domingo, 11 de outubro de 2020

'' Escrevi meu primeiro romance, Caitaani mũtharaba-Inĩ [publicado em inglês como Devil on the Cross, “o diabo na cruz”], em papel higiénico ''

Escritor queniano Ngugi wa Thiong’o

IDLES - COLOSSUS


Colossus

I was done in on the weekend
The weekend lasted twenty years
The world's best bulimic bartend
Tender, violent and queer
Forgive me father, I have sinned
I've drained my body full of pins
I've danced till dawn with splintered shins
Full of pins, full of pins
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
They laugh at me when I run
I waste away for fun
I am my father's son
His shadow weighs a tonne
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
They laugh at me when I run
I waste away for fun
I am my father's son
His shadow weighs a tonne
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
Forgive me father, I have sinned
I've drained my body full of pins
I've danced till dawn with splintered shins
Full of pins, full of pins
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
Goes and it goes and it goes
Go go go go go go
It's coming
It's coming
It's coming
It's coming
It's coming
It's coming
It's coming
It's coming
I don't want to be your man, your man
I don't want to be your man, your man
I'm like Stone Cold Steve Austin
I put homophobes in coffins
I'm like Fred Astaire
I dance like I don't care
I'm like Ted DiBiase
I win no matter what it costs me
I'm like Evel Knievel
I break bones for my people
I'm on my best behavior
Like Jesus Christ our savior
I'm like Reggie Kray



Poetry By Angelo Colavita 

ON HYPATIA OF ALEXANDRIA
 

 

8 POEMAS DE ADONIS (Ali Ahmad Said Esber)


Versões em português de Luís COSTA

''O ROSTO DE UMA MULHER

Eu morava no rosto de uma mulher
que mora numa onda.
A maré cheia trouxe-a até à praia
cujo porto desapareceu nas suas conchas .
Eu morava no rosto de uma mulher
que me assassinou, que no meu sangue de navegador
até ao fim da loucura amorosa
quer ser um farol, que se apaga.


O CÂNTICO DA MULHER

De lado,
Tinhas o rosto de um homem idoso
Que, assaltado por dias de mágoa,
Me trouxe o seu frasquinho esverdeado
E pedia que tomasse a última refeição.
Esse frasquinho é uma enseada,
O casamento de um barco com uma enseada
Nos dias em que as praias se afundam
E as gaivotas encontram os rostos
E o capitão pressente o seu futuro.
Ele veio cheio de fome até mim, eu dei-lhe o meu amor
Como um pão, como uma bilha, como um leito
E abri as portas ao vento e ao sol
E partilhei com ele a última refeição.


O CÂNTICO DO HOMEM   

De lado
Vi o teu rosto pintado no tronco da palmeira
O sol negro nas tuas mãos
Então montei a minha saudade da palmeira
Trazia a noite num cesto, trazia a cidade às costas
E polvilhei-me à volta dos teus olhos, estudei
O meu rosto
E vi o teu rosto, havia nele a fome de uma criança
E esconjurei-o com fórmulas mágicas
E polvilhei- o com jasmim


HOMEM E MULHER

Mulher: quem és tu?

Homem: um bobo expatriado
da rocha dos meteoros,
da raça do demónio.
E tu, quem és?
Viajaste pelo meu corpo?

Mulher: sempre e repetidamente.

Homem: o que viste?

Mulher: vi a minha morte.

Homem: Trazias o meu rosto?
E olhaste a minha sombra como um sol?
E olhaste o meu sol como uma sombra?
E desceste  às minhas profundezas e descobriste-me?

Mulher: e tu, descobriste-me?

Homem: se me descobriste, foste capaz
de me convencer?

Mulher: Não.

Homem: fiz-te bem e tiveste receio?

Mulher: sim, sem dúvida.

Homem : e reconheceste-me?

Mulher: e tu, reconheceste-me?


DAMASCO


Damasco
Caravana de estrelas no fundo verde
Dois peitos de brasas e laranjas
Damasco
O corpo do amante no leito
Como um arco – íris, como uma lua crescente
Em nome da água
Ele abre
A garrafa dos dias
Gira todos os dias
Na tua órbita nocturna
Cai como uma vítima
No teu vulcão cobiçado
As árvores dormitam ao redor do meu quarto
E o meu rosto
É uma maçã
Meu amor
É uma almofada, uma ilha...
Se ela viesse
Se ela viesse
Damasco
Fruto da noite, ó lugar de descanso.


