domingo, 26 de agosto de 2018

“ O Portugal deste fim de século já não é o de Amália. Enterrá-la-á segundo o seu ritual, não o dela. Arrebatá-la-á, com cantos e flores a uma morte sobre quem ela vogou intrepidamente sob a máscara de nossa senhora da tristeza. O século não vai para tristezas. Demais as teve”

Eduardo Lourenço In, O Público, A morte de Amália Rodrigues: Portugal despede-se de si mesmo, Lisboa, 1999, p.3.

“Não tive de lutar nada. Tudo na vida me aconteceu “

Amália Rodrigues, fadista.

ofício de bordadeira

 «Tornou-se lendário o romance que terá envolvido Maria Severa Onofriana (1820-1846), que dirigia uma taberna com sua mãe, Ana Gertrudes Severa, uma célebre prostituta da Mouraria conhecida pelo sobrenome de ‘Barbuda’, onde se cantava o Fado, e o Conde de Vimioso, que a levaria pontualmente a cantar em salões de titulares.

Nasceria desta forma o mito da Severa, uma prostituta que por tanto amar e sofrer, morreu nova. Teria sido este o seu destino, o seu Fado: morrer de e por amor : “ (...) Chorai, fadistas, chorai, que a Severa já morreu: e fadista como ela nunca no mundo apareceu(...) Chorai, fadistas, chorai, que a Severa se finou. O gosto que tinha o Fado, tudo com ela acabou”.»

NERY,Rui Vieira, Para uma História do Fado, 1ª edição, Lisboa, Público, Comunicação Social, S.A, e Corda Seca, Edições de Arte, S.A, Outubro de 2004, pp.64-66.

marialvas

Fadista que pertence a família tradicional distinta ou que o aparenta.

''mulheres de má nota''

“ Para nós o Fado tem uma origem marítima (...) O Fado nasceu a bordo, aos ritmos infinitos do mar...”.


CARVALHO, Pinto de, (Tinop), História do Fado, 1ª edição, Lisboa, Empreza da História de Portugal, Sociedade editora, 1903.

“ Amália/ quis Deus que fosse o meu nome/ Amália/ Acho-lhe um jeito engraçado/ Bem nosso e popular/ Quando oiço alguém gritar/ Amália/ Canta-me o Fado...”

 Fado AMÁLIA de José Galhardo e de Frederico Valério

«…é fascinante a água nos lábios das crianças…»

Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 55

« o amor aumenta com o amarelecimento do linho»

Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 54

«…no fundo, eu atravessava-te sem me deter
nada sabia ou sei acerca da morte
nem das ruínas deste outro corpo que o mel é capaz de
ressuscitar…»


Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 44

«ambos conhecíamos o sabor do sangue e das açucenas
tardias»


Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 43

«a fuga é possível, dizias
Estávamos sentados em frente ao lume, falávamos baixo»

Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 42

«(….), sem saber por
Onde fugir-me…»


Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 33

Nick Cave & The Bad Seeds - Henry Lee




Get down, get down, little Henry Lee
And stay all night with me
You won't find a girl in this damn world
That will compare with me
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
I can't get down and I won't get down
And stay all night with thee
For the girl I have in that merry green land
I love far better than thee
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
She leaned herself against a fence
Just for a kiss or two
And with a little pen-knife held in her hand
She plugged him through and through
And the wind did roar and the wind did moan
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
Come take him by his lilly-white hands
Come take him by his feet
And throw him in this deep deep well
Which is more than one hundred feet
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
Lie there, lie there, little Henry Lee
Till the flesh drops from your bones
For the girl you have in that merry green land
Can wait forever for you to come home
And the wind did howl and the wind did moan
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee

Artista: Nick Cave and the Bad Seeds
Álbum: Murder Ballads
Data de lançamento: 1996

TRUQUE DO MEU AMIGO DA RUA

   ao acaso encontrei-me encostado a uma esquina
   olhar vazio varrendo a multidão, parei
   sorri e tu vieste, fomos andando
   os ombros tocavam-se, em direcção a casa

   pediste-me para tomar um duche, eu deitei-me
   ouvi o barulho da água resvalando pelo teu corpo sujo de
cidade e de engates
   sujo pelos dias e noites e mais dias que não te tive
   esperei-te deitado, outro cigarro
   e ainda espero...
   ...gosto dos corpos que riem, frescos
   rasgam-se à ternura nocturna dos dedos, e ao desejo
   húmido da boca, que sempre percorre e descobre...

   tacteio-te de alto a baixo
   reconhecendo-te num gemido que também me pertence, no
escuro
   contaste-me uma improvável aventura de tarzan, ouvia-te
    e no silêncio do quarto fulguravam aves que só eu via...

