domingo, 24 de março de 2024
«O rio começou a crescer há três noites, lá para a madrugada. Eu estava muito adormecido e, no entanto, o estrondo que o rio trazia ao arrastar-se fez-me acordar imediatamente e saltar da cama com a minha manta na mão, como se tivesse acreditado que se estava desmoronando o tecto da minha casa.»
Juan Rulfo. A planície em chamas. Tradução do original de Ana Santos. Cavalo de Ferro, 1ª edição, 2003., p. 27
É QUE SOMOS MUITO POBRES
Juan Rulfo. A planície em chamas. Tradução do original de Ana Santos. Cavalo de Ferro, 1ª edição, 2003., p. 27
''agulha de aldarba''
Juan Rulfo. A planície em chamas. Tradução do original de Ana Santos. Cavalo de Ferro, 1ª edição, 2003., p. 22
''fardos de açúcar''
Juan Rulfo. A planície em chamas. Tradução do original de Ana Santos. Cavalo de Ferro, 1ª edição, 2003., p. 20
ROSA PASTEL - BILLIE EILISH
La madre de tus hijos
Y juntos caminar hacia el altar
Directo hacia la muerte
Ni hablar
Los dos nos destruimos
¿Qué tal?
Tú y yo ya no existimos
Ella se fue a un abismo
Tú no eres aquel que prometió
Sería mi superhéroe y que
No queda más
Seremos dos extraños
Me olvidarás
Hasta nunca
Que lleva a la felicidad
Luna de miel
Rosa pastel
Clichés y tonterías
Ni hablar
Los dos nos destruimos
¿Qué tal?
Tú y yo ya no existimos
Ella se fue a un abismo
Y tú no eres aquel que prometió
Sería mi superhéroe y que
No queda más
Seremos dos extraños
Me olvidarás
Hasta nunca
Ta, ta
Ta-tara, ta, ta, ta
Ta, ta
Ta, ta
Compositores: Ricardo Arturo Arreola Palomera / Denisse Guerrero Flores / Edgar Albino Huerta Castaneda
quarta-feira, 20 de março de 2024
Uma Rapariga no Verão (1986)
''Quando somos jovens e temos ofertas, geralmente nos perdemos de tanto dom, e escolhemos não escolher: antes, somos escolhidos. É o que Isabel deseja: ser escolhida.''
Luiz Soares Júnior
''Portugal, a alteridade da alteridade, o dia seguinte do sonho americano bulímico.''
Luiz Soares Júnior
Nick Cave And The Bad Seeds - God Is In The House
We've split the wood and stoked the fires
We've lit our town so there is no
Place for crime to hide
Our little church is painted white
And in the safety of the night
We all go quiet as a mouse
For the word is out
That God is in the house
God is in the house
God is in the house
No cause for worry now
God is in the house
Computer geeks in the school house
Drug freaks in the crack house
We don't have that stuff here
We have a tiny little force
Yeah, but we need them of course
For the kittens in the trees
And at night we are on our knees
As quiet as a mouse
For God is in the house
God is in the house
God is in the house
And no one's left in doubt
God is in the house
Queer bashers with tyre-jacks
Lesbian counter-attacks
That stuff is for the big cities
Our town is very pretty
We have a pretty little square
We have a woman for a mayor
Our policy is firm but fair
Now that God is in the house
God is in the house
God is in the house
Any day now He'll come out
God is in the house
Goose-stepping twelve-stepping Teatotalitarianists
The tipsy, the reeling and the drop down pissed
We got no time for that stuff here
Zero crime and no fear
We've bred all our kittens white
So that you can see them in the night
And at night we're on our knees
As quiet as a mouse
Since the word got out
From the North down to the South
For no-one's left in doubt
There's no fear about
If we all hold hands and very quietly shout
Hallelujah
God is in the house
Oh I wish He would come out
God is in the house
terça-feira, 19 de março de 2024
Pedro, lembrando Inês
Pedro,lembrando Inês
Em quem pensar,agora,senão em ti? Tu, queme esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer:"Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem,sermos o que sempre fomos,mudarmos
apenas dentro de nós próprios?"Mas ensinaste-me
a sermos dois;e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide.Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo,ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios,mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo,para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba.Como gosto,meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar:com
a surpresa dos teus cabelos,e o teu rosto de água
fresca que eu bebo,com esta sede que não passa.Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.
domingo, 17 de março de 2024
sábado, 16 de março de 2024
''Treme o coração da ave.''
Tu Fu
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 179FORTUITAMENTE
Os vários anos somente tenho por companha.
Vida anterior: por engano, me votaram à poesia
Se noutra fosse teriam feito pintor de mim.
Nesta medida é difícil abandonar uns hábitos
Mesmo acontece ser conhecido por tal coisa.