A FLORESTA MÁGICA

Que seja assim:
os pássaros chegaram e as pedras
juntaram-se às pedras
assim:
acordo as estradas e as noites
e  seguimos na procissão das árvores

Os ramos são malas verdes e os sonhos
    uma almofada
numa viagem de férias
onde a manhã continua estranha
onde o seu rosto
permanece como um selo sobre os  mistérios

Assim:
Um raio indicou-me o caminho, uma voz chamou-me
do fim mais extremo do muro


QUATRO CANÇÕES PARA TIMUR

Espelho da lei

Irrompe
Sobre o corpo da rapariga
Sobre o corpo das grávidas
Irrompe e mata
Não poupes ninguém, nem velhos nem jovens...

Esta é a minha lei


O saque

O pássaro em chamas,
Cavalos, mulheres, ruas
São dilacerados como pão
Diante dos olhos de Timur


Eles

Eles chegaram
Nus entraram em casa
Escavaram
Enterraram as crianças
E foram embora


A maré

Mihyâr cantou, curvou-se, rezou,
falou livre dos pecados
E reconheceu a sua crença
Abençoou o rosto da loucura
Derreteu a ave na sua voz
E desejou que a sua voz
Fosse uma maré – e assim foi.


O FALCÃO

Os cavalos aproximaram-se e da margem chamaram-nos:
Voltem para trás pois nada de mal vos acontecerá.
Mas eu nadava, e o meu irmão mais novo nadava igualmente.
Virei-me para o encorajar, mas ele não me ouviu.
E com medo de se afogar deixou-se encandear pela garantia
daquelas palavras. E nadou, à pressa , para trás, enquanto eu atravessava o Eufrates.
Então, eles correram na direcção do meu irmão, que de boa-fé
se dirigia para eles, e quando olhei para ele, decapitaram
aquele jovem de treze anos e levaram-no. Eu, porém,
corria, corria sempre em frente, sentia-me como um pássaro
-  assim tão rápido  corriam  as minhas pernas.


ADONIS, أدونيس ( Ali Ahmad Said )

Adonis ( poeta e ensaísta sírio-libanês, nasceu em Al Qassabin perto de Lataquia, no Norte da Síria, a 1 de Janeiro 1930. O seu verdadeiro nome é Ali Ahmed Said Esber. Ainda bastante jovem começa a trabalhar na agricultura. Porém, o seu pai incita-o a interessar-se pela poesia.
Com apenas 13 anos declama alguns dos seus versos perante o presidente sírio, que na altura se encontrava em viagem de visita pela província.
O presidente fica de tal modo impressionado que acede realizar o grande sonho do jovem poeta: a frequência de um liceu francês.
Em 1954 sai da Universidade de Damasco com uma licenciatura em filosofia. Em 1955 encontra-se preso, durante seis meses, por ser membro do Partido Social Nacionalista Sírio. Depois da sua libertação,  instala-se em Beirute (Líbano) onde, em 1957, funda, com o também poeta Yousuf el-Khal, a revista literária mais importante do espaço árabe: «Schiir» (Poesia).
Em 1980, depois da guerra civil libanesa, abandona o Líbano para se refugiar, a partir de 1985, em Paris. Hoje vive entre Beirute e Paris. Nesta cidade foi , durante vários anos, professor catedrático de árabe na Sorbonne.
O poeta tem traduzido muitos autores franceses para o árabe. Entre eles encontram-se Racine, Baudelaire, Henri Michaux e Saint Jonh-Perse.
Adonis é hoje considerado um dos poetas árabes mais importantes do nosso tempo. É um trabalhador fronteiriço entre duas culturas: a oriental e a ocidental, um clássico moderno que conseguiu realizar uma síntese entre a forte tradição da poesia árabe e a lírica moderna do Ocidente. É precisamente esta polifonia que permite aos leitores, de diversas culturas, o acesso à sua obra.
A sua poesia contribuiu fortemente para a renovação da língua árabe, influenciando uma geração de escritores e poetas árabes.
Escrever poesia significa para ele uma luta permanente contra a memória fechada , sobre si mesma, da cultura, ou seja, contra a ditadura do passado inflexível.
O nome Adonis é considerado no mundo árabe, desde os anos 60, um sinónimo de modernidade. Aí se afirmou como um dos principais porta-vozes da corrente crítica e pós-moderna. Diz ele: 
Nós rebentámos a linguagem. Rebentar a linguagem significa a invenção de relações novas e invulgares entre as palavras, a invenção de novas relações entre a palavra e as coisas, dentro e fora. É a tentativa de procurar absorver aquilo que, racionalmente, não é possível, isto porque a poesia lírica representa uma forma de violação da linguagem, ou seja, é a tentativa de obrigar a linguagem a dizer aquilo que a prosa usual jamais conseguirá exprimir. 
Deste modo, a sua lírica quebrou as formas rígidas da poesia árabe, mantendo, no entanto, bastante presente muitos dos seus mitos.
Nos seus poemas a linguagem é compreendida como um acto mágico. Adonis vê as raízes da sua poesia no misticismo islâmico, por ele considerado como um surrealismo antes do surrealismo europeu.
Entretanto, o mundo árabe fala de adonismo, adonismo esse que tem os seus seguidores entusiásticos, mas também um grande número de inimigos que se encontram, sobretudo, entre os islamitas.
Adonis é, de há vários anos para cá , um dos fortes candidatos ao Prémio Nobel da Literatura. ''
“Vivemos numa cultura que não abre margem para as questões, para as dúvidas. Já tem todas as respostas formuladas. Nem Deus tem nada de novo a dizer!”

