Mostrar mensagens com a etiqueta Juan Ramón Jimenez. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Juan Ramón Jimenez. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Arre! (digo eu)

«- O burro não pode entrar, senhor.
  -O burro? Que burro? - digo-lhe, olhando para mais além de Platero, esquecido, naturalmente, da sua forma animal.
  -Que burro há-de ser, senhor, que burro há-de ser...!
    Então, já na realidade, uma vez que Platero '' não pode entrar'', por ser burro, eu, por ser homem, não quero entrar, e vou-me com ele outra vez embora contornando as grades, fazendo-lhe festas e falando-lhe doutra coisa...»




Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.107/108

terça-feira, 28 de junho de 2011

«De vez em quando, Platero deixa de comer e olha para mim...Eu, de vez em quando, deixo de ler e olho para Platero...»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.95
«A solidão é como um grande pensamento de luz.»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.95

ELA E NÓS

  Platero: ela ia talvez - para onde? - naquele comboio negro e cheio de sol que, lá em cima, recortando-se nas grossas nuvens brancas, fugia para o norte.
   Eu estava em baixo, contigo, no trigo amarelo e ondulante, todo gotejado pelo sangue das papoilas a que Julho punha já uma coroazinha de cinza. E as nuvenzinhas de vapor celeste - lembras-te? - entristeciam um momento o sol e as flores, rodando em vão para o nada...
   Breve cabeça loura, velada de negro...! Era como o retrato da ilusão na moldura fugaz da janela.
   Talvez ela pensasse: - Quem será aquele homem de luto e aquele burrico de prata?
   Quem havia de ser! Nós...Não é, Platero?




Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.88

domingo, 26 de junho de 2011

O Poço

      O poço...! Platero, que palavra tão funda, tão verde-negra, tão fresca, tão sonora! Parece que é a palavra que perfura, girando, a terra escura, até chegar à água fria.
     Olha; a figueira adorna e destroça-lhe o parapeito. Dentro, ao alcance da mão, abriu-se, entre os ladrilhos limosos, uma flor azul de cheiro penetrante. Uma andorinha tem, mais abaixo, o ninho. E depois, para lá de um pórtico de sombra gelada, há um palácio de esmeralda, e um lago, que, ao atirar-se uma pedra para a sua placidez, se zanga e grunhe. E o céu, por fim.
   (Entra a noite, e a lua inflama-se lá no fundo, ornada de volúveis estrelas. Silêncio! Pelos caminhos, a vida partiu para longe. Pelo poço escapa-se a alma para o fundo. Vê-se através dele como que o outro lado do crepúsculo. E parece que da sua boca vai sair o gigante da noite, senhor de todos os segredos do mundo. Ó labirinto quieto e mágico, parque sombrio e fragrante, magnético salão encantado!)
    - Platero, se algum dia me deitar a este poço, não será para me matar, acredita, mas para alcançar mais depressa as estrelas.
    Platero zurra, sedento e anelante. Do poço sai, assustada, inquieta e silenciosa, uma andorinha.




Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.73
   «Esta flor viverá poucos dias, Platero, embora a sua lembrança possa ser eterna.»



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.70

sábado, 25 de junho de 2011

A árvore do Curral

        Esta árvore, Platero, esta acácia que eu próprio semeei, verde chama que foi crescendo, Primavera após Primavera, e que agora mesmo nos cobre com a sua abundante e franca folhagem atravessada pelo sol poente, era, enquanto vivi nesta casa, hoje fechada, o melhor suporte para a minha poesia. Qualquer ramo seu, engalanado de esmeralda por Abril ou de ouro por Outubro, me refrescava o rosto, só de olhá-lo um pouco, como a mão mais pura de uma musa. Que delicada, que grácil, que bonita era!
        Hoje, Platero, é senhora de quase todo o curral. Que densa se pôs! Não sei se se lembrará de mim. A mim, parece-me outra. Neste tempo todo em que me tinha esquecido dela, como se não existisse, a Pimavera foi-a moldando, ano após ano, a seu capricho, fora do agrado do meu sentimento.
          Não me diz nada hoje, apesar de ser uma árvore, e uma árvore plantada por mim. Uma árvore qualquer que acariciamos pela primeira vez, enche-nos de sentido o coração, Platero. Uma árvore que amámos tanto, que tão bem conhecemos, não nos diz nada quando a voltamos a ver, Platero. É triste; mas é inútil dizer mais. Não, já não consigo ver, nesta fusão da acácia com o ocaso, a minha lira pendurada. O ramo gracioso já não me traz o verso, nem a iluminação interna da copa o pensamento. E aqui, aonde tantas vezes vim na minha vida, com uma ilusão de solidão musical, fresca e perfumada, sinto-me mal, e tenho frio, e quero ir-me embora, como outrora do casino, da botica ou do teatro, Platero.



