir-me, procurou um ponto sensível, e encontrou-o.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 129

''mesmização da cidadania''

alienação

 « Não deixes que a fortuna estrague a doçura da nossa pobreza.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 128

Cambraia de Laise Branco e Bege


 

 «Sê-lo-emos bem depressa, e tu, que tão mal usas a pobreza, usarás muito pior a riqueza.» E isto é verdade. Pobre, ela é invejosa. Rica, será desprezível. O dinheiro não cura a doença. Só modifica os sintomas.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 116

 «Ostentação puramente mundana, marcada pelo desejo surdo, suplicante, de ser notado e considerado.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 115

Agora Só Falta Você

 Um belo dia resolvi mudar

E fazer tudo o que eu queria fazerMe libertei daquela vida vulgarQue eu levava estando junto a você
E em tudo o que eu façoExiste um porquêEu sei que eu nasciSei que eu nasci pra saber
E fui andando sem pensar em voltarE sem ligar pro que me aconteceuUm belo dia vou lhe telefonarPra lhe dizer que aquele sonho cresceu
No ar que eu respiroEu sinto prazerDe ser quem eu souDe estar onde estouAgora só falta vocêAgora só falta vocêAgora só falta vocêAgora só falta você
E fui andando sem pensar em voltarE sem ligar pro que me aconteceuUm belo dia vou lhe telefonarPra lhe dizer que aquele sonho cresceu
No ar que eu respiroEu sinto prazerDe ser quem eu souDe estar onde estouAgora só falta você
Agora só falta vocêAgora só falta vocêAgora só falta você


 

''litania monótona''

 


John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 115

''tenho cicatrizes morais''

 John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 108

«O sucesso exige coragem.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 107

cavername

 «Pode supor-se que nas caves sombrias e ignoradas do espírito um júri composto de seres sem rosto reúne para deliberar.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 101

Saudadinha



Ó Tirana saudade
Ó Tirana saudade
Ó Tirana saudade
Saudade, ó minha saudadinha
Foste nada no Faial
Foste nada no Faial
Foste nada no Faial
No Faial baptizada na Achadinha

Saudade onde tu fores
Saudade onde tu fores
Saudade onde tu fores
Saudade leva-me podendo ser
Que eu quero ir acabar
Que eu quero ir acabar
Que eu quero ir acabar
Saudade onde tu foras morrer


A saudade é um luto
A saudade é um luto
A saudade é um luto
Um amor, um amor, uma paixão
É um cortinado roxo
É um cortinado roxo
É um cortinado roxo
Que me morde, que me morde o coração.

José Afonso

domingo, 25 de dezembro de 2022


                                                                                                 Dara Scully


Carlos do Carmo - Estrela da Tarde


Era a tarde mais longa de todas as tardesQue me aconteciaEu esperava por ti, tu não vinhasTardavas e eu entardeciaEra tarde, tão tarde, que a bocaTardando-lhe o beijo, mordiaQuando à boca da noite surgisteNa tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhamos tardamos no beijoQue a boca pediaE na tarde ficamos unidos ardendo na luzQue morriaEm nós dois nessa tarde em que tantoTardaste o sol amanheciaEra tarde demais para haver outra noitePara haver outro dia
Meu amor, meu amorMinha estrela da tardeQue o luar te amanheçaE o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amorEu não tenho a certezaSe tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amorEu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noitesQue me adormeceramDos noturnos silêncios que à noiteDe aromas e beijos se encheramFoi a noite em que os nossos doisCorpos cansados não adormeceramE da estrada mais linda da noiteUma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noiteNos aconteceramEra o dia da noite de todas as noitesQue nos precederamEra a noite mais clara daquelesQue à noite amando se deramE entre os braços da noite de tantoSe amarem, vivendo morreram
Meu amor, meu amorMinha estrela da tardeQue o luar te amanheçaE o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amorEu não tenho a certezaSe tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amorEu não tenho a certeza
Eu não sei, meu amor, se o que digoÉ ternura, se é riso, ou se é prantoÉ por ti que adormeço e acordoE acordado recordo no cantoEssa tarde em que tarde surgisteDum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despidaDe mágoa e de espantoMeu amor, nunca é tarde nem cedoPara quem se quer tanto
Compositores: Ary Dos Santos / Fernando Tordo

 « - Uma pequena esperança, mesmo uma esperança sem esperança, não prejudica ninguém - disse eu.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 92

 « Somos todos, ou quase todos, os pupilos daquela ciência do século XIX que nega a existência de tudo o que não se sabe medir ou explicar.»