Adonis, escritor sírio, em entrevista que deu a Adam Shatz, no “The New York Times”
“a poesia não pode ser feita para se adequar a uma religião ou a uma ideologia. Ela oferece aquele conhecimento que é explosivo e surpreendente”

Adonis, escritor sírio.

di.da.tis.mo

cultor do poema em prosa

'' Profeta pagão

Um excecional cultor do poema em prosa, Adonis entende que é imprescindível a poesia não alimentar as preconceções que a cercam. ''

Adonis. A revolução de um poeta entre dois mundos. Diogo Vaz Pinto. Jornal I.
''(...) os poemas de Adonis testemunham a angústia de se sentir desterrado, que agrava a solidão ao ponto de a sentir como uma doença, enquanto, por outro lado, o assombram as fatwas que foram emitidas contra ele. “Somos todos vistos como renegados e antimuçulmanos, estamos todos em listas de pessoas a abater”, disse ao “The New York Times”, referindo-se aos intelectuais árabes que se batem pelo secularismo. ''

Adonis. A revolução de um poeta entre dois mundos. Diogo Vaz Pinto. Jornal I.


“Qualquer artista é um exilado na sua língua”

 Adonis, escritor sírio.

secularista

Adonis.

''Ali Ahmad Saïd Esber, filho de agricultores, e o mais velho de seis irmãos, nasceu em 1930, em Qassabin, uma pequena aldeia na costa da Síria, junto à cidade portuária de Lataquia. Embora o pai não pudesse dar-se ao luxo de mandá-lo para a escola, ensinou o filho a ler poesia e o Corão. Tido hoje como o mais influente poeta árabe do século XX e um dos grandes intelectuais do Médio Oriente, Ali Ahmad Saïd Esber, ou Adonis, não esquece as suas origens e disse certa vez que, se fosse obrigado a descrever-se numa só palavra, essa seria “camponês”. A humildade pode ainda servir-lhe como um eco tardio dos tempos de infância, mas se estamos a falar dele foi porque cedo mostrou uma enorme audácia e há um episódio daqueles anos que abre a sua mitologia pessoal. Tinha 14 anos quando Shukri al-Kuwatli, o primeiro presidente da recém-independente república, visitou a cidade vizinha, Jableh, e o ainda jovem poeta insistiu em declamar para ele alguns poemas que tinha escrito de propósito para a ocasião. Impressionado com o talento do rapaz, o presidente perguntou-lhe quais eram os seus planos para o futuro. “Quero ir para a escola”, foi a resposta. No espaço de uma semana, ganhou uma bolsa para estudar no liceu francês de Tartus, uma cidade portuária no centro-sul do litoral sírio. Dali passou para a Universidade de Damasco, onde estudou os filósofos alemães e, além de ter lido a poesia árabe clássica, descobriu Baudelaire e Rimbaud. ''

Adonis. A revolução de um poeta entre dois mundos. Diogo Vaz Pinto. Jornal I.

domingo, 4 de outubro de 2020

TRISTANY - RAPEPAZ

Byung Chul-Han. Do desaparecimento dos rituais

''No seu mais recente livro, Do desaparecimento dos rituais (Relógio d’Água, 2020), Byung Chul-Han mostra a importância dos rituais em desaparecimento nas nossas sociedades: eles permitem a permanência, a demora, a contemplação, um real habitar do tempo, o entendimento das estações da vida, a recuperação desta como festa, sem chave de leitura única em sentido produtivista e de trabalho. A defesa da autenticidade – da performance individual primando sobre tudo o mais -, a suspeita das formas (tidas como artificiais), faz com que prescindamos de marcos/momentos que legavam valores e coesão social, mais do que tudo faziam comunidade (antes da atomização larvar evidenciar laços profundamente quebrados).

 

1. Apesar da linguagem, à esquerda e à direita, estar saturada de (reivindicações de) moral(idade), em realidade, em simultâneo, a sociedade embrutece. A demanda da autenticidade contra o suposto artificialismo das formas, conduz a uma rédea livre a toda a sorte de furores e agravos dirigidos a terceiros, abolindo-se um módico de respeito, objectivo (e objectivado em rituais), como endosso social. As boas maneiras não estão de moda (p.70).

