Hélia Correia
domingo, 16 de maio de 2021
“Um bailarino na batalha” (Romance, 2018)
“Acidentes” (Poesia, 2020)
Hélia Correia
''sinalAberto — O mundo de hoje, soberbo pela ilusão da tecnologia e pela confusão do ruído, ainda tem lugar para o indizível compasso da literatura? Porquê?
Hélia Correia — Há lugar para tudo. Isso a que chamam comunicação tecnológica não passa de um avanço na massificação dos media de registo das linguagens. Quando apareceu o livro tal como o conhecemos, os alfabetizados retiraram-se da roda da lareira onde alguém transmitia as histórias orais, curvaram-se, calados, sobre as páginas e o ambiente emudeceu bastante.
Agora todos leem, e escrevem, e encurtam as palavras, coisa que já fazíamos na linguagem oral. É uma nova imprensa, acessível ao vulgo, com as duas direções verbais escancaradas: a da produção e a da receção. Ocupam muito espaço, mas, como não existe a fisicalidade, são bolas de sabão que se desfazem à pressão do botão de desligar. Pois é ainda o humano quem detém o último poder. Ninguém se queixe. A literatura não tem nada a ver com isto. O rumor que ela faz é subaquático, é preciso correr um risco para o ouvir.''
Entrevista aqui.
''O escritor pode, apenas, processar o real através do seu corpo e dar-lhe a forma de ficção, ou pensamento, poema ou crónica, para o entregar, como quem estende a mão”
Hélia Correia
sexta-feira, 14 de maio de 2021
- o princípio da conexão;
- o princípio da heterogeneidade;
- o princípio da multiplicidade;
- o princípio da ruptura assignificativa (asignifying rupture).
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. Lógica do Sentido. Tradução: Luiz Roberto Salinas Fortes. São Paulo: Perspectiva, 2007.
DELEUZE, Gilles and Félix Guattari. A Thousand Plateaus: Capitalism and Schizophrenia. London/ NY: The Continuum Publishing Company, 2004.
FANAYA, Patrícia. Autopoiese, Semiose e Tradução: Vias para a Subjetividade nas redes Digitais. 2014. F. 151. Tese de doutorado em Comunicação e Semiótica (maiúscula pois é o nome do Programa) – Pontifícia Universidade Católica, SP.
GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. Tradução: Ana L. Oliveira e Lúcia C. Leão. Coleção Trans. 2. ed. Rio de Janeiro, Ed. 34, 2012.
MATURANA, Humberto & Francisco Varela. De Máquinas e Seres Vivos — Autopoiese: A organização do vivo. 3. ed.; Tradução Juan Acuña Llorens. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
VARELA, Francisco; MATURANA, Humberto. Autopoiesis and Cognition: The Realization of the Living. Dordrecht: Holland/Boston, USA: D. Reidel Publishing Company, 1980.
VARELA, Francisco; MATURANA, Humberto. A Árvore do Conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. Tradução: Humberto Mariotti e Lia Diskin. São Paulo: Palas Athena, 2011.''
''Enação é um termo cunhado pelos biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela (1980, citados por Varela e cols., 1993), a partir da expressão espanhola en acción.
A enação pode ser compreendida em dois pontos congruentes e complementares:
1 - A ação guiada pela percepção, ou seja, a compreensão da percepção é a compreensão da forma pela qual o sujeito percebedor consegue guiar suas ações na situação local.
"Na medida em que estas situações locais se transformam constantemente devido à atividade do sujeito percebedor, o ponto de referência necessário para compreender a percepção não é mais um mundo dado anteriormente, independente do sujeito da percepção, mas a estrutura sensório-motora do sujeito."(Varela e cols., 1993, p. 235)
2 - A cognição, em suas estruturas, emerge dos esquemas sensório-motores vivenciados que permitem à ação ser construída e guiada pela percepção. É a estrutura vivencial sensório-motora contextualizada, "a maneira pela qual e sujeito percebedor está inscrito num corpo, [...] que determina como o sujeito pode agir e ser modulado pelos acontecimentos do meio." (Varela e cols., 1993, p. 235)''
- Varela, F., Thompson, E. & Rosh. E. (1993). L’inscription corporelle de l’esprit. Sciences cognitives et expérience humaine. Paris: Editions du Seuil.
- Arendt, R. J. J. (2000). O desenvolvimento cognitivo do ponto de vista da enação, Psicologia: Reflexão e Crítica, vol.13 n.2 Porto Alegre
quinta-feira, 13 de maio de 2021
Era uma vez dez meninas
de uma aldeia muito probe.Deu um tranglomanglo nelas
não ficaram senão nove.