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.64

Amizade

   Entendemo-nos bem. Eu deixo-o ir à sua vontade e ele leva-me sempre onde eu quero.
   Platero sabe que, ao chegar ao pinheiro da Coroa, gosto de me aproximar do tronco, acariciá-lo e olhar o céu através da sua enorme e clara copa; sabe que me deleita o caminhito que leva, entre a relva, até à Fonte velha; que é para mim uma festa ver o rio do alto da colina dos pinheiros, evocadora, com seu bosquezinho elevado, de clássicas paragens. Se dormito, confiado, em cima dele, o meu despertar abre-se sempre para um desses amáveis espectáculos.
     Trato Platero como se fosse um menino. Se o caminho se torna fragoso, e lhe custa um pouco, desmonto para aliviá-lo. Beijo-o, engano-o, faço-o afirmar...Percebe bem que o amo e não me guarda rancor. É igual a mim, tão diferente dos outros, que cheguei a pensar que sonha os meus próprios sonhos.
   Platero rendeu-se-me como uma adolescente apaixonada. De nada protesta. Sei que sou a sua felicidade. Até foge dos burros e dos homens....



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.62
« - Platero, não sei se vais ou não perceber o que te digo: mas esse menino tem na sua mão a minha alma.»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.61

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Demónio

    De súbito, como um firme e solitário trote, duplamente sujo numa alta nuvem de pó, pela esquina do Trasmuro, aparece o burro. Um momento depois, ofegantes, puxando as calças andrajosas caídas, que lhes deixam ao léu as barrigas escuras, os garotos atiram-lhe paus e pedras...
    É preto, grande, velho, ossudo - outro arcipestre -, tanto, que parece que a pele sem pêlo em todo o lado se vai esburacar. Estaca e, mostrando uns dentes amarelos como grandes favas, zurra ferozmente para o ar com uma energia que não se enquadra com a sua desgraciosa velhice...É um burro perdido? Não o conheces, Platero? Que quererá? De quem virá ele a fugir, com aquele trote desigual e violento?
    Ao vê-lo, Platero faz um corno, primeiro, com as duas orelhas numa única ponta; depois, deixa uma em pé e a outra caída; e vem para o pé de mim, e quer esconder-se na valeta, e fugir - tudo ao mesmo tempo. O burro preto passa ao lado dele, dá-lhe um encontrão, puxa-lhe a albarda, cheira-o, zurra contra o muro do convento e vai-se embora, trotando, Transmuro abaixo...
    ...É, no calor, um momento estranho de arrepio - meu, de Platero? - em que as coisas parecem transtornadas, como se a sombra baixa de um pano negro diante do sol ocultasse, subitamente, a solidão deslumbrante do cotovelo da viela, onde o ar, subitamente quieto, asfixia...Pouco a pouco, a vida distante faz-nos voltar ao real. Ouve-se, lá em cima, a vozearia incerta da praça do peixe, onde os vendedores que acabam de chegar da Ribeira apregoam as suas azevias, os seus salmonentes, as suas bogas, o seu goraz, os seus caranguejos; o dobrar do sino, que anuncia o sermão da manhã; a gaia do amolador...
   Platero treme ainda, de vez em quando, olhando-me, amedrontado, na quietude muda em que ficámos os dois, sem saber porquê...
   - Platero, a mim parece-me que esse burro não é um burro...
   E Platero, mudo, treme de novo todo ele num só tremor, brandamente ruidoso, e olha, desconfiado, para a valeta, carrancudo e cabisbaixo.



