domingo, 15 de maio de 2016

“MACBAIN”, adaptação da peça “Macbeth” de William Shakespeare



(...)

«não. és-me indiferente. não cheiras bem.
tipos como tu não faltam.»


Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 27

rum

«(...) ofereçam as fitas às putas, para se enfeitarem.»


Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 23

utopia

o dia sobre com grande força
atira através das nuvens suas garras
o leiteiro tamborila nas suas latas
sonatas: para o céu sobem os noivos
em escadas rolantes: fervorosos com grande força
agitam-se chapéus pretos e brancos.
as abelhas fazem greve. pelas nuves
piruetam os procuradores,
das trapeiras trilam papas.
emoção reina e escárnio
e júbilo. veleiros
dobram-se com folhas dos balanços.
o chanceler joga ao berlinde com um vadio
os fundos secretos. o amor
é politicamente permitido,

Hans Magnus Enzensberger. Poemas Políticos. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa., p. 15

sábado, 14 de maio de 2016

rebuçadeira

Pára-me de repente o pensamento / Suddenly my thoughts halt


Género: Documentário / Documentary
Realizado por: Jorge Pelicano
"Mal vai, quando em todo o lugar surgem certezas; é o noivado com a morte."

Agostinho da Silva, Considerações

segunda-feira, 9 de maio de 2016

I just want to be wonderful.


"Agora, és outra pessoa,
cheia de banalidades e pequenas alegrias.
O tempo e a distância encarregaram-se disso.
Sim, na minha ausência é costume desmoronarem-se
as encostas, outrora cuidadosamente escoradas.
Mas, mesmo colocando de parte o meu ego,
é evidente o encanto da normalidade,
da paz doméstica e social
e do correcto dimensionamento de cada um,
sem megalomanias nem paióis de pólvora seca,
sem insónias nem gritos
nem fantasmas de grandes artistas e pequenos ditadores
(ou vice-versa)
a correrem pela casa.
Não gosto de gatos nem de crianças,
de celebrações colectivas e famílias,
de prolongadas distensões estivais,
nem sei estar indubitavelmente presente,
como o frasco dos picles, na prateleira de baixo do armário.
Nunca soube nem fingi saber – conceder-me-ás isso,
assim como reconheço que nunca, sequer, senti culpa
por todos os pecados que pequei e pecarei
enquanto o tabaco não me paralisar os pulmões.
Os meus dias são feitos de excessos e vazios
e o vazio excessivo é a própria matéria por que pugno
o muito tempo todo em que não me calha compor
estas vagas linhas sobrepostas
a que insistem em chamar poesia
mas que são apenas a minha maneira de bocejar sem sono.
Era impossível permanecermos juntos –
dizem-mo a razão e a urgência de um impulso vital
para qualquer coisa só por ser a seguinte. No entanto,
uma mágoa moinha-me a pequena hélice do coração,
enquanto, à pressa, trinco uma sandes de mundo
na cantina do niilismo (ou vice-versa)
ou conduzo um carro de vento rumo ao Magreb medieval.
Das horas que passámos juntos não há remissão
e isso consola-me como nada mais, num recanto
muito fotogénico da memória ou talvez disso a que se chama alma.
Espero que esta te vá encontrar bem,
com meninos à ilharga, um marido que leia
o Diário de Notícias e romances históricos
e, apesar de tudo, um sorriso
ante a imensa precisão com que coloco uma mão toda
nas feridas dos outros
para evitar o ardor da tintura de iodo
nas minhas."

Miguel Martins
7/5/2016

sábado, 7 de maio de 2016

Pára-me de repente o pensamento

Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára m cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.

Ângelo de Lima, in 'Antologia Poética'

Cómo tranquilizar a un ave caída (Por Carlo Horacio Balandra)

Las aves pueden elegir desplomarse,
Marcan rutas, y se desvían a placer.
Ellas pueden estrellarse en las ventanas,
si así lo desean.
Pueden ser pilotos con vista cansada;
pueden replegarse y caer por voluntad propia.
Un mágico día, bien podría un ave pequeña,
caer en tus manos.
Pocas veces, las aves,
son capaces de sentirse cómodas en manos humanas.
- No vale perseguirla y atraparla -
Debe llegar por necesidad
a dejarse morir entre tus dedos o
a descansar después de una persecución.
Puede recurrir a tu serenidad
para calmar el dolor
que le provoca su livianidad.
Se decolorará llorando.
Se escuchará su sollozo,
y muy remotamente, se vern las lágrimas rodar por el pico.
Ahora entonces...
...Acércala a tu aliento,
calma con tu cercanía su dolor invisible
No hables.
No puede entender las palabras.
Los tonos son tan bajos,
que sólo parecen ruido.
Silénciate.
Exhala muy cerca de ella,
hasta crearle una sola memoria en esa mentecita.
Puede olerte.
Y jamás olvidar tu aroma.
Un ave no puede sentir su peso mientras la sostienes,
sin embargo, si la conservas suficiente tiempo,
hasta que muera
o hasta que se recupere...
...Es posible que pueda sentir: cuán ligera es.

quarta-feira, 4 de maio de 2016



"falemos dos suspiros dos pássaros breves
habitando as àrvores da noite
contemplemos as paixões lúcidas das ruas escuras pela luz
dos candeeiros derramada em redor das paredes
e sigamos em frente sem nos determos
nos nós das portas ou nas frestas das persianas
como se afinal não importasse mais nada"


-"Os Pássaros Breves"
- José António Gonçalves
- Átrio, 1995 (1a Edição)


"O que atrai o leitor para o romance é a esperança de que a morte, que lhe é comunicada pela leitura, possa aquecer a sua fria vida"

-"Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política"
- Walter Benjamin

domingo, 24 de abril de 2016

"Falando acima dessa proibição global, evitei, por não poder ou não querer, defini-la. A verdade é que ela não é definível, exactamente porque não é fácil falar a seu respeito. A decência é aleatória e varia incessantemente. Varia mesmo individualmente."

