segunda-feira, 18 de novembro de 2013
sábado, 16 de novembro de 2013
A VIOLÊNCIA DAS HORAS
Todos morreram.
Morreu D.Antónia, a rouca, que fazia pão barato na cidade.
Morreu no padre Santiago, que gostava de ser saudado pelos rapazes e as raparigas, respondendo a todos, fosse a quem fosse: «Bons dias, José! Bons dias, Maria!»
Morreu aquela jovem loura, Carlota, deixando um filhinho de meses, que também morreu, oito dias após a mãe.
Morreu minha tia Albina, que costumava cantar tempos e modos de herdade, enquanto costurava nas galerias, para Isidora, a criada de profissão, a honradíssima mulher.
Morreu um velho zarolho, não me lembro do nome, mas dormia ao sol da manhã, sentado à porta do funileiro da esquina.
Morreu Raio, o cão da minha altura, ferido por uma bala de não se sabe quem.
Morreu Lucas, meu cunhado nas paz das cinturas, de que me lembro quando chove e não há ninguém na minha experiência.
Morreu no meu revólver minha mãe, em meu punho a minha irmã e meu irmão na víscera sangrenta, os três ligados por um género triste de tristeza, no mês de Agosto de anos sucessivos.
Morreu o músico Méndez, alto e muito bêbedo, que solfejava no seu clarinete tocatas melancólicas, a cujo articulado adormeciam as galinhas do meu bairro, muito antes do pôr do Sol.
Morreu minha eternidade e eu estou a velá-la.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 75
Morreu D.Antónia, a rouca, que fazia pão barato na cidade.
Morreu no padre Santiago, que gostava de ser saudado pelos rapazes e as raparigas, respondendo a todos, fosse a quem fosse: «Bons dias, José! Bons dias, Maria!»
Morreu aquela jovem loura, Carlota, deixando um filhinho de meses, que também morreu, oito dias após a mãe.
Morreu minha tia Albina, que costumava cantar tempos e modos de herdade, enquanto costurava nas galerias, para Isidora, a criada de profissão, a honradíssima mulher.
Morreu um velho zarolho, não me lembro do nome, mas dormia ao sol da manhã, sentado à porta do funileiro da esquina.
Morreu Raio, o cão da minha altura, ferido por uma bala de não se sabe quem.
Morreu Lucas, meu cunhado nas paz das cinturas, de que me lembro quando chove e não há ninguém na minha experiência.
Morreu no meu revólver minha mãe, em meu punho a minha irmã e meu irmão na víscera sangrenta, os três ligados por um género triste de tristeza, no mês de Agosto de anos sucessivos.
Morreu o músico Méndez, alto e muito bêbedo, que solfejava no seu clarinete tocatas melancólicas, a cujo articulado adormeciam as galinhas do meu bairro, muito antes do pôr do Sol.
Morreu minha eternidade e eu estou a velá-la.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 75
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
LXXV
Estais mortos.
Que estranha maneira de estar mortos. Quem quer que seja
diria que não o estais. Mas, na verdade, estais mortos.
Flutuais nadamente por trás dessa membrana que, pêndulo
do zénite ao nadir, vem e vai de crepúsculo a crepúsculo,
vibrando diante da sonora caixa de uma ferida que não vos
dói. Digo-vos, pois, que a vida está no espelho, e que sois o
original, a morte.
Enquanto a onda vai, enquanto a onda vem, quão
impunemente se está morto. Só quando as águas se
quebram, nas margens enfrentadas e se dobram e dobram,
então transfigurai-vos e, julgando morrer, descobris a sexta
corda que já não é vossa.
Estais mortos, não tendo nunca antes vivido. Quem quer
que seja diria que, não sendo agora, fosses em outro tempo.
Mas, em verdade, vós sois os cadáveres de uma vida que
nunca foi. Triste destino. O não ter sido senão mortos
sempre. O ser folha seca sem ter sido verde jamais.
Orfandade de orfandades.
E contudo, os mortos não são, não podem ser cadáveres
de uma vida que ainda não viveram. Morreram sempre de
vida.
Estais mortos.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 70
Que estranha maneira de estar mortos. Quem quer que seja
diria que não o estais. Mas, na verdade, estais mortos.
