terça-feira, 14 de outubro de 2014

«Recebi o insulto e dei-me conta de que, provocadas pelo violento golpe, as lágrimas tinham inundado os meus olhos. E assim ficámos, durante algum tempo, sentados e olhando-nos mutuamente. Em seguida levantei-me lentamente. Na minha imaginação perguntava-me se ela alguma vez chegaria a aceitar-me; mas não foi a isto que me referi quando, finalmente falei. Disse-lhe, enquanto alisava o feltro do meu chapéu: «Agora já sei o que pensar. Nada!»


Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 57
«Ah, a loucura de toda esta questão! dizia eu a mim mesmo, pelo menos, nas horas de maior perturbação.»


Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 57

«Ferida e solitária, altamente talentosa e, agora, no seu luto pesado, com a maturidade do seu encanto, com o seu desgosto sem queixas, e incontestavelmente bela - apresentava-se como uma pessoa vivendo uma vida de singular dignidade e beleza.»



Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 55

«Ouviu, nos vossos poucos dias de felicidade cedo interrompida», escrevi, «alguma coisa do que nós desejávamos ouvir?» Escrevi «nós» para que ela subentendesse a minha insinuação; e ela demonstrou-me que entendera a minha pequena «insinuação» «Ouvi tudo», respondeu-me ela, «e decidi guardar comigo o segredo do mistério!»


Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 53

proibição absoluta

''(...) a escola do diabo, o abismo.»

Henry James. O Desenho no Tapete. Tradução de Luzia Maria Martins. Relógio D'Água, Lisboa, p. 50

to remain in the background


apagar-se; permanecer na sombra

quarta-feira, 1 de outubro de 2014


«(...) a cara escondida pela ponta em brasa do cigarro.»


Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 105

prestímano

SE

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida. 

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste! 

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!

Rudyard Kipling

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Paul Outerbridge, Jr. Advertisement, 1938


passeios higiénicos

inábil

«Do ponto de vista psiquiátrico, todos os extremismos políticos derivam de uma única categoria definida por um sistema banal: o desejo de violência e de poder. E também desejo de submissão» (Le fou, p. 93). «O gosto pelo vermelho, cor de sangue, comum ao nazismo e ao bolchevismo, remete sempre, inconscientemente, para a pulsão de morte da máquina. A própria palavra comunismo contém excepcional carga afectiva» (Le fou. p. 244)


Le fou et le prolétaire, Robert Laffont, 1979. L'invention de la France, em colaboração com Hervé Le Bras, Le Livre de Poche, 1981.
«A liberdade não tem preço, nós não achamos que deva pagar-se com sofrimento.»


Claude Guillon, Yves Le Bonniec. Suicídio Modo de Usar. História, Técnica, Notícia. Traduzido do francês por Júlio Henriques e Paulo da Costa Domingos. Edições Antígona, Lisboa, 1990., p.

Homessa!

«Tentem suicidar-se e tenham o azar de falhar, logo essas bestas dos vivos hão-de desunhar-se para vos forçar a viver, obrigando-vos a partilhar a merda deles.
   Sei que em certos momentos na vida parecem de felicidade; questão de humores, como o desespero, e nem um nem outro assentam sobre algo sólido. Tudo isso é asquerosamente provisório. O instinto de conservação é uma nojeira.»

«Vive la Mort», Chaval (reproduzido in Carton, Les Cahiers du dessin d'humour, nº2, 1975)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

«paranóia deambulatória »


Henry MillerUm diabo no paraíso. Tradução de Estevão Sasportes. Livros do Brasil, livros Unibolso,11/12

