quarta-feira, 30 de outubro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Agradas-me
«Agradas-me, diz ele, e cospe para cima da pedra uma casca de girassol, és boa na cama. Há ali perto um banco e em cima do banco está uma garrafa vazia, és de certeza boa a foder, diz ele, e sobre o próximo banco empinam-se de ferro os pregos despidos onde antes havia uma tábua para sentar. Ela diz: desaparece e senta-se no terceiro banco vazio. Ela chega-se para o meio, ele cospe a casca de girassol para cima do banco, ela encosta-se para trás. Ele senta-se. Não lhe faltam para aí bancos, diz ela e chega-se para a ponta, ele encosta-se para trás e olha-a no rosto. Ela já não está encostada, desapareça ou eu grito, diz ela. Ele levanta-se, não faz mal, diz ele, não faz mal. Ri-se para dentro, abre as calças, segura o seu membro na mão. Então despeço-me, diz ele, e mija para o rio. Ela levanta-se, a língua sobe-lhe até aos olhos, de nojo, ao primeiro passo não vê as lajes de pedra. Sente a cabeça encher-se de água fria pelas duas orelhas. Ele sacode as pingas do membro. Eu pago-te, grita ele atrás dela, eu dou-te cem lei, eu mijo-te na boca.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 178/9
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Já então a raposa era o caçador
«Mas os ramos estalam e as gralhas voam para os ninhos e grasnam, pressentem o nevoeiro que lentamente se derrama sobre as árvores.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 171/2
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 171/2
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Já então a raposa era o caçador
«Despe o casaco e os colãs. Deita-se na cama. Os dedos dos pés estão frios, a camisa de noite, a cama
estão frias. Os olhos estão frios. Ouve o coração bater na almofada.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 168
estão frias. Os olhos estão frios. Ouve o coração bater na almofada.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 168
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Já então a raposa era o caçador
«Despe o casaco e os colãs. Deita-se na cama. Os dedos dos pés estão frios, a camisa de noite, a cama
estão frias. Os olhos estão frios. Ouve o coração bater na almofada.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 168
estão frias. Os olhos estão frios. Ouve o coração bater na almofada.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 168
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Já então a raposa era o caçador
«E este é um relógio pendurado na parede, e esta é uma chave pousada na mesa, e lá fora um dia quase a nascer, eu não estou louca, agora são oito horas, e todos os dias são oito horas, e eu nunca me embebedei, quero embebedar-me agora, e não só quando forem dez horas.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 164/5
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Já então a raposa era o caçador
«Aqui é preciso esquecer todos os dias, diz Ilie, de mim só sei uma coisa, que penso sempre em ti.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 158/9
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Já então a raposa era o caçador
«O sono também segue viagem, o suor de inverno tem um cheiro amargo, (...)»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 151/2
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 151/2
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Já então a raposa era o caçador
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Gérard de Nerval
«Era um homem que distendia as suas depressões (acabaria no suicídio) ...»
(...)
«(...) e possuir uma personalidade estranha, tocada de períodos de loucura, que precisamente dava a tudo quanto escrevia um para além que andava arredado das letras de então.»
(...)
«(...) e possuir uma personalidade estranha, tocada de períodos de loucura, que precisamente dava a tudo quanto escrevia um para além que andava arredado das letras de então.»
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer.
José Luís Peixoto. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 324
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer.
de A criança em Ruínas
José Luís Peixoto. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 324
5
encostávamos o dorso às paredes da casa
para sentir algo mais forte que nós
contra os medos que a pique nos devoram o
canto do olhar
éramos indefesos rebentos
enxertos que viviam da polpa dos sonhos
e ninguém podia entender-nos
de contra o esquecimento das mãos
João Ricardo Lopes. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 315
37.
psicanálise do Movimento: quem é louco e em que parte do Corpo.
qual o órgão louco?
o espaço louco?
Gonçalo M. Tavares. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 301
qual o órgão louco?
o espaço louco?
de Livro da Dança
Gonçalo M. Tavares. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 301
14.
