terça-feira, 6 de agosto de 2013
neurastenia
nome feminino
1. MEDICINA estado caracterizado pela debilidade física e psíquica, acompanhada de perturbações psíquicas (tristeza, insónia, angústia, indecisão) e funcionais (digestivas, cardiovasculares, sexuais), e dores em diversos locais do corpo
2. coloquial mau humor acompanhado de irritabilidade
3. coloquial estado de depressão acompanhado de tristeza
(Do grego neũron, «nervo» +asthéneia, «fraqueza»)
o tempo de interiorização
«; tal como o corsage de uma mulher se torna subitamente marcial e doloroso com a rosa lançada entre as flores mais decorosas pela mão de um amante que sente como uma violência o facto da permissão que lhe é dada para um último abraço coincidir com a necessidade de sair, transformando num evanescente, num infinitesimal sinal o que um momento antes era um peito exuberante e luminoso, retirando-lhe o tempo de interiorização (porque um amante conhece dois tempos, o que é dado e aquele que tem de elaborar) - assim também Félix ficou surpreendido ao descobrir que as mais comoventes flores depositadas no altar que tinha erigido à sua imaginação ali haviam sido colocadas por gente de duvidosa reputação e que a mais vermelha de todas devia ser a rosa do doutor.»
Djuna Barnes. O Bosque da Noite. Tradução de Paula Castro e Manuel Alberto. Relógio D'Água Editores, Lisboa, p. 44/5
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O Bosque da Noite
«É o que lhe digo, minha senhora, se alguém fizesse nascer um coração num prato ele diria «Amor» e agitar-se-ia como uma pata de rã cortada.»
Djuna Barnes. O Bosque da Noite. Tradução de Paula Castro e Manuel Alberto. Relógio D'Água Editores, Lisboa, p. 40
Djuna Barnes. O Bosque da Noite. Tradução de Paula Castro e Manuel Alberto. Relógio D'Água Editores, Lisboa, p. 40
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O Bosque da Noite
«-Vocês discutem demasiado facilmente sobre a dor e a confusão, disse Nora.
-Espere! Respondeu o doutor. A dor de um homem corre com dificuldade, é verdade que lhe é difícil suportá-la, mas é igualmente difícil guardá-la. No que me diz respeito, enquanto médico, sei em que bolso um homem guarda o coração e a alma, e qual é a sacudidela do fígado, dos rins e dos testículos que faz com que esses bolsos sejam visitados. Só existem confusões; a esse respeito dou-lhe toda a razão. Nora, minha filha, confusões e inquietações vencidas - é isso que nos forma a todos e a cada um. Quando se é um gimnosofista é possível passar sem roupas e se tivermos as pernas em alamar sentimos mais vento entre os joelhos do que qualquer outra pessoa; e isso ainda é confusão; a via escolhida por Deus, vai ter a um muro.»
Djuna Barnes. O Bosque da Noite. Tradução de Paula Castro e Manuel Alberto. Relógio D'Água Editores, Lisboa, p. 35
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O Bosque da Noite
sábado, 3 de agosto de 2013
«Não sou nem um malabarista, nem um frade, nem sequer uma Salomé do século XIII dançando de rabo para o ar sobre um par de lâminas de toledo - experimente fazer isso hoje a uma rapariga com desgosto de amor, macho ou fêmea!»
Djuna Barnes. O Bosque da Noite. Tradução de Paula Castro e Manuel Alberto. Relógio D'Água Editores, Lisboa, p. 32
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O Bosque da Noite
''Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio , Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo o meu poder e a minha razão, a promessa que se segue''
Juramento médico
Juramento médico
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«Apoiava, por detrás das costas, as mãos contra a mesa. Parecia constrangida.
-Dizem realmente o que pensam, um e outro, ou estão apenas a manter a conversa?
Depois de falar, o rosto enrubesceu e (...)»
Djuna Barnes. O Bosque da Noite. Tradução de Paula Castro e Manuel Alberto. Relógio D'Água Editores, Lisboa, p.
-Dizem realmente o que pensam, um e outro, ou estão apenas a manter a conversa?
Depois de falar, o rosto enrubesceu e (...)»
Djuna Barnes. O Bosque da Noite. Tradução de Paula Castro e Manuel Alberto. Relógio D'Água Editores, Lisboa, p.
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O Bosque da Noite
«(...) diz pequenas frases fascinadas, precipitadamente.»
Manuel Gusmão. Dois sóis, A rosa. A arquitectura do mundo. Editorial Caminho, Lisboa, 2ª Edição, 1990., p. 44
palimpsesto
nome masculino
1. pergaminho cujo manuscrito os copistas medievais raspavam para sobre ele escreverem de novo, mas do qual se tem conseguido, em parte, fazer reaparecer os caracteres primitivos
2. figurado texto que existe sob outro texto
(Do grego palímpsestos, «raspado de novo», pelo latim palimpsestu-, «idem»)
terça-feira, 30 de julho de 2013
Mesmo este coração que é o meu ficar-me-á para sempre incompreensível.
