terça-feira, 21 de março de 2023


Dentro de mim
Inside me, 2000

 Helena-Almeida


 « a que não pára de sangrar,

como também sangram ainda as rochas,»


Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 55

'' os politicamente corrigidos''

Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 48

 “É preciso diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, até que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática. “ 

 Paulo Freire

'' Dance, dance, otherwise we´re lost''

« (...) E não lhe chamo
nem cabra nem cadela, esses abusos
vocabulares das imprecações.»

Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 47

Marianna e Chamilly



Quando partires
se partires
terei saudades
e quando ficares
se ficares
terei saudades

Terei
sempre saudades
e gosto assim

Adília Lopes, in 'Caderno'

Canção de primavera

 

Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,

Pois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.

Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.

Eu, invernos e outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio...
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.

Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.

Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar...
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?

domingo, 19 de março de 2023

Margot Fonteyn


 

Nobody but You

«Quando a tristeza me cravar as unhas, hei-de sacudi-la.»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 88

 « - Não sei qual das mortes é mais suave, se a da pólvora quente se a da água fria...»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 86

 

neste comenos
neste instante, entretanto

«(...) tentou-lhe o espírito com as belezas da linguagem e da fantasia»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 74

ensoberbecer-se

 




 

 (Tu descias amor uma alameda)


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 102

«Cria-se a morte no teu leite aberto.»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 97

« Hoje não saio. Sinto-me perdido.»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 93

«O país conhece a autópsia do dia.»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 93


 

 «Levanta-se o vento

Levanta-se a mágoa.»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 92
«Rasgas um véu de carne
à tua frente
para poderes ver quem te oprime.»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 88


«Cantaria a toutinegra
Se o fumo não a matara
E a rola não acabara
Como no ano passado»

 
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 87

«E tu silêncio, sempre vinhas.»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p.83

''seareiros da fome''

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 79



« Se guardião-centauro de crespas unhas
Pronto ao disparo da saliva
Em vez de balas.»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 78

sexta-feira, 17 de março de 2023

 (...)

«Se. se quiser enlouquecer, já que é

necessário um final,

que veja como

se enlouquece melhor quando se cai,

quando nós nos tornamos

o despojo.»


Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 39

quarta-feira, 15 de março de 2023


                                                                                                 Anne Brigman
 



Entre os martelos subsiste o coração

Rainer Maria Rilke
Elegias de Duíno

 II

Ó pequena Cleis, emudeceu
a tua mãe e puxa-te para dentro
com brusquidão porque a visão do fogo
e os gritos, e as corridas dessa gente 
sempre enlutada, sempre envelhecida
dentro dos panos negros, tudo aquilo
que irrompe pela noite deve ser
escondido das crianças, sobretudo
dessas crianças louras que tão raras
são nas ilhas do Leste.
Emudeceu a tua mãe. Esqueceu-se, aliás,
há muito de si mesma,
da nudez
e da glória dos seus versos,
das celebrações altas,
dos bons usos
da hospitalidade que também
continha a sua carga de erotismo,
sendo tudo um encontro, havendo em tudo
aquilo que gera e aquilo que devora.
E, enquanto os astros, como doces frutos,
se atiravam do céu para o horizonte,
para os recém-chegados acendiam-se
os fogos olorosos.
E o vinho, e a saliva, e as histórias
de antigos reis e venhas crueldades,
iam cobrindo a pele dos forasteiros
como a língua da mãe percorre as crias.

III

Ó, pequena Cleis, os forasteiros
causam-te susto, agora, e pouco falta
para que os apedrejem e os atirem 
de novo para o mar.
Pois ficou suja,
ficou cheia, a ilha,
e como que deserta do seu espírito,
correm nela miasmas como quando
o desfavor dos deuses se exercia
e tudo se tornava feio e vil.
Não te debruces, Cleis, na varanda
que deita sobre a praça, sobre a linha
dourada do pinhal.
Nem te levantarei eu mais, criança,
nos braços estendidos, como alguém
que, grato, te mostrasse à natureza.
Pois, Cleis, não existe natureza
nem existe cidade.
Só os troncos
diamantinos de Eressos,
indiferentes, duros,
permanecem.


Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 34/5

terça-feira, 14 de março de 2023

« Se nos matarem, não será por fome,»

Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 15



«assinalámos certas armadilhas,
certos abatimentos da beleza,»

Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 11


« como crianças, vemos os detalhes
sem suspeitarmos do que neles se oculta,»

Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 10

domingo, 12 de março de 2023


Anne Brigman

 



«(...)

sendo eu menos do que um bicho
com fome:
sendo a fome.»

Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 9

ESMOLA

 I

Lançai-me uma palavra, como alguns
atiram côdea aos cães.
Uma palavra
que, embrulhada nesse cuspo
que vos escorre pelos queixos,
brilha
e desconcerta a própria
repugnância.
Sacudi-a de vós, tal como alguém
sacode a lama seca do sapato
sem perceber sequer que lama é
porque não tira os pés
do alcatrão.
Essa palavra abandonada à porta,
eu a recolherei, como se houvesse
nela um pedido,
a súplica de um órfão,
de uma cria deixada para
morrer.
Eu pegarei nessa palavra ao colo
e, não sabendo onde encontrar abrigo
nem alimento,
dormirei com ela,
ouvindo-a murmurar,
enquanto os bosques
vão crepitando e a cinza
nos recobre.

Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 7

´´pontapés semi-suportáveis''

 «as aves não cantam quando o céu está em luto»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 61

«(...) a sua fé não é senão cobardia, medo de sofrer.»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 56

                                                                  Dorothy Wilding


 

«A mim não me conta os segredos da sua alma.»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 52

''o mal possível prevê-se e remedeia-se''

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 45

 « (...) Os Mortos não envergonham os vivos...

- Despedaçam-nos com saudades - atalhou D. Clementina.

-Quando os vivos têm poucos brios.»


Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 45

«(...) seria preciso que ela já não tivesse luz nos olhos, nem coração para mais esta dor.»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 43

«(...), a felicidade alcançam-na os que mais sacrificam as suas inclinações. Verás como tudo esquece, tudo de desfaz, menos o remorso de uma ação condenada primeiro pela sociedade e depois pela consciência...»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 37

''olhos orvalhados''

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 36

Lisa Lerkenfeldt - Glass Braid

Gerda Taro. The Girl with the Leica

 


'' queria morrer, amando-o''

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 34

« A lei encolhia-se de medo;»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 34

''olhos indulgentes''

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 31

« Como nasce o amor? Apenas sabemos como ele morre.»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 31

 


adjetivo
tolonéscioestúpidodisparatado

 “A minha mãe foi o meu primeiro país. O primeiro lugar em que vivi.” 

Nayyairah Waheed 

«Há homens que apodrecem aos rebanhos»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 76


 

«Barata minha barata

Não me deixes à deriva»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 75

«Que dizer do meu inferno?»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 74

SEM MANEJOS DE TROPOS FERRAMENTAS

Sem manejos de tropos ferramentas
Morremos à míngua de vitórias 
Um rio sem memória e eis-nos mortos
Sem léxico. Sem poema. Dor apenas
Pairam as águas na maré vazia
E nem um gesto de ave se ouve ao longe
Há ainda labor mas ao perdê-las
É como se fugissem as estrelas



Escrito na prisão de Caxias.


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 73

«Quisera ser rio ou ave»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 64


 

 


nome feminino
regionalismo coloquial discurso com que se tenta convencer, cativar ou enganarlábiapaleio

 «Mais vale um bom desengano

Que andar enganado sempre»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 48
«Menina triste
Venha p´rà neve
Que o vente leve
O teu sonho triste»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 46

sábado, 11 de março de 2023

SOPRA O SONHO

Sopra o sonho por dentro
Das pálpebras em viagem
Enceta o curso habitual nocturno
Num corredor sombrio de pestanas

Antes porém cumprimenta
Toda a matéria viva em que tropeça
Sabe o segredo do corpo tem uma pátria
Bioquímica extremamente embrionária

A morte já habita os seus tecidos
Quando os outros de guarda se abastecem
Pronta ao assalto das células 
Como se dormisse

A que fins se destina e a que estranhos
bulícios suas últimas vontades?

