quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

"Os cisnes desapareceram. Mas o rio
Ainda se lembra como eles eram brancos.
Corre atrás deles com as suas luzes.
Encontra as suas formas numa nuvem.
Que pássaro é aquele que grita
Com tal dor na voz?
Continuo jovem como sempre. O que estarei eu a perder?"

-"Três Mulheres: Poema a Três Vozes"
- Sylvia Plath

"Não devias empurrar fogo tao solitário
sob om umbrais de uma morada
nos carreiros que vão dar aos montes
sairás ainda em súplica
quando os incêndios ignorarem a ameaça
da tua vassoura de giestas
a sombra uma vez avulsa
não retorna a mesma
Não despertes o que não podes calar"

-"Longe Não Sabia"
- José Tolentino Mendonça
"Depois vinha o dia e a rasura
a repetida ordenação que os acentos concedem
às palavras
a quase paixão que jamais tocava os seres
sempre e só a sua representação"

-"Longe Não Sabia"
- José Tolentino Mendonça

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

''Esta garganta sem árvores''


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 251
«De facto, há apenas um livro  que não é feito de papel, que destila sangue e é amassado com carne e ossos: o Velho Testamento.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 245

Mary Ellen Mark, Usman Holding His Son. Jumbo Circus, Bombay, India, 1992



«Senti repentinamente que era feliz. Uma decisão secreta amadurecia dentro de mim. Não lhe podia ainda ver o rosto mas tinha confiança.»



Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 243

«(...): a resposta - disse eu -, a resposta vem quando se deixa de fazer perguntas, quando desce o espírito inquieto e nos toma o coração e os rins.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 243

«Fechei os olhos para que o sono viesse e acabasse com aquilo.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 242

« - Há muitas inquietações que te consomem, és muito exigente, fazes muitas perguntas, torturas o coração.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 242
«Eu não tenho coração! Sou um bloco de granito negro, não há mão nenhuma que possa imprimir-se em mim. Tomei a minha decisão: Vou incendiar Sodoma e Gomorra!»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 240

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Os outros, os que padecem 
De doenças mais ou menos dramáticas,
Os que sofrem e que ainda assim
Sustentam o sorriso e a vontade
De respirar. Os outros, que se levantam
Em cada dia apesar da incerteza e da fome
Sempre possível, os que persistem,
Os que ultrapassam a desilusão
De serem eles próprios inúteis. Os outros,
Razoáveis, atrevidos, ousados, gente
A ir dando resposta à agonia toda
Que enche o mundo. E felizes, os outros.
Felizes sem razão, apenas por viverem,
Por se acomodarem à ilusão.
Os que vão por aí sem se queixarem,
Sem incomodarem com as suas dores e frustrações.
Os que limpam a cara antes de sair
Para não agredirem os outros com lágrimas.
Os culpados, os inocentes, os tão
Inseguros de tudo, os outros, todos os outros,
Sofrendo e respirando e tentando alegrias,
Gente a experimentar dor e alegria e sangue
Dentro do corpo. E os dementes,
Que já não sabem da própria desilusão,
Os que se arrastam
Automaticamente, isolados do mundo,
Demasiado outros. Os que não vivem,
Os que já morreram.


Rui Almeida



"O essencial na vida não é convencer ninguém, nem talvez isso seja possível. O que é preciso é que eles sejam nossos amigos. Para tal, seremos nós amigos deles. Que forças hão-de trabalhar o mundo se pusermos de parte a amizade?"

Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo.

Da Vida e da Morte

«A ideia de que todos os homens são iguais acarreta consequências muito perigosas. E perversas. Sobretudo porque todos os homens são diferentes ou muito diferentes. E nem são iguais perante a lei, nem iguais perante o mercado ou a publicidade, nem iguais perante a natureza, ou sequer iguais perante Deus. O único local onde essa igualdade pode estipular-se e observar-se é na teoria. Mas jamais na prática, e está aí a história de séculos para atestá-lo e as várias experimentações igualitárias. Há, todavia, uma excepção prática onde essa igualdade se verifica: perante a morte.Há, quer se queira quer não, uma indústria da morte neste planeta. Que é talvez a indústria mais sofisticada, desenvolvida e em acelaração nos últimos cem anos. Ontem, perante as balas e explosivos dos carniceiros de serviço, os homens foram todos iguais.»

domingo, 20 de dezembro de 2015

"Ser velho não é algo que me agrade, a perda da força física, da beleza, a fragilidade não me agradam nada. Ferem o meu narcisismo. Não vou dizer que é bom. É mentira. Ser velho é uma merda. Perdem-se os amigos. Todos os meus amigos morreram e agora eu é que tenho que aturar as viúvas deles."