A história da dança não é, não pode ser, o Percurso dos Movimentos
traçado no chão.
É, tem de ser, o Percurso dos Movimentos Traçados no ar.
Acreditar que os Pássaros são restos de COREOGRAFIAS. Imagens
do corpo que ficam atrás, suspensas.
(As nuvens ainda, tudo o que é alto, o céu.)
Os pássaros são restos de COREOGRAFIAS.
Gonçalo M. Tavares. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 299
traçado no chão.
É, tem de ser, o Percurso dos Movimentos Traçados no ar.
Acreditar que os Pássaros são restos de COREOGRAFIAS. Imagens
do corpo que ficam atrás, suspensas.
(As nuvens ainda, tudo o que é alto, o céu.)
Os pássaros são restos de COREOGRAFIAS.
de Livro da Dança
Gonçalo M. Tavares. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 299
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Sing me to sleep
à Marjan, onde quer que esteja
o tojo abundava nas vertentes,
havia as rochas, os montes amarelos,
o rumor fundo dos bichos na arcadura
das chãs.
entre o meu silêncio e o teu
cresceu um verso com a tua boca
perto dos meus sentidos.
sabíamos que a chuva regressaria
eventualmente, as tuas cartas
ainda as tenho.
de Geografia das Estações
Rui Pires Cabral. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 236
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Dia dos namorados
Vingo com versos os dias em que a tristeza me não deixou fazer nada
e há sempre tanto por fazer escrever um livro ouvir falarem desta poesia
que me é sempre mais estranha do que qualquer outra se dela falo a
vingo com versos o vento que se vai afastando o verão e segue o tempo
e o homem que nunca fui senão a pensar que só vive nestas páginas
traz na mão um ceptro de palavras futuras
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
mas vingo primeiro as vozes azuis junto à praia onde sonhei poder
primeiro moreno depois de todas as cores onde te vi e te quis
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
e vingo esperar pelo meu amor à porta deste coração que nunca viste
mesmo quando o mar me abraçava e me devorava de beijos e tinhas
ciúmes
que hoje todas to retribuirão pelo menos um beijo àqueles que amam
sem que deixem de sentir ciúme desse ciúme mais antigo
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
vingo quem hoje do belo não tenha um corpo
e abra este livro e me ajude a cravar os versos no teu rosto
julgando esta vida mais estranha do que qualquer outra
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar.
Paulo José Miranda. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 227
e há sempre tanto por fazer escrever um livro ouvir falarem desta poesia
que me é sempre mais estranha do que qualquer outra se dela falo a
[própria vida
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amarvingo com versos o vento que se vai afastando o verão e segue o tempo
e o homem que nunca fui senão a pensar que só vive nestas páginas
traz na mão um ceptro de palavras futuras
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
mas vingo primeiro as vozes azuis junto à praia onde sonhei poder
[ter-te
e sei que jamais saberei a verdade que seria desconhecer o teu rostoprimeiro moreno depois de todas as cores onde te vi e te quis
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
e vingo esperar pelo meu amor à porta deste coração que nunca viste
mesmo quando o mar me abraçava e me devorava de beijos e tinhas
ciúmes
que hoje todas to retribuirão pelo menos um beijo àqueles que amam
sem que deixem de sentir ciúme desse ciúme mais antigo
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar
vingo quem hoje do belo não tenha um corpo
e abra este livro e me ajude a cravar os versos no teu rosto
julgando esta vida mais estranha do que qualquer outra
porque aqui não se pode amar senão deixar-se amar.
de A Arma do Rosto
Paulo José Miranda. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 227
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Amor, vi morrer a flor.
Paulo José Miranda. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 225
Eduquei a sensibilidade para sofrer mais tarde
Paulo José Miranda. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 221
«Adina quer ser o caçador, pensa Clara.