2. Um ritual, a cortesia: “são as formas rituais que, como a cortesia, possibilitam não só um belo trato entre as pessoas, mas também um grácil e respeitoso relacionamento com as coisas”(p.13). É porque existe (está aí), desde há muito, em uma comunidade, uma forma de cumprimento/trato que se impõe (usos e costumes cominam obrigação) em determinadas ocasiões (mesmo que em tempos horizontalizados, reclamem, de algum modo, certo assentimento pessoal) que é possível o decorrer de uma vida social mais aclimatada. Nos rituais, desaparece o ego, des-psicologiza-se a pessoa (mesmo que haja assentimento, a convenção supera o “eu” – que a não criou e lhe presta obediência), esta une-se a uma forma que é (encarna) comunidade (que se faz e permanece). Se hoje temos (incessante) comunicação sem comunidade, os rituais seriam, ainda, uma contracção face ao idêntico – frente, pois, a um excesso de positividade -, afirmando-se, inversamente, como comunidade sem comunicação. Os rituais são o que permite a permanência, a duração, o perene; em vez de obstáculos, barreiras a suplantar, os rituais mereceriam o obséquio que se devota a elementos que contém a chave da preservação (“os rituais são actos simbólicos que transmitem e representam os valores e regimes que tornam coesa uma comunidade”, p.11). Em uma sociedade da transparência, na qual avulta um narcisismo voraz, a conformidade ritual surge condenada a um degredo que a vozearia e o espreguiçar boçais perseguem (a autenticidade – ser “ele mesmo” -, registe-se, desvaloriza a acção social).

3. Em Do desaparecimento dos rituais (Relógio d’Água, 2020), o filósofo alemão-sul coreano, Byung-Chul Han prossegue e desenvolve reflexões que podemos já encontrar, e antever, em seus ensaios precedentes: o humano deixado entregue a si mesmo, sem necessitar de outra chibata que não a promessa de um paraíso afluente caso se explore até ao tutano (o empresário de si próprio), não cessa de trabalhar, a ordem é produzir, e essa produção degrada a vida, não a levando suficientemente a sério para nela descortinar qualquer transcendência. O acumular, como ordem, relevará do medo da morte, e da procura de preservar, até ao limite, a vida nua. Gilles Lipovetsky já havia deixado escrito, em A era do vazio, que sem finalidades mais elevadas, a preservação da saúde (própria, por banda de cada indivíduo), sem mais, se transformara em grande desígnio – senão único; durante a pandemia em que nos movemos, alguns discursos, nem sempre devidamente calibrados/contextualizados/explicados, exortando a nenhum toque em alguém que, potencialmente, pudesse padecer – aparentemente contrariando os que, durante séculos, haviam tocado para acolher, para não deixar só, para amparar, quando mais ninguém se dispunha a amparar, os outros, mesmo que arriscando a própria vida, ou superando o entendimento desta declinado em vida nua, tendo tais exemplos ecoado, profundamente, pelos tempos (mas, afinal, estariam errados?, questionar-se-ia o leitor em nosso tempo, com certa amargura) -, porventura tenham levado longe de mais - um ponto explorado por Agamben - o foco numa auto-preservação de acordo com o espírito do tempo - sem o devido sublinhado, ou primado do evitar contagiar/fazer perder todos os demais.

Vida degradada, também, ao observar-se cada paragem como descanso – para continuar a produzir, para trabalhar bastante no instante imediato a seguir -, não lobrigando aquela enquanto contemplação, fruição, fim em si mesmo, gozo, dom (“o descanso sabático não se segue à criação. Mas antes é apenas o que faz que a criação seja completada. Sem ele, a criação está incompleta”, p.41). Vida dessacralizada quando não se leva o jogo suficientemente a sério, apenas existente, em nossas sociedades, em sentido fraco - uma vez mais a tomada de ar, o oxigénio que permite retomar o trabalho; não já, assim, a presença do jogo em sentido forte, como naquela comunidade indiana em que o rei, de 12 em 12 anos, a deixar ao jogo a sorte do seu mandato, com milhares de guerreiros a jogarem a sua própria vida e corpo numa aposta comunitária – o jogo, em sentido, forte, eliminaria a separação da morte da vida (mesmo que isso nos cause sobressaltos – e, já agora, diga-se, discordância - acerca da aniquilação voluntária e intensa da mesma defendida por alguns reconhecidos filósofos ou cineastas do século XX – Chul-Han convoca Bataille, Foucault ou Schroeter -, segundo os quais um suicídio depressivo, exausto, vazio, só ocorreria sob um regime neoliberal).

