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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

''frágeis parapeitos''

(...) «Temos fé no veneno. Sabemos dar todos os dias a nossa vida por inteiro.
      Eis chegado o tempo dos fumadores de haschisch.*»


*Traduzido literalmente, dos assassinos. (N.T.)



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 59

VIDAS

I

  Oh!, as extensas áleas da terra sagrada, as esplanadas do templo! Que destino deram ao brâmane que me explicou os Provérbios? De então, e desse país, revejo ainda tudo, as velhas, inclusive! Recordo-me das horas de prata e de sol a declinar para os rios, a mão dos campos pousando-se-me sobre os ombros, e das nossas carícias, de pé, nas planícies salgadas. - Uma revoada de pombas escarlates brada em volta do meu pensamento. - Exilado aqui, dispus de um palco onde representar as obras-primas dramáticas de todas as literaturas. Sublinharia, só para vós, essas riquezas inesquecíveis. Atento na história dos tesouros que haveis encontrado. Prevejo já a sequência e a consequência! A minha sabedoria é tão desprezada como o caos. O que é o meu nada comparado com a estupefacção que vos espera?

 II

   Sou o inventor em que nada desmereço, antes pelo contrário, de quantos me precederam; inclusivamente de um músico que tivesse encontrado a clave do amor. Agora, que sou morgado de terras ácidas sobre um céu parco, tento emocionar-me com a lembrança de uma infância de mendigo, dos anos de aprendizagem ou da chegada em tamancos, das discussões, das cinco ou seis vezes que enviuvei, e de algumas pândegas onde a minha cabeça de mula me impediu de vibrar em uníssono com os camaradas. Não me arrependo do quinhão que, em tempos, tive da alegria divina: a atmosfera frugal destas terras ácidas nutre intensamente o meu cepticismo atroz. Mas, como esse cepticismo não pode mais ser posto em prática, e dado ter-me entregue a uma nova inquietação - estou à espera de me tornar um louco particularmente maligno.

III

   Num sótão onde fui trancado, tinha eu doze anos, fiquei a conhecer o mundo, ilustrei a comédia humana. Num celeiro aprendi a história. Numa qualquer festa nocturna, numa cidade do Norte, encontrei todas as mulheres dos pintores passados. Numa velha galeria de Paris, fui introduzido nas ciências clássicas. Numa mansão magnífica rodeado pelo Oriente inteiro, realizei uma imensa obra e passei uma reforma ilustre. Revolvi o meu sangue, de lés a lés. Foi-me reconhecida a missão que me cabia. É ponto assente, e do passado. Pertenço realmente ao mundo trespassado, chega de mandatos.



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 49/51

OSTENTAÇÃO

      Cabeças ocas espadaúdas. Muitos deles exploram os vossos mundos. Frugais, e nada apressados em pôr a funcionar as suas brilhantes faculdades e a experiência que têm das vossas consciências. Que homens experientes que eles são! Olhos atónitos como noites de verão, vermelhos e negros, tricolores, olhos de aço picotados de estrelas d'oiro; rostos disformes, plúmbeos, pálidos, incendiados; rouquidões zombeteiras! O modo cruel de andar dos ouropéis! - Alguns são novos - , como encarariam eles Querubim? - dotados de vozes aterradoras e de alguns truques perigosos. São mandados pavonear-se pela cidade, com trapos de um luxo repugnante.
      Oh, o mais violento Paraído do esgar colérico. Nada que se compare com os vossos faquires, e outras truanices cénicas. Em fatiotas improvisadas ao gosto do sonha mau, representam lamúrias, tragédias de malandrins e de etéreos semideuses, como a história ou as religiões jamais foram. Chineses, hotentotes, ciganos, néscios, hienas, Molochs, demências de antanho, demónios sinistros, misturam as rábulas populares, maternais, com as poses e as ternurices de besta. Interpretam novos trechos e canções inofensivas de raparigas. Mestres em prestigitação, transformam as pessoas e os sítios, sem esquecer a comédia hipnótica. Os olhos cospem chamas, o sangue canta, os ossos expandem-se, escorrem lágrimas e fios vermelhos. A chacota que fazem ou o terror que causam dura um minuto, ou meses inteiros.
      Só eu tenho a cifra desse pavonear selvagem.




Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 43
   «Pode-se aceder ao êxtase pela destruição, rejuvenescer com a crueldade! O povo não rosnou. Ninguém se prestou a dar opinião.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 41
«Caía sem sobreaviso sobre as pessoas deixando-as dispersas, aos pedaços.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p. 41

terça-feira, 29 de novembro de 2011

«As nuvens cinzentas acumulavam-se sobre o alto mar, todo ele feito de uma eternidade de lágrimas amargas.»



Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Relógio D' água, Lisboa, 1998., p. 35
(...) « Águas e tristezas, cresçam, e alteai os Dilúvios.»


Arthur Rimbaud. O Rapaz Raro. Iluminações e poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Redógio D' água, Lisboa, 1998., p.

céus de brasas

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Arthur Rimbaud

Mortal, anjo e demónio, ou seja, Rimbaud,
Mereces o primeiro lugar no meu livro,
Apesar do boçal escriba que te chamou
Ébrio liceal, devasso imberbe, monstro a abrir.

Fumo em espirais de incenso, acordes de alaúde
Alegram-se ao entrares no templo da memória
E o teu nome radioso cantará na glória,
Porque tu amaste como foi preciso, em tudo.

Mulheres verão em ti um jovem muito forte,
Belo, de uma beleza rústica e perversa,
Desejável, com a tua indolência atrevida!

E a história esculpiu-te ao triunfares da morte
Fruindo até aos puros excessos da vida,
Com os teus brancos pés na cabeça da Inveja!

(DEDICÁCIAS)




Paul Verlaine. Poemas Saturianos e Outros. Tradução, prefácio, cronologia e notas de Fernando Pinto Amaral. Assírio&Alvim ., p. 175
Il pleut doucement sur la ville.


Arthur Rimbaud

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sentenças

 “A verdadeira vida é uma enfermidade do espírito”
Novalis

 

 “A verdadeira vida está ausente; não estamos no mundo”
Rimbaud

sábado, 14 de agosto de 2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

C'est certes la même campagne...

C'est certes la même campagne. La même maison rustique de mes parents: la salle même où les dessus de porte sont des bergeries roussies, avec des armes et des lions. Au dîner, il y a un salon, avec des bougies et des vins et des boiseries rustiques. La table à manger est très-grande. Les servantes ! Elles étaient plusieurs, autant que je m'en suis souvenu. - Il y avait là un de mes jeunes amis anciens, prêtre et vêtu en prêtre, maintenant: c'était pour être plus libre. Je me souviens de sa chambre de pourpre, à vitres de papier jaune: et ses livres, cachés, qui avaient trempé dans l'océan !

Moi j'étais abandonné, dans cette maison de campagne sans fin: lisant dans la cuisine, séchant la boue de mes habits devant les hôtes, aux conversations du salon: ému jusqu'à la mort par le murmure du lait du matin et de la nuit du siècle dernier.

J'étais dans une chambre très sombre: que faisais-je ? Une servante vint près de moi: je puis dire que c'était un petit chien: quoiqu'elle fût belle, et d'une noblesse maternelle inexprimable pour moi: pure, connue, toute charmante ! Elle me pinça le bras.
Je ne me rappelle même plus bien sa figure: ce n'est pas pour me rappeler son bras, dont je roulai la peau dans mes deux doigts: ni sa bouche, que la mienne saisit comme une petite vague désespérée, minant sans fin quelque chose. Je la renversai dans une corbeille de coussins et de toiles de navire, en un coin noir. Je ne me rappelle plus que son pantalon à dentelles blanches.
Puis, ô désespoir, la cloison devint vaguement l'ombre des arbres, et je me suis abîmé sous la tristesse amoureuse de la nuit.



1871


Rimbaud. Les déserts de l'amour (fragments)

Cette fois, c'est la Femme

Cette fois, c'est la Femme que j'ai vue dans la ville, et à qui j'ai parlé et qui me parle.