Tens mais medo do que eu, diz Adina. Não olhes para lá, não olhes mais para a raposa.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 142
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Já então a raposa era o caçador
« Tens medo, diz Adina, pareces a morte. E Clara assusta-se, o olhar é retilíneo e cortante. Clara vê um rosto que se foi embora. Está distorcido, as faces sozinhas, os lábios sozinhos, a um tempo inanimados e ávidos. Um rosto de perto e de frente igualmente vazio, como uma fotografia sem nada lá dentro.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 141
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Já então a raposa era o caçador
«Desejava a raposa há tanto tempo que a alegria de a receber no dia seguinte era já meia razão para ter medo.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 140
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 140
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Já então a raposa era o caçador
«o que sabemos nós não perguntamos.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 123
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Já então a raposa era o caçador
«Na janela da frente está uma mulher a regar as petúnias. Já não é nova e ainda não é velha, dizia Paul há uns anos atrás. Já então ela tinha o cabelo ruivo-acastanhado de ondas grandes, então, quando Paul ainda vivia em casa de Adina. E o vidro da janela já então tinha aquela rachadura oblíqua. Passaram-se cinco anos, que não tocaram o rosto daquela mulher. O cabelo não ficou mais liso, mais desmaiado. E as petúnias brancas são todos anos outras e, contudo, as mesmas.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 120
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Já então a raposa era o caçador
terça-feira, 15 de outubro de 2013
«Mãe, eu vou-me embora - esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.»
Maria do Rosário Pedreira. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 207
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.»
Maria do Rosário Pedreira. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 207
«o dia mostrou as suas pálpebras tristes»
Maria do Rosário Pedreira. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 205
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verso solto
« e o sol ferir-se nos espinhos das roseiras»
Maria do Rosário Pedreira. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 205
«Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém.»
Maria do Rosário Pedreira. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 204
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Maria do Rosário Pedreira,
verso solto
«Outra vez sem selos, sem carimbo, sem remetente. Dentro do envelope está outra vez a folha quadriculada do tamanho de uma mão, rasgada de viés, outra vez a mesma frase com a mesma letra EU FODO-TE NA BOCA.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 96
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Já então a raposa era o caçador
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
«O sangue das melancias não consegue amarrar o prazer do oficial, nada resulta contra o prazer, porque ele voa, desenvencilha-se de tudo o que o prende. Voa para outras mulheres, porém, o sangue da melancia deposita-se à volta do coração do homem. Coalha e fecha o coração. O coração do oficial não consegue reter a imagem de outras mulheres, disse a filha da serviçal, o oficial consegue enganar a sua mulher, mas não consegue deixá-la.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 69
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Já então a raposa era o caçador
domingo, 13 de outubro de 2013
«Dentro da retrete jaz algodão inchado. A água está ferrugenta, sorveu o sangue do algodão. A tampa da retrete tem coladas sementes de melancia.
Quando as mulheres trazem algodão entre as pernas, carregam no ventre o sangue das melancias. Todos os meses os dias das melancias e o peso das melancias, isso dói.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 68
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Já então a raposa era o caçador
«(...), um morto por quem muito se chora, diz ele, torna-se uma árvore, e um morto por quem ninguém chora torna-se uma pedra. Mas se algures no mundo morre alguém e algures no mundo outros choram por ele, isso de que serve, diz a mulher, todos se tornam pedras.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 66
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Já então a raposa era o caçador
«Nas escadas da catedral está sentada uma velhota, veste meias grossas de lã, uma saia grossa plissada e uma blusa de linho branco. Junto dela está um cesto de vime com um pano molhado estendido por cima. Pavel levanta o pano. Lírios-verdes, ramalhetes da espessura de um dedo alinhados em carreiras, atados com fio branco até cima às flores. Por baixo um pano, e flores, e outra vez um pano, muitas camadas de flores e panos, e fio. Pavel tira dez ramalhetes do cesto, um para cada dedo, diz ele, a velhota puxa de dentro da blusa um cordel, do qual pende uma bolsa. Clara vê-lhe os bicos dos seios, que pendem da pele como dois parafusos. Nas mãos de Clara, as flores cheiram a ferro e a erva. Assim cheira a erva depois da chuva, no pátio traseiro da fábrica de arame.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 62
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Já então a raposa era o caçador
«(...)
Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa »
José Tolentino Mendonça. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 154
Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa »
José Tolentino Mendonça. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 154
malogro
nome masculino
1. efeito de malograr; frustração; fracasso
2. acontecimento desfavorável; revés
Os versos
Os versos assemelham-se a um corpo
quando cai
ao tentar de escuridão em escuridão
a sua sorte
nenhum poder ordena
em papel de prata essa dança inquieta
José Tolentino Mendonça. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 150
quando cai
ao tentar de escuridão em escuridão
a sua sorte
nenhum poder ordena
em papel de prata essa dança inquieta
José Tolentino Mendonça. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 150
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A casa onde às vezes regresso
A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração
de A Que Distância Deixaste o Coração
José Tolentino Mendonça. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 147
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«(...)
não é mão é uma luz que sobre pela colina
um atalho entre as estevas
um incêndio na mata
a rapariga louca, grita contra a noite
na enseada
A mão preferida pelo silêncio
folheia o livro dos incêndios
torna-se irremediavelmente suja
sobre o muro traça os vincos
os primeiros versos
(...)»
José Tolentino Mendonça. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 143
não é mão é uma luz que sobre pela colina
um atalho entre as estevas
um incêndio na mata
a rapariga louca, grita contra a noite
na enseada
A mão preferida pelo silêncio
folheia o livro dos incêndios
torna-se irremediavelmente suja
sobre o muro traça os vincos
os primeiros versos
(...)»
José Tolentino Mendonça. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 143
Reconhecimento dos laços
aos meus pais
por todas as razões
agora tuas mãos estranhas ao medo
procuram um brilho mais puro, o lume
agora o tempo se mede por búzios
e os nomes flutuam mais leves que
as algas
podia abrigar duas formigas
e contar-te a história do mundo
desde que foi criado
podia se deixasses
escrever aquela história
da filha louca dos Matildes
a falar horas seguidas
da lucidez assustadora
deste poema
tudo podia
já que
os anjos do vento desenham na água
o fulgor inesperado
do teu gesto
de Os Dias Contados
José Tolentino Mendonça. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 141
«Por vezes estou sobre as facas como quem intenta.»
Jorge Melícias. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 134
«Trazes a noite encostada às têmporas»
Jorge Melícias. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 133
limalha
nome feminino designação dos pequenos fragmentos ou do pó que se desprende de um corpo metálico quando se raspa com uma lima
«Cantam o outono nos olhos húmidos dos cães.»
Jorge Melícias. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 126
sábado, 12 de outubro de 2013
«aqui, no cabo Espichel, mostrou-me um rochedo o primeiro sinal de que escrever é pouca coisa e que, fechado o livro, é bem maior a abundância da sombra do que o que foi possível iluminar; não porque a perfeição seja calar mas há, talvez, no fim, a paixão do amor sem vestígios, o passeio vagaroso por uma neve que cubra todas as referências e que se ofereça a si própria como a mais alusiva das nossas contemplações.»