monologador

«Interiormente, era um ser perturbado, um homem nervoso, caprichoso e obstinado. Habituado a uma determinada rotina, levava a vida disciplinada de um eremita ou de um asceta. Era difícil dizer-se se tinha adoptado livremente este modo de vida ou o tinha aceite pela força das circunstâncias. Nunca se referiu à vida que gostava de ter. Comportava-se como uma pessoa que, escorraçada e humilhada, se conforma com a sua sorte. Como uma pessoa que assimila melhor o castigo que a felicidade. Havia nele qualquer coisa de feminino, que não deixava de ter os seus encantos, mas que explorava contra si mesmo. Era um dandy incurável, que vivia como um mendigo. E vivia completamente no passado.
   Talvez que a mais precisa definição que eu possa dar da sua pessoa no começo das nossas relações, seja a de um estóico que arrasta atrás de si o seu caixão.
   Contudo, era um homem com múltiplas feições, conforme vim a descobrir gradualmente. Era muito permeável, extremamente susceptível, em particular às emanações perniciosas, e podia mostrar-se tão volúvel e emotivo como uma rapariguinha de dezasseis anos. Embora não fosse um espírito estruturalmente bem formado, fazia o possível por ser correcto, imparcial e justo. E tentava ser leal, embora sentisse que, por natureza, era essencialmente falso. Aliás, foi essa indefinível perfídia a primeira coisa que percebi a seu respeito, embora não tivesse qualquer motivo para justificar este juízo. Lembro-me de ter deliberadamente afastado este pensamento, substituindo-o pela vaga noção que estava em presença de uma inteligência suspeita.»


Henry Miller. Um diabo no paraíso. Tradução de Estevão Sasportes. Livros do Brasil, livros Unibolso,11/12

estolidez


nome feminino
qualidade de estólidoparvoíceestupidez

raízes com sangue


A Love story


domingo, 28 de setembro de 2014

«Partimos à luz pálida do sol que caía lentamente sobre o mar, e a última coisa que vi foram aquelas colinas despidas e agrestes, que fazem lembrar a cinza.»


Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 80
«- Linda faz-te crescer água na boca, bem sei - respondeu-lhe Carletto - o que te trama é que ela tem a cabeça no lugar.»

Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 77

''bordejámos o mar''

«(...), atentos a um prato de fotografias.»


Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 76

Autocrome- Bathers, 1926


estar/ver-se à brocha

popular


estar ou ver-se em grandes dificuldades


prostíbulo

VISIONS & OMENS

"Comecemos então pelos habitantes humanos, ou talvez melhor, sobre-humanos, dessas regiões distantes. Blake chamava-lhes querubins. E, de facto, não há dúvida de que é isso mesmo que eles são: a matriz psicológica daqueles seres que nas teologias das mais variadas religiões servem de intermediários entre o homem e a Luz Clara. As personagens sobrehumanas da experiência visionária nunca estão a fazer isto ou aquilo (do mesmo modo que os bem aventurados, no Céu, também não estão em actividade). Contentam-se com o facto de existir. Estas figuras heróicas da experiência visionária dos homens,sob vários nomes e com uma infinidade de diferentes roupagens, surgiram na arte religiosa de todas as culturas. Por vezes são apresentados em repouso, outras vezes em cenas de acção mitológica. Mas a acção, como já dissemos, não é um atributo natural dos habitantes dos antípodas da mente. Estar ocupado é a lei da nossa existência. A lei da existência deles é não fazer nada."


Aldous Huxley. 
"O Céu e o Inferno"

sábado, 27 de setembro de 2014

sangrar a frio por entre fios de lágrimas

Catadura


nome feminino

1. disposição, estado de ânimo
2. aspecto; aparência
3. cariz


flancos opulentos

catecismo

«(...) gritei para dentro de mim como se falasse.»

Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 53

«Venho a este sítio sempre que posso.
-Costumavas vir sozinha?
-Nunca se está só num lugar.»


Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 34


Fazia frio no meio das árvores.


Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 34

E fui-me embora.


«-Não queres que eu fique aqui mais tempo? - perguntou-me Linda, de cenho carregado.
  - Não quero coisa nenhuma - disse eu, brusco. - Tenho que me ir embora.
  -Isso é comigo? - perguntou Linda.
  Encolhi os ombros e pus a guitarra no saco. Tê-la-ia partido em dois pedaços.
  -Dá-me ao menos um cigarro - disse Linda.
  -Estão em cima da cama. - E fui-me embora.»


Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 30/1
« Quando falava assim é que eu compreendia quem ela era. Contávamos um ror de coisas um ao outro nessa noite, gracejando volta e meia, mas bastava um momento para me encher de medo.»

Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 25
« - Quem tem saúde não pensa nos doentes - disse ainda a velha.»


Cesare Pavese. A guitarra quebrada. Traduzida pelo italiano por José da Fonseca Costa. Editorial Minerva, Lisboa, p. 25

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