«Tudo aquilo que sentimos no nosso tempo como admirável, e que ainda nos fará aparecer, nas
lendas dos séculos mais longínquos, como uma estirpe de feiticeiros poderosos, pertence a esta
substância, pertence à figura do trabalhador. É ela que opera na nossa paisagem, a qual só não
sentimos como infinitamente estranha porque nascemos nela; o seu sangue é o combustível
que impulsiona as rodas e fumega nos seus eixos.
Na consideração deste movimento, apesar de tudo monótono, que lembra um campo cheio de
mosteiros tibetanos, na consideração da ordem rigorosa destes sacrifícios, que se assemelha aos
esboços geométricos das pirâmides, sacrifícios tais como ainda não exigiu nenhuma Inquisição
nem nenhum Moloch, e cujo número se multiplica a cada passo com uma segurança mortal
— como poderia aqui um olhar que realmente quer ver furtar-se à visão de que atrás do véu da
causa e efeito, que se agita sob os combates do dia, operam o destino e a veneração?»
JÜNGER, Ernst. O trabalhador. Domínio e figura. Introdução, tradução e notas Alexandre Franco de Sá; prefácio Nuno Rogeiro. Lisboa: Hugin, 2000, §12, p. 94. (
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