Maria Gabriela Llansol. Causa Amante. A Regra do Jogo, Edições., p. 25
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Maria Gabriela Llansol
«eu conheço apenas algumas coisas, e ignoro outras;»
Maria Gabriela Llansol. Causa Amante. A Regra do Jogo, Edições
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Maria Gabriela Llansol
Rising
I got caught in a storm
And carried away
I got turned, turned around
I got caught in a storm
That's what happened to me
So I didn't call
And you didn't see me for a while
I was rising up
Hitting the ground
And breaking and breaking
I was caught in a storm
Things were flying around
And doors were slamming
And windows were breaking
And I couldn't hear what you were saying
I couldn't hear what you were saying
I couldn't hear what you were saying
I was rising up
Hitting the ground
And breaking and breaking
Rising up
Rising up
And carried away
I got turned, turned around
I got caught in a storm
That's what happened to me
So I didn't call
And you didn't see me for a while
I was rising up
Hitting the ground
And breaking and breaking
I was caught in a storm
Things were flying around
And doors were slamming
And windows were breaking
And I couldn't hear what you were saying
I couldn't hear what you were saying
I couldn't hear what you were saying
I was rising up
Hitting the ground
And breaking and breaking
Rising up
Rising up
«Depois ainda havia a história do frasquinho de perfume, disse a filha da serviçal. A mulher trazia-o escondido na carteira, há anos que estava vazio. Tinha uma rosa lavrada no vidro, a tampa já um dia fora dourada, mas entretanto estava desgastada pelo uso. No bordo da tampa tinha gravados caracteres cirílicos, o frasco devia ter sido de perfume russo. Há uns anos tinha estado lá em casa um oficial russo de quem nunca se falava, um de olhos azuis. Porque a mulher às vezes dizia que os mais belos oficiais têm olhos azuis. O marido tinha olhos castanhos e às vezes dizia à mulher: tresandas de novo a rosas. Devia haver qualquer coisa de muito especial com o frasquinho, qualquer coisa triste, disse a filha da serviçal, molhou o lábio inferior e deixou a língua parada no canto da boca. Qualquer coisa que abre um desejo e fecha com um estrondo uma porta, disse ela, devia ter sido isso, porque não era a ausência do marido, mas trazer consigo o frasquinho vazio de perfume, o que fazia da mulher uma pessoa solitária. Por vezes, à mãe, até lhe parecia que a cabeça da mulher se afundava pelo pescoço abaixo e se metia pela mulher dentro, como se entre a laringe e os tornozelos houvesse escadas dentro da mulher, como se ela caminhasse com a cabeça por estas escadas, entrando por si dentro. Talvez porque a minha mãe vive na cave, disse a filha da serviçal. A mulher do oficial ficava metade do dia sentada à mesa e tinha os olhos penetrantemente vazios como flores ressequidas de girassol.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 36
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Serviçais
«Quando aparam a relva, têm no branco do olho um espelho onde foice e ancinho brilham como pente e tesoura. Os serviçais não confiam na própria pele, porque as mãos ao agarrar lançam sombras. Os seus crânios sabem que nasceram com as mãos sujas em ruas sujas. Que as suas mãos, agora mergulhadas em silêncio, jamais ficarão limpas. Somente velhas.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 32
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Já então a raposa era o caçador
29
(...)
uma âncora na boca de um abraço prolongado
a memória (lenços de granito branco acenando
estranhos de força) é assim que do peito vem a
vontade de acender a permanência e por muito
tempo (por muito muito mais tempo ainda)
iremos falar desses olhos: pousados na sua mão
João Luís Barreto Guimarães. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 107
uma âncora na boca de um abraço prolongado
a memória (lenços de granito branco acenando
estranhos de força) é assim que do peito vem a
vontade de acender a permanência e por muito
tempo (por muito muito mais tempo ainda)
iremos falar desses olhos: pousados na sua mão
à Memória de Maria Antonieta Brito Evangelista
de Rua Trinta e Um de Fevereiro, '3'
João Luís Barreto Guimarães. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 107
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«além-pele com as pálpebras adormecidas»
João Luís Barreto Guimarães. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 103
4
cheguei há pouco do amor (cidade de gaivotas loucas
e luzes cegas). não concordas? eu sei já sei: vês as coisas
como falésias altas e impossíveis como ameias. cheguei há
pouco do amor e trago comigo esse discurso aprendiz:
o idealismo. desculpe mas o que pensa destas palavras
do recomeço (desse caminho) dóceis letras de promessa?
perdão perdão: há que ganhar o outro lado (uma
chama de cada vez). se bem me lembro em pequeno
as cigarras podiam ser domesticadas e cada adeus era
um veneno. obrigado: obrigado. também me pareceu
ser essa a sua opinião. cheguei há pouco do amor e
vejo as certezas do mundo como uma ilusão. receio
pelo eterno procuro a fantasia mas é sempre no
ventre dessas gaivotas que se dão os primeiros beijos
de Há Violinos na Tribo, '3'
João Luís Barreto Guimarães. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 99
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quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Segredo
Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
toda a espiral das horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento,
a música da chuva nas janelas
sob o frio de fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segredou-me agora uma palavra:
o teu nome - essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração.
de Às Cegas, 'Poesia Reunida - 1990-2000'
Fernando Pinto do Amaral. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 86
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A dormir
As pálpebras fecham-se, cansadas, é quando somos
sem dimensão ou volume, intocáveis. Perdemos, porém,
a justa medida, já não crianças irreais, mas formigas
exemplares. Formigas são estupefacientes, máscaras
iconoclastas com o arrogante desejo de perdoar aos mortos.
