domingo, 3 de dezembro de 2023

Muriel - Ruy Belo


Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava
Tu sabes como era se soubesses como é
Numa vida tão curta mudei tanto
que é com certo espanto que no espelho da manhã
distraído diviso a cara que me resta
depois de tudo quanto o tempo me levou
Eu tinha uma cidade tinha o nome de madrid
havia as ruas as pessoas o anonimato
os bares os cinemas os museus
um dia vi-te e desde então madrid
se porventura tem ainda para mim sentido
é ser solidão que te rodeia a ti
Mas o preço que pago por te ter
é ter-te apenas quanto poder ver-te
e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
Sou muito pobre tenho só por mim
no meio destas ruas e do pão e dos jornais
este sol de Janeiro e alguns amigos mais
Mesmo agora te vejo e mesmo ao ver-te não te vejo
pois sei que dentro em pouco deixarei de ver-te
Eu aprendi a ver a minha infância
vim a saber mais tarde a importância desse verbo para os gregos
e penso que se bach hoje nascesse
em vez de ter composto aquele prelúdio e fuga em ré maior
que esta mesma tarde num concerto ouvi
teria concebido aqueles sweet hunters
que esta noite vi no cinema rosales
Vejo-te agora vi-te ontem e anteontem
E penso que se nunca a bem dizer te vejo
se fosse além de ver-te sem remédio te perdia
Mas eu dizia que te via aqui e acolá
e quando te não via dependia
do momento marcado para ver-te
Eu chegava primeiro e tinha de esperar-te
e antes de chegares já lá estavas
naquele preciso sítio combinado
onde sempre chegavas sempre tarde
ainda que antes mesmo de chegares lá estivesses
se ausente mais presente pela expectativa
por isso mais te via do que ao ter-te à minha frente
Mas sabia e sei que um dia não virás
que até duvidarei se tu estiveste onde estiveste
ou até se exististe ou se eu mesmo existi
pois na dúvida tenho a única certeza
Terá mesmo existido o sítio onde estivemos?
Aquela hora certa aquele lugar?
À força de o pensar penso que não
Na melhor das hipóteses estou longe
qualquer de nós terá talvez morrido
No fundo quem nos visse àquela hora
à saída do metro de serrano
sensivelmente em frente daquele bar
poderia pensar que éramos reais
pontos materiais de referência
como as árvores ou os candeeiros
Talvez pensasse que naqueles encontro
sem que talvez no fundo procurássemos
o encontro profundo com nós mesmos
haveria entre nós um verdadeiro encontro
como o que apenas temos nos encontros
que vemos entre os outros onde só afinal somos felizes
Isso era por exemplo o que me acontecia
quando há anos nas manhãs de roma
entre os pinheiros ainda indecisos
do meu perdido parque de villa borghese
eu via essa mulher e esse homem
que naqueles encontros pontuais
Decerto não seriam tão felizes como neles eu
pois a felicidade para nós possível
é sempre a que sonhamos que há nos outros
Até que certo dia não sei bem
Ou não passei por lá ou eles não foram
nunca mais foram nunca mais passei por lá
Passamos como tudo sem remédio passa
e um dia decerto mesmo duvidamos
dia não tão distante como nós pensamos
se estivemos ali se madrid existiu
Se portanto chegares tu primeiro porventura
alguma vez daqui a alguns anosjunto de califórnia vinte e um
que não te admires se olhares e me não vires
Estarei longe talvez tenha envelhecido
Terei até talvez mesmo morrido
Não te deixes ficar sequer à minha espera
não telefones não marques o número
ele terá mudado a casa será outra
Nada penses ou faças vai-te embora
tu serás nessa altura jovem como agora
tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
que alaga de luz todos os olhos
que exibe o sossego dos antigos templos
e que resiste ao tempo como a pedra
que vê passar os dias um por um
que contempla a sucessão de escuridão e luz
e assiste ao assalto pelo sol
daquele poder que pertencia à lua
que transfigura em luxo o próprio lixo
que tão de leve vive que nem dão por ela
as parcas implacáveis para os outros
que embora tudo mude nunca muda
ou se mudar que se não lembre de morrer
ou que enfim morra mas que não me desiluda
Dizia que ao chegar se olhares e não me vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido

Ruy Belo
E TUDO ERA POSSÍVEL

Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

Ruy Belo, Todos os Poemas

terça-feira, 28 de novembro de 2023

domingo, 26 de novembro de 2023

 Pergunta, pois, aos animais e eles ensinar-te-ão,
às aves do céu e elas se hão de instruir:
conversa com a terra e ela te responderá,
e com os peixes do mar e eles te darão lições.
Quem não vê em tudo isto a mão de Deus,
que fez todas estas coisas?

