« - Intervenhamos. Vão matá-lo.
Arévalo observou fleumaticamente:
- Está morto.»
コカインの時間を介しての旅です
Adolfo Bioy Casares. Diário da Guerra aos Porcos. Tradução do castelhano (argentino) Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu. Cavalo de Ferro., p. 12
Adolfo Bioy Casares. Diário da Guerra aos Porcos. Tradução do castelhano (argentino) Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu. Cavalo de Ferro., p. 9
«A fraqueza aprofundou o abatimento; a febre dava-lhe um pretexto para continuar no quarto e não se deixar ver.»
Adolfo Bioy Casares. Diário da Guerra aos Porcos. Tradução do castelhano (argentino) Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu. Cavalo de Ferro., p. 8
A small dance [pequena dança] é talvez um dos momentos de pesquisa em que formalmente Steve Paxton mais se aproxima da questão da quietude. O exercício da small dance [pequena dança] consiste, essencialmente, na permanência de um corpo em pé. Aqui, a questão da quietude não tem que ver necessariamente com um corpo parado. O próprio Paxton o diz quando escreve: “estar quieto não é, na verdade, [estar] imóvel” [1]. O corpo parado está a observar o movimento necessário à verticalidade, a mobilidade imprescindível para evitar a queda. Paxton esclarece:
Equilibrar-se nas duas pernas mostra ao corpo do bailarino o seu constante movimento com a gravidade. Observar os ajustes que o corpo produz para não cair aquieta. É uma meditação. É assistir aos reflexos em acção, sabendo que estes são subtis e seguros- não apenas medidas de emergência. [2]
Mais ainda do que observar a impossibilidade da quietude, o corpo parado percebe o campo em que as forças trabalham para que ele se mantenha de pé, num exercício de equilíbrio permanente, numa postura de auxílio, um corpo cooperante:
Pomos-te em contacto com o esforço fundamental de apoio que constantemente se mantém no teu corpo, e do qual não tens, habitualmente, necessidade de estar consciente. É um movimento estático que serve de fundo - tu percebes o que quero dizer - e que tu poluis com as tuas diversas actividades, mas que está constantemente presente para te suster/apoiar.” [3]
Neste exercício existe, possivelmente, um silêncio intermitente que clarifica a percepção daquilo que é visto e daquilo que ultrapassa a visão - os dados subtis dos sentidos. Paxton escreve: “Enquanto estou em silêncio, distingo experiências ou modos de experiência e sou capaz de percepcionar o não-visível e o visível. O que acontece antes age sobre aquilo que acontece depois.” [4] Paxton prossegue, referindo a passagem de corpo emissor a corpo receptor. Como se abandonássemos o vício de emissão reactiva - falar, mexer, dar opinião - na tentativa de desocultar as vontades submersas no corpo atento.
Portanto, o “silêncio” do corpo, a “imobilidade”, é aquilo que prepara o movimento ou acção - “o que acontece antes age sobre aquilo que acontece depois”. A small dance parece dedicar-se ao que acontece nesse espaço generativo, estudando os confins da percepção sensorial, sensitiva, e arriscando-se a uma profunda escuta submersa na “ausência” de decisão voluntária de movimento. Como escreve o teórico André Lepecki,
(…) no intervalo entre o âmago da subjectividade e a superfície do corpo, existe não mais do que a revelação de um infinito, ilocalizável espaço para a micro-exploração do potencial múltiplo de subjectividades “não sentidas” e de “realidades corporais” escondidas. A pequena dança acontece nesse não-lugar; o bailarino deve aí explorar o ilocalizável, entre a subjectividade e a imagem do corpo. [5]
Existe, pois, um deslocamento da ontologia da dança. Deixando de recriar o motivo cinético, é inaugurado um novo capítulo na história do movimento que, em parte, se funda nas descobertas reveladas pela quietude. Inicia-se a viagem pelo infinitesimal, mesmo no espaço entre o interior do corpo e a sua superfície. Como um estudo de escala, que partisse do mais subtil para fortalecer a vontade de movimento além da superfície corporal. Lepecki fala do “ilocalizável” entre a subjectividade e a imagem do corpo.
Steve Paxton- Sélection de textes publiés dans Contact Quartely, trad. Romain Bigé, L’œil et la main, Paris : 2016
André Lepecki, Singularities- Dance in the age of performance, Routledge, NI : 2016
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 203
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 200
Os amigos que morrem
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 191
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 191
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 190
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 188
«Por fim, não pôde conter-se mais; e, como uma criança, toda trémula, tocando um fruto desconhecido, tocou-lhe ligeiramente no pescoço com as pontas dos dedos; a carne, um tanto fria, cedeu com certa resistência elástica.»