Nome de nascença, nome do fundo, certo ambos
Mas o coração pelo contrário ninguém conhece.
[DOLÊNCIA DOS APARTADOS FEMININOS]
Dia de Primavera, e preparada, o balcão sobre azulado
Repentino, sobre o pequeno dique um tom: choupo, salgueiro
Lamenta ter dito ao marido para ir procurar emprego longe.
''Homens recentes cumprem expedições longínquas''
Li Qi
690-751
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 131''Sozinho, amargas lamentações deito.''
Chen Zi'Ang
656-698
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 121''(...), por este luar, alguém quem ama lembra.''
c.660 - c.720
OUVINDO NA PRISÃO UMA CIGARRA
Memórias profundas suscita neste exílio, o Sul.
Custa-me ouvir esta figura de asa escura
Verrumando, um prisioneiro de cabelo branco.
É difícil subir ela o molhado, pesando neste orvalho
E no vento demais forte a sua voz desaparece.
Nenhuma criatura admite sua altura e natureza
Quem irá dilucidar o que me vai no coração?
640-648?
sexta-feira, 15 de março de 2024
É como bichinhos dentro de um jarro
Todo o dia andando à volta
Nunca sai lá de dentro.
Não nos calha a ventura
Só temos em sorte desgraças
O tempo parece um rio
Que corre. Um dia, acordamos velhos.
Han Shan
séculos V-VI
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 111''Eis-me aqui melancólica e deitada no quarto vazio''
A Dama Hou
séculos V-VI
''Vem lá a angústia, a via, da morte, que é longa''
[Último Imperador dos]
m.531
Nick Cave & The Bad Seeds - Carry Me
Oh my father, carry me, oh
Father, carry me (Tayki de Tayki de Tayc)
Father, carry me
Oh my father, carry me, oh
Father, carry me
Mais je dois rester un homme
Je dois tout, tout, tout cacher
Sans toi j'ai tellement froid, tellement froid, non
Et crois moi tout ce que tu donnes
Moi, j'ai tout, tout, tout garder
Je rappelle une autre fois
Depuis, moi j'attends
Mais tu ne réponds plus
J'appelle une fois
Je rappelle une autre fois
Depuis, moi j'attends
Mais tu ne me connais plus
Il ne me reste plus que des mots
Mais ce serait lâche de te dire qu'on doit continuer
En niant qu'on va vers la mort
Plus aucun mot
Toi, tu ne disais plus aucun mot
Et aujourd'hui la douleur m'inonde
Je t'ai vu creuser nos tombes
Parle moi, parle moi même si c'est pour m'insulter
Dis-moi que je suis l'homme que tu déteste
Mais ne m'ignore plus jamais
Et s'il te plaît parle moi
Parle moi, dis moi juste que tu pars
Les regrets sont arrivés trop tard
Tu ne reviendras jamais, Jamais
Mais je dois rester un homme
Je dois tout, tout, tout cacher
Sans toi j'ai tellement froid, tellement froid, non
Et crois moi tout ce que tu donnes
Moi, j'ai tout, tout, tout garder
Je rappelle une autre fois
Depuis, moi j'attends
Mais tu ne réponds plus
J'appelle une fois
Je rappelle une autre fois
Depuis, moi j'attends
Mais tu ne me connais plus
Oh my father, carry me, oh
Father, carry me
Father, carry me
Oh my father, carry me, oh
Father, carry me
Oh Niami Father
Nyambe, Nyambe
Father, Niami Djèla, oh
Oh Niami Father
Nyambe, Nyambe
GRASNAM À NOITE CORVOS
[Yuefu]
século V
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 103
''A fome era tanta, esquecíamos.''
Shen Yue
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 99''tenho evitado tais errâncias''
Xie Lingyun
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 95TESTAMENT0
Como Li Ye, eis-me no fim, encurralado.
Xi, o antigo, foi vítima da justiça,
Também Huo sacrificado foi.
Mete dó, o cipestre que a geada mordeu
Desfeito é o «míscaro» que a borrasca tombou.
Quanto dura afinal a existência?
Não é que me aflija o ela ser breve.
Dói-me somente o meu ideal de gentil-homem
Que não possa ser gravado no sopé da falésia.
Despedir-me da alma sem o instante supremo
Eis o que me há tanto tempo tormento.
O meu voto ei-lo. Que na vida futura
Amigos e inimigos, tenham um só coração.
Xie Lingyun
385-433
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 93quinta-feira, 14 de março de 2024
quarta-feira, 13 de março de 2024
RAIO DE FILHOS
As carnes já, não muito seguras
E é que tenho cinco filhos.
(...)
Tao Yuanming
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 91
''Asa que foge e me rasga o coração.''
Cao Zhi, 192-232
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 83
'' O teu coração doendo bate.''