«Porque, se tento alcançar este «eu» de que me apodero, se tento defini-lo e resumi-lo, ele não é mais do que a água a escorrer-me por entre os dedos. Posso desenhar um a um todos os rostos que ele sabe tomar, e também todos aqueles que lhes foram dados, a educação, a origem, o ardor ou os silêncios, a grandeza ou a baixeza. Mas não se podem adicionar rostos. Mesmo este coração que é o meu ficar-me-á para sempre incompreensível. O fosso entre a certeza que tenho da minha existência e o conteúdo que tento dar a essa certeza, nunca estará cheio. Serei para sempre estranho a mim mesmo.»
Albert Camus. O Mito de Sísifo. Ensaio sobre o absurdo. Tradução de Urbano Tavares Rodrigues. Livros do Brasil, Lisboa., p. 29
«Acontece que os cenários desabam. Os gestos de levantar-se, o carro-eléctrico, quatro horas de escritório ou de fábrica, refeição, carro-eléctrico, quatro horas de trabalho, refeição, sono e segunda-feira, terça, quarta, quinta, sexta e sábado no mesmo ritmo, esta estrada segue-se com facilidade a maior parte do tempo. Só um dia o «porquê» se levanta e tudo recomeça nessa lassidão tingida de espanto. «Começa», isto é importante. A lassidão está no fim dos actos de uma vida maquinal, mas inaugura, ao mesmo tempo, o movimento da consciência.»
Albert Camus. O Mito de Sísifo. Ensaio sobre o absurdo. Tradução de Urbano Tavares Rodrigues. Livros do Brasil, Lisboa., p. 24
«Ganhamos o hábito de viver, antes de adquirirmos o pensar.»
Albert Camus. O Mito de Sísifo. Ensaio sobre o absurdo. Tradução de Urbano Tavares Rodrigues. Livros do Brasil, Lisboa., p. 20
segunda-feira, 29 de julho de 2013
O suicídio
«O suicídio nunca foi tratado senão como fenómeno social. Aqui, pelo contrário, para começar, importa a relação entre o pensamento individual e o suicídio. Um gesto como este prepara-se, tal como acontece com uma grande obra, no silêncio do coração. O próprio homem o ignora. Uma bela noite, dá um tiro ou atira-se à água. De um gerente de prédios de rendimento que se matara, diziam-me certo dia que ele perdera a filha havia cinco anos, que mudara muito desde então e que essa história « o havia consumido». Não se pode desejar palavra mais exacta. Começar a pensar é começar a ser consumido. A sociedade não tem grande coisa a ver com estes princípios. O veneno está no coração do homem.»
Albert Camus. O Mito de Sísifo. Ensaio sobre o absurdo. Tradução de Urbano Tavares Rodrigues. Livros do Brasil, Lisboa., p. 18
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«Em todos os problemas essenciais (e por tal entendo os que podem fazer morrer e os que decuplicam a paixão de viver) só há provavelmente dois métodos de pensamento, o de La Palisse e o de Don Quixote.»
Albert Camus. O Mito de Sísifo. Ensaio sobre o absurdo. Tradução de Urbano Tavares Rodrigues. Livros do Brasil, Lisboa., p. 17
O absurdo e o suicídio
«Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, depois.»
Albert Camus. O Mito de Sísifo. Ensaio sobre o absurdo. Tradução de Urbano Tavares Rodrigues. Livros do Brasil, Lisboa., p. 17
domingo, 28 de julho de 2013
«-Há casais que têm quartos separados - dizia Stefan. - Eu preciso de um lugar onde possa fechar-me de quando em quando sem que ninguém saiba onde estou.
-...Imaginas que lá, no teu quarto secreto, eu não posso acompanhar-te em espírito...Como se eu não tivesse adivinhado...Como se eu não soubesse que te fechas lá para fazer outra coisa que não seja ler romances!...
Stefan evitava falar de literatura quando estavam sós. Ao entrar em casa, a meio da noite, encontrava-a muitas vezes a ler. Ioana notava às vezes que ele lançava um olhar ao título, mas nunca lhe perguntava o que lia. Em casa, junto dela, Stefan nunca lia romances. E no entanto a sua cultura espantava Ioana. Ela não podia avaliá-la senão por acaso, quando paravam em frente de uma montra ou então quando ela folheava uma revista e lia o título de um livro.
«Não presta», dizia ela, ou então: «Já li. É bastante interessante. Empresto-te, se quiseres.»
«Ele pensa que gosto de romances porque estive noiva de Partenie», pensava ela.
