Helena-Almeida
terça-feira, 21 de março de 2023
Marianna e Chamilly
Quando partires
se partires
terei saudades
e quando ficares
se ficares
terei saudades
Terei
sempre saudades
e gosto assim
Adília Lopes, in 'Caderno'
Canção de primavera
Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.
Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.
Eu, invernos e outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio...
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.
Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.
Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar...
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?
domingo, 19 de março de 2023
«Cria-se a morte no teu leite aberto.»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 97
« Hoje não saio. Sinto-me perdido.»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 93
«O país conhece a autópsia do dia.»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 93
«E tu silêncio, sempre vinhas.»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p.83
''seareiros da fome''
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 79
sexta-feira, 17 de março de 2023
quarta-feira, 15 de março de 2023
II
Ó pequena Cleis, emudeceua tua mãe e puxa-te para dentro
terça-feira, 14 de março de 2023
« Se nos matarem, não será por fome,»
Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 15
domingo, 12 de março de 2023
ESMOLA
I
Lançai-me uma palavra, como algunsatiram côdea aos cães.
Hélia Correia. Acidentes. Relógio D'Água, novembro, 2020., p. 7
«(...) a sua fé não é senão cobardia, medo de sofrer.»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 56
«A mim não me conta os segredos da sua alma.»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 52
''o mal possível prevê-se e remedeia-se''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 45
''olhos orvalhados''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 36
'' queria morrer, amando-o''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 34
« A lei encolhia-se de medo;»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 34
''olhos indulgentes''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 31
«Há homens que apodrecem aos rebanhos»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 76
«Que dizer do meu inferno?»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 74
SEM MANEJOS DE TROPOS FERRAMENTAS
Morremos à míngua de vitórias
«Quisera ser rio ou ave»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 64
sábado, 11 de março de 2023
SOPRA O SONHO
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 43
«FUI AO ENTERRO DE UM LEÃO»
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 42
''Sem pedais para a morte''
José Afonso. Textos e Canções. Organização Elfriede Engelmayer. 3ª edição revista. Relógio D'Água Editores, Outubro de 2000., p. 33
quinta-feira, 9 de março de 2023
''o cabaz dos pêssegos''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 30
« de rópia e chulice»
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 18
quarta-feira, 8 de março de 2023
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
« Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos
fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave»
Vinicius de Moraes
domingo, 5 de março de 2023
''repugnâncias do sangue''
Camilo Castelo Branco. O Retrato de ricardina. Publicações Europa América., p. 12
«Toda a obra literária é assim feita de um misto de visão, lembrança e acto, de noções e de informações recebidas, no decorrer de uma vida, através da palavra ou dos livros, e de resquícios da nossa própria existência.»
Marguerite Yourcenar. Posfácios. Posfácio. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 222''a inalterável fidelidade do coração''
Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 214
''passiva por sageza e não por fraqueza''
Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 208
''inconsolável luto''
Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 208
''Virgens -das-Sete-Espadas''
Marguerite Yourcenar. Posfácios. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 207
sábado, 4 de março de 2023
Quanto Mais Amada Mais Desisto
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.
Natália Correia, in "O Dilúvio e a Pomba"
Cântico do País Emerso
Os inocentes que têm pressa de voar
Os revoltados fazem de conta fazem de conta...
Os revoltantes fazem as contas de somar.
Embebo-me na solidão como uma esponja
Por becos que me conduzem a hospitais.
O medo é um tenente que faz a ronda
E a ronda abre sepulcros fecha portais;
Os edifícios são malefícios da conjura
Municipal de um desalento e de uma Porta.
Salvo a ranhura para sair o funeral
Não há inquilinos nos edifícios vistos por fora
Que é dos meninos com cataventos na aérea
Arquitetura de gargalhadas em cornucópia?
Almas bovinas acomodadas à matéria
Pastam na erva entre as ruínas da memória,
Homens por dentro abandalhados em unhas sujas
Que desleixaram seu coração num bengaleiro;
Mulheres corujas seriam gregas não fossem as negras
Nódoas deixadas na sua carne pelo dinheiro;
Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa
Passam por mim como alamedas de ciprestes
E a flor de cinza da juventude é uma aresta
Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres
E essa ansidedade de mim mesma me virgula
Paula de pátria entressonhada. É um crisol.
E, o fruto agreste da linfa ardente que em mim circula
Sabe-me a sol. Sabe-me a pássaro. Pássaro ao sol.
Entre mim e a cidade se ateia a perspectiva
De uma angústia florida em narinas frementes.
Apalpo-me estou viva e o tacto subjectiva-me
a galope num sonho com espuma nos dentes.
E invoco-vos, irmãos, Capitães-Mores do Instinto!
Que me acenais do mar com um lenço cor da aurora
E com a tinta azulada desse aceno me pinto.
O cais é a urgência. O embarque é agora.
Cidadania
Buquê de ruídos úteis
do avião sobressai
locomovida rosa pública.
Entre os edifícios a acácia
de antigamente ainda ousa
trazer ao cimo a folhagem
sua dor de apertada coisa.
Um solo de saxofone excresce
mensagem que a morte adia
aflito pássaro que enrouquece
a garganta da telefonia.
Em cada bolso do cimento
uma lenta aranha de gás
manipula o dividendo
de um suicídio lilás.
Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"
Balada para um Homem na Multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no japão
a diferença é ele ignorar.
Muitos mortos foram necessários
para formar seus dentes um cabelo
vai movido por pés involuntários
e endoidece ser eu a percebê-lo.
Sentam-no à mesa de um café
num andaime ou sob um pinheiro
tanto faz desde que se esqueça
que é homem à espera que cresça
a árvore que dá dinheiro.
Alimentam-no do ar proibido
de um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte.
Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"
« - A minha mãe foi enforcada em público - respondeu com ostentação o garoto, que se vangloriava desse episódio. Parecia-lhe a ele que a mãe (de quem, de resto, se não lembrava, por ser muito pequeno nessa altura) morrera no palco de um grande teatro.»
Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 185