Imperador dos Han, Liu Qie
r. ~141 ~87
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 63[ LAMENTO DOS CABELOS BRANCOS ]
Brancos como a lua por entre as nuvens
Sei que destes o vosso coração -
Por isso vim: é preciso separarmo-nos.
(...)
Anónimo
[ Zhuo Wenjun c. 200 ]
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 59''Aí vêm as águas - turbulentas.''
Chuci
Canções de Chu
Qu Yuan
~340 ~278
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 53
[ CANÇÃO DE BATER NO CHÃO ]
Põe-se o sol descansamos.
Cavamos um poço para beber,
Lavramos um campo, p'ra comer:
O Imperador e o seu poder
- Queremos lá saber!
Autoria: anónimo c. 1000?
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 49
''Corno de licorne''
Shijing
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989, p. 43
Rapaz Raposa
Desdenha falar comigo
Sim é por causa dele, Senhor
Que deixo a comida no prato.
Este rapaz raposa
Comigo comer não quer
Sim é por causa dele
Que já descanso não tenho
Shijing
Uma Antologia de Poesia Chinesa. Gil de Carvalho. Assírio & Alvim, Lisboa, 1989
segunda-feira, 11 de março de 2024
José Mário Branco - Poder
Um herói
À mesura
Da sua estatura
Vai sempre à procura
Ond' inda ninguém foi
Um herói
Não descura
Um ou outro dói-dói
Uma dura aventura
Não mata mas mói
Caso venha a ser preciso
Arriscar qualquer coisinha
Na operação
Um herói no seu juízo
Leva sempre uma pilinha
Em cada mão
Com a cobertura da instituição
Mais aquilo do Deus-Pátria-Canhão
Um herói nunca se corta
Meio olho-vivo, meio mão-morta
A porta
Não importa
Um herói
Façanhudo
É de tudo capaz
Faz ao peixe miúdo
O que mais ninguém faz
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Um herói
Catrapás
Salta dos quadradinhos
Puxa os cordelinhos
E eles vêm atrás
Com algum equipamento
Assegura a quadratura
Da operação
E o simbólico instrumento
É uma armadura dura
Em cada mão
Um herói é o garante, o bastão
Dessa coisa do Deus-Pátria-Canhão
Nunca tеme, nunca se corta
Come pеixinhos da horta
Mulher morta
Não aborta
Poder
Quem o tem, tem ascendente
Poder
Quem o tem, faz-se valente
Bem usado
Mal usado
O poder é prepotente
Assim
Diz o povo amiúde
Assim
Herói era toda a gente
Mais val' rico e com saúde
Do que pobre e doente
domingo, 10 de março de 2024
extensão, possibilidades infindas,
o facto de podermos tocar aquele ramo de bétula ali,
apanhar da valeta o calhau branco.
O corpo doente está em toda a parte: o quarto, o pátio,
o caminho até ao poço, a casa e o céu azul-claro
estão repletos dele. O coração doente
é tão grande que tudo toca nele,
ofendendo-o e magoando-o. Um ramo de abeto que balouça
rente à vedação precipita-se e fere-te o rosto.
O vento que arremessa a vassoura de bruxa
atravessa num sopro o teu peito.
Os gritos das andorinhas atingem-te como marteladas.
A noite cai como um velho cobertor molhado sobre os teus
olhos e boca.
Jaan Kaplinski [Estónia]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 200Aquilo que não pode crescer para fora cresce para dentro»
Jaan Kaplinski [Estónia]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 196Conhecimento
E calar-me-ia secretamente para a eternidade: pois saberia o
suficiente.
Hugo Von Hofmannsthal [Áustria]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 193''Eu não sou um homem. Não quero destruir-te.''
Harold Norse [EUA]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 188''evitas o folguedo''
Giacomo Leopardi [Itália]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 170''respirar ar viciado deprime-me''
Forough Farrokhzad [Irão]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 150sábado, 9 de março de 2024
e os estorninhos partiam em furiosa debandada
da velha árvore
e tenho o cérebro ainda a transbordar
com o guincho aterrorizado de uma borboleta
crucificado com alfinetas
num caderno''
Forough Farrokhzad [Irão]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 146''O meu coração está carregado, carregado.''
Forough Farrokhzad [Irão]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 144''Esvazio-me de todos os gritos dolorosos''
Forough Farrokhzad [Irão]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 143''É tão fácil perdermos se ficarmos quietos''
Fernando Valverde [Espanha]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 136''faz-se o nosso pão cada vez mais de farrapos bolorentos''
Ezra Pound [EUA]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 126sexta-feira, 8 de março de 2024
''fábula-cadáver''
Edoardo Sanguineti [Itália]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 108
''dulcíssimos tormentos da vida''
Edoardo Sanguineti [Itália]
Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 107