Era uma vez nove meninas
que só comiam biscoito.
Deu um tranglomanglo nelas
não ficaram senão oito.
Era uma vez oito meninas
em terras de dom Esparguete
Deu um tranglomanglo nelas
não ficaram senão sete.
Era uma vez sete meninas
lindas como outras não veis.
Deu um tranglomanglo nelas
não ficaram senão seis.
Era uma vez seis meninas
em landas de Charles Quinto.
Deu um tranglomanglo nelas
não ficaram senão cinco
Era uma vez cinco meninas
em um triângulo equilatro.
Deu um tranglomanglo nelas
não ficaram senão quatro.
Era uma vez quatro meninas
qu'avondavam só ao mês.
Deu um tranglomanglo nelas
não ficaram senão três.
Era uma vez três meninas
em o paço de dom Fuas.
Deu o tranglomanglo nelas
não ficaram senão duas.
Era uma vez duas meninas
ante um home todo espuma.
Deu um tranglomanglo nelas
transformaram-se em só uma.
Era uma vez uma menina
terrada em terral (coval) mui fundo.
Deu um tranglomanglo nela
voltaram as dez ao mundo.
Mário Cesariny de Vasconcelos
quarta-feira, 12 de maio de 2021
segunda-feira, 10 de maio de 2021
The Doors - Love Her Madly
Don't ya love her ways?
Tell me what you say
Want to be her daddy?
Don't ya love her face?
Don't ya love her as she's walkin' out the door?
Don't ya love her ways?
Tell me what you say?
Don't ya love her as she's walkin' out the door?
All your love
All your love
All your love, all your love is gone
Of a deep blue dream
Seven horses seem to be on the mark
Don't you love her as she's walkin' out the door?
All your love
All your love
Yeah, all your love is gone
Of a deep blue dream
Seven horses seem to be on the mark
Well, don't ya love her madly?
Yeah, don't ya love her madly?
Quetzalcoatl
mise en abîme
"narrativa em abismo", usado pela primeira vez por André Gide ao falar sobre as narrativas que contêm outras narrativas dentro de si.
Fobias
cainotofobia
"Não estamos aqui para brincar. A vida não é brincadeira nenhuma. Mas um pouco de sonho nunca fez mal. Principalmente a um velhadas de 73. Sonho ou desejo ou ambição. Talvez mesmo ou até: cagança. Sim, isso."
domingo, 9 de maio de 2021
''A ameaça hoje não é a passividade, mas a pseudo-actividade, a premência de «sermos activos», de «participarmos», de mascararmos o nada do que se move. As pessoas intervêm a todo o momento, estão sempre a «fazer alguma coisa»; os universitários participam em debates sem sentido, e assim por diante. O que é verdadeiramente difícil é darmos um passo atrás, abstermo-nos. Os que estão no poder preferem muitas vezes até mesmo uma participação crítica, um diálogo, ao silêncio: implicar-nos no «diálogo», de modo a assegurarem-se de que a nossa ameaçadora passividade foi quebrada. (…) Por vezes, não fazer nada é a coisa mais violenta que temos a fazer.''
Slavoj Žižek, Violência
''Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive. ''
Ricardo Reis
sexta-feira, 7 de maio de 2021
rebuço
'' A definição do pecado implica a possibilidade do escândalo''
Kierkegaard. O Desespero A Doença Mental. Tradução de Ana Keil. RÉS- Editora, Porto, s/d, p. 97
Tudo o que não provém da fé é pecado.
«Não, o contrário do pecado é a fé; como diz a Epístola aos Romanos (14,23): Tudo o que não provém da fé é pecado. E uma das definições capitais do cristianismo é que o contrário do pecado não é a virtude, mas sim a fé.»
Kierkegaard. O Desespero A Doença Mental. Tradução de Ana Keil. RÉS- Editora, Porto, s/d, p. 95
«(...) o pecado é, precisamente, uma categoria do espírito»
Kierkegaard. O Desespero A Doença Mental. Tradução de Ana Keil. RÉS- Editora, Porto, s/d, p. 94
pelagianismo
nome masculino
'' todo o pecado o é perante Deus''
Kierkegaard. O Desespero A Doença Mental. Tradução de Ana Keil. RÉS- Editora, Porto, s/d, p. 93
quarta-feira, 5 de maio de 2021
AUTO-RETRATO
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
desespero qualificado
''(...) o que faz do pecado aquilo que os juristas chamam «desespero qualificado»;''
Kierkegaard. O Desespero A Doença Mental. Tradução de Ana Keil. RÉS- Editora, Porto, s/d, p. 87