 Helder Macedo


« - Não te ajoelhes, não estendas as mãos para me abraçar os joelhos. Eu não tenho joelhos! Não comeces os teus lamentos para me tentares comover! Eu não tenho coração! Sou um bloco de granito negro, não há mão nenhuma que possa imprimir-se em mim. Tomei a minha decisão: Vou incendiar Sodoma e Gomorra!»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 239

«A minha vontade é um abismo. Se a pudésseis olhar de frente o terror invadir-vos-ia.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 239

« - «Tomei a minha decisão», na tua boca, Senhor, significa: vou matar!»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 238

AQUI NÃO HÁ DEUS


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 238

''num bater de pálpebras''

Woman With Scarred Leg, 1976



« - Senhora Alma quero que te dispas. - Senhor, como é possível que me peças uma coisa dessas? Tenho vergonha. - Senhora Alma, não pode existir nada entre nós a separar-nos, nem o mais leve véu. É necessário, portanto, Senhora, que te dispas. - Eis-me, Senhor, estou nua, leva-me!»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 236

Deus incendiar-me-á


«(...), lá onde Deus sopra como um vento escaldante, e aí no despir-me-ei e Deus incendiar-me-á.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 235

«(...), ardia em desejos de chegar as montanhas desertas, nuas, que se viam na minha frente, andar, andar, nada mais ver que o Sol, a Lua e as pedras.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 235

cascas de laranja

«Punham as mãos no fogo e esfregavam o rosto e o peito. Os homens começaram a dançar e as mulheres uivavam.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 235

Photo by Cecil Beaton, 1956


«E se não tivesse havido o coração quente duma mulher teria permanecido estendido no túmulo, eternamente. A salvação do homem esteve por um fio, dependeu de um grito de amor.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 234

«Hoje, como há dois mil anos, a vida está novamente em decomposição, mas os problemas que agora perturbam o equilíbrio do espírito e do coração são mais complexos e a sua solução mais difícil e sangrenta.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 232/3

«O mar faiscava, vivamente agitado, (...)»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 232

''edredões imundos''


«Fechei Homero, beijei a mão do antepassado imortal mas não ousei levantar a cabeça e olhá-lo de frente, olhos nos olhos. Diante dele tinha vergonha, medo, porque sabia que naquele momento estava a traí-lo»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 231

«(...), esmagava folhas de tabaco, limpava o pó de cima dos móveis; de manhã à noite, sentia-me sempre dominado por coisas desagradáveis e inúteis.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 128

«À noite, o medo envolvia-me como uma nuvem de frio: vinha do canto da cozinha, onde, diante dos ícones sombrios, ardia uma vela durante todo o tempo.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 122

''olhos encarquilhados''


«Algumas gotas de água tombavam do telhado e as lágrimas caíam, também, nos meus olhos.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 119

«(...), nos momentos em que o coração se apertava com uma suave tristeza, sem razão definida, em que as pequenas ofensas do dia que acabava vinham ensombrá-lo e afligi-lo, eu tentava compor as minhas próprias orações;»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 117

contrassenso

«Eva iludiu o próprio Deus.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 107

"Morrer assim,
como eu o vi morrer então -,
o Amigo qur atirou divinamente
relâmpagos e olhares à minha escura juventude:
arrogante e profundo,
um bailador na batalha -,


entre guerreiros o mais jovial,
entre vencedores o mais difícil,
erguendo-se, um destino sobre o meu destino,
duro, reflectindo o passado e o futuro .,

tremendo porque venceu,
exultando porque venceu morrendo...,

mandando enquanto morria
- e mandou que aniquilassem...

Morrer assim,
como eu o vi morrer então:
vencendo, aniquilando..."

-"Poemas"
- Nietzsche
- Tradução. Paulo Quintela

«Nunca antes nem depois vi qualquer pessoa enervar-se tão rápida e facilmente como ela, desatando depois a mostrar uma paixão lamurienta acerca de tudo e de todos.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 103

«(...), olhou para a minha obra e disse para o marido:
-Dá-lhe uma boa chicotada!
Mas o patrão, conciliador, observou:
- Isto não é nada; eu mesmo quando comecei não fazia coisa melhor...
   Assinalou com um lápis vermelho as deformações existentes na fachada e deu-me outra folha de papel.
  -Vamos, recomeça! Vais desenhar sempre até chegares a fazer bem...»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 101

disformidade

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