Não o sabemos

Só mesmo o oceano o incomoda


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 43


Jeanne Dielman in the bath, her skin matching the color of the walls.  Jeanne Dielman, 23 Commerce Quay, 1080 Bruxelles (Chantal Akerman, 1975)

 

«FUI AO ENTERRO DE UM LEÃO»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 42

 «Se às vezes me pedem contas

Não tenho contas a dar.»


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 39

''Sem pedais para a morte''

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 33

 XIII

Marujar movediço

nas represas,

é poeira de milhos

e sol de palha acesa


p'ròs meus olhos vazios

de tristeza.


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 32

 

XI

Menino de calção

que vais correndo!

- Deixa o rio

que os peixes vão morrendo!


José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 31

 «Nada perturba o silêncio posto nas tuas pálpebras.»

José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 26

 


nome feminino
designação dos pequenos fragmentos ou do pó que se desprende de um corpo metálico quando se raspa com uma lima

AMadOR - O amor pelo teatro

quinta-feira, 9 de março de 2023

''o cabaz dos pêssegos''

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 30

 ''puerilidades afectivas''

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 30

Toutinegra-de-cabeça-preta


Dorothy Wilding

 

Christina Vantzou - No. 4 (Full Album, 2018)

 

di.lú.cu.lodiˈlukulu
nome masculino
luminosidade que precede o nascer do diacrepúsculo matutinoalva, aurora, madrugada

 

dar pábulo
dar azo a troça ou maledicência

 «Queria antes morrer debaixo dos olhos dela.»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 27
« Cada hora lhe desabotoava do coração rebentos novos a florir e a recender.»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 27

derruído

«aligeirando-lhes os aborrecimentos da solidão»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 25

loureiral

''fermento de vícios''

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 22


 

ama-seca

chichisbéus

«(...) renque de faias entrelaçadas com olmeiros»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 21

 

casaco assertoado
casaco de trespasse

folgazã

« de rópia e chulice»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 18

«Ricardina era a mais doce alma que os anjos compuseram da graça e formosura do Céu.»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 18

Christina Vantzou ‎- No.1 (2011) FULL ALBUM

quarta-feira, 8 de março de 2023

Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado 



« Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos
fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave»

Vinicius de Moraes

Ginarca

domingo, 5 de março de 2023

Assim como assim

 « (...) - Que sabes tu do coração desta rapariga?

- Nada.»


Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 13


 

«Ricardina, porém, se deu a ver nos olhos alguma coisa do que lhe ia na alma, era a resolução das lágrimas.»

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 12

''repugnâncias do sangue''

Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 12

 

ter bojo para
ser capaz de admitir ou suportar

 «Toda a obra literária é assim feita de um misto de visão, lembrança e acto, de noções e de informações recebidas, no decorrer de uma vida, através da palavra ou dos livros, e de resquícios da nossa própria existência.»

Marguerite Yourcenar. Posfácios. Posfácio. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 222

''a inalterável fidelidade do coração''

Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 214

 «(...) o adultério banalizado perdeu, além disso, muito do seu prestígio graças à facilidade do divórcio»

Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 211

The Smiths - A Tale of a Wonderful Woman


 

admonição

''passiva por sageza e não por fraqueza''

Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 208

alancear

''inconsolável luto''

Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 208

'' exultação isenta de arrependimento''

Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 208

''Virgens -das-Sete-Espadas''

Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 207

Mescla

sábado, 4 de março de 2023

Para que serve a Filosofia...

 ''Para enriquecer. Para conhecer mulheres deslumbrantes (mesmo no sentido bíblico do verbo). Para viajar a mundos e locais fascinantes, na companhia de seres inteligentes e imortais. Para desprezar o trabalho e toda a forma de escravatura, encapsule-se ela em que supositório for. Para experimentar a verdadeira independência. Para esmerar a arte de transformar falsos amigos em fiéis inimigos.  Para andar na guerra sem medo e na paz sem arrogância. Para saber que o mais importante é também o mais simples: que o fim e o princípio coincidem. Para compreender, com clareza, para que serve a honestidade - a intelectual sobretodas. Para não perder tempo com ninharias e ninhacastas. Para, enfim, entre mil e muitas outras coisas maravilhosas (que ficaria aqui um ano a enumerar), ser um homem digno da sua ociosidade essencial, no que apenas honra o padroeiro-mor de todos os ociosos genuínos deste mundo: Deus.''