Flutuais nadamente por trás dessa membrana que, pêndulo
do zénite ao nadir, vem e vai de crepúsculo a crepúsculo,
vibrando diante da sonora caixa de uma ferida que não vos
dói. Digo-vos, pois, que a vida está no espelho, e que sois o
original, a morte.
Enquanto a onda vai, enquanto a onda vem, quão
impunemente se está morto. Só quando as águas se
quebram, nas margens enfrentadas e se dobram e dobram,
então transfigurai-vos e, julgando morrer, descobris a sexta
corda que já não é vossa.
Estais mortos, não tendo nunca antes vivido. Quem quer
que seja diria que, não sendo agora, fosses em outro tempo.
Mas, em verdade, vós sois os cadáveres de uma vida que
nunca foi. Triste destino. O não ter sido senão mortos
sempre. O ser folha seca sem ter sido verde jamais.
Orfandade de orfandades.
E contudo, os mortos não são, não podem ser cadáveres
de uma vida que ainda não viveram. Morreram sempre de
vida.
Estais mortos.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 70
terça-feira, 12 de novembro de 2013
LVII
Caracterizados os pontos mais altos, os pontos
do amor, de ser maiúsculo, belo, jejuo, ab-
sorvo heroína para a dor, para o latejo
laço e contra a correcção.
Posso dizer que nos atraiçoaram? Não.
Que todos foram bons? Tão-pouco. Mas
ali está uma boa vontade, sem dúvida,
e, sobretudo, o ser assim.
E que quem se ame muito! Procuro-me
em meu próprio desígnio que devia ser obra
minha, em vão: nada conseguiu ser livre.
E contudo, quem me impele.
A que não me atrevo a fechar a quinta janela.
E o papel de amar-se e persistir junto às
horas e ao indevido
E o este e o aquele.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 63
do amor, de ser maiúsculo, belo, jejuo, ab-
sorvo heroína para a dor, para o latejo
laço e contra a correcção.
Posso dizer que nos atraiçoaram? Não.
Que todos foram bons? Tão-pouco. Mas
ali está uma boa vontade, sem dúvida,
e, sobretudo, o ser assim.
E que quem se ame muito! Procuro-me
em meu próprio desígnio que devia ser obra
minha, em vão: nada conseguiu ser livre.
E contudo, quem me impele.
A que não me atrevo a fechar a quinta janela.
E o papel de amar-se e persistir junto às
horas e ao indevido
E o este e o aquele.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 63
XV
Naquele canto, onde tantas noites
dormimos juntos, vim sentar-me agora,
a caminhar. A cama dos noivos mortos
foi retirada, ou passou-se talvez alguma coisa.
Vieste cedo para outros assuntos
e já não estás aqui. Este é o canto
onde a teu lado uma noite li,
entre teus ternos pontos,
um conto de Daudet. É o canto
amado. Não o confundas.
Pus-me a lembrar aqueles dias
de verão passados, teu entrar e sair,
pequena e cansada e pálida nos quartos.
Nesta noite chuvosa,
já longe de nós dois, salto de súbito...
São duas portas abrindo-se fechando-se
duas portas que vão ao vento vão e vêm
sombra a sombra.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 44
dormimos juntos, vim sentar-me agora,
a caminhar. A cama dos noivos mortos
foi retirada, ou passou-se talvez alguma coisa.
Vieste cedo para outros assuntos
e já não estás aqui. Este é o canto
onde a teu lado uma noite li,
entre teus ternos pontos,
um conto de Daudet. É o canto
amado. Não o confundas.
Pus-me a lembrar aqueles dias
de verão passados, teu entrar e sair,
pequena e cansada e pálida nos quartos.
Nesta noite chuvosa,
já longe de nós dois, salto de súbito...
São duas portas abrindo-se fechando-se
duas portas que vão ao vento vão e vêm
sombra a sombra.
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 44
XIII
Penso em teu sexo.
Simplificado o coração, penso em teu sexo,
diante a ilharga madura do dia.
Apalpo o botão de gozo, está maduro.
E morre um sentimento antigo
degenerado em prudência.
Penso em teu sexo, sulco mais prolífico
e harmonioso que o ventre da Sombra,
embora a Morte conceba e dê à luz
do próprio Deus.
