sábado, 24 de junho de 2017


«Finalmente decide adormecer com a pistola na mão a fim de que aconteça o que deve acontecer. Com este objectivo acaba de tomar os comprimidos de Veronal.»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 105

O tempo da Psique

concatenação

''luz esmagante''

«(...) o rosto da Virgem cuidadosamente sujo de excrementos,»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 98


«Os blasfemos  flutuavam nos pântanos, as turbas fremiam sob o látego dos bispos mutilados de mármore, usavam-se os sexos femininos para moldar os sapos.»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 95

«Tudo é absolutamente realizável»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 93

PALÁCIO DE GELO


      Os charcos formavam um dominó decapitado de edifícios, dos quais um era o torreão que me contaram na infância, de uma só janela, tão alta como os olhos da mãe quando se inclinam sobre o berço.
    Perto da janela pende um enforcado que se balanceia sobre o abismo cercado de eternidade, uivado de espaço. SOU EU. É o meu esqueleto de que já não restam senão os olhos.Tão depressa riem como se me entortam, ou VÃO COMER UMA MIGALHA DE PÃO NO INTERIOR DO MEU CÉREBRO. Abre-se a janela e aparece uma dama a pôr polisoir nas unhas. Quando as vê suficientemente afiadas arranca-me os olhos e atira-os para a rua. Ficam-se as órbitas sozinhas, sem olhar, sem mar, sem desejos, sem frangos, sem nada.
    Uma enfermeira vem sentar-se ao meu lado na mesa do café. Desdobra um jornal de 1856 e lê com voz emocionada:
   «Quando os soldados de Napoleão entraram em Saragoça, na VIL SARAGOÇA, só encontraram o vento pelas ruas desertas. Só num charco grasnavam os olhos de Luis Buñuel. Os soldados de Napoleão acabaram-nos à baionetada.»




Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 90

 “Os dias Prósperos não vêm por acaso.
Nascem de muita fadiga e
 muitos intervalos de desalento”

Camilo Castelo Branco

''A pele enrugada denunciava as muitas histórias na bagagem. As lágrimas eram uma carta de amor à terra queimada, negra, de luto. A roupa cheirava à besta que arruinou a vida àquela gente. Tinha um pau na mão direita para se amparar e o regador laranja na mão esquerda, para calar o fumo que saía por baixo dos pés. Maria do Rosário, de 84 anos, foi fotografada no regresso a casa por Joaquim Dâmaso, do jornal Região de Leiria. Esta é a história da fotografia em Enchecamas, uma aldeia de Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria.''

escuridões silenciosas

terça-feira, 20 de junho de 2017

segunda-feira, 19 de junho de 2017

"Ouvi que uma voz de poeta me falava de casas
e disse é numa nuvem que hei-de morar, do ar
do ar. Era novo pesquisava ouro exactamente
a meio da literatura - mais tarde, num
sonho da B. suicidava-me, tal & qual, no mais longo pé
riplo do mais denso dos centros: um verso menos
leve, o corpo das correntes quen
tes, tu. E hoje, minhas canções, temos
uma cama, não a rapariga. Ide, pois, como as
de Pound"

"O Desflashar dos Espaços"
 Carlos Leite
Eucaliptugal, o ecocídio da floresta nacional

sexta-feira, 16 de junho de 2017



We are just waves in time and space, changing continuously.

Nikola Tesla

quinta-feira, 15 de junho de 2017


“eis-me acordado/ com o pouco que me sobejou da juventude nas mãos/ estas fotografias onde cruzei os dias/ sem me deter/ e por detrás de cada máscara desperta/ a morte de quem partiu e se mantém vivo.”

Al Berto

doutos juízos

“o último habitante do lado mitológico das cidades”

Al Berto
“Depois de uma noite agitada, um escaravelho terrível acorda metamorfoseado no autor destas linhas”, escreveu Al Berto

''rios de veludo''


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 34


«Ah! eu receio o amor, como receio a morte!
Não me despertes, não! Tu, que és ágil e forte,
Não me despertes, não, a mim débil, cansada...
Ah! deixa-me viver assim anestesiada,
Inconsciente, quieta, indiferente a tudo,
Olhar parado sempre, o lábio sempre mudo,
Circundada de sons, perfumes e visões...
O anacâmpsero, a flor que sugere paixões,
Não venhas desfolhá-lo em meu frio regaço...
Deixa-me assim viver neste quietismo lasso,
Não venhas alterar os meus dias longos, tristes...
Não me fales de amor; e, se acaso persistes
Em procurar em mim um filtro que te adoce,
Ama-me, sim, porém sem a ideia da posse,
Com um amor absconso, espiritual, silente, 
Ama-me simplesmente e religiosamente,
Como se eu fosse, amigo, uma noviça morta!

Do meu peito não te abro a inviolada porta,
Ah! deixa-me sonhar, ah! deixa-me dormir!»




Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 29

«Frígido coração onde o tédio governa,»


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 29

(...)

«Esta minha frieza, o meu desprendimento
Não é orgulho, nem desdém, nem é desprezo.»


Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 28

conúbio

nome masculino

1. matrimónio; núpcias
2. figurado união; ligação

«Teus lábios de cinábrio, entreabre-os!»



Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 25

«Suaves, lentos lamentos»



Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 23

Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.

Humildemente, atrás de ti rastejo,
Humildemente, sem te convencer,
Antes sentindo para mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.

Sei que jamais hei-de possuir-te, sei
Que outro, feliz, ditoso como um rei,
Enlaçará teu virgem corpo em flor.

Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esp'rança,
Amar sem esp'rança é o verdadeiro amor.




Eugénio de CastroAntologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 22


(...)

Creio que se me nascesse um filho
ele quedar-se-ia eternamente a olhar
as bestas que copulam ao entardecer



Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 89

NÃO ME PARECE BEM NÃO ME PARECE MAL


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 89

''enquanto a música ardia num candeeiro''


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 87

«Sem exalar um grito, torcia-se de dor. As lágrimas rolavam caudalosas pelo seu semblante, mas antes que atingissem o chão coalhavam nas patilhas, secavam-lhe no peito. Eram lágrimas ardentes, lágrimas de cera, e o arrependimento, vivo como uma chama, acendia-se sobre a sua cabeça. Já todo ele se derretia como um grosso círio.»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 86

''lábios insepultos''



«É este - disse-me - o lacrimal repleto lago de angústia.» Não fiz atenção, ocupado como estava a beijar-lhe o peito entre os seios que ela ocultava com as mãos, chorando desconsoladamente, quase sem forças para se defender da minha lascívia.»


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 81

Era meio-dia em ponto


«Era meio-dia em ponto, a hora em que todos os sacerdotes da terra erguem a hóstia sobre as searas.
   Recebi minha irmã com os braços em cruz, plenamente liberto no meio de um silêncio augusto e branco de hóstia.»

Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 80

Suavemente, no princípio.


«Suavemente, no princípio. Depois, à medida que o ódio crescia nos olhos do meu espectador, dancei furiosamente, como um doido, como um possesso.»



Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 80

''caracóis abundantes''


«Seria indelicado vomitar-lhes um piano

desde a minha janela?»



Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 78

gastar muita saliva

 falar muito, sem proveito ou sem acerto


«Os resíduos de estrela que ficaram entre os seus

     cabelos »


Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 77
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