Job, 12, 7-9

''dessensibilizados''

 «A vida inteira é assim a forma complexa da justaposição de sentimentos, emoções, afectos, disposições. Nem sempre estão a fazer-se sentir. A sua presença pode manter-se incógnita. A maior parte do tempo parece que todos os sentimentos são emudecidos, neutralizados, até mesmo mortos. E, contudo, podem declarar a sua presença em situações críticas ou sem qualquer razão aparente.»

António de Castro Caeiro in Prefácio do livro. Poemas. Georg Trakl

imagens acústicas

Nick Cave & The Bad Seeds - Hiding All Away



You went looking for me, dear,
Down by the sea
You found some little silver fish
But you didn’t find me
I was hiding, dear, hiding all away
I was hiding, dear, hiding all away

You went to the museum
You climbed a spiral stair
You searched for me all among
The knowledgeable air
I was hidden, babe, hiding all away
I was hidden, dear, hiding all away

You entered the cathedral
When you heard the solemn knell
I was not sitting with the gargoyles
I was not swinging from the bell
I was hiding, dear, I was hiding all away
I was hiding, dear, I was hiding all away

You asked an electrician
If he’d seen me round his place
He touched you with his fingers
Sent sparks zapping out your face
I was hidden, dear, hiding all away
I was not there, dear, hiding all away

You went and asked your doctor
To get some advice
He shot you full of Pethidine
And then he billed you twice
But I was hiding, dear, hiding all away
But I was hiding, dear, hiding all away

You approached a high court judge
You thought he’d be on the level
He wrapped a rag around your face
And beat you with his gavel
I was hiding, babe, hiding all away
I was hidden, dear, hiding all away

You asked at the local constabulary
They said, he’s up to his same old tricks
They leered at you with their baby blues
And rubbed jelly on their sticks
I had to get out of there, babe, hiding all away
I had to get out of there, dear, hiding all away

You searched through all my poets
From Sappho through to Auden
I saw the book fall from your hands
As you slowly died of boredom
I had been there, dear,
but I was not there anymore
I had been there, now I’m hiding all way

You walked into the hall of fame
And approached my imitators
Some were stuffing their faces with caviar
Some were eating cold potatoes
I was hiding, dear, hiding all away
I was hiding, dear, hiding all away

You asked a famous cook if he’d seen me
He opened his oven wide
He basted you with butter, babe
And made you crawl inside
I was not in there, dear, hiding all away
I was not in there, dear, hiding all away

sábado, 25 de novembro de 2023

 


nome masculino
som estrondosofragortumulto

''Calado, é um poeta”


 

'' o poeta manhoso do círculo dos galgos''

 Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. R2elógio D'Água Editores, 2016., p. 31

 digo-te já, da próxima vez que
ameaçares suicidar-te à minha
frente, vou puxar a culatra atrás e rebentar-te
com os miolos, tás a ouvir! topas?
estou tão farto de me andares a 
deprimir que estou prestes a embrulhar-te
& mandar-te para a china vermelha.
outra coisa! é bom que trates
bem a minha mãe. se eu vier 
a saber que andas a castigá-la com
a tua infelicidade, apareço para ver
como poderei arrumar o assunto de uma vez
por todas...porque é que não aprendes a 
dançar em vez de andares à procura de novos
amigos? não sabes que todos os 
amigos já estão tomados
                                              com estima,
                                               Hector Schmector


 Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. R2elógio D'Água Editores, 2016., p. 31

cavalidade

pára-quedista

'' acho que estou pronto para
o deserto, queres vir? vou
levar o meu cão.''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. R2elógio D'Água Editores, 2016., p. 29

 ''enxuga o sangue das partes baixas com um lenço & decide ficar à espera de um telefonema''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. R2elógio D'Água Editores, 2016., p. 28


 

«aqui tens. serve-te de fome.»

 Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. R2elógio D'Água Editores, 2016., p. 23

'' desenharás uma boca na lâmpada para que ela possa rir mais livremente''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 20

'' poema de gerânios''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 19

anágua

'' corta-o com uma faca de peixe''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 16

 
 « chega a ser uma chatice, escrever
para uns quantos escolhidos, escrever para
todos menos para ti. tu, daisy mae, que nem sequer
pertences às massas...curioso, 
porém, o facto de ainda nem teres morrido...
vou pregar as minhas palavras a este papel,
e mandar-tas de avião, e esquecer-me 
delas...obrigado pelo tempo dispensado.
és generosa.
           amor & beijos 
           o teu duplo 
           Olhos Parvos (num avião com problemas)»


Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 15

 ''alimentam os verões à força de conversarem com as sombras de gente pobre''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 13

 '' lavador de janelas que é a reencarnação de uma enxada''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 12

''a morrerem de mortes loucas''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 10

 '' o advogado que leva um porco pela trela
faz uma paragem para um chá & come um donut
do censor por engano/ gosta de mentir
sobre a sua idade & leva a sério a sua paranóia ''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 9

'' o crime contra o povo''

 

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 8

 

«...sonhar com virgens viciadas em comprimidos que dançam»


Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 8

adamado

meiguice dengosa

 ''gosta das mulheres cruas & com melaço''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 8

''cobardes amargurados''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 7

''ferida ébria de transfusão''

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 7

Rosas conservadas - rosa salmão-branco


 

caranguejeiras

 Armas, o Livro de Boca do Falcão
& o Impune Gato Lascado

Bob Dylan. Tarântula. Tradução de Vasco Gato. Relógio D'Água Editores, 2016., p. 7

 «Dylan? É o maior poeta americano vivo.»

[Andrei Codrescu]

''efeito de estranheza inexplicável''

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Palavras de Bolso

Palavras de Bolso: 'Uma mulher aparentemente viva', Cláudia R. Sampaio. - Música: Meredith Monk, 'Double Fiesta', Tomoko Mukaiyama.


 

 «Estava convencido de que, se resistisse até ao nascer do sol, viveria ainda alguns anos. Mas as forças faltaram-lhe subitamente e, às 4 horas, enfim, o seu coração explodiu, com um ruído fantástico de timbales e de tambores.»

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 47

''Ressuscito-te dos mortos.''

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 42

As pessoas

Fernando Pessoa
uma vez, Mário Cesariny
duas ou três
uma vez, Fernando Lemos

As pessoas têm a sua casa e a sua doença
Mas a casa das pessoas é a sua doença
Oh as pessoas estão doentes de indiferença
E morrem como mortos, da sua doença

Morrem umas na frente das outras as pessoas
Umas são assim outras como são?
As pessoas são más as pessoas são boas
As pessoas as pessoas as pessoas as pessoas

As pessoas somos nós todos ou ainda menos
Oh mário mário que horror irmão!
Oh nós não vamos ser assim daqui a uns tempos
- Nós não vamos ser assim: pois não? pois não? -

Nosso Senhor Jesus Cristo não tinha biblioteca
O pobre não tinha troco de cinco escudos
- As pessoas mário tão pálidas tão quietas ! -
A rapariga da frutaria apesar de tudo



Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 41

“O poeta muitas vezes tem razão antes do tempo”

 Inês Lourenço

PORTA DE ARMAS


Os teus dentes emboscados atrás
dos lábios entreabertos no indício
do sorriso, esse pré-aviso de facas,
anunciam a tua humana condição capaz
de morder e mastigar. A explicação
do mundo recomeça aí, nessa
porta de armas.

Inês Lourenço

''Solidão a minha morada''

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 37


 

Amor como em casa

 Regresso devagar ao teu 
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 36

 A décima oitava infância

1. A Casa
Tenho dezoito amigos. Um doente, outro não.
Dezoito casas, uma verde: gozos
não se discutem, como dizia a avó
do Alexandre, que era escritora.
Tenho pois dezoito amigos, um amigo
verde. Onde  a noite principia vejo-os.
São três. Um verde. Um morto
com uma bala na cabeça. São os meus
amigos. Faço as pazes com eles.

2. A Guerra
Os meus amigos vão para a guerra. Dão
e levam devagar, asseguro-vos. São novos, morrem.
E dezoito guerras perdi
dezoito amigos, um doente outro não.
Odeio a guerra devagar,
tenho tempo. Os meus amigos
atravessam ruas, adoecem.
Escrevem oitocentas cartas por minuto,
nove em cada dez perdem-se para sempre.
A verdade é que isto não vai com poemas,
como dizia o outro.