Oh Consciência,
penso, sim, no bicho livre
que goza onde quer, onde pode.
Oh, escândalo de mel dos crepúsculos.
Oh estrondo mudo.
Odumodnortse!
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 43
Simplificado o coração, penso em teu sexo,
diante a ilharga madura do dia.
Apalpo o botão de gozo, está maduro.
E morre um sentimento antigo
degenerado em prudência.
Penso em teu sexo, sulco mais prolífico
e harmonioso que o ventre da Sombra,
embora a Morte conceba e dê à luz
do próprio Deus.
Oh Consciência,
penso, sim, no bicho livre
que goza onde quer, onde pode.
Oh, escândalo de mel dos crepúsculos.
Oh estrondo mudo.
Odumodnortse!
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 43
ÁGAPE
Hoje ninguém veio perguntar alguma coisa;
nem nesta tarde ninguém me pediu nada,
Não vi sequer uma flor de cemitério
em tão alegre procissão de luzes.
Perdoa-me Senhor: morri tão pouco!
Nesta tarde todos, todos passam
sem nada me perguntar nem pedir nada.
E não sei o que esquecem e que fica
e minhas mãos tão mal, qual coisa alheia.
Saí até à porta,
tenho vontade de gritar a todos:
Se alguma coisa vos falta, ela está aqui!
Porque em todas as tardes desta vida,
não sei que portas nos atiram na cara
e algo estranho se apodera da minha alma.
Não veio ninguém hoje;
e que pouco hoje nesta tarde morri!
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 32
nem nesta tarde ninguém me pediu nada,
Não vi sequer uma flor de cemitério
em tão alegre procissão de luzes.
Perdoa-me Senhor: morri tão pouco!
Nesta tarde todos, todos passam
sem nada me perguntar nem pedir nada.
E não sei o que esquecem e que fica
e minhas mãos tão mal, qual coisa alheia.
Saí até à porta,
tenho vontade de gritar a todos:
Se alguma coisa vos falta, ela está aqui!
Porque em todas as tardes desta vida,
não sei que portas nos atiram na cara
e algo estranho se apodera da minha alma.
Não veio ninguém hoje;
e que pouco hoje nesta tarde morri!
César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 32
O eu e o não-eu
«O eu e o não-eu de Fichte travam um terrível combate neste espírito cheio de objectividade.»
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 47
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 47
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
''Não é ainda este o último abismo.''
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 44
''levando no pensamento o vão fantasma desta noite''
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 43
«espectros onde sangra ainda o lugar do amor»
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 32
« - deixai-o embriagar-se com o triunfo que acaba de obter, pois possui todos os recursos da dialéctica e, com ele, não tereis nunca a última palavra sobre o que quer que seja.»
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 19
dialéctica
nome feminino
1. arte de argumentar ou discutir, através do raciocínio e com o objectivo de demonstrar algo
2. pejorativo argumentação enganosa e subtil
3. FILOSOFIA processo de um pensamento que toma consciência de si mesmo e se exprime por afirmações antitéticas que uma síntese englobante procura reduzir
4. FILOSOFIA processo de um pensamento ou de um devir que progride por uma alternância de movimentos de sentido inverso ou por um jogo de causalidade recíproca
5. FILOSOFIA método para compreender o objecto de um estudo, que consiste em colocá-lo de novo na realidade movente, histórica, concreta
6. FILOSOFIA (Aristóteles) dedução a partir de proposições simplesmente prováveis
7. FILOSOFIA (Escolásticos) lógica formal
8. FILOSOFIA (Kant) lógica de aparência
9. FILOSOFIA (Hegel, Marx) processo pelo qual o pensamento (que se confunde com o ser) se desenvolve segundo um ritmo ternário: tese, antítese, síntese
(Do grego dialektiké (tékhne), «a arte de discutir», pelo latim dialectĭca-, «dialética»)
1. arte de argumentar ou discutir, através do raciocínio e com o objectivo de demonstrar algo
2. pejorativo argumentação enganosa e subtil
3. FILOSOFIA processo de um pensamento que toma consciência de si mesmo e se exprime por afirmações antitéticas que uma síntese englobante procura reduzir
4. FILOSOFIA processo de um pensamento ou de um devir que progride por uma alternância de movimentos de sentido inverso ou por um jogo de causalidade recíproca
5. FILOSOFIA método para compreender o objecto de um estudo, que consiste em colocá-lo de novo na realidade movente, histórica, concreta
6. FILOSOFIA (Aristóteles) dedução a partir de proposições simplesmente prováveis
7. FILOSOFIA (Escolásticos) lógica formal
8. FILOSOFIA (Kant) lógica de aparência
9. FILOSOFIA (Hegel, Marx) processo pelo qual o pensamento (que se confunde com o ser) se desenvolve segundo um ritmo ternário: tese, antítese, síntese
(Do grego dialektiké (tékhne), «a arte de discutir», pelo latim dialectĭca-, «dialética»)
« o que não tinha remédio remediado estava»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 173
«Depois, passando do amargo sarcasmo à cólera, fez a singular declaração de que o «verme morde quando é pisado»; e, por fim, entregou-se a um terno pesar dizendo que se, ao menos, os culpados tivessem confiando nela, quantas coisas não lhes poderia ela ter sugerido!»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 172
domingo, 10 de novembro de 2013
Com o tempo, a paixão das grandes viagens apaga-se ...
