A décima oitava infância
1. A Casa
Tenho dezoito amigos. Um doente, outro não.
Dezoito casas, uma verde: gozos
não se discutem, como dizia a avó
do Alexandre, que era escritora.
Tenho pois dezoito amigos, um amigo
verde. Onde a noite principia vejo-os.
São três. Um verde. Um morto
com uma bala na cabeça. São os meus
amigos. Faço as pazes com eles.
2. A Guerra
Os meus amigos vão para a guerra. Dão
e levam devagar, asseguro-vos. São novos, morrem.
E dezoito guerras perdi
dezoito amigos, um doente outro não.
Odeio a guerra devagar,
tenho tempo. Os meus amigos
atravessam ruas, adoecem.
Escrevem oitocentas cartas por minuto,
nove em cada dez perdem-se para sempre.
A verdade é que isto não vai com poemas,
como dizia o outro.
3. Um Amigo
Entrevisto vagarosamente um amigo.
As suas declarações são sensacionais.
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