4. A recusa do artifício, da forma, a preferência da autenticidade (a qualquer custo) releva, ainda, para a análise da atual pouca frequência da poesia. Nos poemas, a linguagem joga e, por isso, quase os não lemos: “os poemas são cerimónias mágicas da linguagem. O princípio poético devolve à linguagem o seu gozo, ao romper radicalmente com a economia da produção de sentido. O poético não produz. A poesia é, portanto, uma «insurreição da linguagem contra as suas próprias leis», que servem a produção de sentido. Nos poemas, aprecia-se a própria linguagem” (p.63). O repelir da ambiguidade, da nuance, a suspeita sobre a subtileza manifesta-se, de igual modo, na pouca receptividade à piada – diríamos, sobretudo, na pouca hospitalidade de que goza, em nossos dias, a ironia que, neste tempo, quase sempre aparece explicada, aí imediatamente negando a sua natureza de dizer o contrário do que afirma, não vá o interlocutor ofender-se -, lá onde o efeito do significante prima sobre o do significado. E, em qualquer caso, o princípio do trabalho opõe-se ao princípio do prazer, o que em tempos híper-moralistas – no que converge Chul-Han com Henry-Lévy – significará levar à letra a divisa conhecida, entre nós, no início dos bancos da escola: “muito riso, pouco siso” (não há dúvida de que a híper-moralização vai a par com a ausência de qualquer consideração de complexidade presente no nosso devir, ou seja, a completa infantilização das mentes e de uma substancial parte da nossa vida colectiva).

5. Estamos obcecados, como também argumentou Josep Maria Esquirol, com informação, a última hora que nos pisca dos mais variados ecrãs e/ou gadgets (de que nos servimos), embrenhados no trânsito de novidades – obsoletas em meia hora. De uma informação para a outra, de uma vivência para a seguinte, de uma sensação para a imediatamente sucessora, sem nunca finalizarmos nada (ao fim e ao cabo, a definição do homem light para Enrique Rojas). As séries (televisivas), enquanto objecto cultural proeminente neste instante que atravessamos, serão, potencialmente, tributárias, na sua popularidade, do dar vazão a esse movimento bulímico (o visionamento em catadupa e imparável de séries sem fim). Mesmo o campo do ensino (scholé com liame a ócio), e, nele, contando com o nível superior (“na Idade Média, a universidade era tudo menos um centro de formação profissional (…) a universidade convertida em empresa com os seus clientes não necessita de rituais”, p.46), nas sociedades que engendrámos, (tal) nunca está concluído (a “aprendizagem ao longo da vida não permite concluir os estudos” (p.33), sempre em busca de um plus que torne a performance (produtiva) mais eficaz, e intervale, ao mesmo tempo que contribua, para a destruição criativa seguinte): “o constante update em todas as dimensões da vida não permite nenhuma finalização” (p.16). Das puras informações não emana nenhuma magia (nem nenhuma sabedoria). Vivemos numa cultura do significado que entende o significante, a forma, como algo exterior. Uma cultura, pois, hostil ao jogo e à forma. 

6. O desaparecimento dos símbolos está em profunda conexão com a atomização da sociedade. No diagnóstico do languidescer daqueles, há como que uma chamada de atenção ao empoderamento comunitário – em realidade, uma reconstrução, a da comunidade, tão necessária a um ser social como o Homem, mas tão longe de se ver, sequer, iniciar, cremos - que estes continham/contém/conterão – note-se que foi já proposta a disciplina de “estudo dos rituais”, tendo em vista o ensino das repetições culturais como técnica cultural (p.17) – e, nessa medida, a vivacidade intensificada do vínculo – “um dos problemas mais graves do nosso tempo é o declínio da interconexão através dos símbolos comuns” (p.15). No dissecar e critica de uma era neoliberal, patente neste como em outros seus livros, Byung Chul-Han descarta a ideia de capitalismo enquanto religião, pelo menos se interpretada, esta, na acepção de religare, criar vínculo – “de modo algum” [assim é] (p.46), assevera. É que “é intrínseco aos dispositivos neoliberais, tais como a autenticidade, a inovação e a criatividade, coagirem-nos permanentemente ao novo” (p.18). Os rituais, por sua vez, vivem da repetição. Mais: um mercado global, sem fronteiras, implica uma desterritorialização – e o ser humano é um ser locativo, mesmo que não se faça uma ingénua defesa de um cerramento fundamentalista - e é esta, acompanhada de uma camada de homogeneização cultural – sendo que a cultura é, igualmente, uma forma de cerramento/finalização/concretização, ainda que desejavelmente inclusiva e não excludente - que demanda uma comunicação incessante: “É precisamente quando desaparece a proximidade primordial que se comunica em excesso” (p.36) (…) A pressão actual para comunicar leva a que não possamos fechar os olhos ou a boca. Profana a vida” (p.42).