3. Um Amigo
Entrevisto vagarosamente um amigo.
As suas declarações são sensacionais.

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 35

«Quem sou eu? Donde venho?» E a seguir, a sua certeza, perne e incomensurável, quando confirma depois de o seu corpo ter explodido em mil pedaços: « Não podereis jamais esquecer-me». É a pura verdade.

Antonin Artaud. PARA ACABAR DE VEZ COM O JUÍZO DE DEUS seguido de O Teatro da Crueldade. Tradução Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes. VS. Vasco Santos Editor e Herdeiro dos Tradutores, 2018., p. 133

 


nome feminino
1.
RELIGIÃO milagre no dia de Pentecostes pelo qual os apóstolos ficaram com o dom de falar várias línguas
2.
suposta faculdade de falar várias línguas estrangeiras sem as ter estudado
3.
utilização, por certos doentes mentais, de uma linguagem imaginária que comporta uma estabilidade do sentido das palavras e uma sintaxe pelo menos rudimentar

toxicómano

María Casares


 

 

últimos paroxismos
agonia antes da morte

The Story of an Artist

POST - SCRIPTUM

sanificar

inelutável

'' um ferro-velho de ossadas''

  Antonin Artaud. PARA ACABAR DE VEZ COM O JUÍZO DE DEUS seguido de O Teatro da Crueldade. Tradução Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes. VS. Vasco Santos Editor e Herdeiro dos Tradutores, 2018., p. 20

''é preciso ser alguém,
para ser alguém
é preciso ter OSSOS,
não ter medo de mostrar os ossos,
e de caminho perder a carne''

Antonin Artaud. PARA ACABAR DE VEZ COM O JUÍZO DE DEUS seguido de O Teatro da Crueldade. Tradução Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes. VS. Vasco Santos Editor e Herdeiro dos Tradutores, 2018., p. 20

''como poderia ter preferido viver
em vez de consentir em viver morto.''

Antonin Artaud. PARA ACABAR DE VEZ COM O JUÍZO DE DEUS seguido de O Teatro da Crueldade. Tradução Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes. VS. Vasco Santos Editor e Herdeiro dos Tradutores, 2018., p. 19

'' A ABOLIÇÃO DA CRUZ ''

 Antonin Artaud. PARA ACABAR DE VEZ COM O JUÍZO DE DEUS seguido de O Teatro da Crueldade. Tradução Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes. VS. Vasco Santos Editor e Herdeiro dos Tradutores, 2018., p. 17




 

Nymphaea lotus Red

''mãe peçonhenta''

 Antonin Artaud

''infestação de baratas''

 Uma vez quiseram-me louca, a arder

e eu ardi com a discrição de
um fogo posto
porque a cura vai na mesma direcção
que a nossa febre
Ateei-me como um relâmpago inesperado
à luz do dia
Eu parecia uma basílica em chamas
de altar por estrear, a arder sozinha
Sempre me recusei a arder como os outros
Ardam-se mais à esquerda ou mais à direita
mais a vento de sul ou de norte,
mas labaredem-se, sejam fogos que ardem!
Porque pior que a desdita loucura
é toda a gente andar em brasa
mas ninguém chegar a incêndio
E no fim são todos cinza

Cláudia R. Sampaio, in Ver no Escuro

''Não havia dentro de mim qualquer beleza.''

Charles Bukowski. Histórias de loucura normal. Tradução de Vasco Gato. 1ª Edição. 2016., p. 59

''birra imaginária''

Charles Bukowski. Histórias de loucura normal. Tradução de Vasco Gato. 1ª Edição. 2016., p. 51

 « fiquei para ali a tentar descobrir o que teria eu feito. apetecia-me chorar mas não saiu nada. era apenas uma espécie de náusea triste, uma tristeza brutal, quando é impossível sentirmo-nos pior. julgo que já vos terá acontecido. julgo que terá acontecido a toda a gente uma ou outra vez. mas julgo que me tem acontecido com muita frequência, demasiada frequência.»

