Olha, Platero, quantas rosas caem por todo o lado: rosas azuis, cor-de-rosa, brancas, sem cor...Dir-se-ia que o céu se desfaz em rosas. Olha como se enchem de rosas o rosto, os ombros, as mãos...Que farei com tantas rosas?
Saberás por acaso de onde vem esta branca flora, que eu não sei de onde é. que enternece em cada dia a paisagem e a deixa docemente rosada, branca e azul - mais rosas, mais rosas -, como um quadro de Fra Angelico, o que pintava o céu de joelhos?
Dir-se-ia que das sete galerias do Paraíso lançam rosas para a terra. Como um nevão ténue e vagamente colorido, ficam as rosas na torre, no telhado, nas árvores. Vê: tudo o que é forte se torna, com seu adorno, delicado. Mais rosas, mais rosas, mais rosas...
Parece, Platero, enquanto soam as Ave-Marias, que esta nossa vida perde a sua força quotidiana, e que outra força de dentro, mais elevada, mais constante e mais pura, faz com que tudo, como em repuxos de graça, suba às estrelas, que se acendem já entre as rosas...Mais rosas...Os teus olhos, que tu não vês, Platero, e que ergues mansamente para o céu, são duas belas rosas.
Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 23
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