Dorothy Wilding

 

Quanto Mais Amada Mais Desisto

 


De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia, in "O Dilúvio e a Pomba"

Cântico do País Emerso

 

Os previdentes e os presidentes tomam de ponta
Os inocentes que têm pressa de voar
Os revoltados fazem de conta fazem de conta...
Os revoltantes fazem as contas de somar.

Embebo-me na solidão como uma esponja
Por becos que me conduzem a hospitais.
O medo é um tenente que faz a ronda
E a ronda abre sepulcros fecha portais;

Os edifícios são malefícios da conjura
Municipal de um desalento e de uma Porta.
Salvo a ranhura para sair o funeral
Não há inquilinos nos edifícios vistos por fora

Que é dos meninos com cataventos na aérea
Arquitetura de gargalhadas em cornucópia?
Almas bovinas acomodadas à matéria
Pastam na erva entre as ruínas da memória,

Homens por dentro abandalhados em unhas sujas
Que desleixaram seu coração num bengaleiro;
Mulheres corujas seriam gregas não fossem as negras
Nódoas deixadas na sua carne pelo dinheiro;

Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa
Passam por mim como alamedas de ciprestes
E a flor de cinza da juventude é uma aresta
Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres

E essa ansidedade de mim mesma me virgula
Paula de pátria entressonhada. É um crisol.
E, o fruto agreste da linfa ardente que em mim circula
Sabe-me a sol. Sabe-me a pássaro. Pássaro ao sol.

Entre mim e a cidade se ateia a perspectiva
De uma angústia florida em narinas frementes.
Apalpo-me estou viva e o tacto subjectiva-me
a galope num sonho com espuma nos dentes.

E invoco-vos, irmãos, Capitães-Mores do Instinto!
Que me acenais do mar com um lenço cor da aurora
E com a tinta azulada desse aceno me pinto.
O cais é a urgência. O embarque é agora.

Cidadania

Buquê de ruídos úteis

o dia. O tom mais púrpura
do avião sobressai
locomovida rosa pública.

Entre os edifícios a acácia
de antigamente ainda ousa
trazer ao cimo a folhagem
sua dor de apertada coisa.

Um solo de saxofone excresce
mensagem que a morte adia
aflito pássaro que enrouquece
a garganta da telefonia.

Em cada bolso do cimento
uma lenta aranha de gás
manipula o dividendo
de um suicídio lilás.

Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"

Balada para um Homem na Multidão


Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no japão
a diferença é ele ignorar.

Muitos mortos foram necessários
para formar seus dentes um cabelo
vai movido por pés involuntários
e endoidece ser eu a percebê-lo.

Sentam-no à mesa de um café
num andaime ou sob um pinheiro
tanto faz desde que se esqueça
que é homem à espera que cresça
a árvore que dá dinheiro.

Alimentam-no do ar proibido
de um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte.

Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"

Alípio de Freitas

borzeguins

Questões Escaldantes

  Margaret Atwood

«Miranda, a inocente, que se apaixona por um homem porque o acha belo.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 193

«Era bonito, ser-se cinquenta anos fiel.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 192

« Não, não era uma avó ruim. Mas ele não gostava suficientemente dela para lhe dizer que se ia embora.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 188

 

à sorrelfa
disfarçadamente, pela calada


 

infamante

 « - A minha mãe foi enforcada em público - respondeu com ostentação o garoto, que se vangloriava desse episódio. Parecia-lhe a ele que a mãe (de quem, de resto, se não lembrava, por ser muito pequeno nessa altura) morrera no palco de um grande teatro.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 185

 «(...), conseguia dar a sentir, por dentro, algo como três pessoas, que, por assim dizer, jogassem uma contra a outra.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 184

 « Um actor, contudo, não vale muito mais do que uma cabeça de gado, (...)»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 182

 «(...), comover pessoas incapazes de se comoverem»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 180

 

empunhar o ceptro
começar a reinarcomeçar a mandar

 «(...) as peias da civilização, que o atavam de pés e mãos.»

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p.281

Planta arbustiva

Powered By Blogger