« Com o tempo, a paixão das grandes viagens apaga-se, a menos que tenhamos viajado tanto tempo que nos tornemos estranhos à pátria. O círculo estreita-se cada vez mais, aproximando-se pouco a pouco do lar. - Não podendo afastar-me muito nesse Outono, formara o projecto de uma simples viagem a Meaux.»
Gérard de Nerval. As Noites de Outubro. Contos realistas fantásticos. Colecção: Contemporâneos de Sempre. Tradução António Gonçalves e Isabel Vieira. Vega, Lisboa., p. 17
já tive que ferir e defender-me
«Como sabem, não sou de muitas meiguices; já tive que ferir e defender-me. Várias vezes resisti e ataquei - a única forma, afinal, de resistir - sem atender ao preço e para acatar exigências deste género da vida em que fiz a asneira de me meter. Já vi o demónio da violência, o demónio da cupidez, o demónio do mais incendiado desejo, mas - por todas as estrelas do céu!- estes demónios fortes, vigorosos, com o olhar vermelho que domina e atiça os homens - digo homens, reparem lá bem.»
Joseph Conrad. O Coração das Trevas. Tradução e Introdução de Aníbal Fernandes.
Editorial Estampa, Lisboa, 1983., p. 31
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escritor britânico de origem polaca,
Joseph Conrad
sábado, 9 de novembro de 2013
« V. - Não preciso de vo-lo dizer; revelo-me, como já alguém afirmou, pela fronte e pelo olhar e, se alguém me quisesse tomar por Minerva ou pela Sabedoria, desenganá-lo-ia, sem precisar de discursos, com um único olhar, pois o espelho da alma é sempre o menos enganador. Nunca simulo no rosto o que me não vai no coração. Sou sempre igual a mim própria e nunca uso de disfarce, como os que pretendem passar por sábios e se passeiam como macacos vestidos de púrpura ou asnos cobertos com uma pele de leão. Qualquer que seja o disfarce, as orelhas acabam sempre por atraiçoar o velho Midas.»
Midas - desesperado com as suas orelhas, procurou escondê-las. O segredo foi descoberto pelo barbeiro, que, não podendo guardá-lo, resolveu cavar um buraco e aí o ocultar. Porém, as roseiras que cresceram nesse local repetiam a quem passava, sempre que o vento as abanava, o segredo das orelhas de Midas.
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 18/9
«Agrada-me fazer de sofista à vossa frente, não porém como aqueles que metem na cabeça dos jovens bagatelas enfadonhas e os ensinam a discutir com mais teimosia que as mulheres.»
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 16
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 16
sofisma
nome masculino
1. FILOSOFIA, LÓGICA erro de pensamento em que, deliberadamente, se empregam argumentos falsos, com aparência de verdadeiros; falácia
2. qualquer argumentação que procura induzir alguém em erro
3. popular ato de má-fé usado para enganar alguém; dolo, engano
(Do grego sóphisma, «subtileza de sofista», pelo latim sophisma, «idem»)
«Quando vos vejo agora, ébrios do néctar dos deuses de Homero, misturado a um pouco de nepentes, enquanto, há um momento ainda, estáveis para aí sentados, inquietos e tristes, como se acabásseis de chegar do antro de Trofónio.»