Charles Bukowski. Histórias de loucura normal. Tradução de Vasco Gato. 1ª Edição. 2016., p. 21

Se Nos Rompió El Amor — Rosalía


Se nos rompió el amorde tanto usarlode tanto loco abrazosin medidasde darnos por completoa cada pasose nos quedo en las manosun buen dia
Se nos rompió el amorde tan grandiosojamas pudo existirtanta bellezalas cosas tan hermosasduran poco
Jamas duró una flordos primaverasme alimenté de tipor mucho tiemponos devoramos vivoscomo fieras
Jamas pensamos nunca en el inviernopero el invierno llegaaunque no quieray una mañana grisal abrazarnossentimos un crujidofrio y secocerramos nuestros ojos y pensamos
Se nos rompió el amorde tanto usarlo.

Compositores: Manuel Álvarez-Beigbeder Pérez / María Alejandra Álvarez-Beigbeder Casas
« - o que é um filho da puta?
- é o Duke. eu amo-o.
- amas um filho da puta?
- sim - riu-se a Mag. - sim, chega aqui, minha querida, põe-te no meu colo.»

Charles Bukowski. Histórias de loucura normal. Tradução de Vasco Gato. 1ª Edição. 2016., p. 16

''chupistas da alma''

Charles Bukowski. Histórias de loucura normal. Tradução de Vasco Gato. 1ª Edição. 2016., p. 14

'' não vale a pena andar com o credo na boca''

Charles Bukowski. Histórias de loucura normal. Tradução de Vasco Gato. 1ª Edição. 2016., p. 13

 « - e não há pessoas felizes?
- há muitas pessoas que fingem ser felizes.
- porquê?
- porque têm vergonha e medo e não têm coragem de o admitir.»


Charles Bukowski. Histórias de loucura normal. Tradução de Vasco Gato. 1ª Edição. 2016

domingo, 12 de novembro de 2023

'' a luz mordendo a água''



Um poema de Mutimati Barnabé João no livro Eu, o povo, editado pela BI

 



Repulsion: Directed by Roman Polanski. With Catherine Deneuve, Ian Hendry, John Fraser, Yvonne Furneaux. 




 

It Never Entered My Mind

 «Voltam-se as paisagens como as páginas.»

''o poço da alegria''

 «Inquinam-se as imagens, a pequena rotação do outono, o dia decompõe-se, o sangue explode contra a claridade.»

''imperturbáveis muros''

A Meeting At The Space Station


A tragédia da Hungria: depoimento

1956. Crepúsculo sangrento de um ano que a saudade não conserva. Com o cair das folhas neste Outono frio e inundado de sol, a horrível tragédia de Tróia e de Cartago, o grito lancinante das cidades mortas, de novo se desdobra e clama na terra martirizada da Europa antiga.

De novo o Mundo assistiu, cobarde e quieto, ao massacre do pudonor gentil de uma raça, ao estrangulamento frio e fundo do humano grito de liberdade ou morte. Encharcada no sangue dos seus filhos, sagrada pelo martírio incrível de uma geração, a terra plana da Hungria avulta aos nossos olhos como a viva imagem da tortura moral e física do homem escravizado pelo homem, massacrado pela força, atingido na sua dignidade, na sua honra e no seu sentido de justiça.

O Zero e o Infinito. O esmigalhamento da personalidade e do sonho humano de uma cidade em que os homens sejam livres e seguros, em que a lei seja a trincheira que defende todos e cada um do monstro abstracto e sem alma em que pode degenerar o poder dum Estado político.

O grande, o inanarrável drama que sintetiza e explica para a História o século XX – o drama do poder totalitário do Estado – encheu mais um capítulo de horror na História moderna; mais uma vez o diálogo mortal do direito e da força subiu à tona do destino humano, iluminado pelos clarões de uma cidade agónica e de um povo em desespero. O silêncio pesado e brutal amortalhou os últimos clamores da festa magnífica em que um povo inteiro celebrou, embriagado, o direito de ser livre, o direito de ser senhor da sua vida, do seu destino e… do seu governo.

A Hungria morreu. Mas o sangue derramado em jorro sobre as pedras antiquíssimas de Buda e de Pest, o sangue que tingiu a água ocidental e europeia do Danúbio não pode ser perdido. Como semente de heroísmo, como módulo da determinada e estóica resistência individual à tirania da força, cimenta em cada um de nós, ocidentais e europeus definitivos, a profunda vontade de estruturar a nossa liberdade cívica e vital e a nossa cristã dignidade de homens, em termos claros e iniludíveis, em termos de repugnância instintiva a toda a forma de prepotência ou de arbítrio contra a lei.