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 187
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 179
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 177
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 176
« - Se tiveres de morrer, será mais tarde! - disse ele; - mais tarde, nada temas ! E seja qual for o seu intento, não chames por ninguém! Não te aterrorizes ! Mostrar-te-ás humilde e submissa aos seus desejos...Assim o determina o véu!»
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 175
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 173
Gustave Flaubert. Salambô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 170
''Que vá com Deus, esta nossa amiga! Que não lhe falte a coragem nem o discernimento para evitar os Mários! O nosso Mário, por sua vez, não voltará a vê-la. E tudo indica, pensamos nós, que ele assim o quer. Mas não é verdade. Mais tarde, na hora crepuscular, o nosso protagonista vê-se esmagado por uma tristeza pós-masturbatória. Ao limpar-se com um guardanapo, abre-se-lhe uma fenda nas muralhas do cinismo. Um sentimento corre livre pelas pradarias da alma! O caos e a desordem trovejam! E os monumentos da arrogância, edificações de preconceitos defensivos, vêm-se destroçados por uma chuva de lágrimas! Oh, pobre Mário… Pensando na rapariga, pensando no entusiasmo sorridente com que esta lhe falara daquele sítio tão pretensioso e daquele álbum tão conceptual, não consegue evitar sentir-se sozinho. ''
André Fontes
Licenciado em Filosofia, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e pós-graduado em Artes da Escrita, pela Universidade Nova de Lisboa. André publicou, em 2019, o seu primeiro romance, Saturnália, editado pela Guerra e Paz Editores.
“The man who comes back through the Door in the Wall will never be quite the same as the man who went out. He will be wiser but less sure, happier but less self-satisfied, humbler in acknowledging his ignorance yet better equipped to understand the 47 relationship of words to things, of systematic reasoning to the unfathomable mystery which it tries, forever vainly, to comprehend” The Doors of Perception -
Aldoux Huxley
Devo ser o último tempo
A chuva definitiva sobre o último animal nos pastos
O cadáver onde a aranha decide o círculo.
Devo ser o último degrau na escada de Jacob
E o último sonho nele
Devo ser a última dor no quadril.
Devo ser o mendigo à minha porta
E a casa posta à venda.
Devo ser o chão que me recebe
E a árvore que me planta.
Em silêncio e devagar no escuro
Devo ser a véspera. Devo ser o sal
Voltado para trás.
Ou a pergunta na hora de partir.
Daniel Faria
''Os cães mantiveram características juvenis durante o processo de domesticação, um processo chamado pela Biologia de pedomorfose. Tais características, tanto comportamentais (abanar a cauda, engajar-se em brincadeiras, solicitar colo e carinho e lamber a cara das pessoas) como morfológicas (cabeça e encéfalo menores em relação ao tamanho corporal, focinho mais curto e largo, menor número de dentes e olhos mais arredondados), estão associadas a animais mais dóceis, assim selecionados para nos proteger e ajudar na caça (Ha; Campion, 2019). Pesquisadores russos que mantêm um programa de criação de raposas (Vulpes vulpes) em cativeiro na Sibéria desde 1959 conseguiram obter filhotes dóceis em apenas seis gerações, mantendo as mesmas características pedomórficas apresentadas pelos cães domésticos.''
ESTUDOS AVANÇADOS 34 (98), 2020
“O cão, com mais de oito séculos de maus tratos no sangue e na herança genética, levantou de longe a cabeça para produzir um ganido lamentoso, uma voz exasperada e sem pudor, mas também sem esperança, pedir de comer, ganindo ou estendendo a mão, mais do que degradação sofrida de fora, é renúncia vinda de dentro.”
Saramago
''Ganhamos espaço para o vazio; gostamos muito da nossa morte; trabalhamos esplendidamente por conta dela [...] e o pior é que tudo, espalhado por fora, se liga coerentemente por dentro: a minha, a nossa morte. Trata-se de uma anedota, claro, e de uma metáfora com sentidos muito precisos.''
Herberto Helder
''Para o homem medido e comedido, o quarto, o deserto e o mundo são lugares estritamente determinados. Para o homem desértico e labiríntico, destinado à errância de uma marcha necessariamente um pouco mais longa do que a sua vida, o mesmo espaço será verdadeiramente infinito, mesmo que ele saiba que isso não é verdade, e ainda mais se ele o sabe.''
Blanchot
«(....), e queria menos mal à virgem por não poder possuí-la do que por achá-la formosa e sobretudo tão pura. Notava muito bem, por vezes, o modo por que ela se fatigava, diligenciando penetrar-lhe o pensamento. Nessas ocasiões afastava-se dela mais triste; sentia-se mais abandonado, mais só.»
Gustave Flaubert. Salammbô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 172Gustave Flaubert. Salammbô. Texto Integral. Tradução de F. da Silva Vieira. Editorial Minerva. Lisboa., p. 172