J'étais dans une chambre sans lumière. On vint me dire qu'elle était chez moi: et je la vis dans mon lit, toute à moi, sans lumière ! Je fus très ému, et beaucoup parce que c'était la maison de famille: aussi une détresse me prit ! j'étais en haillons, moi, et elle, mondaine, qui se donnait; il lui fallait s'en aller ! Une détresse sans nom, je la pris, et la laissai tomber hors du lit, presque nue; et dans ma faiblesse indicible, je tombai sur elle et me traînai avec elle parmi les tapis sans lumière. La lampe de la famille rougissait l'une après l'autre les chambres voisines. Alors la femme disparut. Je versai plus de larmes que Dieu n'en a pu jamais demander.

Je sortis dans la ville sans fin. O Fatigue ! Noyé dans la nuit sourde et dans la fuite du bonheur. C'était comme une nuit d'hiver, avec une neige pour étouffer le monde décidément. Les amis auxquels je criais: où reste-t-elle, répondaient faussement. Je fus devant les vitrages de là où elle va tous les soirs: je courais dans un jardin enseveli. On m'a repoussé. Je pleurais énormément, à tout cela. Enfin je suis descendu dans un lieu plein de poussière, et assis sur des charpentes, j'ai laissé finir toutes les larmes de mon corps avec cette nuit. - Et mon épuisement me revenait pourtant toujours

J'ai compris qu'elle était à sa vie de tous les jours; et que le tour de bonté serait plus long à se reproduire qu'une étoile. Elle n'est pas revenue, et ne reviendra jamais, l'Adorable qui s'était rendue chez moi, - ce que je n'aurais jamais présumé. - Vrai, cette fois, j'ai pleuré plus que tous les enfants du monde.

Rimbaud. Les Déserts de l'amour (fragments).

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Si l'on devait citer le poète qui a exercé l'influence la plus profonde sur la poésie du début du xx siècle, il fraudait nommer Rimbaud. Avec plus de hardiesse encore que Baudelaire, il a étendu le champ d'exploration de la poésie. [...] C'est qu'il n'a pas hésité à se mettre en communication avec la part inconnaissable de lui-même. Il y a découvert un grand jeu d'images, fleurs éclatées, filles à lèvres d'orange, déluges et miracles, un jeu dont chaque figure ressemble à un message marqué d'un sceau incompréhensible et sacré.



Kléber Haedens. Rimbaud Poésies complètes (1870 - 1872). Introduction, chronologie, bibliographie, notices et notes par Pierre Brunel. Le Livre De Poche.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sensation

Par les soirs bleus d´été, j'irai dans les sentiers,
Picoté par les blés, fouler l'herbe menue:
Rêveur, j'en sentirai la fraîcheur à mes pieds.
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.

Je ne parlerai pas, je ne penserai rien:
Mais l'amour infini me montera dans l'âme,
Et j'irai loin, bien loin, comme un bohémien,
Par la Nature, - heureux comme avec une femme.


Mars 1870



Arthur Rimbaud in Poésies complètes (1870 - 1872). Introduction, chronologie, bibliographie, notices et notes par Pierre Brunel. Le Livre De Poche., p.108
Rimbaud écrit le 24 août à son professeur et confident Georges Izambard qu'il vit dans le «rien».


Pierre Brunel na Introdução ao livro:


Rimbaud in Poésies complètes (1870 - 1872). Introduction, chronologie, bibliographie, notices et notes par Pierre Brunel. Le Livre De Poche., p.8

terça-feira, 13 de abril de 2010

Comédie de la Soif / 1. Les Parents

Nous sommes tes Grand-Parents
Les Grands!
Couverts des froides sueurs
De la lune et des verdures.
Nos vins secs avaient du coeur!
Au soleil sans imposture
Que faut-il à l'homme? boire.

Moi - Mourrir aux fleuves barbares.

Nous sommes tes Grand-Parents
Des champs.
L'eau est au fond des osiers:
Vois le courant du fossé
Autour du Château mouillé.
Descendons en nos celliers;
Après, le cidre et le lait.

Moi - Aller où boivent les vaches

Nous sommes tes Grand-Parents;
Tiens, prends
Les liqueurs dans nos armoires
Le Thé, le Café, si rares,
Frémissent dans les bouilloires.
- Vois les images, les fleus.
Nous rentrons du cimetière.

Moi - Ah! tarir toutes les urnes!


Rimbaud in Poésies complètes (1870 - 1872). Introduction, chronologie, bibliographie, notices et notes par Pierre Brunel. Le Livre De Poche. pp. 232.
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