Baudelaire dizia que o poeta não é de nenhum partido, pois se o fosse seria um simples mortal.

Independentemente de qualquer partido, as terríveis violências praticadas na Hungria põem de luto a inteligência e a alma de todos aqueles que esperavam que o seu tempo não fosse um tempo de suplícios, de traição e de mentira.

Põem de luto a alma de todos aqueles que, com a sua inteligência ou a sua arte, tentaram encontrar a verdade de um universo puro e de uma ordem real.

E, na fúria anormal e desumana com que a liberdade da Hungria é esmagada, o regime russo mostrou que não trazia em si nenhum ideal, mas unicamente política. Unicamente um partido.

E ninguém pode suportar o horror de um mundo onde um homem não é um homem mas unicamente um número que, quando convém, pode ser suprimido.

A violência e o abuso que estão sendo praticados na Hungria são o resultado natural de uma maneira de ser onde, sem respeito pela individualidade, pela solidão e pela diginidade humanas, os homens chamam uns aos outros camarada. A palavra camarada, palavra que exprime promiscuidade e desidentificação, é uma palavra que tende a destruir aquele dado essencial de toda a poesia de que cada homem é em si um valor único e insubstituível. É uma palavra que serve de máscara e de incentivo àquela antiga perversão do instinto de espécie que faz com que o homem seja o lobo do homem.

Nenhuma inteligência objectiva pode aceitar uma justificação para a repressão da revolução húngara. Nenhum poeta pode deixar de chorar sobre a esperança e a claridade destruídas.

Quisemos prestar esta homenagem à grandeza e ao heroísmo da mocidade cobardemente assassinada. Nela ressurgiu o sentido esquecido da palavra homem. E não pudemos calar o eco solitário e impotente que em nós levantou o apelo angustiante dos intelectuais húngaros; temos horror de pertencer a um Mundo em que esse grito se perdeu sem que a indignação levantasse as almas e os homens se erguessem para a morte, porque a vida fica sem destino e sem leveza quando já nada se defende nem nada se combate. Ao grito dos nossos irmãos perdidos e abandonados, a todos os heróis mortos por nós, pela nossa liberdade e pelo nosso destino, nada temos para dar além deste testemunho de admiração, de piedade e de tristeza imensa.

Não podemos aceitar o massacre de uma cidade.

Não podemos aceitar nenhuma confusão de planos entre o massacre da Hungria e a luta do Suez. Porque, nesta, a inteligência, a sensibilidade e o conhecimento histórico se podem dividir em possibilidade dialéctica. Sobre o cadáver de uma cidade martirizada nenhuma discussão é possível. E, sobretudo, não aceitamos essa confusão de planos quando ela é feita por aqueles que na literatura constantemente invocam a palavra humano, e se esquecem do homem, filho de Deus, na realidade concreta.

Pelo homem húngaro, achincalhado e morto, sem discussão e sem perdão, aos assassinos nos erguemos em claro, definitivo e revoltado protesto.

Sophia de Mello Breyner Andresen,
Ruy Cinatti e Francisco de Sousa Tavares

Diário Popular, Lisboa, 20 de Novembro de 1956, pp. 1, 6


 

 «Quando a pátria que temos não a temos | Perdida por silêncio e por renúncia | Até a voz do mar se torna exílio | E a luz que nos rodeia é como grades»

 No seu livro Um Combate Desigual. Ensaios de Sociologia Portuguesa, impresso em edição de autor em 1960, quatro anos depois deste «Depoimento», Francisco de Sousa Tavares escreveu:

 «O totalitarismo fascista e a tirania marxista foram no mundo moderno as grandes explosões políticas duma atitude filosófica verdadeiramente anticristã. […] A democracia é o regime que exige dos homens maior nível moral; que requere educação, autodomínio, respeito íntimo e profundo pela dignidade dos outros. Sem o absoluto duma lei moral e dum direito natural, a democracia arrastar-se-á prostituída pelas ruas, à mercê da massa e do tirano. A disciplina democrática é de dentro para fora e não de fora para dentro. Tem de existir na consciência dos homens para que possa viver na consciência da cidade» (pp. 186-87).