_______________
nepentes - planta, cujo suco, misturado ao vinho, provocaria o esquecimento das preocupações e cuidados.
Trofónio - Legendário assassino, em cujo antro se encontrava um oráculo cuja consulta provocaria a tristeza para toda a vida.
Erasmo. O Elogio da Loucura. Tradução, prefácio e notas de Maria Isabel Gonçalves Tomás. Livros de bolso Europa-América., p. 15
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
« - Sim, tenciono dar-lhe a maior prova de ternura que me for possível e fazer-lhe a maior reparação. Para conseguir o meu fim, libertá-la-ei do sofrimento diário de um casamento desigual e da luta que lhe impõe o ter de o esconder. Ficará tão livre quanto estiver na minha mão fazê-lo.»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 143
terça-feira, 5 de novembro de 2013
«Pode ser a sua paciente companheira na velhice e nos achaques que a acompanham; a sua desvelada enfermeira na doença, a sua constante amiga no sofrimento e nos desgostos; trabalhar incansavelmente para o ajudar e por amor dele; velar por ele, consolá-lo...sentar-se junto do seu leito e conversar com ele, quando estiver acordado, e pedir a Deus por ele, quando estiver dormindo - que privilégios! Que de oportunidades para lhe provar a lealdade do seu amor. Será ela pessoa para fazer tudo isto?»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 82
« (...) mas os seus desolados pensamentos não se manifestaram em palavras.»
«Três ou quatro vezes sacudiu a cabeça como se lamentasse a perda de qualquer pessoa ou recordação, mas os seus desolados pensamentos não se manifestaram em palavras.»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 78/9
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 78/9
«-Diz o provérbio que, quando um pássaro sabe cantar e não quer, é preciso forçá-lo - rosnou Tackleton. - E que dirá o provérbio do mocho que não sabe cantar, que não deve cantar e que teima em cantar? A esse não há nada que se lhe obrigue a fazer?»
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p. 74
«A sua alma perversa regalava-se com essas fantasias macabras.
Eram o seu único alívio e a sua válvula de segurança, e revelava-se magistral nessas invenções. Tudo o quanto sugerisse monstruosidade, fantasmagoria, bruxedo, deliciava-o. »
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p.
Eram o seu único alívio e a sua válvula de segurança, e revelava-se magistral nessas invenções. Tudo o quanto sugerisse monstruosidade, fantasmagoria, bruxedo, deliciava-o. »
Charles Dickens. O Grilo da Lareira. Tradução de Margarida Barbosa. Colecção Contos e Novelas. Editorial «GLEBA», Lisboa, 1945., p.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
domingo, 3 de novembro de 2013
«Clara adormece umas ruas mais à frente com a mesma imagem perfurada. O toque do telefone trespassa-lhe o sono. Os cravos inchados de vermelho erguem-se no escuro, a água brilha dentro da jarra. Estou em Viena, diz Pavel, em breve irá alguém a tua casa e dar-te-á o meu endereço e um passaporte, tens de vir imediatamente, senão já cá não estarei.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 232/3
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Já então a raposa era o caçador
«Eras capaz de abrir os dois cadáveres, perguntou Adina, Paul abriu e fechou a tesoura das unhas, seria pior do que ter de olhar as entranhas da minha mãe e do meu pai, disse ele. O meu pai batia-me muitas vezes, eu tinha medo dele. Às refeições, quando eu via a sua mãe segurar o pão, o meu medo passava. Nesse momento ele era como eu, nesse momento éramos iguais. Mas quando me batia, eu não conseguia imaginar que era também com aquela mão que ele levava o pão à boca.
Paul respirou fundo do cansaço de tantos dias. No lugar onde outros têm o coração, eles têm um cemitério, disse Adina, só têm mortos entre as suas têmporas, pequenos e sanguinolentos como framboesas enregeladas. Paul esfregou as lágrimas dos olhos, causam-me repugnância e eu sinto-me compelido a chorá-los. De onde vem esta comiseração, pergunta ele.»
Herta Müller. Já então a raposa era o caçador. Tradução do alemão por Aires Graça. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1ª ed. 2012., p. 232
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