-"O Erotismo: o Proibido e a Transgressão"
- Georges Bataille

«O chilrear das aves a inventar o paraíso.»


José-António Chocolate. Este Tempo que nos Come. Poesia de José-António Chocolate, 2014 p. 82

«Deixar o coração pensar, é preciso,»


José-António Chocolate. Este Tempo que nos Come. Poesia de José-António Chocolate, 2014 p. 82

«Porque me assalta esta quebra de vontade
e o tempo se esfia sem sentido?
Como se à alma tudo se permitisse,
até o esquecimento de que existimos.»

José-António Chocolate. Este Tempo que nos Come. Poesia de José-António Chocolate, 2014 p. 81

«É preciso saciar este tempo que nos come e tem fome de justiça.»

José-António Chocolate. Este Tempo que nos Come. Poesia de José-António Chocolate, 2014 p. 23

''madrugadas pesadas duma noite sombria''

José-António Chocolate

âmbula

vaso utilizado para guardar os Santos Óleos



"Cada um só vê do universo aquilo que a sua sensibilidade ou a sua maneira de ser lhe permite. O universo pode ser muito mais vasto e muito mais diferente do que aquilo que é apenas o nosso mundo."

Agostinho da Silva, entrevista

quinta-feira, 21 de abril de 2016


«(...) e o efeito da fadiga
é muito igual à ilusão da satisfação!»


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 197

«Frágil é a esperança e faz viver quem espera!»


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 195

«Vale mais a vida do que a existência»

''assisto-me a mim-próprio''

terça-feira, 19 de abril de 2016



Kurt Cobain (20/02/1967 - 05/04/1994). "É melhor esgotar-se do que desvanecer-se". Na nota de suicídio, numa referência a uma música de Neil Young.
Alfred Hitchcock (13/08/1899 - 29/04/1980). "Uma pessoa nunca sabe o fim. Tem de morrer para saber exatamente o que acontece depois da morte, embora os católicos tenham as suas esperanças".
Jimi Hendrix (27/11/1942 - 18/09/1970). "A história da vida é mais rápida que um piscar de olhos. A história do amor é olá e adeus, até um dia". Estava num poema no quarto onde foi encontrado morto.
Ernest Hemingway (21/07/1899 - 02/07/1961).

 "Boa noite, minha gatinha". Na nota de suicídio endereçada à mulher.
Virginia Woolf (25/01/1882 - 28/03/1941). "Não acho que duas pessoas pudessem ser mais felizes do que nós somos". Numa nota de suicídio para o marido.
Karl Marx (05/05/1818 - 17/03/1883). 

"As últimas palavras são para os idiotas que não disseram o suficiente". Para a empregada que cuidava dele no leito da morte.
Maria Antonieta (10/05/1774 - 21/09/1794). 

"Perdoe-me, senhor. Não o fiz de propósito". Depois de pisar o homem que a ia matar na guilhotina.



Não durmo ainda

Só na cama
o tempo
ainda é meu


como a palavra

Discretamente
me agito
no colchão

Não penso em Deus
na morte

Imprimo
Aqueço-me
Escuto

conservo a posição

A Elsa dorme

Só na cama
o tempo ainda é dela

como um fruto

António Reis

“Bring something incomprehensible into the world!” Gilles Deleuze

segunda-feira, 18 de abril de 2016


«E eu que amo a vida mais do que o sonho
e o sonho e a vida juntos
mais do que ambos separados
e que não sei sonhar senão a vida
e que não sei viver senão o sonho.»


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 179

«A terra inteira 
era estrangeira
mais este pedaço onde nasci.»


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 179

Brassai, ''Le chat'', 1945


''Quando eu cheguei devia ser tarde,''


Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 179

«Tira-me as forças
podes matar
a minha alma
sabe voar.»

Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I-Poesia.  Biblioteca de Autores Portugueses. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1985., p. 177

especimen

Galicismos

domingo, 17 de abril de 2016



Extingue-me os olhos, e eu consigo ver-te.
Fecha-me os ouvidos, e eu consigo escutar-te,
E sem pés eu vou até à tua beira,
E sem boca eu posso ainda esconjurar-te.
Quebra-me os braços, e eu consigo agarrar-te
Com o meu coração como se fosse uma mão.
Pára-me o coração e o meu cérebro há-de pulsar,
E se deitares fogo ao meu cérebro,
Vou levar-te no meu sangue.


Rilke

sábado, 16 de abril de 2016



“A boa educação é a moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.”

(Padre António vieira)
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