A política baseada no Twitter é de afecto, sendo que as emoções/afectos, segundo Chul-Han, remetem para a pessoa/indivíduo (“os afectos e as emoções passageiras dominam os estados do indivíduo isolado”, p.20), enquanto os sentimentos se transladam para a comunidade – no rito funerário, por exemplo, há um sentimento objectivo, um sentimento comunitário (e o desaparecimento dos rituais faz com que se estejam a gerar cada vez menos sentimentos comunitários). A política é razão e mediação. A razão, que necessita de muito tempo, cede lugar aos afectos de curto prazo.

A autenticidade, a recusa da forma prescinde tanto do duelo nobre na guerra – mecanismos/plataformas que evitavam mais violência no decorrer do conflito bélico – em função de dispositivos de uma pretensa guerra anódina, incolor e inodora (conduzida à distância), quanto da sedução, apartando o eros do mundo, ficando o pornográfico como regra (o sexo em registo maquinal).

7. Os rituais “configuram transições essenciais da vida (…) Os ritos de transição (…) estruturam a vida como se fossem estações” e, desta forma, afirmaram-se como âncoras fundamentais ao humano. Perdemos o sentido da festa (“o trabalho pertence à esfera do profano; a festa congrega e une (…) Na festa enquanto jogo, a vida representa-se a si própria” (p.44). Não aspira a nenhum objectivo e nisso consiste a sua intensidade).

Ritual por antonomásia, a missa: “com a ajuda da missa, os sacerdotes aprendem a manejar serenamente as coisas; elevam suavemente o cálice e a hóstia, limpam pausadamente os vasos, viram as páginas do livro; e o resultado da bela relação com as coisas é a alegria que enche o coração” (p.14). Ora, a “atenção profunda como técnica cultural constrói-se justamente com recurso a práticas rituais e religiosas” (p.17). Relegere: fixar a atenção. Toda a práxis religiosa é um exercício de atenção. O templo é um local de profunda atenção. Sendo que, desde logo, como afirmou Malbranche, “a atenção é a oração natural da alma”. Como se veio de dizer, a repetição é a característica essencial dos rituais; mas uma repetição que gera grande intensidade e, em virtude da mesma, nunca uma repetição banal. Para Kierkegaard, “o que cansa é o novo, nunca o antigo”; o antigo é o “pão quotidiano que sacia e é bendito”(p.18).  Os rituais geram um saber e uma memória corpórea (p.20) e, aliás, mais radicalmente, como disse Gadamer, “o re-conhecer captura o permanente no fugaz” (p.11).  A religião cristã é narrativa – Páscoa, Pentecostes, Natal – e, nela, se funda o sentido e a orientação (p.48). A Igreja é lugar de congregação. 

Ao lermos Byung Chul-Han sobre o desaparecimento dos rituais, do Homem como ser locativo, a aldeia como lugar de cerramento – que quer dizer, também, (de humana) finalização [compreendida, não só, mas também, como teleologia]/concretização/realização -, não deixámos de evocar Charles Taylor sobre o modo como, atualmente, se encara o sentido da vida – que, para muitos, deixou de ser claro, como sucedera, durante séculos, em regime de Cristandade (obediência aos preceitos da Igreja em busca da salvação), e, face às mudanças, relflecte posições que vão desde quem considera que a vida não tem sentido, até reacções que podem ir da tentativa de dar sentido ao sem sentido, como procurou Camus, até à  autodestruição ou paralisação – e, sobretudo, e de novo, impõem-se-nos a lição de Lipovetsky: se antigamente, a direcção/orientação (axiológica vital/comunitária) era clara mesmo que à custa da liberdade (pensemos na problemática da rejeição do divórcio), hoje, em liberdade, não há nenhuma direcção, sendo a desorientação a marcar o tempo (“nunca o stress foi tanto”, registará o filósofo francês, nem nunca se consumiram tantos medicamentos para acalmar um sentimento de perda de sentido – neste caso, muito mais Prozac e menos Platão).

