«...De vez em quando, Agilulfo parava perplexo sem saber se devia comportar-se como quem, só pela sua presença, sabe impor o respeito pela disciplina, ou como quem, encontrando-se onde nada tem a fazer, recua, discreto, e toma um ar ausente. Nesta incerteza detinha-se pensativo e não conseguia tomar nem um nem outro partido. Só sentia que se tornava fastidioso e teria feito qualquer coisa para estabelecer relações com os seus próximos, como por exemplo, pôr-se a gritar ordens; injúrias dignas de um cabo, ou então dizer palavrões e zombar como à mesa de uma taberna. Em vez disso murmurava palavras de saudação ininteligíveis, com uma timidez mascarada de soberba, ou um orgulho moderado pela timidez, e passava adiante. Mas sempre que lhe parecia que os outros lhe dirigiam a palavra, voltava-se e dizia apenas; «Eh?», mas depois convencia-se logo que não era com ele que estavam a falar e ia-se embora como se fugisse.»
Italo Calvino. O Cavaleiro Inexistente. Tradução de Fernanda Ribeiro. Editorial Teorema, Lisboa, 1998. p. 17/8
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