in “O Medo” (ed. Assírio & Alvim)
(excerto)
コカインの時間を介しての旅です
Acho uma moral ruim
« Sei bem quem fez todo o mal e porque já não precisam de mim; porque não quero dobrar-me, e porque não digo sim e ámen a tudo, como fazem certas pessoas. Tenho o hábito de dizer a verdade a toda a gente - tornou com orgulho.»
Leon Tolstói. Infância e Adolescência. Edição Amigos do Livro, Lisboa, p. 25“É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e, quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades em que não há mal nenhum que ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro: - o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro.”
''A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, os ministérios, etc. Eu oiço-os falar e pasmo não haver praticamente um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns. Mas os que giram em torno deles não são melhores. Desconhecemos até os nossos grandes homens: quem leu Camões por exemplo? Quase ninguém. Quem sabe alguma coisa sobre Afonso de Albuquerque? Mas todos os dias há paleios cretinos acerca de futebol em quase todos os canais. Porque não é perigoso. Porque tranquiliza.
"Quando chega domingo,
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 186
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 184
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 169
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 168
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 167
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 166
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 166
«(...) porque os vidros entre os caixilhos de madeira estão picados e despolidos pelo morder do sal.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 164Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 161
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 151
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 135
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 134
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 133
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio & Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 132
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 132
''Personagem secundária em dois romances de José Saramago, o Cão das Lágrimas é uma figura em que se prolonga e modula a relevância que na ficção saramaguiana é atribuída aos cães, como animais em direta relação com os humanos, com os valores que eles representam e eventualmente degradam.
O Cão das Lágrimas de Ensaio sobre a cegueira (1995) aparece numa cidade cujos habitantes foram afetados por uma suposta epidemia de "cegueira branca". Apenas os animais apelidados de "irracionais" e a personagem "Mulher do Médico" terão conservado a sua visão inalterada. O facto de o ser humano ser o único animal que perde a capacidade de ver, enfatiza o distanciamento, baseado na capacidade de usar a razão, erguido entre esta espécie e todas as outras. Todavia, tal como é exemplificado por Saramago neste romance, a razão nem sempre é aplicada de forma benéfica. É o ser humano, e a sua incapacidade de usar a razão para o bem comum, que Saramago pretende atingir com a edificação deste cenário distópico. Em Ensaio sobre a cegueira, o ser humano perderá o seu lugar cimeiro na hierarquia das espécies e, impossibilitado de usar a tecnologia ou a ciência em seu proveito, será obrigado a recomeçar do zero.
Somos apresentados a esta personagem quando a Mulher do Médico, após ter forçado a sua saída de um supermercado para salvar a comida saqueada, chora sentada no chão enlameado; nesse instante, surge um cão que abandona a sua matilha para lhe lamber as lágrimas. A cena em que um cão "se aproxima de um ser humano em desespero e que, não podendo fazer mais nada, lhe bebe as lágrimas", foi considerada por Saramago como "um dos momentos mais belos que [fez] até hoje" (Saramago et al., 2008). Tal como o escritor sublinha, a descrição deste encontro entre os representantes de duas espécies contém em si uma mensagem que se estende a toda a sua obra (cf. Saramago et al., 2008). Num mundo fortemente tecnologizado, em que a lógica do lucro e a corrida ao poder regem a relação entre seres humanos, esta cena veicula um apelo à compaixão pelo outro.
Em Ensaio sobre a cegueira, todos os cães mantiveram a visão e percorrem agora a cidade divididos em matilhas, tornando-se em eficazes predadores. Sem ninguém para cuidar deles, estes regressaram a um período anterior à domesticação e são inclusive obrigados a alimentar-se dos cadáveres que cobrem as ruas da cidade. Os seres humanos, por seu turno, são reduzidos a animais, "pior ainda, [a] animais cegos" (Saramago, 1995: 134) que vivem entre excrementos e que perdem gradualmente a memória das mais elementares regras de convivência social. Tal como os animais irracionais, eles são reduzidos aos seus instintos básicos e lutam unicamente pela sobrevivência. Segundo o narrador de Ensaio sobre a cegueira, "quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos" (243).
Ainda que nada se saiba sobre o passado do Cão das Lágrimas, o narrador sublinha que este "não anda ao cheiro de carne morta, acompanha uns olhos que ele bem sabe estarem vivos" (233). Este cão conserva o hábito de seguir o ser humano quando todos os outros fiéis amigos parecem ter abandonado esta espécie. Até ao final da narrativa, o Cão das Lágrimas acompanha o grupo de sete personagens encabeçado pela Mulher do Médico. Ele é descrito pelo narrador como o "animal dos humanos" e o "cão de rebanho, com ordem de não perder nenhuma ovelha" (256). Contudo, quando não existem lágrimas para secar, este torna-se "áspero e intratável" (230).
Após algumas desavenças com membros desta espécie, Saramago chegou a ter medo de cães. Porém, acabaria por abrir as portas de sua casa a Pepe, Greta e Camões e a dedicar parte do seu "trabalho de escritor a criar, a inventar, a modelar figuras de cão, como se, já que temia os outros, estivesse na sua mão corrigir os erros da natureza» (Saramago, 2012). E assim nasceram, por exemplo, Achado que faz parte do livro Caverna (2000), «Constante de Levantado do chão, o cão do fio de lã azul da Jangada de pedra» e «um cão em que palpitava o coração do melhor dos humanos": o Cão das Lágrimas (Saramago, 2012).
