Platero: ela ia talvez - para onde? - naquele comboio negro e cheio de sol que, lá em cima, recortando-se nas grossas nuvens brancas, fugia para o norte.
Eu estava em baixo, contigo, no trigo amarelo e ondulante, todo gotejado pelo sangue das papoilas a que Julho punha já uma coroazinha de cinza. E as nuvenzinhas de vapor celeste - lembras-te? - entristeciam um momento o sol e as flores, rodando em vão para o nada...
Breve cabeça loura, velada de negro...! Era como o retrato da ilusão na moldura fugaz da janela.
Talvez ela pensasse: - Quem será aquele homem de luto e aquele burrico de prata?
Quem havia de ser! Nós...Não é, Platero?
Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.88
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