John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 84

 « O reu diz os seus segredos a um poço e eles ficam sem segurança. Quem confia os segredos ou uma história, deve contar com a pessoa que o escuta ou lê, pois uma história tem tantas versões como leitores. Cada um toma dela o que quer ou o que pode, talhando-a assim à sua própria medida. Alguns aceitam uma parte e rejeitam o resto; outros passam-na à peneira dos seus conceitos, outros ainda transformam-na a seu  bel-prazer.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 84

"OPERÁRIOS DO NATAL" 1978


 

 

Quem faz o Natal para todos nós? São os amigos
Quem nos dá prazer e dá calor? São os amigos
A quem é que damos a ternura? É aos amigos
A quem é que damos o melhor? É aos amigos

Os amigos são o nosso bolo de Natal
Cada amigo nosso vale mais que um Pai Natal
É um irmão nosso que trabalha no Natal
E com suas mãos faz a diferença do Natal

O dinheiro pouco importa
O que importa é a verdade
E a prenda mais valiosa
É a prenda da amizade

Quem faz das tristezas forças
E das forças alegrias
Constrói à força de Amor
Um Natal todos os dias. 

"Os Operários do Natal" - textos de Ary dos Santos e Joaquim Pessoa

 «A beleza está à flor da pele e deve vir do interior.»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 82

''manias nacionais''

 «Como se consegue que um joão-ninguém qualquer massacre outros homens numa guerra?»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 70

 «Mary...ouves-me? Que és tu lá por dentro?»

John Steinbeck. O Inverno do Nosso Descontentamento. Tradução de João Belchior Viegas. Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1962., p. 63

domingo, 18 de dezembro de 2022

Maria Callas - 50 Most Beautiful Opera Arias


Anne Brigman (née Nott; December 3, 1869 – February 8, 1950) was an American photographer

 

« O homem grego não teme o nu. O nu é para ele simultaneamente natural e sagrado.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 463

 «(...), um espaço vazio que é o espaço da sua respiração.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 457

 «Os Kouros ensina uma poética - uma arte do ser. Diz-nos que só estando poeticamente no mundo, estamos realmente no mundo.»

Sophia de Mello Breyner Andresen. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 456

« Neles a beleza é directamente moral.»

Kouroi Dóricos

Sophia de Mello Breyner Andresen. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 454

 « O tempo apodreceu e desfez estátuas mais antigas, feitas de madeira, os xoana. Apenas podemos ver na Hera de Samos, cujo longo corpo cilíndrico sobe do chão como um tronco de uma árvores, uma obra que conserva na pedra a forma que a madeira impunha aos xoana.


Sophia de Mello Breyner Andresen. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 452

terça-feira, 13 de dezembro de 2022


                                                                     Dara Scully

ROSALÍA - Por Mi Puerta No Lo Pasen

En la verde oliva canta, ay que cantaEn la verde olivaEn la verde oliva canta, ay qué cantaEn la verde oliva
Qué pájaro sería aquelQue canta en la verde olivaCorre y dile que se calleQue su cante me lastima, correY dile que se calleQue su cante me lastima
Tú seras mi prenda queridaTú seras mi prenda adoradaTu seras el pájaro cucoQue alegre canta en la madruga
Ay que te quieroCuanto te quieroCuanto te quieroSin ti mi almaPa' que la quiero
Y por mi puerta no la pasenNo la pasen por mi puertaY por mi puerta no la pasen no laPasen por mi puerta
Ya yo he dicho que tu entierroNo lo pasen por mi puertaPorque mirarte no quieroA la carita ni viva ni muerta
Ya yo he dicho que tu entierroNo lo pasen por mi puertaPorque mirarte no quieroNi a la carita ni viva ni muerta
Las entrañas mías, por ti las daréQue yo me encuentro paga'oCon que tu me cameles bien

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