No balanço, à luz, aqui, de uma mundividência cristã, da mais recente elaboração de Byung Chul-Han, duas ou três notas adicionais: i) se o cristianismo pode legar-nos toda a valorização, maturada na sua história, da contemplação, da importância do ócio e, inclusive, da liturgia como “brincar diante de Deus”, comparada ao jogo da criança que nele, apenas, é (sem objectivos nem porquês, como a rosa), como Guardini indicou, e este entendimento frente às concepções, talvez hegemónicas, exclusivamente viris e produtivistas (e como tais valores/elementos merecem ser re-conhecidos!), por outro prisma, a absoluta recusa do trabalho, como elemento determinante para o humano, em função do exemplo grego antigo – Chul-Han louvando-se em Lafargue – parece, aí, esquecer os escravos e demais excluídos da cidadania (ateniense), os últimos a quem, no decurso da história, a memória do tekton nazareno serviu de inspiração, motivação, conforto ou revalorização (em especial, dos que se dedicaram, ao longo dos tempos, aos trabalhos manuais  - sendo que estes, mesmo em vindo a rarear o trabalho (a “sociedade de trabalhadores sem trabalho”, a que aludia Hannah Arendt), como alguns prevêem em função da permanente aceleração tecnológica, parece sempre terem lugar); ii) a objectivação da forma social encarnada na exterioridade do rito não tem por que obnubilar, pelo menos em absoluto, a dimensão moral (em contexto democrático, o assentimento ao ritual, que me precede, de cortesia, a que adiro, manifesta um respeito, de que participo, agora voluntariamente, e nunca exclusivamente como nódulo de uma corrente, pelo outro); iii) o humano será sempre um fim e nunca um meio para qualquer ordem de natureza política ou outra (no que seria forma de paganismo) e a vida, que, efectivamente, merece ser qualificada (em especial atenção aos mais frágeis), aparece como valor primordial (nunca descartável). ''

 



 "Eu acho que, nos tempos que correm, estamos a viver umas épocas muito parecidas, muito estranhas, com o regresso dos populismos, nacionalismos, guerras religiosas em que parece que estamos na Idade Média e este texto é atual", disse João Botelho.''

Ver entrevista aqui.

O Ano da Morte de Ricardo Reis": filme de João Botelho

“onde ascendem os populismos e os totalitarismos”

"O Ano da Morte de Ricardo Reis": filme de João Botelho

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Ave Maria · Bach · Callas

August Sander, Confirmation Candidate, Westerwald, 1911.


 

 A Ana Hatherly 

LABIRINTO 



Foi Perséfone, Melusina,

Ariana em espiral.

Com Dédalo aprendeu a dança,

na queda o fausto, o voo

e tudo o mais que não viveu.


 Ana Marques Gastão

 17 – Como mulher hoje, o que lhe ocorre dizer de mais importante sobre os anos 50 em Lisboa ao nível da educação feminina? E da mulher intelectual e/ou artista? Gostaria que se referisse à sua experiência pessoal. 

17 – Levei décadas a aperceber-me de que grande parte do meu sofrimento existencial tinha origem na educação que recebera e que essa 15 educação não fora apenas um problema meu, mas o resultado de toda uma conjuntura histórica, de todo um quadro social e sociopolítico. O sofrimento da mulher na família e na sociedade está relacionado como papel (leia-se: valor) que nela lhe é atribuído. Por outras palavras, está relacionado com o grau de independência e afirmação que lhe é concedido. Eu não rejeitei a minha condição de mulher: casei, tive uma filha, quis ter família. Mas o que acima de tudo quis foi ser uma pessoa, ser eu própria. Tive que pagar um alto preço por esta minha singularidade.


 Entrevista a Ana Hatherly

proibições sociais

libelo

bisonha

A MÃO NO ARADO

Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias
Podem passar os meses e os anos nunca lhe faltará

Oh! como é triste envelhecer à porta
entretecer nas mãos um coração tardio
Oh como é triste arriscar em humanos regressos
o equilíbrio azul das extremas manhãs do verão
ao longo do mar transbordante de nós
no demorado adeus da nossa condição
É triste no jardim a solidão do sol
vê-lo desde o rumor e as casas da cidade
até uma vaga promessa de rio
e a pequenina vida que se concede às unhas
Mais triste é termos de nascer e morrer
e haver árvores ao fim da rua

É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no outono concluir
que era o verão a única estação
Passou o solitário vento e não o conhecemos
e não soubemos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encontrar o mar
e com que pontes com que ruas com que gentes com que montes conviver
através de palavras de uma água para sempre dita
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã

Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora
É muito triste andar por entre Deus ausente

Mas, ó poeta, administra a tristeza sabiamente.

Poema Ruy Belo

"E tudo era possível", poema de Ruy Belo


 

 «– Ser jovem é sempre difícil, mas na sociedade portuguesa dos anos 50 os jovens sofriam ainda muito a repressão da família, reflexo da intolerância social de então. A repressão era a todos os níveis, mas é claro que a repressão sexual era a mais dura de todas.»