-...Claro! - continuara Ioana - adivinhei há muito tempo o que tu fazes lá no teu quarto secreto...Não devia dizer-to. Mas tu julgas-me mesmo assim muito ingénua. Há muito tempo que adivinhei! Adivinhei, na noite em que tu entraste com um cheiro de terebintina nas nãos. Tens lá um laboratório. Até é possível que não seja um quarto de hotel. Tu trabalhas num laboratório...»
Mircea Eliade. Bosque Proibido. Tradução de Maria Leonor Buescu. Editora Ulisseia, Lisboa, 1963., p. 18-19
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«Uma vez li um livro», prosseguira ele, como se não tivesse ouvido, « um livro em que falava de um rapaz que chamava as serpentes pelo nome e conversava com elas. Tenho a certeza de que essas coisas são possíveis». Mas é preciso que alguém as ensine...O meu ouriço, por exemplo, rebolava-se na minha presença, encolhia os espinhos e deixava-me fazer-lhe festas. Tenho a certeza de que eu podia ter aprendido muitas coisas com ele, mas não sabia falar-lhe...»
Mircea Eliade. Bosque Proibido. Tradução de Maria Leonor Buescu. Editora Ulisseia, Lisboa, 1963., p. 15
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imperecível
1. que não perece ou deixa de existir; eterno; imortal
2. que dura muito tempo; imorredoiro
(De in-+perecível)
«Fechava os olhos quando sorria, por coquetterie. Sempre que Stefan a tinha encontrado na escada, tinha-a surpreendido a puxar a blusa, tentando dar algum relevo ao peito ressequido.
-Que gostaria eu de ser? Eu? - respondeu Vadastra levantando a voz. - Deputado? Qualquer pode sê-lo. Até um tipo como Voinea pode vir a ser deputado...
-Então, ministro?
-Talvez - respondeu Vadastra depois de curta hesitação. - Mas para que serve ser ministro? Hoje é-se ministro, amanhã já não. Depois passa-se para a opisição, à espera que torne a vir a nossa vez!...Sim, ministro não é mau...talvez eu lá chegue. Mas, de qualquer maneira, que é isso? Há tantas coisas a fazer! ...
Mircea Eliade. Bosque Proibido. Tradução de Maria Leonor Buescu. Editora Ulisseia, Lisboa, 1963., p. 9-10
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FOSSES TU
Fosses tu uma ave ou uma folha
E o Outono te viria desprender
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 423
PÓRTICO
Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda.
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 389
eremitério
masculino
1. lugar ou casa onde vive um eremita
2. figurado lugar afastado do povoado; ermo
(De eremita+-tério, por influência de cemitério)
1. lugar ou casa onde vive um eremita
2. figurado lugar afastado do povoado; ermo
(De eremita+-tério, por influência de cemitério)
náiade
nome feminino
NA MITOLOGIA
Divindade secundária que presidia às fontes e aos rios, na mitologia greco-romana; ninfa dos rios e das fontes
Ítaca
O que dói
É não poder apagar a tua existência
e repetir dia após dia os mesmos gestos
O que dói
é o teu nome que ficou como mendigo
Descoberto em cada esquina dos meus versos
O que dói
é tudo e mais aquilo que desteço
Ao tecer para ti novos regressos
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 369
8
Prometo-te a palma da minha mão para a escrita.
Cerca-a de magnólias, cerca-me. Podes fechar a escrita
No interior da mão ou na boca dos livros
Podes esquecê-la ou libertá-la dos mil botões
Que ela sopra no interior dos homens.
Podes mandá-la àqueles que mais amas
Ou como pétalas e mensagens nas anilhas das aves
Aos teus próprios inimigos.
Podes desarmá-la para propagares as chamas.
Dou-te, como desde sempre, o poder
De escreveres na pele da minha mão
As promessas que te fiz. Sabes que existo
E que vou repetir-te todas as coisas outra vez.
As estações, por exemplo - não sou o único que o digo -,
Não rodam à maneira dos carrosséis no largo. No Outono
A magnólia é pensativa como o homem
Que te olha por detrás da janela onde te escrevo.
No Inverno os vidros vão embaciando - aproxima
A tua mão da paisagem que resta
Como se fora o lado do verbo que encarnou. Repara
No banco de pedra - ele está
Sobre ti.
Tu és a criança sentada
Que olha para o céu. Há um tesouro
No céu - um coração novo. Reconheces
A magnólia estelar? O interstício solar
Da pupila celeste? Ela está sobre ti
E contempla - é verdade que é pelas lágrimas
Que começam as visões
Sim. Agora posso explicar-te o mistério das águas
Debruça-te como ele quando escreveu no chão
Irás entender - elas jorram das palavras.
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 332/3
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