Platero é pequeno, peludo, suave; tão brando por
fora que se diria todo de algodão, que não tem
ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são
duros como dois escravelhos de cristal negro
Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia debil-
mente com o seu focinhito, roçando-as apenas, as flor-
zinhas cor-de-rosa, azuis e amarelas...Chamo-o
docemente: ''Platero!'', e vem ter comigo num trote-
zinho alegre que parece rir-se, com não sei que som
de guizos ideal...
Come tudo o que lhe dou. Gosta das laranjas, das
tangerinas, das uvas moscatel, todas de âmbar, dos
figos arroxeados, com a sua cristalina gotinha de
mel...
É terno e mimoso como um menino, como uma
menina...; mais forte e seco por dentro, como de
pedra. Quando passo em cima dele, aos domingos,
pelas últimas ruelas da aldeia, os homens do campo,
vestidos de lavado e vagarosos, ficam a olhá-lo: -
Tem aço...
Tem aço. Aço e prata de lua, ao mesmo tempo.
Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p. 13
sábado, 11 de junho de 2011
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