    ...sorri ao enumerar os restos que a manhã encontraria
pelo chão
    manchas de esperma, ténis esburacados, calças sujíssimas,
blusão cheio de auto-colantes, peúgas encortiçadas pelo suor
as cuecas rotas, sujas de merda...

e tuas mãos, recordo-me
sobretudo de tuas mãos imensas sobre as coxas
teu corpo nu, à beira da cama, em sossegado sono...


Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 32

«volto ao quarto de pensão, fumo até ao vómito
Isto é: drogo-me…»

Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 30

AUTO-RETRATO COM REVÓLVER

as palavras foram alinhavadas pelos preguiçosos dedos
o texto transparece na claridade das manchas de tinta
...teço a ausência dum corpo que me é absolutamente ne-
cessário, doem-me estes gestos
estas coisas cobertas de pó sobre a mesa: papéis amar-
rotados, fotografias, cartas interrompidas, objectos quebrados,
sinais ténues de gordura e de fundos de chávena
   lápis, cigarros esboroados, o revólver


  num dos cantos inacessíveis da casa, as aranhas vão cons-
truindo ninhos diáfanos
  segregam sábios labirintos em perigosa baba...
  ...sinto-me vazio, hoje
  a compreensão do mundo escapa-me, pouco me importo
com isso
  está tudo mais calmo, em redor da casa, o jardim quieto
  poderia passar o dia a ler, por desfastio, à maneira dos
príncipes persas
  a tarde torna as madeiras rubras, aquece
  os livros parecem de pedra em seu arrumo cauteloso

  ...ao alcance está o revólver
  perto da mão que nunca aprendeu a escrever, aquece ao
simples contacto dos dedos
   a outra mão, a direita, definhou um pouco quando aprendeu
o silencioso ofício...

  eu explico: hoje deve ser domingo
  e a mão esquerda masturba enquanto a direita escreve com
destreza, sem cessar
  ...mais tarde, escrevia eu
  poderiam as mãos trocar de ofício
  o revólver tingir-se-ia de tinta permanente, o papel apresen-
taria o terrível sulco de uma bala...

Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 25

sábado, 25 de agosto de 2018


John Cale - Dying On The Vine



I've been chasing ghosts and I don't like it
I wish someone would show me where to draw the line
I'd lay down my sword if you would take it
And tell everyone back home I'm doing fine
I was with you down in Acapulco
Trading clothing for some wine
Smelling like an old adobe woman
Or a William Burroughs playing for lost time
I was thinking about my mother
I was thinking about what's mine
I was living my life like a Hollywood
But I was dying on the vine
Who could sleep through all that noisy chatter
The troops, the celebrations in the sun
The authorities say my papers are all in order
And if I wasn't such a coward I would run
I'll see you me when all the shooting's over
Meet me on the other side of town
Yes, you can bring all your friends along for protection
It's always nice to have them hanging around
I was thinking about my mother
I was thinking about what's mine
I was living my life like a Hollywood
But I was dying, dying on the vine
Compositores: John Davies Cale / Larry J. Sloman


«poderia ter sido um homem feliz, que tem por defeito inter-
rogar-se acerca da melancolia das mãos…»




Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 24

«…há sempre um rio no fundo de casa sonho»


Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 14

«a solidão tem dias mais cruéis»


Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 14

«não possuo a morte no coração, mas sim pouco de
chuva  que lentamente apaga o fogo doutros dias mais simples»


Al Berto. Trabalhos do Olhar. Contexto Editora, p. 13

sábado, 18 de agosto de 2018


"If you want a do-right-all-day woman/ You've got to be a do-right-all-night man"

padrões domésticos convencionais

bravata

nome feminino
1.ameaça arrogante
2.fanfarronice; bazófia; jactância

"Sock it to me"

Aretha Franklin

"Frankly, my dear, I don’t give a damn"

Clark Gable

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

desindividualização


finitude prosaica

“textos blindados” (armored texts)

impressão fantasmagórica

«(...) Nada restava naquela voz a não ser uma grande indiferença; ela havia sido calcinada pelo fogo. Com homens assim se pode lutar.»