"A cultura é cara, a incultura é mais cara ainda"

 "1 - A ARTE deve ser livre porque o ato de criação é em si um ato de liberdade. Mas não é só a liberdade individual do artista que importa. Sabemos que quando a Arte não é livre o povo também não é livre. Há sempre uma profunda e estrutural unidade na liberdade. Onde o artista começa a não ser livre o povo começa a ser colonizado e a justiça torna-se parcial, unidimensional e abstrata. Se o ataque à liberdade cultural me preocupa tanto é porque a falta de liberdade cultural é um sintoma e significa sempre opressão para um povo inteiro.

2 - NÃO PENSO que exista uma arte para o povo. Existe sim uma arte para todos à qual o povo deve ter acesso porque esse acesso lhe deve ser possibilitado através dos meios de comunicação. Primeiro os "aedos" cantaram no palácio dos reis gregos "o canto venerável e antigo". Era uma arte profundamente aristocrática. Depois os rapsodos cantaram esse mesmo canto na praça pública. E Homero, foi, como se disse, o educador da Grécia. Isto é: a cultura foi posta em comum. E por isso os gregos inventaram a democracia. A política começa muito antes da política.

Penso que nenhum socialismo real será possível se a cultura não foi posta em comum. Quando o aedo, ou poeta medieval cantavam na praça o seu poema era ouvido por todos, mesmo pelo analfabeto. E viajava por todo o país e de país em país: por isso o mirandês canta Mirandolim-Marlbourg.

Depois a cultura fechou-se em livros e os analfabetos e os pobres foram rejeitados. Tudo se tornou mais complexo e complexado. As comunidades foram divididas e cada homem foi dividido dentro de si próprio. Será preciso um enorme paciente e múltiplo e obcecado esforço para construir o mundo de outra maneira. E é preciso que nenhum dirigismo esmague esse esforço.

É evidente que no mundo atual encontramos a par da arte uma meta-arte. O cubismo é uma meta pintura, uma pintura sobre a pintura. Arte e meta-arte alimentam-se e inspiram-se mutuamente e penso que este é um dos caminhos, uma das possibilidades. Foi a ler Proust e Rimbaud que aprendi a escrever para crianças. O simplismo e o populismo nunca conduzirão a nada. Se João Cabral de Melo é capaz de escrever uma obra como "Morte e Vida Severina" é porque é capaz de escrever "Uma Faca só Lâmina". "Morte e Vida Severina" é um poema que todos entendem, mas nele as imagens são tão precisas, e os versos tão densos como em "Uma Faca só Lâmina".

Creio que o "poema para todos" é, dentro da cultura em que estamos, o poema mais difícil de escrever. Creio que esse poema é necessário e por isso tenho procurado encontrar um caminho para ele. Por isso em "Livro Sexto" invoquei

O canto para todos

Por todos entendido

Mas sei que esse poema não se programa. E por isso, já depois do 25 de abril escrevi:

Um poema não se programa

Porém a disciplina

Sílaba por sílaba

O acompanha

Mas a disciplina do poema não é a da política.

O poema é disciplinado pela sua própria necessidade.

Nem o próprio artista se pode programar a si próprio. O Ministro da Comunicação Social disse que os períodos revolucionários não eram propícios às artes de vanguarda. Não podemos esquecer que também Hitler e Salazar não se entendiam bem com a arte de vanguarda e que ambos a perseguiam. Um verdadeiro período revolucionário está aberto a todas as formas de criação.

3 - É EVIDENTE que há incoerência. As campanhas de dinamização são mais políticas do que culturais. Fazem um doutrinamento político que deve ser feito pelos partidos. Pois não há doutrinamento apartidário. Não há angelismo político. Um doutrinamento político que se apresenta como apartidário é necessariamente ambíguo.

Vivemos no pluralismo. Mas não queremos viver na ambiguidade. Queremos que o pluralismo seja nítido e declarado com clareza. Que todo aquele que exerce uma atividade de doutrinamento político diga aos outros o partido a que pertence ou que apoia.

Queremos uma revolução clara. Queremos a clareza e a coerência dessa clareza. Este país tem neste momento uma intensa consciência da necessidade de clareza.

A política é um capítulo da moral. O povo que somos votou conscientemente e quer a política que escolheu. Queremos justiça social concreta mas sabemos que essa justiça só se poderá construir na liberdade e na verdade.

Sabemos muito claramente o que não queremos. Não queremos a violência, não queremos que a liberdade seja sofismada. Não queremos nem inquisições nem perseguições. Não queremos política da terra queimada. Não queremos política imposta. E no plano da cultura queremos acima de tudo que a política não seja anti-cultura.