A infecção das coisas passadas atravessa, com argúcia,
o sono e eu durmo, porque, acordada, teu corpo me ofende
familiar estranho contínuo, quanto te imagino sem o casaco
de abraçar bonecas. Podes, se quiseres, escrever beleza em
teu arquivo cruel enquanto eu ando à deriva por ter sonhado
mais um dia. Mas não aceitarei o menos para não estar só.
Ana Marques Gastão. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 46
sem dimensão ou volume, intocáveis. Perdemos, porém,
a justa medida, já não crianças irreais, mas formigas
exemplares. Formigas são estupefacientes, máscaras
iconoclastas com o arrogante desejo de perdoar aos mortos.
A infecção das coisas passadas atravessa, com argúcia,
o sono e eu durmo, porque, acordada, teu corpo me ofende
familiar estranho contínuo, quanto te imagino sem o casaco
de abraçar bonecas. Podes, se quiseres, escrever beleza em
teu arquivo cruel enquanto eu ando à deriva por ter sonhado
mais um dia. Mas não aceitarei o menos para não estar só.
de Nós/Nudos
Ana Marques Gastão. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 46
Deixa-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
será absoluto
sacrifício
impassível sangue
árido prazer.
Deixa-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
guardará
uma grega ilusão
de sonho
e embriaguez.
Deixa-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
terá merecido
a dor, veloz,
insustentável
e imoderada.
Deixa-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
dir-nos-á
sois abandonados
cristos
na boca de deus.
Ana Marques Gastão. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 41/2
quando
morre a noite.
Assim o amor
será absoluto
sacrifício
impassível sangue
árido prazer.
Deixa-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
guardará
uma grega ilusão
de sonho
e embriaguez.
Deixa-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
terá merecido
a dor, veloz,
insustentável
e imoderada.
Deixa-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
dir-nos-á
sois abandonados
cristos
na boca de deus.
de Nocturnos
Ana Marques Gastão. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 41/2
«cisne envenenado pelo sangue»
Ana Marques Gastão. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 39
«Existiam as tuas mãos.»
Ana Marques Gastão. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição., p. 36
Reflexos
Olho-te pelo reflexo
do vidro
e o coração da noite
E o meu desejo de ti
são lágrimas por dentro,
tão doídas e fundas
que se não fosse:
o tempo de viver;
e a gente em social desencontrado;
e se tivesse a força;
e a janela ao meu lado
fosse alta e oportuna,
invadida de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti
de Coisas de Partir
Ana Luísa Amaral. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição.
do vidro
e o coração da noite
E o meu desejo de ti
são lágrimas por dentro,
tão doídas e fundas
que se não fosse:
o tempo de viver;
e a gente em social desencontrado;
e se tivesse a força;
e a janela ao meu lado
fosse alta e oportuna,
invadida de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti
de Coisas de Partir
Ana Luísa Amaral. Anos 90 E Agora. Uma antologia da nova poesia portuguesa. Selecção e organização Jorge Reis-Sá. Edições Quasi. 3ª Edição.
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quarta-feira, 9 de outubro de 2013
trazia a aliança pendurada ao pescoço por um fio
«Os clientes habituais diziam que a primeira mulher dele já morrera há muito e que ele não encontrara uma segunda porque trazia a aliança pendurada ao pescoço por um fio. O barbeiro dizia que o latoeiro nunca tivera mulher, que estivera quatro vezes noivo com aquele anel, mas casado nunca.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p.18
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