A noite cai, brumosa já e arroxeada. Vagas claridades rosadas e verdes demoram-se atrás da igreja. O caminho sobe, cheio de sombras, de campainhas, de fragância de erva, de canções, de cansaço e de ânsia. De súbito, um homem escuro, com um gorro e um aguilhão, avermelha um instante a sua cara feia com a luz de um cigarro, desce até nós de um casebre miserável, perdido entre sacos de carvão. Platero assusta-se.
- Nada a declarar?
- Veja o senhor...Borboletas brancas...
O homem quer cravar o aguilhão de ferro na ceirazita e não o impeço. Abro o alforge e ele não vê nada. E o alimento ideal passa, livre e cândido, sem pagar o seu dízimo...
Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 14
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