A demagogia é a traição cultural da revolução. Porque a demagogia é a arte de ensinar um povo a não pensar. Um provérbio africano diz: Uma palavra que está sempre na boca transforma-se em baba. Não queremos continuar a suportar a baba dos slogans.

Querer fazer política cultural quando os meios de comunicação estão inundados de demagogia é uma incoerência radical. O ministro da comunicação referiu-se ao facto de o trabalho dos artistas ser agora pago pelo povo. Também muitos jornais são agora pagos pelo povo e todos os dias custam ao povo uma despesa escandalosa.

A cultura é cara. A incultura acaba sempre por sair mais cara. E a demagogia custa sempre caríssimo."

    Artigo de opinião escrito por Sophia de Mello Breyner no semanário a 12 de julho de 1975.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

“Um raio de lua cai sobre Salomé, e ilumina-a.

Hoje Deitei-Me Ao Lado Da Minha Solidão

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do meu próprio coração.


Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
o mistério das palavras maduras
ou a brancura de um amor que nos prendia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até ouvir
o meu sangue jorrar na voz das fontes.


Eugénio de Andrade

quinta-feira, 2 de novembro de 2023


 

 ''Agora que os
olhos se fecharam
fico acordado toda a noite
diante de uma coisa imensa.»

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 104

''comedor de crias''

''Parei um pouco para pensar e esqueci-me de tudo...''

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 93

''Regresso, pois, à minha solidão.''

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 62

 «Aquele que quer morrer
dança sobre os destroços de tudo.»

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 61

 AQUELE QUE QUER MORRER

(1978)

Manuel António Pina

Nina Simone - Do I Move You

quarta-feira, 1 de novembro de 2023







The Face of Another (1966)

Filme de Hiroshi Teshigahara  baseado no romance de 1964 escrito por Kōbō Abe

A ilha nua

 (Depois de ter visto o filme «A ilha nua»,
de Kaneto Shindo)


animal passageiro a quem já sobra
dentro da boca o susto da viagem
tu que com cuspo aprendes a paisagem
e és o juro que a usuária cobra

animal educado a quem a dor
repete intimamente e habitua
e tão intimamente continua
a breve continência exterior

tu que passas sem pressas sem assombros
e que afogas na sede que te apressa
teu líquido senhor que pesa pesa
nos teus cristóvãos portugueses ombros

tu que com sono a glabra ilha lavras
e com o sonho avidamente a usas 
na dura arquitectura das palavras
tu que tudo te dura das palavras

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 53

''Os teus joelhos dedicados como bichos''

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 50

 

nome masculino
1.
escrivaninha
2.
guarda-joias
 ''coitado do mário cesariny
coitado dele e também do álvaro de 
campos e também de mim que 
sei da solidão que me farto''


Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 45

2. Os lugares

Os lugares são

a geografia da solidão.

São lugares comuns a casa a cama.


Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 43

Self Portrait, 1960. Jini Dellaccio


 

''Solidão a minha morada''

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 37

''Escondo-me para morrer.''

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 27

''Que deus me perdoará os meus erros humanistas?''

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 20



(...)

Edificarei a minha igreja sobre as tuas ruínas

Tenho um coração mortal um coração

fora de si como um marido irado

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 20

Silêncio e escuridão e nada mais

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 20


Repulsion: Directed by Roman Polanski. With Catherine Deneuve, Ian Hendry, John Fraser, Yvonne Furneaux. 

Ana Frango Elétrico: Insista em Mim

Outras coisas

 Outras coisas   no entanto

o amor e o desamor e também a 

morte que nas coisas morre subitamente

o lugar onde vais de súbito.


De súbito faltas-me debaixo dos pés

e noutros lugares    De ti é possível dizer

que te ausentaste para parte incerta

deixando tudo no teu lugar


Está tudo na mesma      Também a mim

tempo não me falta lugar sim

Onde cairás morta, flor da infância?

De súbito faltam-me as palavras


Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 18

''Normalmente regresso a casa tarde, doente.''

Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 17

«E, tendo-te perdido, te perderei para sempre.

Nunca estive tão longe e tão perto de tudo.

Só me faltavas tu para me faltar tudo,

as palavras e o silêncio, sobretudo este.


 Manuel António Pina. Todas as Palavras. Poesia Reunida. Assírio&Alvim., p. 13
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