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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

 ''Grades da Língua''


[...] (Se eu fosse como tu, se tu fosses como eu.
Não estivemos
sob um alísio?
Somos estranhos.)


Os ladrilhos. Em cima,
muito juntas, as duas 
poças cinzento-coração:
duas
baforadas de silêncio.

Paul Celan

quinta-feira, 21 de julho de 2011

UMA FOLHA, sem árvore,
para Bertolt Brecht:

Que tempos são estes
em que uma conversa
é quase um crime,
porque contém
tanta coisa dita?




Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 171
«ONDE EU me esqueci de ti,
tornaste-te pensamento,»



Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 153
«A morte
que me ficaste a dever, eu
carrego-a
até ao fim.»



Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 151
«É como se pudesse ouvir,
como se eu ainda te amasse»

«TU ERAS  a minha morte:
a ti podia agarrar-te
enquanto tudo me fugia.»



Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 141
QUANDO O BRANCO NOS AGREDIU, de noite;
quando do cântaro das dádivas saiu
mais do que água;
quando o joelho esfolado
avisou o sino do sacrifício:
Voa! -

Então
eu era
ainda inteiro.





Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 127
DIANTE O TEU ROSTO TARDIO,
so-
litário entre
noites que também me transformaram,
algo se imobilizou
que já outrora estivera connosco, in-
tocado por pensamentos.




Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 121
«Ainda e sempre
a escrita duma nídtida asa.»


Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 111
« eu sei,
eu sei e tu sabes, nós sabíamos,
nós sabíamos, nós
afinal estávamos aqui e não lá
e às vezes, quando
entre nós só havia o Nada, o nosso
encontro era perfeito.»




Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 101

quarta-feira, 20 de julho de 2011

HAVIA TERRA NELES, e
cavavam.

Cavavam e cavavam, assim passava
o seu dia, a sua noite. E não louvavam a Deus,
que, segundo ouviam, queria tudo isto,
que, segundo ouviam, sabia tudo isto.

Cavavam e não ouviam mais nada;
não se tornavam sábios, não inventavam nenhuma canção,
não imaginavam qualquer espécie de linguagem.
Cavavam.

Veio um silêncio, veio também uma tempestade,
vieram os mares todos.
Eu cavo, tu cavas, e o verme cava também,
e aquilo que ali canta diz: eles cavam.

Oh um, oh nenhum, oh ninguém, oh tu:
para onde íamos que não fomos para lado nenhum?
Oh tu cavas e eu cavo, cavo-me para chegar a ti,
e no dedo acorda-nos o anel.



Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 99
*

Veio. Veio. Em parte alguma
                                                                       perguntam -

Sou eu, eu,
estava entre vós, estava
aberto, era
audível, toquei-vos, a vossa respiração
obedeceu, sou
eu ainda, mas vocês
estão a dormir.






Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 85

ARGUMENTUM E SILENTIO

Para René Char

Acorrentada
entre o ouro e o esquecimento:
a noite.
Ambos a desejaram.
A ambos se ofereceu.

Põe,
põe tu também ali o que
amanhecerá com os dias:
a palavra sobrevoada de estrelas,
submersa pelo mar.

A cada qual sua palavra.
A cada qual a palavra cantou para ele,
quando a matilha o atacou pelas costas -
A cada qual a palavra que cantou para ele, petrificando.

A ela, a noite,
sobrevoada de estrelas, submersas pelo mar,
a ela, ganha pelo silêncio,
a quem não gelou o sangue quando o dente venenoso
atravessou as sílabas.

(...)




Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 69
«Nós vemos-te, terra, nós vemos-te.
De alma em alma
expões-te,
de sombra em sombra.
Assim respiram os incêndios do tempo.»




Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 67

IN MEMORIAM PAUL ÉLUARD

Depõe no túmulo do morto as palavras
que ele pronunciou para viver.
Deita-lhe a cabeça entre elas,
fá-lo sentir
as falas da nostalgia,
as facas.

Depõe sobre as pálpebras do morto a palavra
que ele recusa àquele
que o tratava por tu,
a palavra
que viu passar por ela o sangue do seu coração,
quando uma mão, despida como a sua,
atou aquele que o tratava por tu
às árvores do futuro.

Depõe-lhe esta palavra sobre as pálpebras:
talvez
surja nos seus olhos, ainda azuis,
um outro, mais estranho, tom de azul,
e aquele que o tratava por tu
sonhe com ele: Nós.




Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p. 63

terça-feira, 19 de julho de 2011

«Procurei os teus olhos quando os ergueste e ninguém te olhou,
estendi aquele secreto fio
por onde o orvalho que imaginaste
escorreu para os jarros
guardados pela palavra que nenhum coração acolheu.»




Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.33
«Ela sabe as palavras mas limita-se a sorrir.

Mistura o seu sorriso no cálice do vinho:
tens de o beber, para estar no mundo.»




Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.27
«Sem ver
cala-se agora o teu olhar no meu
vagueando
ergo o teu coração aos lábios,
ergues o meu coração aos teus:
o que agora bebemos
mata a sede das horas;
o que agora somos
é servido pelas horas do tempo.»



Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.25
«QUEM ARRANCA  de noite o coração do peito deseja a rosa.
Pertencem-lhe a sua folha e o seu espinho.»



Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.19

segunda-feira, 18 de julho de 2011

«É tempo que a pedra se decida a florir,
que ao desassossego palpite um coração.
É tempo que seja tempo.

É tempo.»



Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.15

Elogio da distância

«Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.»




Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.13
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