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sábado, 6 de maio de 2017

«O paradoxo é uma elegante gravata que faz nó cego, quando se puxa demasiadamente por ela.»

Pitigrilli. a decadência do paradoxo. Tradução Portuguesa de Dr. Souza-Soares. Editorial Minerva, Lisboa., p. 7

quarta-feira, 13 de março de 2013



«É idiota não nos vermos quando temos esse direito (É melhor queimar depois o papel.) Desejava conhecê-lo e ter consigo uma franca conversa. Passe no domingo pela estrada da montanha e sente-se no muro do último atalho. Saudações de solidariedade.»
 
 

Cesare Pavese. Antes que o Galo Cante. Tradução de Fernanda Barreira.Editora Arcádia, Lisboa,
 p. 98

terça-feira, 20 de setembro de 2011

«À minha volta,
nas origens, só havia a Língua das Fraudes
instituídas, das ilusões devidas,
que as primeiras angústias
de um menino, as paixões pré-humanas,
já impuras, não exprimia.»


Pier Paolo Pasolini. Poemas. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Assírio & Alvim, Lisboa, 2005., p. 161

segunda-feira, 18 de abril de 2011

« Acalma-te, sê gentil - disseram-lhe os outros.
-Tu tens sempre argumentos para criticar as empresas dos teus camaradas não podes impedir que alguém se ria um pouco das tuas...
-Eu não ofendo ninguém: limito-me a precisar os factos, com lugares, datas e provas!
-Fui eu que falei. Também eu vou provar!»


Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 93
«Nem defende nem ataca, nada tem sentido - disse Torrismundo. - A guerra durará até à consumação dos séculos, não haverá nem vencedor nem vencido, ficaremos uns em frente dos outros para sempre. E sem uns e outros não seriam nada. E doravante somos nós que esquecemos porque combatemos...Ouves estas rãs? Tudo o que fazemos tem tanta lógica e tanto sentido como o seu grasnar, os seus saltos da água para a margem e da margem para a água...»




Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 93

Não se pode estar seguro de nada...

« E de que queres tu estar seguro? - interrompeu-o Torrismundo. - Decorações, postos, pompas, títulos...Tudo é uma patarata. Os escudos, com os feitos e as divisas dos paladinos, não são de ferro: são de cartão, que se pode atravessar com um dedo, de lado a lado.»


Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 92

sábado, 16 de abril de 2011

« - Eh pintainho, tens um belo encher de peito para a nossa paladina. A ela, agora, só lhe agrada uma couraça limpa por dentro e por fora. Não sabias que está apaixonada por Agilulfo?
   -Mas como pode ser...Agilulfo...Bradamante...Como é possível?
   -É possível quando uma mulher perdeu o desejo por todos os homens existentes, e o único desejo que lhe resta é por um homem que não existe...»


Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 88
    «No limite do campo, Agilulfo passava lentamente. Sobre a armadura branca pendia um longo manto negro. Caminhava como quem não quer olhar, mas sabe que o olham, e crê dever mostrar que isso não lhe importa, quando, pelo contrário, importa-lhe sim, mas de uma maneira diferente daquela que os outros poderiam compreender.»


Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 88
« - Acertas no alvo, mas sempre por acaso.
   - Por acaso? Não falho uma flecha.
   -Mesmo que atirasses bem cem flechas, era sempre por acaso.
   -Então o que é por acaso? Quem consegue acertar sem ser por acaso?»




Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 88

« Assim, desde sempre, o jovem corre para a mulher...

« Assim, desde sempre, o jovem corre para a mulher: mas é bem o amor que ela lhe inspirara? Ou não é antes o amor por ele próprio, a busca de uma certeza de existir que só a mulher lhe pode dar? Corre e enamora-se o jovem, duvidando de si mesmo, feliz e desesperado; para ele a mulher é esta presença incontestável, e só ela pode dar-lhe a prova desejada. Mas também a mulher está e não está ali: ei-la, assim como ele, ansiosa e insegura. Como é que o jovem não se apercebe disso? Que importa qual, entre os dois, é o mais forte ou o mais fraco? Estão à mesma altura. Mas o jovem não sabe porque não quer saber: o que ele deseja, avidamente, é a mulher que existe, a mulher indubitável. Ela, ao contrário, sabe mais coisas; ou menos; de qualquer maneira sabe outras coisas; agora é uma maneira diferente de ser que ela procura; fazem, em conjunto, um concurso de tiro ao arco; ela ri-se dele e não o aprecia; ele não sabe que é para se divertir.»



Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 87

sexta-feira, 15 de abril de 2011

«Em definitivo, a guerra é um tanto matadouro, um tanto rotina, e não vale a pena olhá-la de muito perto.»


Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 84

Rambaldo arrasta um morto e pensa

Rambaldo arrasta um morto e pensa: «ó morto, eu corro, eu corro para chegar aqui, como tu, para me fazer arrastar pelos calcanhares. O que valem esta fúria que me impele, esta ânsia de batalhas e de amores, vistas de onde as observam os teus olhos fechados, a tua cabeça caída que bamboleia sobre as pedras? Eu o sei, ó morto, és tu que me fazes saber. Mas o que muda? Nada. Não existem outros dias além daqueles nossos dias que nos levam à cova, para nós, vivos, e também para vós, mortos. Que me sejadado a não desperdiça-los, não perder nada do que sou e do que poderei ser.Cumprir acções ilustres para o exército franco. E abraçar, abraçado pelaorgulhosa Bradamante. Espero que tenhas empregado bem os teus dias, ó morto.Para ti, os dados já foram lançados. Para mim, ainda rodopiam no copo. E euamo, ó morto, a minha ansiedade, não a tua paz.»


Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 78

terça-feira, 5 de abril de 2011

«Combater com um companheiro ao lado é mais belo do que combater sozinho: encoraja e conforta. E o sentimento de ter um inimigo e o de ter um amigo fundem-se no mesmo calor.»



Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 59/60

domingo, 3 de abril de 2011

«(...) O vale abria-se, estriado pelos férteis campos de aveio e sebes dos medronheiros, onde o vento corria em grandes rajadas, carregadas de pólen e de borboletas. No céu flutuava a espuma das nuvens brancas.»


Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 41
« - Dai-lhe uma gamela de sopa! - disse, clemente, Carlos Magno.
    Com caretas, contorções e propósitos incoerentes, Gurdulú retirou-se para comer, debaixo de uma árvore.
    - Mas que faz ele, agora?
     Estava procurando meter a cabeça dentro da gamela, pousada no chão, como se quisesse entrar dentro dela. O bom jardineiro aproximou-se e puxou-o por um ombro: - Quando é que compreenderás, Martinzúl, que és tu que deves comer a sopa, e não a sopa te comer? Não te lembras? Deves levá-la à boca com a colher.
    Gurdulú começou a meter colheradas na boca, com avidez. Utilizava a colher com tanta fúria que, às vezes, errava o alvo. No tronco da árvore, sob a qual estava sentado, abria-se uma cavidade, mesmo à altura da sua cabeça. Gurdulú pôs-se a deitar colheradas de sopa no buraco do tronco.
 -Aquela não é a tua boca! É a árvore - disse o jardineiro.»



Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 40

sábado, 2 de abril de 2011

Tenho notado que, por todo o lado, os seus nomes mudam conforme as estações. Dir-se-ia que todos estes nomes passam por ele, sem nunca conseguirem fixar-se. É-lhe indiferente o nome que lhe dêem. Chamaste-lo e ele julgou que chamaste uma cabra: direi «queijo» ou «torrente» e ele responderá: «Estou aqui!»



Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 38
«Ele, Agilulfo, tinha sempre necessidade de sentir perante si as coisas como um espesso muro, ao qual contrapunha a força da sua vontade. Só assim conseguia manter uma segura consciência de si mesmo. Se, pelo contrário, o mundo que o envolvia se espumava, se tornava incerto, ambíguo, então também ele se sentia imergir na doce penumbra, e não conseguia mais fazer brotar, deste vazio, um pensamento distinto, um movimento voluntário, uma ideia fixa. Sentia-se mal: eram aqueles os momentos que tinha a sensação de que ia desaparecer. Só às custas de um supremo esforço conseguia não se dissolver. Então punha-se a contar: folhas, pedras, lanças, pinhas, qualquer coisa que estivesse à sua frente; ou a pô-las em fila, a ordená-las em quadrados ou em pirâmides. Aplicar-se a estas observações meticulosas permitia-lhe vencer o mal-estar, dominar a insatisfação, o marasmo, e encontrar a lucidez e a compostura habituais.
      Assim o viu Rambaldo: com gestos medidos e rápidos, dispunha as pinhas em triângulo e somava com obstinação as pinhas dos quadrados dos catetos, confrontando-as com as do quadrado da hipotenusa. Rambaldo compreendia que tudo se processava segundo rituais, convenções, protocolos, e, debaixo disto, o que é que havia, afinal de contas? Sentia-se tomado por uma angústia indefinida, sabendo-se fora de todas estas regras do jogo...Mas então, também o querer vingar a morte de seu pai, o ardor de combater, de se alistar, entre os guerreiros de Carlos Magno, não seriam mais do que um ritual, para não desaparecer no nada? Um pouco como o tirar-e-pôr das pinhas do cavaleiro Agilulfo? Oprimido pela perturbação de tão inesperadas perguntas, o jovem Rambaldo deitou-se no chão e começou a chorar.
     Sentiu qualquer coisa pousar-lhe nos cabelos, uma mão, uma mão de ferro mas leve. Agilulfo estava de joelhos diante dele.
      -Que tens, rapaz? Porque choras?
      Os estados de depressão, de desespero ou de furor nos outros seres humanos davam imediatamente a Agilulfo uma calma e uma segurança perfeita. O sentir-se imune à depressão e à angústia, a que estavam sujeitas as pessoas existentes, levaram-no a tomar uma atitude superior e protectora.
      -Perdoai-me - disse Rambaldo -, é sem dúvida fadiga. Em toda a noite não consegui fechar os olhos e agora encontro-me desorientado. Pudesse ao menos dormir um pouco...Mas agora é dia. E vós que tendes velado, como fazeis?
      -Eu ficaria perdido se adormecesse, nem que fosse por um momento - disse docemente Agilulfo -, não estaria mais em lado nenhum, perder-me-ia para sempre. Por isso eu passo bem acordado cada minuto do dia e da noite.
      -Deve ser mau...
       -Não! - A voz tornou-se seca e dura.
       -E a vossa armadura? Nunca a tirais de cima de vós?
       Tornou a murmurar:
       -Não tem nada dentro. Tirar ou pôr, para mim, não tem sentido.
        Rambaldo levantara a cabeça e olhava pela abertura da viseira, como se procurasse, naquela escuridão, a centelha de um olhar.
       - E como pode ser?
       - E como pode ser de outra maneira?
        A mão de ferro da armadura branca estava pousada ainda sobre os cabelos do jovem. Rambaldo sentia-a sobre a sua cabeça, apenas como uma coisa, sem lhe comunicar qualquer calor humano, consolador ou importuno que fosse. No entanto, sentia como se lhe propagasse uma tensa obstinação.»



Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 27-30

«Aquele é um cavaleiro que não existe.»

« - Mas como não existe? Eu ouvio-o. Existia.
   - O que é que viste? Ferragens...É alguém que existe sem existir, compreendes miúdo?»


Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 24

sexta-feira, 1 de abril de 2011

            «...De vez em quando, Agilulfo parava perplexo sem saber se devia comportar-se como quem, só pela sua presença, sabe impor o respeito pela disciplina, ou como quem, encontrando-se onde nada tem a fazer, recua, discreto, e toma um ar ausente. Nesta incerteza detinha-se pensativo e não conseguia tomar nem um nem outro partido. Só sentia que se tornava fastidioso e teria feito qualquer coisa para estabelecer relações com os seus próximos, como por exemplo, pôr-se a gritar ordens; injúrias dignas de um cabo, ou então dizer palavrões e zombar como à mesa de uma taberna. Em vez disso murmurava palavras de saudação ininteligíveis, com uma timidez mascarada de soberba, ou um orgulho moderado pela timidez, e passava adiante. Mas sempre que lhe parecia que os outros lhe dirigiam a palavra, voltava-se e dizia apenas; «Eh?», mas depois convencia-se logo que não era com ele que estavam a falar e ia-se embora como se fugisse.»
 
 
Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 17/8

''Porque eu não existo, Sire.''

   «Agilulfo deu alguns passos para se juntar a um dos grupos, depois, sem qualquer motivo, passou a outro, mas sem tentar misturar-se, e ninguém lhe prestou atenção. Parou, um pouco indeciso, atrás de uns ou de outros, sem participar nos seus diálogos; por fim, afastou-se. Caía o crepúsculo. No elmo, a pluma irisada parecia de uma única e indistinta cor; mas a armadura branca destacava-se, nítida, ali no prado. Agilulfo, como se de súbito se sentisse nu, cruzou os braços e contraiu os ombros. Depois recompôs-se e, em largos passos, dirigiu-se para as cavalariças.»


 
Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 11
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