Ernst Jünger
«(...) por vezes, quando de repente a tempestade dos martelos e das rodas que nos rodeia se silencia, a tranquilidade que se esconde atrás da desmedida do movimento parece contrariar-nos quase corporalmente, e é bom o costume do nosso tempo, para honrar os mortos ou para gravar na consciência um instante de significado histórico, declara suspenso o trabalho por um intervalo de minutos, como por um comando supremo. Pois este movimento é uma alegoria da força mais íntima, no sentido em que o significado misterioso de um animal se manifesta o mais claramente possível no seu movimento. Mas o espanto sobre a sua suspensão é, no fundo, o espanto sobre o ouvido julgar perceber, por um instante, as fontes mais profundas que alimentam o curso temporal do movimento, e isso eleva este ato a uma dignidade de culto.»

Ernst Jünger
«Esse produto das fábricas americanas de distração já não é mais constituído por garotas individuais, mas complexos indissolúveis de garotas, cujos movimentos são demonstrações matemáticas. Enquanto elas se condensam em figuras nos teatros de revistas, espetáculos da mesma precisão geométrica acontecem no mesmo estádio sempre lotado na Austrália e na Índia, para não falar na América. A menor das localidades, na qual esse espetáculo ainda não foi divulgado, será informada por meio do cinejornal da semana. Basta um olhar na tela para entender que os ornamentos consistem em milhares de corpos, assexuados, em roupas de  banho. A regularidade de seus desenhos é aplaudida pela massa, disposta ordenadamente nas tribunas.»

KRACAUER, Siegfried. O ornamento da massa. In: KRACAUER, Siegfried. O ornamento da massa: ensaios. Tradução Carlos Eduardo Jordão Machado e Marlene Holzhausen. São Paulo: Cosac Naify, 2009, p. 92


A Change Is Gonna Come
Aretha Franklin
There's an old friend that
I once heard say
Something that touched my heart
And it began this way
I was born by the river
In a little tent
And just like the river
I've been runnin ever since
He said it's been a long time comin'
But I know my change is gonna come
Oh yeah
He said it's been too hard livin'
But I'm afraid to die
I might not be if I knew
What was up there
Beyond the sky
It's been a long, a long time comin'
But I know my change has got to come
Oh yeah
I went, I went to my brother
And I asked him, brother
Could you help me, please?
He said, good sister
I'd like to but I'm not able
And when I, when I looked around
I was right back down
Down on my bended knees
Yes I was, oh
There've been times that I thought
I thought that I wouldn't last for long
But somehow right now I believe
That I'm able, I'm able to carry on
I tell you that it's been along
And oh it's been an uphill journey
All the way
But I know, I know, I know
I know my change is gonna come
Sometimes I had to cry all night long
Yes I did
Sometimes
I had to give up right
For what I knew was wrong
Yes it's been an uphill journey
It's sure's been a long way comin
Yes it has
It's been real hard
Every step of the way
But I believe, I believe
This evenin' my change is come
Yeah I tell you that
My change is come
Compositores: Sam Cooke
Letras de A Change Is Gonna Come


«Aquilo que à partida se mostra, de um modo puramente fisionómico, é a rigidez do rosto, como uma máscara, que é tanto adquirida como acentuada e aumentada através de meios exteriores, como a ausência de barba, o penteado e um chapéu justo. Que neste carácter de máscara, que desperta nos homens uma impressão metálica, nas mulheres uma impressão cosmética, venha à luz um processo muito incisivo, pode-se concluir já de ele mesmo conseguir polir as formas através das quais o carácter dos sexos se torna fisionomicamente visível. Não é por acaso, diga-se de passagem, o papel que desde há pouco a máscara recomeça a desempenhar na vida quotidiana. Ela aparece de modos variados em locais onde irrompe o carácter especializado do trabalho, seja como máscara de rosto para o desporto e para altas velocidades, tal como a possui qualquer automobilista, seja como máscara de protecção no trabalho num espaço ameaçado por radiações, explosões ou difusão de narcóticos.»

 JÜNGER, Ernst. O trabalhador. Domínio e figura, op. cit., §13, p. 77.