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 48/9
«- Alma minha, lírio na sombra! - disse.
E pensei, de repente, em Platero, que, embora por baixo de mim, como se fosse o meu corpo, eu esquecera.»



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 38

Paisagem escarlate

   O cume. Aí está o ocaso todo empurpurado, ferido pelos seus próprios cristais, que lhe fazem sangue em toda a parte. Perante o seu esplendor, o pinhal verde exacerba-se, vagamente afogueado; e as ervas e as florzinhas, incendiadas e transparentes, embalsamam o instante sereno de uma essência molhada, penetrante e luminosa.
   Eu fico extasiado no crepúsculo. Platero, com os seus olhos negros, escarlates de ocaso, vai, manso, a um charco de águas carmesim, cor-de-rosa, violeta; mergulha suavemente a boca nos espelhos, que parece tornarem-se líquidos quando os toca; e há pela sua enorme garganta como que um passar profuso de sombrias águas de sangue.
   O lugar é conhecido, mas o momento transforma-o e fá-lo estranho, desolado e monumental. Dir-se-ia, a cada instante, que vamos descobrir um palácio abandonado...A tarde prolonga-se para além de si mesma, e a hora, contagiada de eternidade, é infinita, pacífica, insondável...
    -Vamos, Platero...


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 34

quarta-feira, 15 de junho de 2011

    «Nunca esquecerei, Platero, aquela noite de Setembro. A trovoada palpitava sobre a aldeia havia uma hora, como um coração doente, descarregando água e pedra entre a desesperadora insistência do relâmpago e do trovão.»


Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 32

terça-feira, 14 de junho de 2011

ANGELUS!

  Olha, Platero, quantas rosas caem por todo o lado: rosas azuis, cor-de-rosa, brancas, sem cor...Dir-se-ia que o céu se desfaz em rosas. Olha como se enchem de rosas o rosto, os ombros, as mãos...Que farei com tantas rosas?
    Saberás por acaso de onde vem esta branca flora, que eu não sei de onde é. que enternece em cada dia a paisagem e a deixa docemente rosada, branca e azul - mais rosas, mais rosas -, como um quadro de Fra Angelico, o que pintava o céu de joelhos?
    Dir-se-ia que das sete galerias do Paraíso lançam rosas para a terra. Como um nevão ténue e vagamente colorido, ficam as rosas na torre, no telhado, nas árvores. Vê: tudo o que é forte se torna, com seu adorno, delicado. Mais rosas, mais rosas, mais rosas...
    Parece, Platero, enquanto soam as Ave-Marias, que esta nossa vida perde a sua força quotidiana, e que outra força de dentro, mais elevada, mais constante e mais pura, faz com que tudo, como em repuxos de graça, suba às estrelas, que se acendem já entre as rosas...Mais rosas...Os teus olhos, que tu não vês, Platero, e que ergues mansamente para o céu, são duas belas rosas.



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 23

sábado, 11 de junho de 2011

BORBOLETAS BRANCAS

       A noite cai, brumosa já e arroxeada. Vagas claridades rosadas e verdes demoram-se atrás da igreja. O caminho sobe, cheio de sombras, de campainhas, de fragância de erva, de canções, de cansaço e de ânsia. De súbito, um homem escuro, com um gorro e um aguilhão, avermelha um instante a sua cara feia com a luz de um cigarro, desce até nós de um casebre miserável, perdido entre sacos de carvão. Platero assusta-se.
       - Nada a declarar?
       - Veja o senhor...Borboletas brancas...
      O homem quer cravar o aguilhão de ferro na ceirazita e não o impeço. Abro o alforge e ele não vê nada. E o alimento ideal passa, livre e cândido, sem pagar o seu dízimo...




Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 14

PLATERO

      Platero é pequeno, peludo, suave; tão brando por
fora que se diria todo de algodão, que não tem
ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são
duros como dois escravelhos de cristal negro
     Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia debil-
mente com o seu focinhito, roçando-as apenas, as flor-
zinhas cor-de-rosa, azuis e amarelas...Chamo-o
docemente: ''Platero!'', e vem ter comigo num trote-
zinho alegre que parece rir-se, com não sei que som
de guizos ideal...
      Come tudo o que lhe dou. Gosta das laranjas, das
tangerinas, das uvas moscatel, todas de âmbar, dos
figos arroxeados, com a sua cristalina gotinha de
mel...
     É terno e mimoso como um menino, como uma
menina...; mais forte e seco por dentro, como de
pedra. Quando passo em cima dele, aos domingos,
pelas últimas ruelas da aldeia, os homens do campo,
vestidos de lavado e vagarosos, ficam a olhá-lo: -
Tem aço...
   Tem aço. Aço e prata de lua, ao mesmo tempo.



Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 13

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A Juan Ramón Jiménez

¿Tienes, joven amigo, ceñida la coraza
para empezar, valiente, la divina pelea?
¿Has visto si resiste el metal de tu idea
la furia del mandoble y el peso de la maza?

¿Te sientes con la sangre de la celeste raza
que vida con los números pitagóricos crea?
¿Y, como el fuerte Herakles al león de Nemea,
a los sangrientos tigres del mal darías caza?

¿Te enternece el azul de una noche tranquila?
¿Escuchas pensativo el sonar de la esquila
cuando el Angelus dice el alma de la tarde?...

¿Tu corazón las voces ocultas interpreta?
Sigue, entonces, tu rumbo de amor. Eres poeta.
La belleza te cubra de luz y Dios te guarde.



Rubén Darío
«Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio, que dir-se-ia todo de algodão, que não tem ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro.Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o focinho, mal as roçando, as florinhas róseas, azuis-celestes e amarelas... Chamo-o docemente: «Platero», e ele vem até mim com um trote curto e alegre que parece rir em não sei que guizalhar ideal...Come o que lhe dou. Gosta das tangerinas, das uvas moscatéis, todas de âmbar, dos figos roxos, com sua cristalina gotita de mel...E terno e mimoso como um menino, como uma menina...; mas forte e seco como de pedra. Quando nele passo, aos domingos, pelas últimas ruelas da aldeia, os camponeses, vestidos de lavado e vagarosos, param a olhá-lo:— Tem aço...Tem aço. Aço e prata de luar, ao mesmo tempo.»


Juan Ramón Jiménez, Platero e Eu.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

196

Se a beleza imensa me responde ou não


Procurando-te como estou a procurar-te,
não posso ofender-te, deus, o que tu fores;
nem poderias ser ente de ofensa.

Se te posso, e eu sei que posso, ouvir
todo o mistério que és,
e não mo dizes como to pergunto,
não estou a ofender-te.

E sei que te penso
da melhor maneira que eu quero,
em verdade de beleza,
beleza de verdade que é o meu percurso.
E, se te penso assim,
eu não posso ofender-te.

Graças, eu dou-tas sempre. A quem as dou?
À beleza imensa, se eu as dou,
pois sou bem capaz de conseguir,
que tu tocaste, que és tu.

Se a beleza imensa me responde ou não,
eu sei que não te ofendo nem a ofendo.


Juan Ramón Jimenez. Antologia Poética. Selecção e Trad. de José Bento. Relógio D'Água, 1992, p. 182/3

190

No melhor que tenho



Mar verde e céu cinzento e céu azul
e albatrozes amorosos na onda,
e em tudo, o sol, e tu no sol, olhando sempre,
deus desejado e desejante,
a iluminar de outros diferentes meu chegar,
a chegada de este que sou agora eu,
de este que ontem mesmo eu duvidava
que pudesse ser em ti como eu o sou.

Que mudança de homem em mim, deus desejante,
de ser incrédulo na lenda
dos deus de tantos faladores,
em ser firme crente
na história que eu próprio criei
desde toda a minha vida para ti!

Agora chego a este termo
de um ano da minha vida natural,
no meu fundo de ar em que te tenho,
em cima deste mar, fundo de água;
este formoso termo que me cega
onde me vais entrando,
contente de ser teu e de ser meu
no melhor que eu tenho, a minha expressão.


Juan Ramón Jimenez. Antologia Poética. Selecção e Trad. de José Bento. Relógio D'Água, 1992, p. 175/6
Powered By Blogger