terça-feira, 7 de dezembro de 2021

 Devo ser o último tempo

 A chuva definitiva sobre o último animal nos pastos

 O cadáver onde a aranha decide o círculo.

 Devo ser o último degrau na escada de Jacob

 E o último sonho nele

 Devo ser a última dor no quadril.

 Devo ser o mendigo à minha porta

 E a casa posta à venda.

 Devo ser o chão que me recebe

 E a árvore que me planta.

 Em silêncio e devagar no escuro

 Devo ser a véspera. Devo ser o sal

 Voltado para trás.

 Ou a pergunta na hora de partir.


Daniel Faria

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