“descobrimos uma mudança que a cada passo ganha em inequivocidade”

Ernst Jünger
Vigiar e punir

Foucault

Mann ist Mann

O Moloch jüngeriano: o sacrifício da subjetividade no altar da natureza planificada do trabalho

''o elogio ao sacrifício''


''a racionalidade iluminista é trocada pela “linguagem sem palavras” da técnica ''

Lebensphilosophie bélica

“Hoje escrevemos poesia a partir do aço e da luta pelo poder em batalhas onde os acontecimentos se engrenam com a precisão das máquinas. Nessas batalhas na terra, na água e no ar, repousa uma beleza que somos capazes de antegozar. Lá a impetuosa vontade do sangue se refreia e depois se expressa pelo domínio das maravilhas técnicas do poder”.

 HERF, Jeffrey. O modernismo reacionário, op. cit., p. 92-93. A passagem destacada por Herf é de A guerra como experiência interior.

''igualitarismo desertificante''

visão “destinarista” da técnica e da história


O modernismo reacionário

Herf
«Tudo aquilo que sentimos no nosso tempo como admirável, e que ainda nos fará aparecer, nas lendas dos séculos mais longínquos, como uma estirpe de feiticeiros poderosos, pertence a esta substância, pertence à figura do trabalhador. É ela que opera na nossa paisagem, a qual só não sentimos como infinitamente estranha porque nascemos nela; o seu sangue é o combustível que impulsiona as rodas e fumega nos seus eixos. Na consideração deste movimento, apesar de tudo monótono, que lembra um campo cheio de mosteiros tibetanos, na consideração da ordem rigorosa destes sacrifícios, que se assemelha aos esboços geométricos das pirâmides, sacrifícios tais como ainda não exigiu nenhuma Inquisição nem nenhum Moloch, e cujo número se multiplica a cada passo com uma segurança mortal — como poderia aqui um olhar que realmente quer ver furtar-se à visão de que atrás do véu da causa e efeito, que se agita sob os combates do dia, operam o destino e a veneração?»


JÜNGER, Ernst. O trabalhador. Domínio e figura. Introdução, tradução e notas Alexandre Franco de Sá; prefácio Nuno Rogeiro. Lisboa: Hugin, 2000, §12, p. 94. (


violência metafísica

“O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração”

carácter subversivo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018


«COMPANHEIRO - Se permitirmos que o vazio se estabeleça na democracia, então o fascismo ocupá-lo-á com a ditadura. Cooperemos.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 140


«JOVEM MULHER - Não me interessa. Neste momento, só desejo saber uma coisa. Gostas de mim ou não? Não me interessa continuar a viver com  um homem que não gosta de mim. Prefiro-me ir embora.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 138

«JOVEM MULHER - Quiseste desfazer-te de mim. Quiseste matar-me, para poderes casar com a tua patroa. Foi isso que sentiste, há bocado, não foi, quando eras governo? Ela é tua amante. É?»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 138

''mãos nuas''


«COMPANHEIRO - Um dos imperativos da democracia é o jogo político.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 129


«COMPANHEIRO - Sectária! (Agressivo, mão na gola dela) : Merecias uma bofetada na cara, para ver se aprendias a ser mais educada, a teres algum respeito pelas ideias dos outros.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 128

Divisionista


«COMPANHEIRO - Tu não me aborreças! Deixa estar que não fico às tuas sopas.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 126

«JOVEM MULHER - Falei-te em amor. Falei-te em fraternidade. Falei-te em felicidade. Falei-te em futuro. Tu falas-me em passado e em infelicidade.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 124

«Levas uma vida de comprometimento.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 123

«A igreja política cumpre, como qualquer outro estado, a sua missão diplomática.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 122

«Tens a mania de acentuar só o que te interessa!»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 120

«JOVEM MULHER - Comprei flores, mas não consegui comprar comer. Nem peixe nem carne, ao preço que estão. Mas não quis deixar de comprar este raminho, para alegrar-te a casa. Gostas?»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 109

''beijando pétalas descoloridas''


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 108

Novena


«CARIDADE - Tristeza antiga! O que o fascismo me fez sofrer, também a mim. Deus meu! Feia, feia, sempre vestidas de farpela. Tantas foram as vezes que me vesti de farrapos que, ainda hoje, me sinto traumatizada com essa imagem de infelicidade humana. Coitadinha! Nem as vezes em que me vesti de púrpura, para me apresentar decentemente num ou noutro baile de caridade, a favor dos pobrezinhos, conseguiram apagar em mim a imagem triste e sofredora que fui. Coitadinha de mim.»



Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 105

missal

DêmoKratia


«Honra te seja feita. Nunca deixaste de falar em flores. Isso é verdade. Até pela tua cama, ornada de cravos, se vê. Parece um altar.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 104

''portuguesmente falando''


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977

''servicinho eleitoral''


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977

«JOVEM MULHER - Ora...A vossa diarreia verbal é muito superior, mais asquerosa e violenta que uma boa arrochada na espinha. São muito amigos da Pátria, mas que fizeram dela e por ela, durante estes 48 anos? Uma Pátria esquecida e escarnecida. Num mundo de nações, onde estava a Nação portuguesa? Em casa. Em família. No vosso bolso. Eis o que vocês fizeram da vossa querida pátria.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 93

''ladainha anticomunista do costume''


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., 

«PRAZER - (...) Sofres dos nervos? Tens frustrações? Causam-te dores, perturbações dolorosas?»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 87


«PRAZER - Chiu...jovem, não faças tanto barulho! Neste tipo de negócio, é indispensável a maior descrição. A mercadoria é rara, não chega para metade. Aqui a tens, linda como os amores: liamba, marijuana, coca, mescalina, beladona, ópio, haxixe...enfim, uma beleza de sonhos ternos para a juventude. Experimenta lá esta, jovem!...»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 85

domingo, 12 de agosto de 2018

Bettina Rheims


The Life of a Slave Girl

causa abolicionista

''Gosto muito é de experimentar, porque acho que não sei fazer. E quando não sei fazer, tenho de experimentar.”

Rita Azevedo Gomes, Cineasta Portuguesa

«Outros amarão as coisas que eu amei.»

Frágil Como o Mundo, filme português realizado em 2000 por Rita Azevedo Gomes

Frágil Como o Mundo, filme português realizado em 2000 por Rita Azevedo Gomes


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

«Andas disfarçado. Quem te vê assim florido, nem dá por ti.»
Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 84

«A exploração é uma forma de escravatura.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 81

« JOVEM MULHER - Diz, ali, no livro, sobre a 1.ª democracia grega, que os escravos não tinham direitos políticos. Viva o poder dos escravos!»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 81
«JOVEM MULHER - Estou farta de sofrer e de ser enganada.
Viva o Socialismo!»
Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 80

« - Vivam os seus queridos filhos mortos!»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 80

Bruce Davidson East 100th Street. New York City. USA


as.sa.ra.pan.ta.do



«Aproveitaste-te da minha distracção e mataste-me. Oh, fui ferido! (Caindo no leito): Acode-me, na cama, meu amor!»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 77

AUTO DE CONDENAÇÃO


segunda-feira, 30 de julho de 2018

A Matriliniaridade dos Afectos

Professora Doutora Stella António – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – Universidade Técnica de Lisboa – Lisboa 2010



domingo, 29 de julho de 2018


«Nunca esperei vir encontrar este mundo tão escravizado. Esta prisão enorme, não fosse este hábito de cantar, mesmo sozinha.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 51
« D. JUAN - Errei, confesso-me. Julgava-te ingénua e, afinal, és uma sabidona. Não me serves. És daquelas que, aos primeiros olhinhos, põe logo os cornos a um tipo.

JOVEM MULHER - A homens como tu, para quem o amor é um vício, não teria dúvidas em enfeitar-te a testa com um bom par.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 50

suporíferos

«Isso é um jogo de palavras. Um convite ao isolamento.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 48
«Quer voltar à leitura. Não o consegue, porém. Sen-
ta-se, levanta-se. Põe o livro em cima do traves-
seiro. Há qualquer coisa dentro dela que a não deixa
sossegar; por isso, vagueia dum lado pata o outro.
Sai.»

Vasco José.
 A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 43

Portrait of Julia Duckworth, Virginia Woolf's mother, by Julia Margaret Cameron.


«Uma mulher vale o que representa.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 39
«JOVEM MULHER - Uma sonâmbula! Foi o que fizeste da minha mãe; um saco de ilusões.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 39

«(...) Não sou rainha de nada, sou mulher que trabalha. Não sou fada de homem nenhum, nem me interessa sê-lo. Podemos, quando muito, satisfazer necessidades mútuas.

RAINHA - Insistes em tornar-te vulgar. Porque te humilhas? Perdes a dignidade, todo o teu encanto e, assim, mais facilmente te deixas subverter.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 38

«O bicho-homem. Só o que quer é poder.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 32

''gata capada''


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 31

«(...) Não se arranjou, na Idade Média, um cinto para a mulher não cornear o marido?

PRATICANTE - Sim, chefe? Não sabia.