No romance Ensaio sobre a lucidez (2004) o "cão compassivo" (Saramago, 2017: 295) de Ensaio sobre a cegueira assume igualmente o nome Constante. Talvez porque a sua função de apagar lágrimas será novamente requisitada, esta personagem acaba, contudo, por manter o epíteto "cão das lágrimas". Em Ensaio sobre a cegueira, o narrador advertiu que "o mal deste cão foi ter-se chegado tanto aos humanos" e que, por isso, "vai acabar por sofrer como eles" (Saramago, 1995: 295). Tal como todas as outras personagens, também ele será vítima da crueldade e irracionalidade humanas.
Ao sorver as lágrimas de um rosto, o cão das lágrimas parece tentar subtrair o sofrimento do seu hospedeiro. De facto, sempre que a dor sentida pela mulher do médico atinge um nível insuportável, o Cão das Lágrimas projeta um uivo dilacerante. Em Ensaio sobre a lucidez, onde a população é ameaçada por uma nova epidemia (desta vez do voto em branco), este uivo adquire um sentido particular. Neste ensaio, o Cão das Lágrimas não terá afinal lágrimas para secar. A epígrafe "Uivemos, disse o cão" é um grito definitivo de indignação contra um sistema político corrompido que, ao invés de servir os cidadãos, aciona todos os seus mecanismos para manter o statu quo. Para Saramago, "os cães somos nós. É hora de começar a uivar" (Saramago e Machado, 2004).
O Cão das Lágrimas surge em Blindness, realizado por Fernando Meirelles (2008), com Julianne Moore no papel de Mulher do Médico.''´
Texto aqui.
Referências
MEIRELLES, Fernando (dir.) (2008). Blindness. Rhombus Media: Japão, Brasil e Canadá.
SARAMAGO, José (1995). Ensaio sobre a cegueira. Lisboa: Caminho.
____ (2012). "Entra, encontraste a tua casa", disponível em https://caderno.josesaramago.org/158715.html (consultado em 09/01/2020)
____ (2017). Ensaio sobre a lucidez. Lisboa: Caminho.
SARAMAGO, José e Cassiano Elek MACHADO (2004). "José Saramago combate “cegueira” com votos em branco", disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ folha/ilustrada/ult90u42623.shtml (consultado a 9/01/2020).
SARAMAGO, José et al. (2008). "Entrevista de José Saramago ao jornal Público e à Rádio Renascença", disponível em https://www.josesaramago.org/entrevista-de-jose-saramago-ao-jornal-publico-e-a-radio-renascenca/ (consultado a 09/01/2020).
As I get a little older
I realize life is perspective
And my perspective may differ from yours
I wanna say thank you to everyone that's been down with me
All my fans, all my beautiful fans
Anyone who's ever gave me a listen
All my people
I come from a generation of pain, where murder is minor
Rebellious and Margielas'll chip you for designer
Belt buckles and clout, overzealous if prone to violence
Make the wrong turn, be it will or the wheel alignment
Residue burned, mist of the inner-city
Miscommunication to keep homi' detective busy
No protection is risky
Desensitized, I vandalized pain, covered up and camouflaged
Get used to hearing arsenal rain
Analyze, risk your life, take the charge
Homies done fucked your baby mama once you hit the yard
That's culture
Twenty-three hour lockdown, then somebody called
Said your lil nephew was shot down, the culture's involved
I done seen niggas do seventeen, hit the halfway house
Get out and get his brains blown out, looking to buy some weed
Car wash is played out, new GoFundMe accounts'll proceed
A brand-new victim'll shatter those dreams, the culture
(I want, I want, I want, I want)
But I want you to want me too (I want, I want, I want, I want)
I want the hood to want me back (I want, I want, I want, I want)
I want the hood
Look what I done for you (look what I done for you)
Look what I done for you
I said I do this for my culture
To let y'all know what a nigga look like in a bulletproof Rover
In my mama's sofa was a doo-doo popper
Hair trigger, walk up closer, ain't no Photoshopping
Friends bipolar, grab you by your pockets
No option if you froze up, always play the offense
Niggas going to work and selling work, late for work
Working late, praying for work, but he on paperwork
That's the culture, point the finger, promote ya
Remote location, witness protection, they gon' hold ya
The streets got me fucked up
Y'all can miss me
I wanna represent for us
New revolution was up and moving
I'm in Argentina wiping my tears full of confusion
Water in between us, another peer's been executed
History repeats again
Make amends, then find a nigga with the same skin to do it
But that's the culture, crack a bottle
Hard to deal with the pain when you're sober
By tomorrow we forget the remains, we start over
That's the problem
Our foundation was trained to accept whatever follows
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 126
« Os muito pobres, os muito envergonhados, os muito humilhados, não ousam apresentar-se. Eles eram como uma raça à parte, pois a pobreza era olhada como o estigma que marcava aqueles que o Bezerro não amava. No fundo das suas almas tão humilhadas que mal ousavam pensar o seu próprio pensamento, os muito pobres, os muito envergonhados esperavam outro deus.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 124/5Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 120
«(...), eram tuberculosos cuspindo sangue nos seus trapos, eram mães escanzeladas de filhos quase verdes, eram velhas curvadas e chorosas com as pernas incrivelmente inchadas, eram rapazes novos mostrando as chagas, braços torcidos, mãos cortadas, lágrimas e desgraça.»
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 117
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 113
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 110
Sophia de Mello Breyner Andresen. Prosa. Assírio&Alvim. 1ª Edição, 2021., p. 109
José Saramago. A Viagem do Elefante. Porto Editora. 2014., p. 186
José Saramago. A Viagem do Elefante. Porto Editora. 2014., p. 179
José Saramago. A Viagem do Elefante. Porto Editora. 2014., p. 176
José Saramago. A Viagem do Elefante. Porto Editora. 2014., p. 166