domingo, 20 de março de 2016


Sou de um tempo de não ter tempo


«Todos os aromas me cabem na boca,
todos os mistérios me inquietam a alma,
todas as paixões me doem nos sentidos.
Sou de um tempo de não ter tempo, »

(...)


José Jorge Letria. O Fantasma da Obra II. Antologia Poética 1993-2001. Hugin, 2002, Lisboa, 2003., p. 28

sábado, 19 de março de 2016

Animália

José Jorge Letria

''nós morremos dentro do que amamos''

escreveu, melancolicamente, Debussy.

Personagem heteronímica


''música letal''

''Morro todos os dias um pouco mais
naquilo que não escrevo''

José Jorge Letria
''Quantas vezes perdi o domínio da mão
que escreve, que afaga, que aponta,
deixa-me ficar enroscado num canto
a pensar no que poderia ter escrito
e não escrevi...''

José Jorge Letria

libérrimo

''Se pudesse amar-vos, era aqui que vos amava,
mas eu tornei-me inábil para os afectos,
incapaz de outra dádiva que não seja
o sangue do verso na ferida da voz.''


José Jorge Letria
''Não voltarei a escrever
enquanto não souber como escrever-me''.

José Jorge Letria
«(...) nada é realmente ao espírito a não ser as suas percepções ou impressões e ideias, e que os objectos exteriores se nos tornam conhecidos apenas mediante as percepções por eles ocasionadas. Odiar, amar, pensar, sentir, ver, tudo isto não é senão perceber.
    Ora, visto que nada está presente ao espírito a não ser as percepções e visto que todas as ideias derivam de algo que esteve anteriormente presente no espírito, segue-se que nos é impossível conceber ou formar uma ideia de algo especificamente diferente das ideias e das impressões. Fixemos a nossa atenção fora de nós tanto quanto possível; lancemos a nossa imaginação para o céu ou para os limites extremos do universo; de facto não avançamos um passo para além de nós próprios, nem podemos conceber nenhuma espécie de existência a não ser as percepções que aparecem nesta área limitada. Este é o universo da imaginação e não temos nenhuma ideia que lá não seja produzida.»


David HumeTratado da Natureza Humana. Tradução de Serafim da Silva Fontes. Prefácio e Revisão Técnica 
da Tradução de João Paulo Monteiro. 2ª Edição. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2010., p 101/102
«Tudo o que concebemos, concebemo-lo como existente. Qualquer ideia que queiramos formar é a ideia de um ser; e a ideia de um ser é qualquer ideia que queiramos formar.»


David HumeTratado da Natureza Humana. Tradução de Serafim da Silva Fontes. Prefácio e Revisão Técnica da Tradução de João Paulo Monteiro. 2ª Edição. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2010., p 100/101

«Uma ideia precisa nunca pode construir-se sobre ideias imprecisas e indeterminadas.»

David HumeTratado da Natureza Humana. Tradução de Serafim da Silva Fontes. Prefácio e Revisão Técnica da Tradução de João Paulo Monteiro. 2ª Edição. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2010., p 83
« Um músico, ao descobrir que o seu ouvido se torna cada vez mais apurado e que se corrige por reflexão e atenção, prolonga o mesmo acto mental mesmo quando lhe falta a matéria e tem noção duma tercina ou duma oitava, sem ser capaz de dizer donde tira o seu critério.»

David HumeTratado da Natureza Humana. Tradução de Serafim da Silva Fontes. Prefácio e Revisão Técnica da Tradução de João Paulo Monteiro. 2ª Edição. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2010., p 81


«Com meu sôfrego amor inexperiente,
Quis amar e ser amado.
Amei tudo ou toda a gente
Que se encontrou a meu lado...»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  77

3


JOGO DE ESPELHOS

«Entro ...seja onde for. Começo a disfarçar,
A fingir que estou bem, muito à vontade.
Mas a verdade é que não sei como hei-de estar,
Nem sei não deixar ver que esta é que é a verdade!»

(...)

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  73

«Vivo em adeus e em viagem.»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  63

«A minha alma dói-me...!, porque tu ma vês,»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  51

Alen MacWeeney, Nightwalkers, Dublin, Ireland, 1965.



«A um canto,
Com funda neurastenia,
Um piano faz ão-ão,
Faz ão-ão a toda a gente,
Como um pobre cão doente.»

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  50

E te queime a boca e a face


«Quero-te! e não são os teus muros

«Que hão-de impedir que te enlace,
«E te queime a boca e a face
«Com meu ósculo de fogo...»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  45

''Sorrisos de luto...''

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  34

«Eis o leito em que me deito,
No buraco do meu quarto,
E em que sofro a dor do parto,
Que não acaba,
De Mim Próprio!»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  32

«O cemitério das moscas
Bate-me, às vezes, na testa.»

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  31

Dorothea Lange. Untitled 1951.



«E ao fundo do espelho, o tal,
Com seu tique de ironia
Na boca fria,
Seus hirtos lábios agudos,
Seus olhos mudos,
Ensina-me a hipocrisia
De continuar a viver.»



José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  28

«Porque tens esse olhar triste,
Desenganado,»

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  27

morgue fria

lágrimas de chumbo

Qui-é, qui-é?

de.bal.de

em vão

«Sonhei que ela me espera, adormecida
                  Desde o começo da vida,»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  15

Edward Honaker (2015)


1

COLEGIAL

Em cima da minha mesa,
Da minha mesa de estudo,
Mesa da minha tristeza
Em que, de noite e de dia,
Rasgo as folhas, leito tudo
Destes livros que estudo,
E me estudo
(Eu já me estudo...)
E me estudo,
A mim,
Também,
Em cima da minha mesa,
Tenho o teu retrato, Mãe!»

(...)
José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  11

relações de alteridade e mesmidade

“If my film makes one more person
miserable, I’ll feel I’ve done my job”.

Woody Allen

narrativa fílmica

''O cinema é de todas as artes, a mais perceptiva,
por ser a que mais se aproxima da realidade,
assim como a conhecemos.''

Ed van der Elsken (Dutch, 1925-1990) Devant “Le Mabillon,” Geri, Vali, Roberto, the Three Main Characters of “Love on the Left Bank,” 1950


A definição do sujeito no cinema

''Os Dias Estranhos do Cinema ou a inconstância do eu e do outro nas
personagens e no encontro entre o mundo real e a ficção''

Cinefilia

''L’adieu à la littérature''

... a poesia inculca a ideia de que a palavra é livre e de que a língua é partilhada por todos, quando não há opressão maior e mais infame que a da língua.

Alberto Pimenta, IV de Ouros
''A elipse é um intervalo e o intervalo é aquilo que em regra descartamos, ou fingimos ignorar, como os intervalos brancos entre as palavras do poema ou  os intervalos negros que separam os fotogramas do filme.»
Powered By Blogger