INQUISIDOR - Não sabias? Então aprende, que eu não posso durar sempre. Chamava-se o Cinto da Castidade.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 31

terça-feira, 24 de julho de 2018

Je T'aime Moi Non Plus




Je t'aime, je t'aime
Oh, oui je t'aime!
Moi non plus
Oh, mon amour
Comme la vague irrésolu
Je vais, je vais et je viens
Entre tes reins
Je vais et je viens
Entre tes reins
Et je me retiens
Je t'aime, je t'aime
Oh, oui je t'aime!
Moi non plus
Oh mon amour
Tu es la vague, moi l'île nue
Tu va, tu va et tu viens
Entre mes reins
Tu vas et tu viens
Entre mes reins
Et je te rejoins
Je t'aime, je t'aime
Oh, oui je t'aime!
Moi non plus
Oh, mon amour
Comme la vague irrésolu
Je vais, je vais et je viens
Entre tes reins
Je vais et je viens
Entre tes reins
Et je me retiens
Tu va, tu va et tu viens
Entre mes reins
Tu vas et tu viens
Entre mes reins
Et je te rejoins
Je t'aime, je t'aime
Oh, oui je t'aime!
Moi non plus
Oh mon amour
L'amour physique est sans issue
Je vais, je vais et je viens
Entre tes reins
Je vais et je viens
Et je me retiens
Non! Maintenant viens!

Compositores: Serge Gainsbourg

segunda-feira, 23 de julho de 2018


« (...) Então, como vai o nosso governo?

DEPUTADO - Firme como uma rocha.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 29
« PEDREIRO  - Chiu! Estás a querer mandar em mim? Quem manda nas mulheres, nos gatos e nos cães são os homens. Não são eles que lhes dão de comer? Não serão eles, porventura, os seus donos? Portanto, quem manda em ti sou eu. Ao menos, sempre mando em alguma coisa.»

Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 25

«VELHO - Como não morro, querem que eu esteja doido.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 22

«Pernas velhas, asas mortas.»



Vasco José. A Mulher Deitada. Colecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 21


«GUARDA-LIVROS - Quando vinha ao longe, notei-te à janela. E tu, sabe-lo bem, não tolero ver-te à janela. Não tens roupa para coser? Meias para remendar? O comer, a horas, para fazer? As gatas é que estão sempre à janela...à espera dos gatos. Sou uma pessoa muito boa, que gosta de tratar todos bem, mas também gosto que me respeitem. Fiz de ti uma mulher doméstica, uma mulher séria, por isso tens de cumprir o teu regulamento.»
Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 17

« - Miau!!!
O sofrimento, ao ver-se só, faz-lhe, inúmeras vezes, 
pôr-se de joelhos.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 15


«E, apesar desta casa se ter tornado num castelo para mim, pelo amor que te tenho continuaria aqui aprisionada uma vida inteira, mais presa do que a gatinha que só sai à rua para fazer chichi.»


Vasco José. A Mulher Deitada. Collecção de autor, Torres Vedras, 1977., p. 13

domingo, 22 de julho de 2018


''recadinhos de amor''

''Lindos calções enfeitados''


MolièreEscola de Mulheres. Tradução de Maria Valentina Trigo de Sousa. Livros de bolso Europa América.. p. 45

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Igor Pjörrt

Heavenly Persona (2018)

Heavenly Persona is an ethereal archive of black-and-white photos from the long-distance relationship documented in the previous series Betelgeuse. Inspired by japanese erotic photography and Shizuka’s album of the same name, Heavenly Persona examines afterlife, memory and a sexual awakening through a collection of evocative images. 

Also an exploration of naturism, the book contemplates the animalistic condition of man as a mammal and his innate attraction to nature, where the earth nurtures, protects and forms its own system with the male body, serving as both womb and deathbed. With his companion, they find themselves in lawless territory - an infinite landscape that reduces their bodies to their physical form and presents them with unparalleled freedom. 

My attention shifted to the more spiritual nature of this relationship while considering the erotic links between creation and ruin. The earth is no longer imagined as a promise of life but rather a genesis of pleasure with no other end. An impenetrable desire echoes through closed rooms and open fields as the two lovers endlessly navigate this isolated stretch between purgatory and heaven in search of a climax which always seems to be on the horizon. 

110 pages
54 black-and-white plates
245x183 mm
Unique handmade copy



''códigos visuais contemporâneos''

Narrativa Fotográfica

Powered By Blogger