ANA HATHERLY 

''descrença existencialista imperante''

agnosticismo

domingo, 27 de setembro de 2020

“Tive que pagar um alto preço por esta minha singularidade”

 ANA HATHERLY 

Mito da perseguição do sol por Cuafu Xan Hai Quim

 


Traduzido e Adaptado por Bruno Dahia

[b]Primeira versão da lenda[/b]:

Os chineses acreditavam que existiam dez sóis, um para cada dia da semana( a semana chinesa possuía dez dias).

Cada dia os dez sóis viajavam com sua mãe a deusa Xi-He, até o vale da luz, chegando lá, Xi-He lavava seus filhos no lago e os colocava nos ramos de uma árvore de moreira chamada Fu-Sang. Desde a árvore apenas um sol fazia a viagem, só um aparecia no céu até alcançar o monte Yen-Tzu no oeste, e depois de um dia voltava para junto dos irmãos no vale da luz, e esperavam que sua mãe Xi-He levasse o outro sol para a viagem no céu.

Xi-He

Cansados dessa rotina, os dez sóis decidiram aparecer todos juntos. O calor que eles formaram era tanto que transformava a vida na terra insuportável. Para prevenir a destruição da terra, o imperador Yao pediu a Di-Jun, o pai dos dez sóis, que convencesse seus filhos a aparecer apenas uma vez cada.

Xihe

Eles não o escutaram, então Di-Jun mandou o arqueiro Yi, armado com um arco e dez flechas para que assustasse aos sóis desobedientes. No entanto Yi, atirou apenas nove flechas, e apenas um sol restou, o que nós conhecemos hoje, Di-Jun estava tão triste pela morte de seus filhos que condenou a Yi a viver como um mortal comum na terra.

Yi

[b]Segunda versão[/b]:

Segundo esta versão, Yi era um homem muito conhecido em seu tempo por sua inigualável destreza no manejo do arco e flecha. Em sua época apareceram dez sóis cujos raios foram letais para muitas plantas e em conseqüência disso muitos campos foram perdidos. Também, terríveis bestas pisoteavam ferozmente tudo que encontrassem em seus caminhos, estes monstros causaram imensos destroços e danos à população. Para solucionar tamanho desastre Yi pegou seu arco e disparou nove flechas com as quais derrubou os nove sóis. Depois enfrentou todos os monstros e os derrotou. Por estas valentes obras, Yi foi respeitado como um deus.

despossessão

«Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário.»

 Lénine

Guerra Sino- Japonesa
​Luta travada entre o Japão e a China, de 1894 a 1895, pelo controle da Coreia.


 

 «(...), o velho morre para dar lugar ao novo, o novo emerge do velho.»

Mao Tsetung. Sobre a prática. Sobre a contradição e outros textos. Textos Políticos. 1ª Edição, 1974. Editorial Minerva., p. 77

 «Quando Marx e Engels aplicaram a lei da contradição inerente aos fenómenos ao estudo do processo da história da sociedade, descobriram a contradição existente entre as forças produtivas e as realações de produção, a contradição entre a classe dos exploradores e a classe dos explorados, assim como a contradição, daí resultante, entre a base económica e a superestrutura ( política, ideologia, etc.); e descobriram como essas classes contradições engendravam, inevitavelmente, diferentes espécies de revoluções sociais nas diferentes espécie de sociedade de classes.»

Mao Tsetung. Sobre a prática. Sobre a contradição e outros textos. Textos Políticos. 1ª Edição, 1974. Editorial Minerva., p. 65/6

 

de uma penada
de uma só vez, rapidamente, sem esforço

tchentusiuismo


 

 capital monopolista

capital liberal

Mao Tsetung. Sobre a prática. Sobre a contradição e outros textos. Textos Políticos. 1ª Edição, 1974. Editorial Minerva., p. 60

 «Encarar dos fenómenos de modo unilateral e superficial é ainda subjectivismo, pois, no seu ser objectivo, os fenómenos estão de factos ligados uns aos outros e possuem leis internas; no entanto, há pessoas que, em vez de reflectirem os fenómenos tal como são, consideram-nos de modo unilateral ou superficial, desconhecendo-lhes a ligação mútua e as leis internas. Um tal método é pois subjectivo.»

Mao Tsetung. Sobre a prática. Sobre a contradição e outros textos. Textos Políticos. 1ª Edição, 1974. Editorial Minerva., p. 59

 «Para conhecer realmente um objecto, é necessário abarcar e estudar todos os seus aspectos, todas as suas ligações e 'mediações'. Nós nunca o conseguiremos de maneira integral, mas a necessidade de considerar todos os aspectos evita-nos erros e rigidez.»

Lénine 

 

láudano

láu.da.no
ˈlawdɐnu
nome masculino
FARMÁCIA medicamento cuja base é o ópio, e que se emprega para adormentar
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